terça-feira, 20 de junho de 2017

Ao Mestre com respeito


 Braz Melo*


            Nascido na Fazenda São Pedro, pertencente na época a Campo Grande, Wilson Barbosa Martins faz questão de dizer que nasceu na Vacaria, hoje denominação de Rio Brilhante no dia 21 de Junho de 1917. Acredito que por sua influência cultural, levou aos poetas Jorge Antônio Siufi e Otávio Gonçalves Gomes a introduzir a sub-região de “Vacaria” no lindo hino de Mato Grosso do Sul ao invés de “Matas de Dourados”.

Wilson Martins completa nesta quarta-feira (21) 100 anos de vida. Mais da metade dedicada a política. A boa política.

Desde cedo foi estudar em São Paulo e frequentou a Escola Rio Branco e depois a Faculdade de Direito no Largo do São Francisco. Voltando pra Campo Grande se tornou um grande advogado, e apaixonado pelas causas publica ingressou na política. Saiu candidato pela UDN em 1950 e perdeu a eleição.  Não desanimou e logo virou Prefeito de Campo Grande, onde organizou a Prefeitura com obras voltadas para a comunidade e fez os primeiros concursos públicos.

Foi Deputado Federal e crítico à ditadura militar. Foi cassado, o que aceitou com resignação e firmeza.  Foi o Primeiro Presidente da OAB- MS e quando da redemocratização da política se filiou ao MDB e saiu candidato, ganhando a eleição em 1982, como primeiro governador eleito pelo povo de MS.

Fez uma administração exitosa e participou ativamente da campanha das Diretas. Foi nesta época que o conheci e a convite de seus companheiros tive a honra de participar desta campanha, quando entrei no PMDB. Com ele tive a oportunidade de conhecer muitas personalidades da política brasileira e recebe-las em nossa Dourados. Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, Orestes Quércia, Pedro Simon, Franco Montoro, Valdir Pires e Ulisses Guimarães, dentre outras.

Falando em Ulisses, me recordo que após ter feito sua campanha eleitoral para presidência, recebi o maior elogio que poderia ganhar. Ao encontrar com ele em Brasília e perguntando se ele lembrava-se de mim, ele disse “Como posso esquecer de um prefeito de uma cidade grande, que conhece seus eleitores pelo apelido”.
Em 1986, Wilson Martins renunciou seu mandato como governador e tornou-se Senador da Republica, e fez parte da Constituição Cidadã. Pelo seu conhecimento foi membro importante da Comissão de Constituição e Justiça e outras.

Passou pelo PSDB e em 1995 retornou ao PMDB a meu convite, quando voltou a ser Governador do MS e que tive a honra de ter sido escolhido seu vice, representando Dourados naquele pleito e aprendi muito com este homem sincero e culto.

Ficou encantado com a votação em Dourados. Falava que o melhor de toda a eleição foi a festa da nossa vitória. A Marcelino Pires, lotada e exultante
Ao me comunicar que se licenciaria para uma viagem ao exterior por vinte e poucos dias, e eu assumiria o governo, comuniquei-lhe que apesar de estar coordenando o MERCOSUL me sentia um peixe fora d’agua. Nem sala eu tinha. Nas cerimonias nem era citado. Considerava-me saudado “nas demais autoridades”. Foi uma conversa muito franca e ele insistia que eu não deveria voltar a disputar a eleição em Dourados, porem entendeu a minha aflição e descontentamento. Não com ele, mas com os que o cercavam.

Guardo muitos ensinamentos dele e um dos que me marcou foi “No fim dá tudo certo. Se ainda não deu certo, é porque não chegou ao fim’’
Ao completar 100 anos, a nossa admiração e respeito ao Grande Mestre, Doutor Wilson Barbosa Martins.

*Braz Melo  vereador, ex-prefeito de Dourados e ex-Vice Governador do Mato Grosso Do Sul.



