segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Chove chuva

Braz Melo (*)

A música “Chove chuva” de Jorge Ben quase todo mundo com mais idade conhece. Mas não é dela que vou focar no assunto hoje, e sim da chuva que todos os douradenses estão esperando e ela teima em não vir.
Os agricultores, na sua grande maioria, já perderam o primeiro plantio, e se não chover logo, podem perder a segunda e ultima chance de colheita desta safra.
Estou escrevendo este texto dia 20 de dezembro. Dia de Dourados. Dia em que o governador Mario Correia assinou o decreto criando esse município há setenta e três anos. Como os meus artigos saem às quintas feira, e hoje ainda é sábado, quando publicado, espero estar “chovendo no molhado”.
Crise? Que crise? Só aquela que vemos no Jornal Nacional, que falam que está acontecendo nos Estados Unidos e no resto do mundo. Aqui, crise é só de chuva. Sobre a crise de lá, não creio que Dourados vá sofrer com ela. Só se não chover, pois aqui estamos preparados para nem se lembrar dela.
As grandes indústrias que temos aqui estão consolidadas e foram criadas há quase vinte anos, com as preciosas ajudas do Waldir Guerra, quando Secretário de Indústria e Comercio e Flavio Derzi, como Secretario de Agricultura do Estado. E claro com a anuência do Governador Marcelo Miranda e do vice George Takimoto.
Hoje somos um município que além do agro-indústria, somos um pólo prestador de serviços e uma cidade com diversas universidades. Para ter crise, teria de atingir pelo menos dois desses segmentos.
A única dificuldade que podemos ter é no setor sucroalcooleiro que está iniciando, mas será geral, não especifico de nossa região.
Na prestação de serviços, acima da Avenida Weimar Gonçalves Torres até a Rua Ponta Porã, vocês já notaram que está se transformando em só clínicas e consultórios? E da Rua Joaquim Teixeira Alves até a Rua Cuiabá, pela proximidade do fórum, funciona os escritórios de advocacia. Os nossos profissionais liberais daqui atendem todo o sul do estado e até o Paraguai.
Preocupados devem estar os corumbaenses, que mesmo passando Dourados em arrecadação de ICMS por causa da mineração e dos royalties do gás, em novembro já deu férias coletivas a MMX , industria metalúrgica que ajudou a alavancar estes índices.
Três Lagoas também acredito que poderá ter problemas, pois estava se preparando para conseguir grandes indústrias, como fizemos vinte anos atrás, e antes de ter seu desejo concluído, chegou a crise mundial.
Em Dourados, nas festas e outras rodinhas que se formam nessa época do ano, só falam na saudosa chuva.
Aqui, não se falam nem do prefeito que está entrando, nem do que está saindo. É só da falta de chuva que se fala.
E lembro que há alguns anos chovia muito mais do que atualmente. Aqui começava a chover em novembro e ia até março. Mudaram até a nossa data da exposição de gado, que era em novembro e passou para maio por causa da dita cuja.
Uns falam que é por causa do desmatamento. Outros falam que depois que foi construída a Usina de Itaipu, nós ficamos numa região que passou a chover menos. Chove mais perto do lago de Itaipu e aí só em Maracaju, em Nova Alvorada, mas não chove aqui. Ficamos na faixa de pouca precipitação pluviométrica.
Até nos cultos, e acredito que também nas missas, é pedido para que façamos orações para que chova.
De nossa parte, estamos orando para que venha a chuva o mais rápido e que todos possam passar um fim de ano feliz, pedindo a Deus que continue a abençoar nossa cidade e todos que vivem nela.
E que 2009 seja um ano esperado por todos, como ano de boas novas. E com bastante chuva, “pero no mucho”.

domingo, 21 de dezembro de 2008

BRAZ, O PLANTADOR DE MANGAS...

Isaac Duarte de Barros Junior *

Adotando atitudes semelhantes com as do lendário agricultor irlandês que teria semeado milhares de macieiras nas inóspitas futuras searas das terras americanas do continente norte, muitos administradores de pequenas e grandes cidades no continente do sul, também escolheram uma fruta predileta para cultivar coletivamente, objetivando degusta-la futuramente com as demais pessoas na comunidade. Seguindo um plano agronômico pesquisado, eles distribuíram essas mudas frutíferas escolhidas, organizadamente plantando-as em grande escala. Toda essa iniciativa gerenciada por representantes dos Poderes Públicos de muitos povos, eu percebi existir pela primeira vez, na hora da ciesta em turismo no Paraguai. Observei para extrair essa lógica conclusão, os centenários laranjais plantados e espalhados por toda a cidade de Assuncion, graças à iniciativa e os imensos cuidados dos históricos catequizadores de índios guaranis ao cristinianismo, os primeiros padres jesuítas. Como peculiaridade frutífera vegetal nativa ou cultivada, respeitados os aspectos climáticos, eu concluí que todas as espécies frutíferas cultivadas, acabaram envolvidas inevitavelmente com os nomes dessas comunidades. Por conseqüência, transformaram-se no transcorrer do tempo, em um sinônimo identificativo quando alguém se referia ao local. Muitas vezes, ao declinar os nomes de algumas cidades sulmatogrossense, já ouvi alguém antecipar os codinomes: terra do figo, da jabuticaba, do caju, das goiabeiras, dentre outros nomes. O apelido dado a todas elas, isso merece ser lembrado, surgiu em decorrência dessas plantas, dominarem a paisagística central urbana e periférica dessas cidades. Algumas localidades conseguiram contrariar esse princípio, exemplifico o caso de Coxim. Certamente seria a terra do caju, se o folclore não a transformasse na do pé de cedro.

Dourados como muitas outras das nossas novas e velhas cidades regionais, poderia ter se tornado conhecida simplesmente como a terra dos guavirais, se a frutinha nativa não houvesse quase desaparecido dos nossos campos virgens, exterminada sem nenhuma contemplação, pela empolgação sulina colonizadora de plantar o trigo e cultivar a soja. Essa quase extinção da frutinha silvestre nos colocou como exportadores no mercado de grãos. Mas antes dessa fase grandiosa começar, houve o período do Vavá, apelido dado a um personagem tradicional da família Brandão, filho do ex-prefeito Álvaro Brandão, que viveu e morreu solteiro em uma casa velha de madeira. Essa residência foi construída nas proximidades onde inicialmente existiu um prédio de cinema. Ele sofreu na juventude, a revés das seqüelas maléficas provocadas pela doença da meningite. Era um contador de anedotas difíceis de entender, é que o Vavá tinha dificuldades para articular as palavras e quando contava uma piada, só ele ria no final. Esse pioneiro desocupado, tentando arrumar na vida alguma ocupação para preencher as monotonias peculiares a sua enfermidade, andou freneticamente durante algum tempo, plantando por todas as esquinas douradenses, sementes da fruta romã. Acreditava, ter aquela redonda fruta da romã os conteúdos medicinais para se evitar a doença que o vitimara na juventude. A idéia sertaneja desse homem nunca propagou ou prosperou apesar do seu conhecido arrojo e assim o projeto morreu com seu criador, o Vavá Brandão. Diziam os mais antigos povoadores douradenses, muitos deles foram meus conhecidos, que esse senhor simpático foi o autor do plantio dos pés de romã nos quintais tradicionais e algumas das frutas mais velhas, diziam, que produziam resultados afrodisíacos inesperados, comendo-se cinco sementes da romã.

O rádio-operador ocasional Pedro Recchi, foi outro reconhecido plantador comunitário de árvores frutíferas, isto o fazia quando não estava trabalhando na sua oficina de ferragens na década de mil novecentos e trinta. Sua verdadeira nacionalidade pareceu-me ter sido a argentina devido o seu sotaque carregado, ao menos eu assim achava quando conversávamos. Afinal, foi ele mesmo quem se auto-registrou. Nessa época, a lei permitia e o ato aconteceu no cartório dos Carpes. Era o ano de mil novecentos e doze no município de Ponta Porã. Afirmava, quando algumas vezes perguntei, que era gaúcho de São Borja. Acredito que ele mesmo escolheu essa cidade, por ser um fã petebista incondicional do presidente ditador Getúlio Vargas, nascido naquele município gaúcho.

Aliás, os gaúchos da era getulista que chegavam para morar em Dourados, costumavam ter essa tendência optativa de nascimento. Pedro Recchi, falava fluentemente e me ensinou as primeiras noções da língua italiana e possuía consigo costumes bem típicos de um curandeiro. Meio metido a alquimista, usava essência das folhas de laranja brava que plantava pela cidade e no seu quintal, para fazer compotas de doce e água de cheiro. Garantia que conquistou a paraguaia Gumercinda, exalando esse perfume no primeiro encontro, namoro acontecido na fazenda Campanário. Para resumir, o seu Pedrinho Recchi, começou em 1946 a cultivar algumas figueiras argentinas. Porém, quando morreu com 102 anos de idade, a única figueira que restou do seu pretenso projeto urbanístico, foi uma plantada em companhia do ex-prefeito João Vicente Ferreira, que agora é parte integrante do patrimônio histórico. As outras ainda restantes, quem mandou colocar foi o ex-prefeito Antonio de Carvalho.

Entretanto, foi um engenheiro civil, o ex-prefeito Antonio Genelhu Braz Melo, quem transformou Dourados na cidade das mangueiras. Por informações, frutos estes do mais puro acaso, eu fiquei sabendo que esse ex-alcaide municipal, encomendou cinqüenta mil mudas de pés de manga na sua inesquecível gestão. Em seguida, mandou planta-los pela cidade e presenteou para os munícipes as mudas restantes das suas preciosas frutas mangas alimento. Como nunca fui seu correligionário político, não sei se é verdade ou se é mentira, porém afirmam os conhecedores dessa antiga mania desse prócer político em cultivar mangas para alimentar o povo, que o ex-prefeito Braz Melo, quando em substituição legal, tornando-se o governador de Mato Grosso do Sul, encheu de mangas até onde pode, a área reservada ao Parque dos Poderes, na cidade de Campo Grande, com incontáveis mangueiras de diversas qualidades...


*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

As Árvores de Dourados

Braz Melo (*)