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Douradenses Adotados

Prosseguindo na minha caminhada pelas ruas douradenses de antigamente, ao dobrar a esquina do passado revejo pelo olhar das recordações o nosso antigo perímetro urbano, quando o paisagismo quase bucólico era formado por velhas casas de madeira. Saudosista, relembro das pessoas marcantes e logo surge na poeira do tempo o gaúcho Artidor Lima. Esquisito como seu nome, o sulino morava próximo da prefeitura, após ter vendido suas terras na colônia federal.

Trabalhista de ‘cruz na testa’, partidariamente admirava o presidente Getulio Vargas, João Goulart e Alberto Pasqualini, político da sua cidade de Canoas. Como brizolista de primeira hora, foi um dos fundadores do PDT. Na revolução de 1964, fez companhia para o ex-deputado federal João da Câmara, Dr. Harrison Figueiredo, Raphael Bianchi e outros militantes políticos do PTB recolhidos na cadeia velha da avenida central que leva o nome do caudilho de São Borja. Sua bela filha Alba Terezinha Lima, foi eleita miss Mato Grosso. Getulio Lima, outro de seus filhos, imortalizou a voz num famoso disco de vinil chamado “os melhores da música jovem matogrossense”.

Dentre esses inesquecíveis moradores urbanos que tivemos, também fez parte daquele cenário puro, o obeso Walter baiano. Conhecido vendedor de bilhetes da loteria federal, usava calças de linho branco cintura alta, com quatro dedos acima do umbigo. Sempre impecável na vestimenta, vaidoso e afável, circulava pela cidade com uma pasta debaixo do braço abarrotada de jogos da sorte, que oferecia a passantes. Sua parada referencial era uma loja de nome “a agrícola”, estabelecimento comercial de ferragens do Alberto Perdomo. Ás vezes, o nordestino simplório, rondava pela calçada dos “marreteiros” na frente do Bar Lucchesi em frente o cine ouro verde. Construiu sua residência de madeiras na Rua Rio Grande do Sul (atual Weimar G. Torres) e depois da sua morte lá funcionou o bar “bye bye Brasil”, uma chopperia com o som ao vivo, propriedade do violeiro Nildo Pacito.Recentemente esse antigo casarão, construído pelo carpinteiro Francisco Claro nos anos cinquenta, foi demolido.

Nessa pequena leva de gente antiga, o pioneiro Pedro tintureiro, um ex-jogador do operário, time de futebol que o deputado Londres Machado foi goleiro, lavava e passava ternos. Buscando e entregando as roupas no domicílio do freguês, estava sempre de bom humor. Sendo ouvinte da rádio clube de Dourados, ele sempre sabia dos últimos acontecimentos. Embora eu fosse locutor policial da emissora, um dia ele me surpreendeu contando que a dona Geni Milan, naquela tarde havia trocado uns socos com o médico Dr. Áureo Garcia Ribeiro, num desentendimento na formação da nova diretoria do clube social. Nessa ocasião, quase houve um tiroteio, porque essa temida senhora assassinada posteriormente no bar bambu local, sempre portava seu revólver municiado, geralmente na bolsa. Mas, passado o desentendimento entre os sócios de ânimos exaltados, o jovem Walter Brandão da Silva, foi eleito presidente por aclamação e as duas chapas concorrentes fizeram as pazes realizando um grande baile.

Entre esses pioneiros honestos aqui residentes daquela época, figuram milhares de anônimos trabalhadores entre os forasteiros aportados em Dourados para viver e morrer. Eles eram homens e mulheres idealistas, que foram embora levando as passagens boas do século vinte. Formados na universidade da vida, não sufragavam votos em aventureiros analfabetos, com discurso suspeito de apologia a pobreza. Diferente, no sistema de se inteirar a respeito do processo eleitoral, os candidatos a prefeito e vereadores eram analisados pelas suas condutas passadas e presentes, entre os eleitores do passado. Não existia voto comprado e analfabetos possuíam o acomedimento de se manterem calados, nunca se candidatando na escolha. Votar em alguém, somente pelo fato de ser um candidato evangélico, estava fora de qualquer cogitação. Assim, em memória deles, chega de trapaças Sr. Ari Valdecir Artuzi, e, por favor... renuncie seu mandato se lhe resta um pingo de vergonha na cara!