Tem coisas que estão “na cara” e nós não conseguimos enxergar. Você já notou a arborização de Dourados? Vamos conhecê-la juntos.
Quem não fica encantado com o florescer dos Ipês de nossa cidade? Cada primavera eles ficam mais bonitos. E muitas vezes, até a estação passa despercebida.
Os mais velhos já desfrutaram da sombra da Figueira da Praça Dr. Antonio Alves Duarte (antiga Praça Mario Correa). E os mais novos usaram muito o parquinho, que hoje está abandonado. Se você é novo aqui, dê um pulo até lá, para conhecer esta árvore que já abrigou tantas pessoas e assistiu tantos amores.
A Figueira da curva (perto da Comid) já foi tombada pelo prefeito Luiz Antonio.
A Aroeira da Rua Ponta Porã, atrás do BNH l Plano é tão importante que fez até o transito ser desviado, assim como a da Rua Clovis Bevilaqua, na Vila Almeida e a Amendoeira localizada quase em frente ao CEU do Climax.
As Figueiras da Rua João Candido Câmara são a seqüência de árvores mais bonita e agradável de nossa cidade. Nas tardes de verão dá vontade de parar e ficar sentado ali, deixando o tempo passar.
Plantadas pelo prefeito Antonio Carvalho, que também plantou as Figueiras da Av. Presidente Vargas, onde as da esquina com a Avenida Marcelino Pires serviu muito tempo de sombra para as saudosas charretes dos irmãos Chico e Pedro Libório, a primeira empresa de transporte popular, que os animais, se não fossem forçados, já conheciam o caminho a tomar.
Na Praça Antonio João tem a “Corintiana”, plantada pelo Renê Miguel que ele cuidava com todo carinho. Além de Palmeiras Imperial, Paus Brasil, Cerejeiras e outras árvores, lá também têm uma árvore Sequóia, da família das maiores do mundo.
No Ubiratan tem os Alamos, trazidos em mudas dos Estados Unidos na mala, pelo Antonio Tonani.
O prefeito João Totó Câmara foi buscar em Maringá as mudas das Sibipirunas e Flamboyants que plantou macicamente em toda a cidade.
O José Elias plantou Palmeiras Imperial em diversos pontos, como nós plantamos na Avenida Marcelino Pires, da rodoviária até o Ubiratan.
Os Paus Ferro da Avenida Marcelino Pires são lindos no outono e são como árvores de natal gigante, preparadas para a ornamentação natalina.
O Humberto Teixeira fez o Parque dos Ipês, cartão postal de nossa cidade, e plantou diversas árvores que já estão dando frutos naquele parque.
Pelo histórico que vimos acima, o modismo das árvores em Dourados sofreu uma mudança muito grande e rápida.
Plantamos muitas Mangueiras em nossa administração, principalmente na periferia, onde não havia nenhuma sombra. Plantamos também Oitis, Resedás e Murtas, que além de serem árvores de portes médios, não criando grandes problemas com as redes de energia, também não tem raízes danosas para os encanamentos de água, esgotos sanitários, muros e calçadas.
Plantamos Cerejeiras na rodoviária, e a aparência quando ela dá flor, é como dando boas vindas aos que aqui chegam.
Dourados hoje está acima da media nacional e mundial em arborização. Conforme informações da Prefeitura, nossa cidade tem 5 vezes mais que a média mundial. Onde as normas aconselham 12 metros quadrados, nós já alcançamos 60 metros quadrados por habitante. A atual administração plantou menos de 5 mil mudas. È muito pouco para uma cidade que tem tradição de plantar muitos milhares de árvores por administração.
Muitas vezes vemos ninhos de passarinhos em pleno centro de Dourados. Com o desmatamento crescendo na zona rural, os pássaros vieram para a cidade.
É comum acordarmos com os bem-te-vis e sabiás cantando em nossas janelas.
Criamos o Jardim Botânico, mas pouco foi acrescentado nesses últimos anos.
E eu mesmo me arrependo de não ter plantado mais árvores nativas, como Ipês, Jequitibás, Perobas, Jacarandás e outras nos Parques Arnulfo Fioravante e Antenor Martins.
Normalmente somos mais imediatistas. Quando plantamos Mangueiras, é porque queremos ter sombra e manga o mais rápido possível. Se um Ipê demora de 30 a 50 anos para se formar e outras espécies em menos de 4 anos já está dando fruto, optamos pelo mais rápido. Só que já passaram quase 20 anos.
Na segunda administração, ao construir a segunda pista na saída de Campo Grande, íamos perder 7 Palmeiras Imperial adultas em frente da Seara. O Secretário de Serviços Urbanos José Carlos Cimatti e seu colega Engenheiro Florestal Bernardino Bezerra tiveram uma tarefa difícil, mas com técnica e carinho conseguiram transplantá-las intactas para a rotatória da entrada da cidade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Terra Vermelha

Valfrido Silva (*)
Preparei-me naquele dia, para aquele espetáculo, como se fosse o único. Afinal, não é todo dia que um roteirista de cinema principiante, nascido no Jaguapiru, tem a oportunidade de ver um filme produzido em sua cidade, particularmente quando o foco da trama são exatamente os índios deste mesmo Jaguapiru. Lembrei-me dos tempos em que empapava o cabelo com brilhantina glostora e subia a Marcelino Pires para assistir bangue-bangues, no velho cine Ouro Verde. Desta vez, fiz o caminho contrário, avenida abaixo, pedindo pra Anita me deixar no centro, prosseguindo a pé até a Cabeceira Alegre.
Como nesta época do ano o sol ainda esquenta o lombo dos pobres mortais às cinco da tarde, fui buscando abrigo debaixo das marquises ao longo da avenida e tomando todo cuidado para não danificar ainda mais a coluna com o desnível das calçadas. Na esquina com a Rua Aquidauana, o primeiro flashback. Antigamente ali funcionava a Mecânica Modelo, tempo em que Gilberto Serrante começava a mostrar sua habilidade ao volante, fazendo cavalos-de-pau nas tardes de sábado. Uns passos à frente, uma vidraçaria, onde, num barracão de tábuas, funcionava um bolicho da família Minhos, tendo à frente uma casa mal-assombrada que mais tarde abrigaria o escritório do Areião. Mais cem metros e estou diante de uma grande loja de pneus. Ali, vêm-me à memória o sempre bonachão Renato Lemes Soares e seu Ferro Velho, na esquina de cá; no quarteirão da frente, também gente boa uma barbaridade, seu João Moraes, sua serraria e uma colônia de casas geminadas de madeira, muito comum da Cabeceira Alegre das muitas serrarias nas décadas de 1950/60. Do outro lado da rua era a fábrica de carroças de João Mizigutti, espremida entre a máquina de Arroz da família Anze e uma mercearia dos Porto Sandre. No lugar da máquina de arroz, hoje, uma moderna concessionária de reluzentes importados que em nada lembram os poucos fusquinhas, Gordines e Studbeackers daquela época. Reluzente, até então, só mesmo a única Mercedez Benz da cidade – do pecuarista, chefão da UDN, prefeito e deputado Antonio Moraes dos Santos.
Passando a Câmara Municipal atravesso o canteiro central, caindo na esquina do antigo “Bar do Pedro”. Como um pouco antes está a loja de lubrificantes de Vazinho Mariano, interessante também a volta no tempo e no espaço com as imagens da antiga casa Mariano (Albano, Neno, dona Jandira), atacadista que funcionava alguns quarteirões acima, esquina com a Hilda Bergo Duarte. Mais cem metros e estou diante do novo templo de consumo dos douradenses. Uma última parada na calçada para lembrar os tempos em que exatamente naquele local estava a oficina mecânica de seu Lima, tendo à frente a máquina de Arroz cujo gerente era o “Dé”, irmão de meu padrinho, sargento Baiano (temido lugar-tenente do delegado Couto). Ali, a Marcelino Pires era só erosão, local conhecido como Bueiro, linha demarcatória entre a Cabeceira Alegre e o centro da cidade e dor de cabeça constante para os prefeitos; um martírio, também, para quem fazia aquele trecho a pé ou de bicicleta.
Antes de entrar estico os olhos para o prédio da Cergrand, ao lado do ainda vazio e famoso quarteirão “parido” por especuladores imobiliários, que desalinhou o traçado das transversais, dali para frente. A área, até hoje ocupada apenas durante as visitas de circos e parques, à época de mata fechada, era-nos muito útil nas emergências fisiológicas, exceto um dia, quando ali já cheguei todo borrado, depois de horas e horas de aperto durante uma parada de Sete de Setembro, com a coisa desandando na altura do posto de Inimá Ribeiro, na esquina com a Mato Grosso.
Enfim, o cinema. São três salas, das mais modernas do Brasil, ar condicionado, poltronas espaçosas e até um lugarzinho para o refrigerante e a pipoca. Mas, como nada é perfeito, não dá pra imaginar tudo isso sem a nostalgia de “amores clandestinos”, a trilha sonora que embalava os corações apaixonados no escurinho dos cinemas daqueles bons tempos.
Tudo bem. Que venha Terra Vermelha. Programa de índio? Não. Um filme até mediano, boa fotografia (conseguiram até mostrar mato aonde não existe mais), cenas chocantes de índios enforcados, o apelo sexual de sempre e por aí vai. Porém, se a idéia era mostrar o drama dessa gente, tirando a questão de baixo do tapete, como informam as sinopses que correm o mundo, o que se conseguiu foi colar ainda mais em nossos índios a imagem do ócio, da prostituição e de pequenos furtos, o que só faz aumentar o preconceito.
Saio do cinema e percebo que os últimos raios de sol ainda iluminam o Parque Arnulpho Fioravanti. Num dia de tantas recordações, já do lado de fora do Shopping, agora na calçada da Rua Joaquim Teixeira Alves, dou-me conta de que acabei de assistir Terra Vermelha no exato local onde busquei inspiração para uma das futuras locações de meu primeiro longa-metragem. Estico as canelas em direção ao Terminal Rodoviário e vislumbro, logo adiante, ali nos fundos da garagem da Viação Motta, impoluta, resistindo bravamente ao tempo, a velha casa avarandada onde passei os anos dourados de minha infância. Naquele tempo, sim, é que era terra vermelha.
* Jornalista:valfridosmelo@hotmail.com blog: valfridosilva.blog.terra.com.br).

16 de Dezembro de 2008 20:33

CHANGA-Y

CHANGA-Y
Isaac Duarte de Barros Junior *


Nas adversidades da vida, quando a opção de trabalho era bastante embrutecida e rude no rigor dos ervais, existiu o famoso ladrão de erva, que foi a maior das muitas dores de cabeça da Companhia Mate Laranjeira. Com o aumento dos consumidores de chimarrão ou da ka’a akaiguê (erva queimada) com água quente na linguagem dos índios guaranis, os habilitados da Laranjeira Mendes & Cia, sentenciavam antecipadamente de morte, todos os vendedores clandestinos que afrontaram a poderosa empresa, com seus furtos de folhas dos ervais nativos mato-grossenses

Eles eram considerados nesse tempo, como ka’a caraís (senhores dos ervais) pelos “receptadores”, embora estes compradores vivessem maus momentos quando flagrados com a mercadoria clandestina. Na época, quem não comprasse a erva-mate diretamente dos habilitados da Ervateira do Thomaz Laranjeira, era apontado como comprador d’algum barbacuá clandestino ou de changa-y (ervateiro ladrão). Esses espertinhos, do final dos séculos dezenove e começo do vinte, levaram muita sova de guácha no lombo. Ou morreram de congestão de chumbo nas mãos dos capangas do Thomaz Laranjeira, aventureiro que arrendou uma vasta área no território sul de Mato Grosso, para explorar a erva-mate.

No período noturno, no embrenhado das matas fechadas, era a hora do changa-y trabalhar sapecando as folhas da erva-mate que colhia e carregava em suas costas. Geralmente, ela ficava amarrada em enormes pesados raídos (fardos) durante o dia. Com trabalho frenético que ia até o dia amanhecer, o peão fabricava a erva-caseira, pois depois dessa hora, um olheiro da empresa poderia delatar a localização do barbacuá. Bastava para isto, o empleado avistar alguma fumaça saindo em filete do meio das florestas densas existentes.

O interessante dessa época, é que as árvores da erva-mate eram nativas. Embora as terras fossem arrendadas do governo do Mato Grosso, não existia nenhum respaldo legal, para a empresa de industrialização da erva mate do empresário catarinense Thomaz Laranjeira, fazer justiça com as próprias mãos por intermédio de capangas armados. Infelizmente, esse homem de comportamento selvagem, que uns diziam ser argentino de nascimento, enriqueceu no transcurso do tempo e passou para a história como uma espécie de “rei”, escolhendo e indicando na velha república, quem deveria ocupar os cargos destinados a políticos, principalmente nos seus domínios que eram os ervais.

Com o aumento do numero populacional dos alcunhados changa-ys, foi preciso negociar politicamente com esses trabalhadores clandestinos. Mesmo sendo considerados um bando de ladrões, pela empresa do mate. Embora fossem todos eles, ou em na grande maioria, pessoas de nacionalidade paraguaia, o truculento Thomaz Laranjeira os transformava em “eleitores” brasileiros, mesmo não sabendo a peonada castelhana, falar nenhuma palavra em português. No “acordo” firmado entre ambas as partes, bastava nas eleições, o changa-y votar em candidatos indicados pela empresa. Caso contrário, se não cumprissem o trato, matavam todos os “traidores” e ainda queimavam os seus pequenos ranchos cobertos de sapé.Tratava-se de um capim seco que muito contribuía para o inicio do incêndio, sem esforço da jagunçada, ou gente contratada para a realização da empreitada sinistra.