Isaac Duarte de Barros Junior*
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

sábado, 10 de julho de 2010

O LIBANÊS IZZAT BUSSUAN

Isaac Duarte de Barros Junior*
O poeta Kahlil Gibran, nascido em 1883, dizia que “trabalho é o amor tornado visível”. E sem dúvida o seu conterrâneo, um emigrante de nome Izzat Bussuan, era daqueles homens árabes labutadores que amou ser comerciante e se condoia ao ver o sofrimento dos necessitados. Esse douradense adotado na metade do século vinte nasceu em 1908 na cidade de Sagbine no Líbano, concluindo seus estudos do curso secundário em 1928. Depois disso, já como professor, lecionou inglês e matemática no Colégio do Sagrado Coração de Jesus em Beirute. Em 1930, morando na Palestina, trabalhou alguns anos numa companhia de importação e exportação. Emigrando para o Brasil, em 1935 foi viver na pequena cidade matogrossense de Porto Murtinho, onde começou a trabalhar como comerciante de tecidos e armarinhos. No ano de 1942, casou-se em Aquidauana com a jovem Afife Maksoud e finalmente veio residir em Dourados em 1953. Nasceram desse matrimonio o médico Luiz Antonio M. Bussuan e o arquiteto William Geraldo M. Bussuan.
Vivendo quarenta e nove anos nas terras brasileiras, destes, trinta e um Izzat Bussuan dedicou ao social em Dourados. Desportista entusiasta participou da fundação do Operário Esporte Clube, agremiação futebolística que presidiu por duas vezes. Em 1955, foi membro fundador do Asilo de Velhos, construindo no cargo de presidente, o primeiro pavilhão destinado a abrigar aos dez anciões inaugurantes. Nesse mesmo ano, foi eleito presidente da Associação Comercial douradense, cargo para o qual se reelegeu três vezes consecutivamente. Na ocasião, Izzat Bussuan formou uma comissão, que bem organizada, esteve no Rio de Janeiro reivindicando, conseguindo meritoriamente com a ajuda daqueles entusiastas comerciantes desse período, a abertura de uma Agencia do Banco do Brasil na cidade em fase de crescimento.
Sendo um dos fundadores da Loja Maçônica Antonio João, durante uma gestão a presidiu. Em 1956, estava entre os fundadores do Lions Clube douradense, clube que foi presidente seis vezes, além de ser eleito vice-governador leonistico distrital. Sob sua presidência, realizaram-se diversas reuniões congregando altas Autoridades federais, estaduais e municipais, objetivando nelas debater e solucionar problemas do desenvolvimento na região da grande Dourados. Ainda presidindo esse prestigioso clube internacional de serviços, na sua gestão foi fundada a Casa da Criança Desamparada e a atual Escola “Weimar Torres”.
Onde hoje está localizada a Praça “Prefeito Ruy Gomes”, no primeiro residencial de casas populares douradense, esse bom samaritano, liderou uma campanha beneficente que culminou com a instalação de um parque infantil no local. E mesmo podendo ter a nacionalidade brasileira, nunca se interessou em requerê-la, embora houvesse vivido a maior parte de sua existência no Brasil. Gostava de falar o árabe diariamente, jamais perdendo seu carregado sotaque das origens. Lembro-me, dentre as muitas recordações da infância, que o comerciante Izzat Bussuan em se tratando de falar do sábado, costumava expressar esse dia da semana, referindo-se a ele como sabádo. “Seu” Izzat tinha uma aparência tranqüila e costumava vestir-se elegantemente no cotidiano, possuindo como pessoa afável, o respeito carinhoso dos seus compatriotas desta cidade e região.
Nessa trajetória de pessoa ativa, bastante preocupada com os pobres carentes, Izzat Bussuan destacava-se, recebendo em função disso, diversas condecorações. Em 1980, foi agraciado pela Câmara Municipal com o titulo de “Cidadão Douradense”, honraria que lhe emocionou. Finalmente, por ser um cidadão benemérito, com inestimáveis serviços prestados a comunidade local, quando faleceu em Campo Grande em 1984, foi decretado luto oficial no município de Dourados por iniciativa do prefeito da época. E seu nome, como o de outros pioneiros, através de lei municipal, foi imortalizado em uma das muitas ruas douradenses.