Essas violências comuns, só chegaram ao final quando o capitão Heitor Mendes Gonçalves, assumiu a presidência da Cia. Mate Laranjeira. Era um homem de pouca estatura física, mas portador de um impecável caráter. Sendo respeitador disciplinado da ordem, deu uma nova característica direcional à empresa. Em sua gestão, muitos dos ex- contratados funcionários, tornaram-se pessoas influentes no desenvolvimento dos municípios da fronteira e do interior do futuro estado de Mato Grosso do Sul. Um deles, foi o médico Camilo Ermelindo da Silva,que se tornou deputado estadual e criou ainda no estado uno o município de Itaporã. Outro para se destacar, foi o advogado Aral Moreira, que também foi um hábil político.

O capitão Heitor, homem de grande visão empresarial, incentivou a agro-pecuária e foi o responsável por um memorável churrasco na fazenda Pacurí, de sua propriedade. Juntamente com alguns membros da família Dorneles, parentes de Getulio Vargas, conseguiu trazer o presidente da república à nossa região. Foi muito importante essa visita presidencial, pois em sua volta para o Rio de Janeiro, após sobrevoar uma grande faixa de terras, o chefe de Estado, criou sob aplausos de alguns próceres políticos matogrossenses a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND). O presidente da republica, iniciava também com esse ato, o declínio do “império” da Cia. Mate Laranjeira.

Esses empreendimentos do nosso passado recente e as pessoas que dele fizeram parte, quaisquer que fossem as suas nacionalidades, tornaram-se efetivamente os responsáveis pelo nosso desenvolvimento regional. Ainda que pareça uma pregação de apologia ao crime elogiar os “ervateiros ladrões”, acredito que o tempo e a história das estradas onde ninguém mais transita, já absolveram o “crime” praticado pelos changa-ys. Marginalizados no seu tempo, abriram caminhos no braço e no fio do machete, para existir o progresso de todos nós...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

OS FUNDADORES... ERAM DOIS!

OS FUNDADORES... ERAM DOIS!
Isaac Duarte de Barros Junior *

Terminados os conflitos militares envolvendo o império brasileiro e a república do Paraguai, com a morte do marechal Francisco Solano Lopes pelos comandados do general Câmara as margens do rio Aquidaban, em Cerro Corá. Cessadas as hostilidades completamente, o exército convencionou chamar a essa operação militar de campanha do Paraguai. Historicamente, o resultado foi uma enorme carnificina e o maior genocídio americano, onde milhares de mortos apodreceram nos campos de batalha. Tendo falhado o infame propósito do estado maior do comandante em chefe, conde D’ Eu, que era o de eliminar a população masculina paraguaia, se fosse preciso no útero da própria mãe. Vencida a guerra, foi estimulado pelo governo imperial a ocupação das terras conquistadas, denominadas terras devolutas. O procedimento básico latifundiário era simples, bastava o posseiro grilar uma área considerada terra devoluta, erguer nela uma casa para morar, cercar com arame de preferência farpado e depois era só requerer a posse definitiva nos órgãos representativos governamentais. Esse requerimento, na província do Mato Grosso pós-guerra da tríplice aliança, se fazia no tabelionato em Cuiabá e nesta região quase desabitada, no tabelionato do município de Nioaque.

Para assegurar a soberania brasileira nas terras incorporadas ao território nacional, a grilagem de terras devolutas virou uma espécie de costume trivial useiro. Muitas povoações surgiram à beira das estradas, em forma de colônias sem lei, habitadas por migrantes perigosos. Enquanto isso, lugarejos desapareceram tão rapidamente como surgiram. Descobri pesquisando exaustivamente, que nessa centena de posseiros aventureiros do final do século dezenove, estava Joaquim Teixeira Alves, Marcelino José Pires Martins, Izidro Pedroso, Francisco Xavier Pedroso, João Vicente Ferreira, entre outros. As famílias Vieira e Mattos, chegaram a Dourados no começo do século vinte e logo apadrinharam a futura emancipação política administrativa da cidade. Mas antes disso acontecer, os dois primeiros mencionados desbravadores planejaram por razões financeiras fundar um povoado nestas paragens. Marcelino, o mais bronco e muito católico, simbolicamente ergueu uma cruz enorme de madeira na sua posse e doou um quinhão para as pessoas que quisessem fazer a exploração das áreas devolutas localizadas na divisa da fazenda Alvorada até onde hoje se localiza a Praça Antonio João. Joaquim, um pouco mais comedido, doou e incentivou a ocupação gradual organizada das posses que começavam na Fazenda Cabeceira Alta, próxima do atual distrito industrial e terminavam nas proximidades da mesma Praça. Por esse motivo, o centro da cidade douradense começou a se formar ali e as brigas entre a dupla, idem.

Sendo geograficamente privilegiado por estradas de escoamento pecuário, um dos lados da cidade desenvolveu e evoluiu mais do que o outro. Apesar disso, havia a certeza de ter dado certo o projeto dos dois posseiros. Nesse período de grande progresso, o fazendeiro Joaquim Teixeira Alves foi morto misteriosamente. Coincidentemente, no dia do atentado, seu filho João estava no colo paterno e o mesmo projétil que matou Joaquim Teixeira Alves, fixou-se no pescoço do seu Joãozinho. Eu o conheci com idade avançada e sei que reclamava muito daquele estilhaço. Como o Joaquim Teixeira Alves, era um homem pacato e não tinha inimigos, durante muitos anos à população suspeitou injustamente de ser mandantes do crime, Marcelino Pires e o Juiz Paulo Hildebrando.

Entretanto, o mais correto a se concluir dessa tragédia centenária, é que tudo foi uma vingança antiga perpetrada por algum desconhecido, certamente era um desafeto ladino, pois nunca o identificaram. A rigor, muitos desses pioneiros douradenses deixavam culpa no cartório, geralmente oriunda dos lugares de onde procediam. Entretanto, o gaúcho Joaquim Teixeira Alves, morreu no ano de l911 e o paranaense Marcelino Pires, faleceu no ano de 1915, de uma grave enfermidade. Quanto à dona Pureza Carneiro Alves, viúva do pioneiro Joaquim, vendeu parte das suas terras ao fazendeiro Izidro Pedroso, que mudou a denominação da propriedade para fazenda coqueiro. A viúva de Marcelino, dona Eulália Pires, casou-se novamente e mesmo passando por sérias dificuldades financeiras, nunca abriu mão das terras requeridas pelo primeiro marido.

Os anos foram passando e aos poucos o povoado das Três Padroeiras crescia, pertencendo ao município de Ponta Porã. Foi nessa época, que aqui viveu um homem chamado Januário Pereira de Araújo. Historicamente, ele construiu no perímetro urbano douradense a primeira casa de madeira, seguindo-se a essa construção vários ranchos de sapé. Januário, também foi o primeiro construtor das quatro casas seguintes. Na década de trinta, 1932 para ser preciso, os habitantes do patrimônio, liderados pela família Mattos iniciaram movimentos populares visando dar melhor aspecto público a Vila de Dourados, agora nome oficial. O objetivo era modificar e colocar em linha reta a rua principal, a rua debaixo e a rua dos velhacos. Os engenheiros agrônomos, Dr.Valdomiro de Souza e Dr.Wlademiro Muller do Amaral foram os encarregados da medição. Assim, quando o interventor Mário Correa da Costa, criou por decreto Lei o município de Dourados no dia 20 de dezembro de l935, a rua principal, recebeu a denominação de Marcelino Pires, a rua debaixo o nome de Paraná (atual Joaquim T. Alves) e a rua dos velhacos de Rio Grande do Sul (atual dep. Weimar G. Torres). Ora, se a data 20 de dezembro, nunca representou a data de fundação da cidade, obviamente, festejar como aniversário de Dourados essa efeméride de assenso é uma teimosa bobagem bairrista, pois uma cidade não é fundada no dia em que se torna município.

Porém, a passagem da medição das ruas douradenses e de muitas outras ruas, foi documentada graças ao nosso primeiro fotógrafo, o Raul Frost. Havia um justificado pormenor pela inexistência de mais fotos, é que tanto o Dr. Vadú, como o Dr. Amaral, eram técnicos sistemáticos e avessos a posar para fotógrafos. Comportaram-se assim, todos os seus contemporâneos. O Vadú, acontecimento comum naquele tempo, foi morto a tiros de revólver. Quanto ao seu Amaral, um empreendedor de visão extraordinária, este pode na velhice ao final da sua benemérita vida, contemplar o resultado do trabalho realizado nas largas ruas desta cidade nos anos trinta. Assim, como os irmãos Rômulo e Remo, lendários guerreiros fundadores de Roma. Concluí baseado em depoimentos, muitos deles fornecidos por outros pioneiros, que os dois desbravadores, Joaquim T. Alves e Marcelino Pires Martins, apesar das escaramuças, ambos fundaram a cidade de Dourados. E querer mudar esse contexto é história mal pesquisada, elaborada no mínimo com irresponsabilidade por historiógrafos desinformados...!

*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Rua da briga

Na semana passada, recebi um presente daqueles que eu não esperava alguém ainda ter para dar: uma pasta com boa parte dos convites e fotos das obras que executamos na primeira administração.
Obrigado, Wellington. Só seu pai, meu amigo Harrison Figueiredo, poderia ter guardado esta lembrança. Aprendi muito com ele. Principalmente em gostar desta cidade e de quem gosta dela. Nesse dia também fiquei sabendo, que a Câmara de Vereadores já tinha aprovado o nome do Harrison na rua que antes era o Corredor Publico, ali no Jardim Santa Maria, entre a Rua Major Capilé e Avenida Marcelino Pires. E importante, faz esquina com as Ruas Wilson Dias de Pinho e Juscelino Kubitscheck. Pertinho do Monumento ao Colono, que ele muito me incentivou a construir.
E lendo alguns desses convites, é que me lembrei de um agradecimento que recebi há muito tempo depois, ao visitar um amigo que estava muito doente, com mal de Alzheimer, e já nem me conhecia, quando sua esposa disse que agradecia a mim, por ter sempre colocado extensivo à família, os convites que mandava para essas realizações.
Por eu sempre estar com a minha família nas inaugurações, fazia com que os companheiros levassem as suas também.
Na primeira administração fizemos asfalto em quase todas as linhas de ônibus. Era inauguração todo fim de semana. Faltaram somente 300 metros para fazer lá no Jardim Jóquei Clube.
Porque asfaltar a linha de ônibus? Porque era a rua com maior numero de casas e de maior movimento do bairro. Além do ônibus, por ali é que passavam mais automóveis, carroças, bicicletas e até a pé. Também era importante para a limpeza da cidade, pois sem o asfalto, a poeira e o barro eram levados pelos pneus dos veículos. Como faltava asfaltar muitos bairros, foi a maneira mais democrática de escolher onde asfaltar. Isso sem contar na expectativa do morador das ruas próximas, que passou a ter esperança do asfalto chegar logo à frente de sua casa.
Acredito que tenha sido uma das obras mais importantes que executamos naquela ocasião. Quem imaginaria, naquela época, ter asfalto no Parque ll, no Jardim Santa Maria, Vila Erondina ou no Jardim Piratininga? Valorizou o seu imóvel e aumentou a auto-estima da periferia douradense.
Entre bairros e linhas de ônibus foram quase 120 quilômetros de ruas asfaltadas dentro de Dourados. Asfaltamos também nos Distritos de Vila Vargas, Indápolis, Panambí e Itaum. E tudo isso com recursos próprios.
Ao iniciar o serviço no Parque das Nações ll, o secretário de obras Antonio Nogueira teve de fazer uma viagem para visitar seu pai em Goiás, e eu cedinho, expliquei aos encarregados por onde passaria o asfalto naquele trecho. Errei ao falar em qual rua passaria. Em vez da S 30 (hoje Rosemiro Rodrigues Vieira), falei na S 28 (hoje José Mendes).
Quando voltei após o almoço, boa parte da terraplenagem da caixa da Rua S 28 já estava feita, e todas os seus moradores estavam felizes. Mandei parar e preparar a rua que realmente deveria ser aberta.
Durante uma semana, os moradores da S 28 não me deram trégua. E como passava pelo menos uma vez por dia nas obras, todos os dias eles pleiteavam o asfaltamento daquela via. Pressionaram-me e de tanto me perturbarem, acabei cedendo e autorizando a fazer esta rua também. Acertei com a empresa de ônibus que na ida passava por uma e na volta passava pela outra. Apelidei aquela rua de Rua da Briga.
Outro caso pitoresco, foi que no prolongamento da atual Rua Justino Amaro de Matos, entre as Ruas Joaquim Teixeira Alves e Onofre Pereira de Matos, uma senhora de idade não deixou que fizesse o asfalto, porque como era corredor publico, não tinha 8 metros de largura. Queria que o corredor fosse da mesma largura das outras ruas. Não teve ninguém que a convencesse. Nem eu, nem os vizinhos. E o asfaltamento era de graça.
Está sem asfalto até hoje.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MITÃI...

MITÃI...
Isaac Duarte de Barros Junior *

Provavelmente com oito anos de idade incompletos, o mitãi (menino) já changueava (furtava) e carregava pequenos raídos (galhos de erva) na roça clandestina do pai. Ele cresceu nesse sistema bruto dos ervais e com o transcorrer dos anos, rapidamente aprendeu cortar, transportar, secar e fazer a pilonagem (socar) da erva mate nativa abundante. Assistiu muito moço, na adolescência, o nascimento da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), em 1944, e com ela a derrocada e declínio da Companhia Mate Laranjeira. É que nessa época, grandes áreas passaram por titulo de aforamento perpétuo para as mãos de particulares, todas elas atingindo ricas áreas ervateiras. Ele, com o apelido infantil de mitãi, era um homem adulto quando assistiu os municípios ervateiros se desmembrarem do município de Ponta Porã.
Assim, dentre outros, foi à gestação do viçoso município de Dourados, ainda envolvido num imenso território verde, cordão umbilical que se complementava com as regiões do Iguatemi a Vila Brasil, Naviraí a Caarapó. Somando-se nesse total, as terras das glebas da Vila Glória, Ivinhema e Angélica. Nesse tempo, a erva-mate das cooperativas da região de Amambai e Iguatemi, vivendo os seus últimos momentos, exportavam o produto para a Argentina via Porto Esperança, sob a fiscalização rigorosa do Instituto Nacional do Mate. Entretanto, já possuindo ervais com capacidade suficiente para suprir o seu consumo interno, os argentinos resolveram parar com as importações da erva-mate brasileira do Mato Grosso.
Os paraguaios que iniciaram as atividades na Empresa Mate-Laranjeira, produzindo-a através dos tempos e em seguida os seus descendentes que deram continuidade, com o desaparecimento dos ervais dos matos (erval nativo) e do erval limpo (plantado), presenciaram o colapso geral dessa cultura. Em 1966, a Argentina, nosso único mercado importador, paralisou também as compras que fazia nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Mitãi, contando 37 anos de idade, não vendo restabelecer a produção ervateira, resolveu trabalhar como sicário (pistoleiro). O melhor ”emprego” que arranjou na sua idade, segundo ele, e o mais compatível para exercer profissionalmente, uma vez que ele acertava até a cabeça de uma coruja no toco.
Afinal, a sua plantação de café, com a esperança de enriquecer depressa, fora exterminada na grande geada de 1946, quando ele sonhava se casar nos seus apenas dezessete anos. Mitãi, agora a mando do novo patron, emboscou e matou um desafeto que andava supostamente saindo com a mulher desse chefe fazendeiro. Aquele, lavou a otária honra, assassinando apenas um urubu e mesmo assim, não se livrou da carniça. Descoberto o crime, o brasiguaio e o mandante, ficaram anos na cadeia.
Aconselhado por amigos comuns, mitãi, logo que deixou a prisão, organizou uma monteada (expedição) tentando descobrir novos ervais e tudo o que encontrou pela frente, foram campos entupidos de soja plantada e nenhuma mata nativa. A lida antiga nos ervais, quando se falava alguma coisa a respeito da saga, era contada romanticamente no proseio de caraís (pessoas amigas) saudosistas. Benito Cáceres o mitãi, solitário e doente, sentiu o peso do tempo e dos seus setenta e quatro anos. Nem mesmo ele sabia, costumava dizer, como havia chegado inteiro ao ano de dois mil e três. No dia dez de dezembro, me falou do seu passado nos ervais, comemos um lôcro caliente e sem se despedir de ninguém, o velho morreu de madrugada...

*advogado criminalista, jornalista. e-mail : isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Qual o nome de sua Rua?

Sempre me chamam a atenção os nomes das ruas de uma cidade. No Rio de Janeiro tem bairros inteiros que acompanham a história. Ipanema, por exemplo, foi premiada com os nomes dos heróis e personalidades do final do século 19, pois Joana Angélica, General Ozório, Visconde de Pirajá, Barão da Torre e Barão de Jaguaripe foram destaques desse período do Brasil.
Já o Leblon, por ser mais novo, colocou nomes de suas ruas de heróis e personalidades da America, principalmente dos países aliados da Guerra da Tríplice Aliança.
Aqui em Dourados tem ruas com nomes que muitos não conhecem. Quem foi Napoleão Laureano? Foi um medico paraibano, que ao contrair um câncer sentiu na pele como era difícil seu tratamento pelos órgãos do governo. Fez um trabalho junto às autoridades e conseguiu que o governo se preocupasse mais com o tratamento dessa doença. Passou a ser nome de rua no Jardim Londrina, por indicação de algum vereador, acredito que médico. Fiquei sabendo dessa historia pelo meu saudoso amigo Dr. Áureo Garcia Ribeiro.
Quando aqui cheguei, ao estudar a planta da cidade, por causa da obra de esgotos sanitários na década de 70, os nomes das ruas eram bem diferentes. Onofre Pereira de Matos era Rua Santa Catarina, Antonio Emilio Figueiredo era Rua São Paulo, Hayel Bon Faker era Rua Bahia, Toshinobu Katayama era Rua Espírito Santo.
Joaquim Teixeira Alves tinha sido Rua Paraná e Weimar Gonçalves Torres tinha sido Rua Rio Grande do Sul.
Os mais antigos lembram que na década de 30, quando Dourados foi emancipada, o comércio todo ficava na Avenida Marcelino Pires e os maus pagadores para não passar pelo comércio, passavam pela Rua de cima. Logo botaram o apelido de Rua dos Velhacos (hoje Avenida Weimar Gonçalves Torres).
A Rua João Vicente Ferreira era a Rua Municipal. Há pouco tempo mudaram o nome da Rua Ponta Grossa, que passou a ser Olinda Pires de Almeida e muitas outras também tiveram seus nomes trocados.
No Jardim Água Boa os nomes iniciavam pela letra W. Hoje todos têm nomes de personalidades e pessoas que prestaram serviços em nossa cidade, mas continuam sendo chamadas de W-5, W-9 e outros Ws.
Os nomes de ruas é incumbência dos vereadores. Sempre achei que a Câmara de Vereadores deveria fazer uma lei que quando mudasse o nome de uma rua, fosse obrigado a ter, embaixo do seu nome atual, o nome antigo em letras menores. Rua Gustavo Adolfo Pavel- antiga Ivinhema. Seria mais justo para com o que tinha sido trocado, apesar de ter uma lei que proíbe trocar de nomenclatura as ruas com nomes de pessoas e cidades.
Não é fácil dar nome as algumas obras do poder público.
Lembro de que quando da escolha do nome do Presídio Harry Amorim Costa, o Chefe da Casa Civil do Governo pediu-me para que indicasse um nome. Procurei alguém que tivesse o perfil dessa honraria. Falei com parentes de dois ex-delegados que trabalharam aqui, e seus familiares agradeceram a lembrança, mas recusaram a colocarem seus nomes no Presídio. Passei o nome do ex-governador Harry, pois além de ser merecido, não teve nenhum parente aqui para reclamar a homenagem.
Acredito que até hoje não foi dado o nome da Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário que fizemos na região da Vila Iran de Matos. Estação de Tratamento de Esgotos Sanitários Fulano de Tal. É demais...
Por isso que normalmente, cemitério tem nome de Santo.
Foi meu desejo, quando prefeito, que a Secretaria da Educação fizesse um concurso para que os alunos da rede municipal, e quem sabe, todos os alunos do ensino fundamental escrevessem sobre a sua rua. Depois teria uma comissão para escolher as melhores redações sobre sua rua, que mais tarde se transformaria em livro. Eles teriam conhecido um pouco de história, e teria matado a curiosidade de criança. Não consegui.
Senti isso na pele há vinte e poucos anos, quando morava no Gran Village, esquina da Ciro Melo com João Rosa Góes, com meus filhos querendo saber quem tinham sido eles. A sorte é que minha vizinha era a Dona Biga, que com toda a paciência contou, o que era na época impossível encontrar nos livros.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Foi no velho Mato Grosso...

Braz Melo (*)

Na década de 70, quando só tinha a Radio Clube de Dourados para ouvirmos, me marcou a musica tema do programa do José Guerreiro “Boa Noite Lavrador”, que toda noitinha tocava “Meu irmão da roça” com Léo Canhoto e Robertinho.
Não tínhamos outra radio, muito menos televisão. De dia era ouvir os programas da Radio Clube. Começava com Cloe Fazano e Marco Antonio com Fatos e Noticias. Tinha o Encontro Matinal com Albino Mendes e depois vinha o Gilberto Orlando e Seu Jorge Antonio. Voltava Fatos e Noticias agora segunda edição. De tarde tinha o Odir Pedroso, o Carlos Renê e à noitinha, José Guerreiro.
Todos que precisavam mandar um recado urgente era através dela. Tinha até um programa especial para isso: o Mini-Recados. Para buscar as vacinas “na reta”, correspondências que chegavam aos Correios e até comunicar nascimentos e falecimentos. Não tinha outro tipo de comunicação falada.
Relembrando essa época, fico pensando porque tem pouca musica que fala de Dourados? Será por ser bem mais nova que essas outras cidades de nosso estado que são cantadas em prosas e versos? Ou porque a maioria de seus habitantes veio de outros locais, e é de lá que sentem saudades?
“Fui conhecer o belo Mato Grosso” é a primeira estrofe da musica “A Mato-grossense” que fala da beleza de nossa terra e da mulher que conheceu em Coxim. Zacarias Mourão também canta Coxim em “Pé de Cedro”, que todos conhecem: “Foi no belo Mato Grosso... há 20 anos atrás”. O professor de português poderia dizer: se era há vinte anos, não precisava do atrás... É para rimar e soltar a garganta em “Que não volta nunca mais...”.
Tem também “60 dias apaixonado” imortalizado por Chitãozinho e Xororó, de Darci Rossi e Constantino Endes que fala da morena que deixou em Aparecida do Taboado.
A “Seriema de Mato Grosso” feito por Mario Zan e Nhô Pai enaltece Maracajú e Ponta Porá e quer “rever os campos que eu conheci”. “A Chalana” foi feita por Mario Zan no porto Geral de Corumbá, “Navegando no remanso do rio Paraguai”. Tanto a sanfona, quanto o cantor choram nessa interpretação.
Outros falam em Campo Grande, Aquidauana, Bela Vista e tantas outras cidades de nosso estado. Musicalmente, também esqueceram de Dourados.
Quando vejo o Carlos Fabio e Pacito cantando esta beleza de musica “Meu Mato Grosso do Sul”, que nos brinda em um lindo clip na TV Morena fico pensando porque a inspiração do santista Carlos Fábio e do tricolor das Laranjeiras Carlos Marinho não veio em nome de nossa cidade?
Assim foi também com Silvio e Sidnei, Kleber e Kleberson, Trio Mato Grosso, Salu e Salim, Laércio e Marati, Jota e Jotinha, Dourado e Douradinho, Trio Douradense e Borges e Borginho. Só para lembrar alguns dos grandes interpretes de nossa terra.
Quando prefeito, incentivamos a fazer um concurso e daí, produzir um CD com as melhores composições sobre Dourados: “Dourados Canta”. Anteriormente tinha ajudado o Silvio a compor “Cidade Modelo (II)”, mas não pegou. Não apareceu nenhuma canção para empolgar.
Quando da divisão do estado ao compor o hino de Mato Grosso do Sul, Jorge Siufi para homenagear nossa região (Matas de Dourados e Campos de Vacaria) usou Vacaria em vez de Dourados.
Só o hino de Mato Grosso, composto por Dom Aquino Correa, tem Dourados na sua letra: “Dos teus bravos a glória se expande; De Dourados até Corumbá; O ouro deu-te renome tão grande; Porém mais nosso amor te dará!”
Só que isso vai fazer 90 anos, e relembra a epopéia de Antonio João e outros heróis na guerra do Paraguai.
Almir Sater canta a musica “O Carrapicho e a Pimenta”, que desculpem, não sei de quem é, e que diz: “Pisei em Rio Brilhante; Inté chegar em Dourados; Gole seco, fumo grosso; Maracaju, Maracajueiro”. É muito pouco.
Vamos orar e torcer para que Deus inspire nossos músicos e poetas, para que façam canções que falem e cantem Dourados, como ela merece.
(No Blog podem-se ouvir algumas dessas musicas)