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

domingo, 27 de junho de 2010

COPA DE 70

Isaac Duarte de Barros Junior*
Na copa de 1970, a direção da Radio Clube de Dourados, resolveu retransmitir os jogos de futebol daquela copa do mundo realizada no México. Nessa época, sem ter a concorrência da televisão, o radialista Jorge Antonio Salomão, mandou seu funcionário Ermelindo Azevedo, o “pipoca”, instalar um serviço de alto falante na Praça Antonio João, o que foi feito. Assim, na era do rádio, os torcedores douradenses, puderam acompanhar pela única emissora existente na região, com retransmissões da rádio Tupi, o excelente desempenho da seleção canarinho. A rapaziada aproveitava a ocasião festiva para namorar na praça, onde ouviam as ondas sonoras da Rádio Clube. Vestidos elegantemente, os jovens Paulo Kamimoto, Miro Faker, José Paulo Teixeira, Omenélio Bueno e outros atletas do futebol local, eram muito assediados pelas moças.
No verde gramado bem cuidado, naqueles dias foi permitido concentrar, pisar, sentar e torcer pela seleção brasileira, para alegria dos vendedores ambulantes. O velho guarda do “jardim”, nome como era chamada a antiga praça central, recebeu ordens da municipalidade de a tudo isso permitir, durante a retransmissão dos jogos do Brasil. Todavia, educadamente, ninguém entre aqueles torcedores, jogava lixo fora dos latões recipientes, se embriagava ou consumia drogas. Nem havia seguranças, policiais civis e militares para vigiar a moçada, pois a pequena população era pacata e a violência urbana, se existia, era longe, nos distantes grandes centros. De bicicletas, sem ficarem acorrentadas, os moços se dirigiam para esse ponto de concentração no horário do jogo de futebol. Terminada a partida futebolística, todos retornavam para suas casas, que não eram rompidas por ladrões. E mesmo fazendo o trajeto a pé, nunca houve notícia de acontecer um pedestre sendo assaltado naqueles tempos.
A garotada, proibida de soltar os fogos, se contentava com as chamadas “bombinhas”, cujo tamanho do artefato, dependia da idade, para delas fazerem uso nesses folguedos. Afinal, havia um ponto de charretes nas proximidades e o estampido poderia espantar os animais, pangarés das carroças de aluguel estacionadas no outro quarteirão, na Rua Minas Gerais (atual João Candido Câmara). A casa Yonekura, onde se comprava os “foguetes”, só vendiam fogos recomendando cuidados para que estes não fossem soltos próximos de matagais, iniciando incêndios nos capinzais “barba de bode”, comuns por toda a cidade, onde predominavam casas de madeira na maioria das erguidas. Os rádios portáteis de pilha faziam sucesso e os de bateria com antenas enormes, começava a se expandir na zona rural, nas casas dos colonos. E foi através deles, que os brasileiros moradores no campo, acompanharam os jogos da copa naquele distante ano de 1970, ouvindo os gols feitos por Pelé e seus companheiros.
Quarenta anos depois, a cidade de Dourados mudou radicalmente, não sei dizer se foi para pior, ou melhor. Pois, a Praça Antonio João, nesta atual copa mundial, está fechada. Saindo de casa a noite, corremos o risco de assaltos e no retorno ao lar de se ter os objetos do interior da residência, furtados. Ao invés de usarem fogos de artifício, irresponsáveis disparam armas de grosso calibre pelas ruas. Pessoas, embriagadas, dirigindo veículos, depois das partidas futebolísticas, transitam em alta velocidade, estupidamente gritando pela cidade, atropelando as pessoas. O som que se ouve, é em decibéis próprios para os ouvidos dos imbecis e de surdos. Atletas namorando nas calçadas, nem mais pensar. E moças daquela época, agora são vovós preocupadas com netas que ainda não retornaram, porque foram pós-transmissões da televisão, assistir as barulhentas perigosas passeatas...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