(*) Engenheiro civil e ex-prefeito
http://estoriasdedourados.blogspot.com

A Seriema - Irmãs Galvão/Musica de Mario Zan e Nhô Pai

A Mato-grossense- Renato Teixeira/ Musica de Zacarias Mourão

Meu Mato Grosso do Sul- Carlos Fabio e Pacito/ Musica de Carlos Fabio e Marinho

Cidade Modelo- Silvio e Sidey/ Musica de Braz Melo e Silvio

Sérgio Reis- Chalana/Musica de Mario Zan

 Sérgio Reis - Chalana

Cesar menotii e Fabiano - 60 dias apaixonado/Musica de Rossi e Endes

 Cesar menotii e Fabiano - 60 dias apaixonado

Lígia Mourão e Tostão- Pé de Cedro/Musica de Zacarias Mourão

 Lígia Mourão e Tostão - Pé de Cedro

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Meus amigos...(ou Nasce um blog)

Ao falar do Douradão no ultimo artigo, tive os primeiros “escorregões” como escrevedor.
Ao ligar pro meu amigo são-paulino Albino Mendes, perguntando sobre um acontecimento de 30 anos atrás, ele aproveitou e me lembrou que a escolha do nome do Douradão, foi precedida de uma enquete feita pela Radio Clube e O Progresso, entre os nomes dos desportistas Jose Roberto Teixeira e Mauro Rigotti. Lembrou-me que a disputa foi acirrada e que depois do resultado, morreu o Fredis Saldivar, que acabou dando o nome ao Douradão. E foi uma confusão danada. Não lembrava.
Lembrou-me também de uma campanha que foi feita para uma das primeiras reformas da LEDA (Liga Esportiva Douradense de Amadores), que feita por ele e o José Guerreiro acabou construindo os vestiários subterrâneos e parte das arquibancadas, do qual também nós ajudamos. Também me lembrou que consegui uma audiência com o governador Garcia Neto para conseguir os recursos. Também tinha esquecido.
O meu amigo vascaíno, Roberto Razuk fez uma carta aberta, informando de que a UEMS foi um ato das Disposições Gerais e Transitórias, da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul, em seu artigo 48, e não lançada pelo Pedrossian, como descrevi. E que a comisão presidida por ele fez mais de 120 audiências publicas. Realmente deixei de relatar esta verdade. Errei no tempo, até porque não era intenção em aprofundar neste assunto, que o amigo vascaíno poderia com conhecimento de causa, nos relatar. Um artigo será pouco para este pedaço de nossa história.
Como também deixei de informar que das duas (errei, foram três) vezes que o Ubiratan foi campeão sul-mato-grossense, o amigo era não só presidente do Clube no primeiro, como peça importante das outras conquistas. E em todas as vezes pude como prefeito ajudá-los no que era possível nos anos 1990,1998 e 1999 (este de forma invicta). São outros artigos que você pode nos brindar, amigo Roberto.
E encontrando meu amigo flamenguista João Totó Câmara, e relatando esses esquecimentos, ele como sempre, educadamente, e que tem estórias para fazer uma enciclopédia, me lembrou que eu também tinha esquecido das reuniões que o seu PMDB tinha feito com o Dr. Wilson, para a retomada das obras quando o Pedro deixou o governo. Ganhei o dia.
Ganhei o dia por ter tido a felicidade de ter contatos com esses amigos, que devido à correria diária, muitas vezes ficamos sem encontrar. E ganhei o dia por ter, com estas informações, aprendido um pouco mais sobre nossa Dourados.
Há muito tempo venho falando e tentando convencer as pessoas mais antigas de nossa região em escrever sobre as coisas vividas em nossa terra. Já perdemos um pouco de nossa história com as passagens do Sócrates Câmara, do Harrisson de Figueiredo, Dr. Airton Barbosa e tantos outros.
Manuel Ribeiro Martins (seu Claudiomiro), Dona Ercilia Pompeu e outros mais idosos, a Goretti Dall Bosco colheu diversas informações e as colocou em um livro, “Pioneiros, viajantes da ilusão”, e o Professor Wilson Biasotto, pesquisando e ouvindo diversos pioneiros contou a estória de Laquicho.
Dr. Julio Capilé, com aquela memória incrível, sempre nos está presenteando com muito da nossa história, através de seus artigos. O corintiano Roberto Djalma é craque em relato de seus casos de Dourados.
Outros tantos têm contribuído em coletar estas informações através de livros.
Hoje, com o evento da internet, é importante colocar isto em um site. Ofereci a idéia a diversos jornalistas e entidades, e senti pouco interesse, talvez em virtude da juventude daqueles e muito serviço dos outros. E falo isso há pelo menos três anos.
Por isso resolvi criar um blog para que as pessoas possam colocar as suas estórias neste local. Falo estórias, pois cada um tem a sua versão. Todos terão oportunidade de consultar e comentar este blog, inclusive será importante que todos que têm conhecimento daquele assunto acrescentem ou comentem a sua versão. Assim estará contribuindo para este blog e a nossa história.
O endereço é http://estoriasdedourados.blogspot.com/
Porque estória e não história?
Procurando no dicionário encontramos:
Estória: s.f. Narrativa de ficção; exposição romanceada de fatos puramente imaginários (distinta da história, que se baseia em documentos ou testemunhos); conto, novela, fábula: estórias de quadrinhos./ Ant. história.
No nosso caso acredito que seriam “Contos”.
A do amigo Roberto Razuk já está no blog.
E esta também.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ao meu amigo Braz Melo

Roberto Razuk (*)
Li, na quinta-feira, 13, nos jornais diários de Dourados o artigo “Douradão”, de sua autoria, aliás, muito interessante e bem escrito. Apesar de ser vascaíno e também estar ameaçado de rebaixamento no Brasileirão 2008, torço para que seu Fluminense continue junto com o meu Vasco na primeira divisão. Afinal, são duas grandes equipes do futebol brasileiro. Mas, estou me dirigindo ao amigo para fazer uma correção à bem da verdade. O ex-governador Pedro Pedrossian não lançou a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, a UEMS, em seu primeiro mandato, na época em que se pensou e se iniciou a construção do Estádio Fredis Saldivar, o Douradão, em 1979, com induz o seu texto. O certo é que a implantação da UEMS era uma obrigatoriedade do Governo do Estado inserida no artigo 48 da 2ª Constituição de Mato Grosso do Sul, promulgada em 1989. Tive a honra de presidir a Comissão de Sistematização da Assembléia Constituinte e pela qual fizemos cerca de 120 audiências públicas dando a oportunidade a todos os segmentos da sociedade sul-mato-grossense de expor suas idéias, inclusive sobre a UEMS. No Ato das Disposições Gerais e Transitórias diz o artigo 48: “Fica criada a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul com sede na cidade de Dourados, cuja instalação e funcionamento se darão no início do ano letivo de 1991”. É verdade, porém, que a UEMS fora implantada por Pedro Pedrossian, em seu segundo mandato, somente em 1993 e passou a funcionar em 1994, tendo o professor Jair Madureira com reitor pró-tempore. E passados 14 anos, a UEMS é um orgulho sul-mato-grossense sediada em Dourados. Era um anseio da sociedade que se tornou uma realidade e, hoje, é uma instituição respeitada que ajuda a impulsionar o desenvolvimento do Estado. Um grande abraço. (*) Foi deputado estadual em duas legislaturas, entre 1987 a 1994

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Douradão 13/11/2008

Conversando com o José Paulo Teixeira, são-paulino de quatro costados, não poderia faltar ao papo, o futebol. Ele com a felicidade de torcer por um time muitas vezes campeão, e eu sofredor com o meu, sujeito a ser rebaixado novamente para a segunda divisão.
Depois da morte do Airton Senna, que era minha alegria dos fins de semana, não tem sido fácil torcer pelo Barriquello, Guga e o Fluminense. Ainda bem que o Guga parou de jogar por causa das contusões e o Barriquello, a Honda o está aposentando. Sobra só o sofrimento no futebol.
De lá partimos para o futebol em nossa cidade. Falamos sobre o Douradão, que necessita urgentemente de reformas. Está largado. Nem água para os jogadores tomarem tem. E o gramado está completamente infestado de carrapichos e outras pragas. E nós que pensávamos que tendo o estádio, seria a redenção de nosso esporte preferido. Fomos campeão estadual duas vezes com o Ubiratan. E só.
Hoje vou contar como foi a conquista desse estádio para nossa cidade.
Trabalhava na SANESUL e Pedrossian acordava muito cedo, e como eu, engenheiro e madrugador, sempre ia tomar café na sede da SANESUL, para saber o que estávamos fazendo ou planejando executar. Inclusive foi em uma dessas idas lá, que tive a oportunidade de mostrar a área onde hoje está construído o Parque dos Poderes. Dr. Pedro queria construir, mas pensava em outro local (Onde fica o stand de tiros do Exercito, na saída de Rochedo era um dos locais estudados). Ao ver aquela área e sendo da SANESUL ele não titubeou e ali projetou o Centro Administrativo Estadual.
Depois de algum tempo, numa das suas alvoradas cotidianas, ele me perguntou o que eu achava que ele deveria fazer em Dourados para que marcasse aquela sua administração. Opinei que quando governador de Mato Grosso havia criado uma universidade e na sua estrutura, construído um estádio que tinha inclusive seu nome. Nada mais acertado do que construir um estádio de futebol em Dourados, já que ele tinha lançado a Universidade Estadual, com sede em Dourados.
Ele me deu quinze dias para arrumar um projeto de um estádio para Dourados.
Onde acharia um projeto de um estádio pronto, que encaixasse com as necessidades de nossa cidade?
Depois de muito procurar, lembrei de um colega da escola de engenharia que trabalhava em uma firma de projetos, o Marcio Bandeira. Liguei para ele e a firma que ele trabalhava, a SEEBLA tinha feito projetos para a Colômbia sediar a Copa do Mundo de 1986, que mais tarde desistiu por falta de recursos.
A SEEBLA tinha feito o projeto do Serra Dourada. Tinha tradição em estádios de futebol. E tinha um projeto de um estádio para 25 mil torcedores. Na mosca!
Fui falar com o Dr. Pedro, e aí foi o susto, pois ele queria que tivesse uma maquete também. Por Deus, o Marcio me disse que tinha uma maquete também.
Em quinze dias chegou o projeto, a maquete, e os técnicos adaptaram o projeto da Colômbia para Dourados. Agora era arrumar um local para construí-lo.
Procurei o Senhor Alei Machado, que estava iniciando seu loteamento, e ele prontamente nos cedeu o terreno. Claro que o Prefeito, que era meu adversário, não ficou satisfeito e quis mudar o local, mas parecia que o projeto tinha sido feito para aquele lugar.
Pedrossian não aceitou as reclamações e autorizou levar a maquete para que o povo de Dourados soubesse que seria iniciada a obra o quanto antes.
Não esperei novas ordens. Coloquei a maquete no carro e instalei-a na Caneca, bar do meu amigo Aparecido, que ficava bem na pedra (Quase esquina da Marcelino Pires com Presidente Vargas). Que confusão... Pedrossian me chamou e bravo, falou-me das reclamações dos adversários, Expliquei que já que ele queria que o povo soubesse, não tinha lugar melhor.
Iniciou a construção, e foi inaugurado no governo do Ramez. Continuou no Governo do Marcelo e a iluminação foi inaugurada no novo governo de Pedrossian. Por coincidência com o jogo Internacional e Fluminense. E eu nem fui convidado.
Numa homenagem do deputado Valter Carneiro foi colocado o nome de Fredis Saldivar, desportista, empreiteiro de obras e meu vice, quando perdi a eleição de prefeito para o Luis Antonio em 1982.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Zé da Mala- 06/11/2008