sexta-feira, 18 de junho de 2010

NORDESTINOS PIONEIROS

Isaac Duarte de Barros Junior *
Quando os trabalhadores nordestinos pioneiros, incentivados pelo governo federal, principiaram a desembarcar nas matas da colônia de Dourados na metade dos anos quarenta, iniciava-se na era Vargas o ciclo da chegada dos futuros povoadores mais importantes dessa vasta região. Graças aos fortes primeiros nordestinos, retirantes esperançosos das cálidas terras brasileiras, em breve fundar-se-ia novos municípios, incorporando-os mais tarde ao mapa geográfico de Mato Grosso. Todavia, no período de desbravamento do cone sul, esses agricultores chegavam cabisbaixos, trôpegos e com os corpos cansados devido á percalços da viagem. Geralmente, essa jornada migratória era esquematizada no vizinho estado de São Paulo, concluindo a sua ultima pior etapa, na desconfortável carroceria de velhos caminhões fretados ou na “jardineira” do Adão Loureiro (atual Expresso Queiróz). Na época, essa hoje sólida empresa sul-matogrossense, tinha apenas um ônibus revestido de tábuas, com seu dono no volante, outro legendário nordestino.
Entretanto, nesses velhos idos, os trabalhadores apelidados de “cabeças chatas”, quando procedentes do Porto XV usavam os caminhões “pau de arara”, que certamente os conduziria aos solavancos pelos ermos estradões de terra, pois o asfalto nem se cogitava. Desse modo, só sendo passageiros procedentes de Campo Grande, então a rota da chegada pelos trilhos da Noroeste do Brasil, que esses nordestinos se deslocariam usando a “jardineira do Loureiro”, para concluir o difícil trajeto. Aproximando-se dos seus assentamentos na CAND, seguindo caminhos diferentes dos atuais, os nordestinos precursores, normalmente, também usavam pequenas carroças e charretes alugadas.
Essa tração animal ou as charretes de aluguel, como meio trivial urbano de locomoção, durante anos foram conduzidas pelos saudosos irmãos Libório entre outros inesquecíveis charreteiros, guiando-as na boléia. Servindo de primeiros “táxis” douradenses, os “charreteiros” atendiam solicitamente a telefonemas, funcionando como uma oferta antiquada de trabalho honrado. Estacionadas nos “pontos” instalados nas esquinas do centro douradense, essas charretes de aluguel, foram bastante usadas nas ruas lamacentas do século passado em dias de chuva torrencial. Mas, nos tempos de modernos coletivos, acabaram sendo ultrapassadas pelo progresso, desaparecendo de circulação nos anos oitenta. O primeiro e ultimo “ponto” de charretes, funcionou na Avenida Presidente Vargas, na confluência da Avenida Marcelino Pires.

A zona rural douradense, geograficamente destinada a CAND, na divisão original feita no município de Dourados, seria influenciada politicamente pelos nordestinos, quebrando o tradicional rodízio dos sulinos gaúchos e mineiros das alterosas no comando do Paço Municipal. O prefeito Antonio de Carvalho, nos anos quarenta, foi o primeiro desses nordestinos eleitos, embora fizesse oposição ao governo de Getulio Vargas. Seguindo-se a este alcaide, outros prefeitos douradenses figuram como políticos nordestinos de nascimento. Embora os migrantes gaúchos, tenham chegado no final do século dezenove em Dourados, os sulistas tornando-se fazendeiros, decidiram cuidar da economia e do desenvolvimento privado. Quanto aos “redutos” de nordestinos politizados, ao conseguirem ser desmembrados, ficando independentes do município de Dourados, logo surgiriam como municípios prósperos, assumindo seus dirigentes as rédeas da política estadual, através de seus descendentes e migrantes brasileiros adotados pelas suas respectivas cidades.
Sabedores da necessidade cultural para dirigir, os nordestinos lutaram pela implantação de universidades, ou enviaram seus filhos para completar os estudos em grandes centros. O interessante nessas comunidades exemplares, é que eles não se deixaram hipnotizar e nem permitiram que a desgraça tomasse forma de mando, outorgando a chefia de qualquer coisa para despreparados semi-alfabetizados. Essa cartada, usada num sábio jogo de cintura, evitou-lhes ter de passar pela execração hilária a que estão sendo submetidos alguns municípios conhecidos nas suas vizinhanças. Anátema de problemas, que se não fosse uma praga em forma do retrocesso, poderia ser contabilizado como mais um prejuízo temporário causado por eleitores desorientados...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Está difícil de empolgar

Braz Melo (*)

Há tempos acompanho futebol, mas confesso que há muito tempo não vejo o brasileiro tão desinteressado pela Copa do Mundo como nesta edição. Não sei se é por causa da qualidade dos jogadores convocados ou se entramos em uma nova realidade e que a população está mesmo preocupada é com outras coisas mais importantes.
Desde quando o Dunga deixou de convocar os meninos do Santos Futebol Clube, Neymar e Ganso, parece que toda a população desanimou de torcer. Sabemos que o brasileiro, além de ganhar a Copa do Mundo, ele quer ganhar dando show e mostrando um futebol alegre. Isso vai ser difícil com uma quantidade imensa de volantes (posição de meio de campo que mais defende do que ataca) e sem meias que sabem armar e deixarem os atacantes marcarem os gols.
Eu lembro que ainda garoto assisti a minha primeira Copa, a de 1958. Ainda era apreciado só pelo radio, mas foi uma competição especial. Como só ouvíamos, imaginávamos pela narração dos locutores como tinha sido a jogada. Morava no Rio de Janeiro e mais bonito que a apresentação da seleção na Suécia, só a chegada dos jogadores. Ficamos umas oito horas em pé, aguardando a seleção passar em cima do carro do Corpo de Bombeiros, pois iam ser saudados pelo presidente Juscelino no Catete. Um mar de gente. Quando menos esperávamos, passou. Vimos só de relance, mas valeu a pena.
A de 1962 no Chile foi outro espetáculo. Estudava no ginásio (hoje segundo grau) e juntos com alguns amigos fomos até ao Hotel das Paineiras, perto do Corcovado ver os jogadores se preparando antes de embarcar. E como os funcionários do bondinho estavam em greve, subimos a pé pela linha dos trilhos. Uma maratona para ver Pelé, Garrincha, Didi, Zagalo e outros. Pelé se machucou, mas o Brasil voltou bicampeão.
Lembro como hoje a de 1970. Talvez por ter sido transmitido pela televisão ficava mais fácil de continuar gravada na mente. Até os mexicanos, na partida final, torciam pela nossa equipe. Tínhamos um time fora do comum e jogávamos para frente, como a musica cantada na época: “Pra frente Brasil”. Salve a Seleção. Seleção com letra maiúscula, sim senhor.
Ficamos em jejum muitos anos, mas fomos campeões em 1994 nos Estados Unidos e por fim em 2002 na Alemanha. Times guerreiros, mas principalmente com um futebol alegre, deixando inclusive os que perderam maravilhados com nosso futebol. Nem eles reclamaram, já que reconheciam nossa superioridade. Hoje se fizessem uma musica para esta Copa seria “Segura Brasil”.
Todo mundo sabia a escalação da seleção de cor e salteado. Hoje quem sabe a escalação do nosso time? Só os que trabalham com futebol.
Nestes últimos dias temos assistido os comentaristas de diversos canais de televisão, já na África do Sul, contando tudo que acontece lá. As grandes redes têm se preparados para dar uma apresentação melhor aos seus telespectadores. Investiram um dinheirão para oferecer o melhor para nós que ficamos aqui. Hoje mesmo vi os efeitos das câmeras especiais, onde mostram os lances de diversas maneiras. E em câmera lenta. Coitados dos árbitros. Vai ser uma oportunidade para os técnicos de futebol, e somos 190 milhões deles, para botarmos a boca no trombone.
E esta Copa é uma preparação para a próxima, que será aqui no Brasil. Temos muito que aprender, mas primeiro temos de saber escolher nossos jogadores. Por falar em escolher, está difícil achar um suplente para o Murilo em Campo Grande, como também um vice para o Zeca aqui em Dourados. A política deste ano está igual a nossa seleção. Difícil de empolgar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