Recebi a visita do meu amigo José de Azevedo. Passamos horas agradáveis relembrando casos antigos, que como ele poucos sabem relatar. Havia anos que não conversávamos e aproveitamos para colocar a prosa em dia.
Esteve aqui na região antes da eleição, tentando acalmar os ânimos da política calorosa de sua Vila Glória. Terra que viu nascer e depois de ter virado Glória de Dourados foi prefeito por cinco vezes. Antes da emancipação de Dourados foi vereador por dois mandatos, sendo que no primeiro foi o vereador mais votado de todo o antigo Estado de Mato Grosso.
Homem de muitos amigos, padrinho de 600 afilhados, continua demonstrando entusiasmo ao falar sobre nossa região, e as lágrimas, muitas vezes, escapam-lhes dos olhos.
Tem ficado mais em Barretos, pois um câncer lhe impede de viver em outro lugar. Devido à situação financeira que ele passa, teve de ficar longe de sua companheira de mais de 51 anos, D. Aparecida, pois as despesas lá são pesadas para um homem que dedicou toda sua vida em prol da comunidade em que viveu, e nunca se preocupou em guardar recursos para a velhice.
Contou-me que lá, em Barretos no Hospital do Câncer, eles mesmos lavam suas roupas. E que ele virou um exímio lavadeiro.
Mesmo em tratamento, tenho certeza que em Barretos, ele deve está procurando atender as pessoas carentes e principalmente aos conterrâneos mais necessitados. Logo será reconhecido embaixador do MS.
Para os mais novos, José de Azevedo é um homem público exemplar, que chegou a Dourados na década de 50, e que junto com seu pai, veio plantar café em Itaporã, então distrito de Dourados. Por causa da geada perdeu toda a sua lavoura. Devendo ao Banco do Brasil, foi parar em Jateí, mas como já tinha algumas casas e até uma feirinha, não se contentou com o patrimônio e resolveu ir mais adiante, onde ia ser criada a Vila Glória. Com espírito de bandeirante viu criar os municípios de Itaporã, Glória de Dourados e outros no Mato Grosso.
Tudo que tem em Glória tem a mão do José de Azevedo. Lembro que apareceu um buraco na cidade, que foi crescendo a olhos vistos. Pensem em coisa grande. Em pouco tempo tinha tomado uma proporção enorme, que o Ministro Rangel Reis ao ver de avião, comentou que era mais fácil e barato mudar a cidade de lugar. Pois o José não descansou e conseguiu através do DNOS e do Exercito ajuda para tapar aquele buraco imenso.
Os filhos precisavam estudar e ele e D. Aparecida, como na região não existia faculdades, foram para Campo Grande, procurando educar melhor seus sete filhos.
Veio a campanha de 1982, e um amigo dele queria ser prefeito de Glória, mas como na época existiam as sublegendas, precisava de reforço de companheiros que tinham votos, e foi até Campo Grande e convenceu o José de Azevedo a ajudá-lo a vencer dos adversários, que eram fortes demais. Acabou convencendo-o a vir ajudá-lo como candidato a prefeito em outra sublegenda. Ajudou tanto que o José ganhou a eleição.
Nesse período ganhou um apelido, Zé da Mala. Como não tinha casa em Glória, ficava nas casas dos compadres.
Em 1988, fazia parte da diretoria da Frente Municipalista Nacional e foi um dos assessores que contribuiu com muitas conquistas para os municípios junto a Ulisses Guimarães. Antes da Constituição de 1988 o IPVA era exclusivo do Estado. A partir das lutas da Frente Municipalista, passou a ser 50% dos municípios. Também aumentou a participação do FPM de 12,50% para 22.50%. Foi uma grande vitória para todos os municípios.
Por estas e outras lutas, José de Azevedo é cidadão municipal em dezenas de municípios em Estados bem longe do nosso. E aqui onde dedicou sua vida toda? Só lembranças. Como diz o ditado “Santo de casa não faz milagres”.
Em 1989, me ajudou a criar o concurso de Bandas e Fanfarras que faz parte do calendário nacional. Ajudou-me também a conseguir trazer de Goiânia as mudas de flores e arvores que melhor se adaptaram ao nosso solo e clima.
Quando vejo governantes trazendo pessoas de outros lugares para trabalharem em nossa região, esquecendo de pessoas que deram o sangue para que pudéssemos viver hoje uma vida bem melhor, entendo como os homens esquecem rápidamente.
Mas a vida é mesmo assim, caro amigo José de Azevedo. Continue acreditando que amanhã sempre será melhor que hoje. Que Deus te dê todas as bênçãos do céu, juntamente com D. Aparecida e familiares.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Entre o CEU e a Terra- 30/10/2008

Muitas pessoas me perguntam sobre o CEU. Não o Céu que buscamos ao seguir os mandamentos de Deus para conquistarmos a vida eterna, mas o CEU escola, que fizemos em Dourados.
Assistindo ao debate dos candidatos a prefeitura de São Paulo, pela TV Record, pude ver como a candidata Marta Suplicy defendia seu projeto, das escolas unificadas com o mesmo modelo de Dourados. E o engraçado é que sendo do PT, não seguiu seus companheiros douradenses de partido, que omitiram o nome CEU, talvez para não se lembrarem das coisas boas do passado.
O atual prefeito de São Paulo, Kassab, informava que o CEU que ele e o Serra construíram era melhor do que o dela. Enquanto o candidato petista de Dourados prometia que se eleito, as crianças ficariam mais tempo na escola. Como funcionavam os CEUS de Dourados.
Aqui, o PT deixaram apagadas durante os sete anos e nove meses de sua administração as luzes do Monumento ao Colono. Além de não mostrarem a beleza do monumento, quantos acidentes aconteceram naquela rotatória por falta de iluminação? Também deixaram no escuro a bandeira brasileira da Praça Walter Guaritá ( Saída de Caarapó), que por lei tem que ser iluminada à noite (Crime conforme Art.15 § 3º da Lei nº 5.700, de 1 de setembro de 1971). E ainda encolheram a nossa bandeira.
Quando assumimos a prefeitura em 1989, Dourados tinha um déficit de 10.000 vagas na escola fundamental. Os bairros se multiplicavam pela periferia e as escolas na sua grande maioria, se localizavam nos bairros centrais de nossa cidade. Planejamos construir escolas que pudessem atender as crianças perto de sua casa.Não poderíamos copiar os CIEPs de Brizola nem os CAICs do Collor, pois eram projetos inviáveis para nossa realidade. Tanto pela sua grandeza quanto pelo seu custo. Como se sentiria uma criança do Parque das Nações II numa suntuosidade daquelas? Até teria medo de entrar.E era tudo com recurso próprio.
Precisávamos de um projeto que contemplasse salas de aula, creche, quadra coberta, refeitório, um local que funcionasse como teatro, tratamento médico e principalmente dentário, mas que não fosse muito diferente de sua casa. Por isso optamos pelo tijolo aparente.
As crianças ficavam mais tempo na Escola. Os que estudavam de manhã entravam às 7 horas e saiam às 15 horas. Os que estudavam de tarde chegavam às 9 horas e saiam às 17 horas. Oito horas na escola. Tudo isso foi estudado, mas uma coisa foi decidida antes de tudo: o nome. Foi escolhido CEU.
Então é que fomos escolher o que realmente representavam aquelas siglas: Centro de Educação Unificada. O nome era apropriado, pois ali funcionaria escola, creche, saúde e esporte.E nessa época, Dourados não tinha sequer uma quadra coberta publica.
Fizemos o primeiro CEU no Jardim Santa Brígida. Depois no Jardim Água Boa, João Paulo II, Parque das Nações II, Jardim Clímax, Maracanã, Quarto Plano, Reserva Indígena e Cachoeirinha. Contemplamos todas as regiões da cidade. E fizemos o Ginásio de Esportes Municipal Ulisses Guimarães e o Pavilhão de Eventos Mauro Rigotti, que há muito tempo está completamente abandonado.
Foram feitas tantas salas de aulas quanto todos os administradores tinham feito anteriormente. Zeramos o déficit escolar.
Na segunda administração fizemos o CEU do Jardim Flórida, mas um segmento estava faltando: atender os excepcionais. Foi quando tivemos a oportunidade de fazer a escola da Pestalozzi, inaugurada em 20 de dezembro de 2000.
Mas porque CEU? Fomos criados desde o nascimento com a idéia que o melhor é o Céu. Ninguém quer ir para o inferno. Nem os pecadores.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Batom dos Meio-fios-23/10/2008

O Batom dos Meio-fios
Braz Melo (*)
Corto o cabelo com o Zé do antigo Salão dos Artistas, em sua barbearia ali na Rua Bela Vista. Toda vez aproveitamos pra relembrar casos antigos. Ele foi um dos primeiros barbeiros que cortou meu cabelo aqui em Dourados ha quase 40 anos. Já cortei o cabelo com o Toninho, o Souza e o Cabral. Cada um em períodos.
Lembrando das primeiras ações na prefeitura, logo me perguntaram como surgiu a idéia de pintar sempre o meio fio com cal, e não só quando vinham autoridades ou tinha desfile em nossa cidade.
Todo mundo sabe que Dourados, por causa da terra vermelha, que representa terra boa, se torna suja, encardida. Imagina aquele tempo, quase vinte anos atrás, com poucas ruas asfaltadas e os ônibus, veículos e bicicletas trazendo toda poeira e barro para o centro da cidade.
Tinha sido eleito, em uma eleição memorável e um dos compromissos era limpar a cidade, que falavam ser a mais suja do Brasil. Precisava dar um choque de limpeza em nossa Dourados. Era compromisso nosso, assim como retirar os camelôs da Praça Antonio João e acabar com o déficit escolar.
Depois de consertar os caminhões d’água que tinha a prefeitura, começamos a operação limpeza, inicialmente pelo centro da cidade.
Combinei com o Egon Simm, Secretário de Serviços Urbanos e Osvaldo Basé, que eram os responsáveis pela árdua missão de limpar Dourados. Foi marcado pra fazer a faxina depois das 10 da noite, para não atrapalhar o comercio e o transito. Foi difícil, mas terminamos antes das 4 horas da madrugada.
Vim em casa, tomei um banho e fui trabalhar. Cheguei na “pedra” (na Avenida Marcelino Pires, entre a Avenida Presidente Vargas e Rua João Rosa Góes), local de encontro de corretores, compradores de gado e pessoas que gostam de saber e falar sobre os últimos acontecimentos da cidade. Parei em frente ao Bar Luchessi. Entrei no papo deles e nem tocaram no assunto da limpeza onde eles estavam pisando. Foi uma grande decepção pra mim.
Saí dali e senti que a limpeza tinha de ter um “algo mais”. As ruas estavam tão encardidas que não aparecia qualquer limpeza. Foi quando surgiu a idéia de pintar o meio fio com cal, pois chamaria a atenção das pessoas que por ali passavam e veriam que foi feita a limpeza do local. Pintura com cal só era feito nos dias de desfiles ou quando vinha autoridade nacional ou estadual na cidade. E isso era uma vez por ano.
Logo fizemos outra lavagem do centro, só que agora com a pintura de cal após.
Não deu outra. No outro dia quando parei o carro em frente ao café, já foram me perguntando qual autoridade viria hoje na cidade. Foi um impacto agradável, para os olhos e também para o amor próprio do douradense.
O mais difícil era limpar a Rua Hayel Bon Faker. Apesar de ter uma turma exclusiva para aquela região e como era muito comprida, ao chegar perto da W-18 sempre chovia e perdia-se o trabalho todo. O Basé ficava bravo, mas com carinho começava tudo outra vez. Eu brincava sempre, que nós éramos pagos pra isso. Nós limpávamos e a chuva, que era tão esperada pelos agricultores, sujava.
A limpeza era constante no centro e entradas da cidade. E periódica nas ruas de Dourados.
Claro que os adversários (naquela época tinham) quiseram botar defeitos e até me apelidaram de BrazCal, BrazTintas e outros apelidos, mas o importante é que a partir dessa época ninguém consegue limpar as ruas sem ter uma lata de cal do lado.
E hoje em todas as cidades brasileiras usa-se a cal como o batom dos meio-fios.

Urbanização e Traçado de Dourados- 16/10/2008

Urbanização e Traçado de Dourados

Braz Melo (*)

Dourados é uma cidade especial. E todos visitantes se maravilham ao chegar aqui. Cheguei aqui em 1973, e apesar de ter poucas ruas asfaltadas já chamava a atenção o seu traçado e sua urbanização. Parecia um tabuleiro de xadrez.
Nesta época não existia o contorno sul (ligação BR-163 com BR-463). A cidade começava no Ubiratan e terminava na Vila Popular. Não existia o Jardim Água Boa, mas os seus quarteirões de 100 por 100 metros e ruas de 30 metros de largura chamavam a atenção de todos. Até a Rua Aquidauana era assim. A Avenida Marcelino Pires é a única com 40 metros. Da Rua Duque de Caxias pra frente diminuíram as ruas pra 20 metros. Acredito que não precisava mais que isso.
Um dos defeitos (se existe) são as ruas serem construídas no sentido leste- oeste, que de manhã e a tarde, o sol castiga os nossos olhos e atrapalha a visão, dificultando os motoristas. Os acidentes normais de Dourados, geralmente, acontecem nesses horários.
Outra dificuldade deste traçado é que as ruas não têm fim. Um amigo meu dizia que a Avenida Marcelino Pires era a maior avenida do mundo. Começava em Cuiabá e terminava em Ponta Porã.
Foi uma das razões que construímos as rotatórias, pois além de podermos virar à esquerda, diminui a velocidades dos veículos. Não sei hoje, mas até a pouco tempo, os técnicos do DETRAN não gostavam das rotatórias. Só que elas diminuíram os acidentes em nossa cidade. E hoje em muitas cidades da nossa região fazem as rotatórias que copiamos de Goiânia. Na França, na Itália existem rotatórias imensas. A do Arco do Triunfo passa seis carros ao mesmo tempo.
Aqui, retiraram a rotatória da Hayel Bom Faker com Weimar Torres, porque na hora do pico (das 12:40 hrs as 13:30 hrs) dava um pequeno engarrafamento. Era só colocar a Guarda Municipal lá e organizar o transito “in-loco” naquele horário. Quem vem na Weimar e precisa entrar pro BNH 3 saiu prejudicado. E quem vem da Hayel, e quer ir pro Flórida?
Em compensação, construíram uma em frente ao DETRAN e duas em frente à Prefeitura, estas tão pequenas, que para diminuir o fluxo, tiveram de colocar um quebra molas na saída delas.
Através do José de Azevedo (ex-prefeito de Gloria de Dourados) conseguimos, também em Goiânia, as primeiras mudas de flores que foi feita a adaptação para nossa região. Quem imaginava Dourados, a cidade mais suja do Brasil (como dizia meu amigo Deputado Sultan Rasllan), com flores e cheirosa. Para isso precisava impedir que o barro e poeira fossem trazidos pelos ônibus e veículos. Foi quando asfaltamos todas as linhas de ônibus de Dourados. Ficou faltando 300 metros no Jóquei Clube.
Outro problema clássico de nossa terra: os bairros não eram interligados. Quem precisava ir do Jardim Itália ao Jardim Água Boa tinha de subir até a Rua Monte Castelo. Aqueles que moravam no Conjunto Izidro Pedroso e estudavam na Escola Estadual Maria da Gloria, que fica a 400 metros de distancia, por causa do córrego Paragens, tinham de andar 5 km para chegar à escola, passando pela Avenida Joaquim Teixeira Alves. Fizemos a travessia da W-5.
Depois foram feitas outras ligações que diminuíram os trajetos. W-11, W-9 com o Jardim Itália. Também ligamos o Jardim Londrina com a Rua Itamarati, pela Rua Napoleão Laureano.
Entre os Parque das Nações 1 e 2 fizemos o túnel na marra, pois o DNER não queria autorizar. Abrimos numa sexta feira anterior ao carnaval, aproveitando os feriados e quando deu quarta feira da paixão já estava a terraplenagem feito.
O maior problema hoje de nossa cidade em sua infra-estrutura é a falta da Perimetral Norte. E com a duplicação da rodovia Dourados-Itaporã, pelo Governo do Estado, vai engarrafar ainda mais o transito na Av. Presidente Vargas. O Deputado Federal Geraldo Resende informou que conseguiu colocar uma emenda de bancada para os anos 2009, 2010 e 2011(Que beleza!), com um total de R$ 50.400.000,00 (Em torno de 30 milhões de dólares).
Em 1992, quando prefeito, conseguimos através de uma emenda federal a importância de 250 mil dólares. Iniciamos a limpeza e terraplenagem de perto de dois quilômetros. E muita gente achou que daria pra fazer a obra toda. Esta emenda vem mostrar que o custo da obra é 100 vezes mais do que veio na época. Ou melhor, o recurso que veio representava 1% da obra. Nada como um dia atrás do outro.
Mas, o importante é que Dourados é uma cidade especial para se viver. Como dizia minha mãe, pra ser a melhor cidade do mundo, só faltava ser a beira mar.

Lições desta Eleição- 09/10/2008

Lições desta Eleição

Braz Melo (*)

Acabaram as eleições e aprendemos novas lições. É um eterno aprendizado. Felizes aqueles que aprendem com isso. Não só aprendem os que perdem, mas o que ganham também.
Aqui em Dourados, tivemos uma grande lição.
No inicio, poucos acreditaram na candidatura do deputado Ari Artuzi. Quando ele decidiu ser realmente candidato, após a surpreendente votação para deputado estadual, levaram-no para o PMDB com o intuito de monitorá-lo. Entrou por vias indiretas (Via Campo Grande), não agradando o diretório municipal do PMDB, porém em pouco tempo, com sua simplicidade e trabalho, já tinha conquistado quase todo o diretório municipal. Como o projeto da cúpula estadual não era fazê-lo prefeito, menosprezaram-no e fizeram tudo para desmoralizá-lo. Tentaram fazê-lo de gato e sapato, mas quando sentiu do que estavam tramando contra ele, foi para o PDT. E só foi por sentir que o estavam realmente fritando em fogo brando.
Com a história de que o Governo do Estado nunca ter perdido quem apoiava para a prefeitura daqui, acreditavam que ele não agüentaria a pressão de cima para baixo. Ledo engano.
Enquanto os outros pensavam o que fazer, ele já tinha feito há muito tempo. Continuava a conversar com o povo e desde então já pedia seu voto. E ele era o único a defender o povo sofrido que em oito anos tinha perdido o direito de ter uma simples consulta médica em poucos dias. A filha de nossa empregada ficou um ano para ter uma consulta de vista. E quando a lâmpada queima no poste em frente a sua casa, não mais se troca em 24 horas. A própria recepcionista da Secretaria de Serviços Urbanos informava que o prazo para trocá-la era de dez dias. As lâmpadas da frente da minha casa estão há dois anos apagadas.
A administração atual acreditava que estava tudo bem, o que acredito que seus responsáveis há muito tempo não vão à feira livre ou a um campo de futebol. Só foi entender quando abriram as urnas e seu partido que tinha quatro representantes, ficou com um vereador só. Assim mesmo, pela sobra e “sub-judice”. E com a menor votação dos que entraram.
E a proporção de 75% de renovação também foi para a Câmara como um todo. Só três voltaram.
E o PMDB do governador que poderia ter feito o seu prefeito, com a saída do Artuzi foi atrás da Bela Barros para compensar sua falta, e não sei por que, deixou escapar o Marcelo Barros, filho dela e do ex-deputado Roberto Djalma, secretário geral do PMDB local, para o DEM. Foi um dos mais votados e teria somado bastante na legenda, que cada vez, vai ficando mais franzina em nossa cidade. Até nos votos de legenda perdeu para o PP, que não teve nem candidato a vereador. Se não fosse D. Delia teria passado vergonha.
O nosso vice-governador acreditou na “escrita” de que o Governo sempre fez o prefeito de Dourados. Queria o apoio dos líderes, mas nunca apareceu com eles. Só aparecia com o governador. Dava a entender que todos deveriam votar nele pela competência. Nem precisava pedir votos. Será que novamente queria ganhar sozinho?
Agora é agüentar as cobranças do governador. E lembrar que até os milagres de Jesus não eram feitos sem os beneficiados pedirem.
Ao prefeito eleito Ari Artuzi, fica a esperança de que os compromissos assumidos sejam cumpridos. Claro que não será fácil, assim como foi a eleição. Ganhar foi fácil, tocar é que é difícil.
Agora é pegar a vassoura e começar a limpeza, pois há muito tempo não varrem em frente das nossas casas.

Balanço 2007 da Prefeitura de Dourados- 25/09/2008

Balanço 2007 da Prefeitura de Dourados

Braz Melo (*)

Fui até a Câmara Municipal e pedi uma cópia de parte do Balanço Financeiro da Prefeitura Municipal de Dourados, enviando por esta, como manda a lei, para aquela entidade Legislativa.
Entre outros, pedi o anexo 16, que traz as dívidas fundadas da Prefeitura. Lá pude constatar que a atual administração já endividou em mais de 80% do que todos os prefeitos anteriores somados em 65 anos de emancipação político-administativa.
Vamos por parte. Em 2001, ao assumir o cargo, o atual Prefeito de Dourados fez o maior escarcéu, dizendo que tinha pegado uma prefeitura devendo uma barbaridade. Falava em 170 milhões. Lembram-se?
Em 2002, ao entregar o balanço de 2001 (já dentro do seu mandato), informava que a dívida em 31 de dezembro de 2000 era R$ 78.639.713,58.
Assinado por ele. Quase 100 milhões abaixo do que ele alardeava.
E a mentira, de tanto ser ouvida, passa a ser verdade perante aqueles que ouvem. E pior, tem gente que passa a acreditar na sua própria mentira.
A dívida em 31 de dezembro de 2007, como esta escrito no Balanço, e assinado pelos responsáveis pelo documento, chegou a R$ 118.724.202,46. Somados aos R$ 25.000.000,00 autorizados pela Câmara em toque de caixa há poucos dias, totalizam R$ 143.724.202,46. Dividindo este número pelo de 31/12/2000, chegamos a mais 83%. Sem contar o ano inteiro de 2008, assim como o precatório do Banco Pontual, que a atual administração conseguiu adiar sua execução. Não a dívida, que hoje já se fala em R$ 53.000.000,00.
Claro que pagou bastante. Como todos os outros pagaram. Isso é obrigação do administrador.
A dívida que o atual prefeito deve deixar chega perto, ou quem sabe, passar do dobro, do que todos os prefeitos anteriores deixaram. Juntos.
Mas, o mais absurdo é que ninguém fala nada. Você já ouviu alguém comentar sobre isto? Dos vereadores, que já devem ter aprovado este balanço, não ouvi nenhum comentário.
E foi assim durante os sete anos já passados. Nem da imprensa investigativa. Nem dos candidatos que disputam o voto suado dos eleitores. Estranho, muito estranho.
Será que é falta de conhecimento? Ou é falta de interesse? Talvez por isso que chegamos a dez dias da eleição e muitos estão em dúvidas em quem votar até para prefeito.
Tem candidato a prefeito que talvez precise de 21 votos, como eu precisei para vencer em 1988, e com esta cobrança teria conseguido seu intuito. Voto não cai do céu.
Com estratégias erradas, tem coligação (mais de uma), que não entendeu que nesta eleição só tem três legendas fortes. A dos candidatos a prefeito. Na eleição municipal, todos saem de casa para votar no prefeito. Só os parentes é que saem pra votar nos vereadores. Saem de casa pra votar no 12, no 13 ou no 25. E o primeiro voto é dado para o vereador.
Já que o programa eleitoral não explica isto, os coligados que não têm candidatos a prefeito devem ensinar aos seus eleitores que primeiro vota-se no número do candidato a vereador e só depois, no candidato a prefeito. Tem de ser muito didático. Se não, vai ter legenda tão cheia de votos, que pode fazer um vereador só na legenda. Pensem nisso!

Isolamento Estratégico de Dourados- 18/09/2008

Isolamento Estratégico de Dourados

*Braz Melo

Há muito tempo, Dourados tem sofrido um interesse dos políticos de outros municípios em tirar a força desta região. Nem vou falar da política, que é só lembrar quantos representantes nós já tivemos e quantos nós temos atualmente.
Ainda no Governo de Mato Grosso, no mandato do ultimo governador, Garcia Neto ao iniciar a obra de asfaltamento da Rodovia que liga Dourados a Casa Verde, passando por dentro da Colônia Federal e Nova Andradina, e chateado com a confirmação da divisão do Estado, mandou iniciar a obra por Casa Verde até Nova Andradina, fazendo com o que os habitantes daquela região, em vez de vir para Dourados fazer suas compras, como de costume, foram se deliciar através do novo asfalto para Presidente Prudente. E gostaram.
Instalou-se então o Estado de Mato Grosso do Sul, e Dourados passou a ser a segunda cidade. Em população e importância.
Foi escolhido como seu primeiro governador, o engenheiro civil Harry Amorim e nem deu tempo pra planejar o novo Estado. O prefeito de Campo Grande Marcelo Miranda foi indicado pelos senadores Pedro Pedrossian, Mendes Canale e Rachid Derzi, como novo governador. Também ficou pouco tempo e então foi nomeado o senador Pedro Pedrossian, como governador do Estado de Mato Grosso do Sul.
Após essas nomeações, tivemos as primeiras eleições para governador de Mato Grosso do Sul, ganha pelo Dr. Wilson Martins. Na segunda eleição ganhou Marcelo Miranda, e na outra ganhou Pedro Pedrossian.
Tive de recordar um pouco este período, para poder explicar o nosso isolamento estratégico no cenário do novo Estado, na primeira etapa de 20 anos de Mato Grosso do Sul.
Pedrossian, como governador nomeado, fez o asfalto de Guaíra a Ponta Pora, o famoso Guaíra-Porã, que retirou todo o comercio e serviços desta vasta região de nossa cidade para usufruírem das cidades do Paraná.
Maracajú sempre usou Dourados como ponto de apoio para solução de seus problemas. Veio o Dr. Wilson e começou a construir a rodovia Maracaju- Campo Grande. Nunca mais o povo de Maracajú usou Dourados como referencia. Os moradores de Bela Vista sempre fizeram suas consultas com os médicos de Dourados. Com este asfalto, ficou mais fácil ir para Campo Grande do que vir pra cá.
Marcelo Miranda começou o asfalto de Naviraí a Ivinhema diminuindo as passagens forçadas por nossa cidade.
Voltou Pedrossian, e para completar, fez a ligação asfáltica de Itaporã a Douradina. O povo de Itaporã que vai pra Campo Grande, não precisa mais passar por Dourados. Nem cafezinho toma mais em nossa cidade.
Dourados ficou estrategicamente isolada. É só olhar no mapa do estado.
Hoje somos uma cidade de serviços e com diversas universidades. E por isso, muitas dessas cidades voltaram a usar os nossos préstimos. Ainda mais agora que a UFGD conseguiu as maiores notas de conceito do ENADE em Mato Grosso do Sul.
Temos uma faculdade de Medicina, mas não temos nenhuma especialização em nossa cidade. Os estudantes são obrigados a fazer residência em Campo Grande, Prudente e São Paulo. É hora de, em convenio com a prefeitura, Dourados ter especialização em Homeopatia, que hoje nós somos referencia e em Programa de Saúde da Família. Podemos ser a Cuba brasileira em saúde publica. Só assim, teremos o curso de Medicina funcionando cem por cento, pois estudos nos alertam que 90% dos médicos se instalam onde fazem suas residências. Além de formar, temos de usufruirmos dos melhores futuros médicos.
Na parte política, nem precisa fazer analises profundas, já que além de termos poucos representantes, estamos sem lideres. Só o Deputado José Teixeira se preocupou nas eleições passadas em fazer vereador. Fez o Sidlei Alves. Os outros são lideres deles mesmos. Nunca se esforçaram em fazer um vereador.
Campo Grande está feliz.

Demarcação de terras indígenas- 11/09/2008

Demarcação de terras indígenas (ou Saudades de Getulio Vargas)
Braz Melo

Recebi, pelo Orkut, de uma filha de amigos meus, a Mayara, que estando nos Estados Unidos estudando e trabalhando, fez uma cobrança sobre meu posicionamento em relação à demarcação da terra indígena em nosso Estado. Alertava sobre a possibilidade de outros países terem interesse em nossa região e também no aqüífero guarani, que vem desde Ribeirão Preto, até nossa região e chegam ao Paraguai, Uruguai e Argentina, constituindo na maior reserva de água subterrânea do mundo. Este oceano de água doce que está a maior parte em território brasileiro, daria para abastecer a população brasileira de água potável durante 2.500 anos. E todos sabem, que mais importante do que petróleo é água, pois o homem não vive sem ela.
Tinha estado, na ultima sexta-feira, na Câmara Municipal de Dourados, na audiência publica sobre a demarcação de terras, e vi principalmente os fazendeiros, bastante ansiosos e preocupados. Os indígenas que ali estavam, demonstraram que não tinham interesse em tirar terra de ninguém, mas como diz o ditado: “O que cai na rede é peixe”.
E onde eu tenho andado, não se fala em outra coisa. Cada um com sua idéia do que, e quem está por trás disto. Um amigo me falou que os Estados Unidos querem se fortalecer na fronteira dos países que fazem divisa com o Brasil, e que já demonstraram interesse em ser contra eles (caso da Bolívia e Venezuela).
Outros falam sobre Roraima e sua Raposa Serra do Sol. Sobre nióbio, plasma e fusão nuclear. Sobre a invasão de norte americanos e japoneses naquele estado. Faz-me recordar de Getulio Vargas, que por muito menos, ao visitar nossa fronteira em 1943 e ao ver nossa região invadida pelo idioma guarani, criou o Território de Ponta Porã, a Colônia Agrícola Nacional de Dourados e doou terrenos de 30 hectares a perto de dez mil famílias brasileiras, para manter a soberania brasileira. Foi o primeiro passo para o desenvolvimento de nossa região.
Aqui já invadiram terras do Deputado José Teixeira, e poucos dias atrás invadiram a fazenda do Ex- governador Pedro Pedrossian em Miranda, entre outros. Lembro-me de que em 1980, pedimos e o Governador Pedro Pedrossian autorizou o Dersul a construir uma lagoa para os índios, na Reserva Bororo. Depois de pronta, conseguimos alevinos e peixes para aquela lagoa.
Naquela época, era difícil entrar, e principalmente fazer alguma obra na Reserva, mas acredito que tenha sido uma grande benfeitoria para a aldeia. Mais tarde conseguimos fazer muitas outras obras, como o CEU Tengatui Marangatu, o Posto de Saúde, a Sala de Cirurgia, as Escolas do Panambizinho, do Carlito, entre outras.
Em 1986, eu era vice-governador, e um dia, sem mais nem menos, surgiu o Ministro da Justiça Nelson Jobim em nossa cidade, sem sequer avisar, como manda o protocolo, as autoridades. Nem a governadoria sabia. Fomos saber no outro dia, pela imprensa. O aeroporto de Dourados estava em ampliação. O avião do Ministro desceu em Ponta Porã, e de lá pegou um carro e se deslocou até a aldeia Panambizinho. Dizem que assinou o decreto de demarcação a luz de lamparina.
Junto aos Senadores Ramez Tebet, Ludio Coelho e Levi Dias e outros políticos, conseguimos falar com o Ministro da Agricultura Iris Resende, que nos apresentou o Presidente da FUNAI, Sr. Sulivan Silvestre, e que nos atendeu com toda fidalguia.
Diversas vezes estivemos em Brasília com ele, juntamente com uma comissão dos fazendeiros interessados e o Deputado Valdenir Machado. Não tínhamos interesse em resolver só o problema dos fazendeiros, mas de ajudar a solucionar um problema criado pelos administradores e políticos desde a sua criação, já que os índios foram levados para aquele local, pois não tinham nascidos na Reserva de Dourados.
Conseguimos trazê-lo em Dourados duas vezes. E o tínhamos convencidos que o ideal para todos era adquirir duas áreas de cinco mil hectares cada e deixaríamos a disposição de duas etnias, das três que vivem na Reserva de Dourados atualmente.
Com isso começaríamos a resolver os dois maiores problemas da Reserva de Dourados. Falta de terra, já que a Reserva Indígena de Dourados, criada em 1917, com 3.475 hectares, abriga hoje mais de onze mil índios, sendo mais povoado que trinta e dois municípios sul-mato-grossense e pelo conflito de cultura, já que três etnias na mesma área gera suicídios, alcoolismo e depressão.
Infelizmente, Sulivan Silvestre veio a falecer em um acidente de avião e não conseguimos solucionar da maneira que achávamos melhor naquela época.
Hoje, os fazendeiros do Panambi estão em Juti, muitos deles em depressão. As terras desapropriadas do Panambi viraram uma quiçaça, e os problemas dos índios da Aldeia Panambizinho só aumentaram de tamanho.
Hoje o problema é bem maior. Os antropólogos da FUNAI defendem a demarcação de números extraordinários, criando transtornos, além de demarcações indevidas e absurdas, problemas econômicos para o Estado.
Mas a proposta para a Reserva de Dourados pode servir de inicio de solução dos problemas maiores.
Por isso, temos de pensar muito antes de tomar uma decisão, como o Ministro da Justiça Nelson Jobim tomou.
Para que a gente não precise virar o rosto toda vez que ele aparece na televisão, já que hoje ele é o Ministro da Defesa do Brasil.