LENHEIROS E CARPINTEIROS

Isaac Duarte de Barros Junior*
Extraindo árvores nativas selecionadas, os antigos madeireiros apelidados popularmente de mateiros, foram uma das especialidades em carpina. Encarregados do fornecimento da matéria prima destinada as primeiras casas construídas nos povoamentos, eles entravam nas matas densas e lá escolhiam a árvore que deveriam serrar. Talhadas manualmente, esse ritual pioneiro exigia um enorme conhecimento profissional sobre qual o tipo de corte que deveria ser utilizado na madeira. Desse modo antiquado, aqueles carpinteiros arcaicamente se valiam de métodos artesanais, fosse fabricando tábuas ou sepilhando os demais madeiramentos. Dependendo da região, o conhecimento a respeito da diversidade das árvores escolhidas, era uma qualidade muito importante para contratar-se um mateiro. As tabuas tinham que ser serradas, rigorosamente dentro das medidas, demonstrando outro dos grandes atributos desses profissionais. Quanto aos “rudimentares” machados, invés da “moderna” lamina manual de serrar troncos, se utilizados nessas ocasiões, só eram usados durante a derrubada da árvore.
Entretanto, havia um grande diferencial comparativo, entre aquilo que significaram os trabalhadores mateiros carpinteiros e lenheiros comuns. Afinal, os primeiros, se religiosamente professavam o catolicismo, eram devotos de São José. Enquanto que os lenhadores, chamados de derrubadores de árvores, foram fiéis ao cristão Santo Antão, um pregador egípcio do século lll. Carpinteiros, nessa época, considerados marceneiros das construções de madeira, satirizavam a falta de conhecimentos dos lenheiros. Assim acontecendo, os alcunharam de “antas”, numa clara alusão as suas ignorâncias em aritmética. Naqueles idos, a lenha sendo barata, não passava de material para consumo, queimada nos fogões das residências, trens, barcos e olarias.
Todavia, novas cidades brasileiras, enchiam de dinheiro os bolsos dos carpinteiros, com casas de madeira erguidas diariamente. Pinheirais da região sul, devido ao seu uso em tudo que se levantava, tiveram araucárias quase dizimadas. Enquanto que no centro-oeste, muita madeira de lei desapareceu da vegetação. O desmatamento, desse período, iniciaria o efeito estufa, sem que nenhuma precaução fosse tomada pela população brasileira crescendo descontrolada. Governantes, já que a grande preocupação era ocupar as terras desabitadas no interior e nas fronteiras, pouca ou quase nenhuma cautela tiveram com a biodiversidade, programando as migrações e facilitando as imigrações pela via marítima, gente que depois devastou mananciais e florestas virgens inteiras.
Mas, se os madeireiros carpinteiros eram profissionais privilegiados desempenhando essas suas funções construtoras, o mesmo não aconteceu com os lenheiros ou lenhadores. Os quais, profissionalmente, eram tratados como simples vendedores comuns de um produto abundante. Ademais, cortar as madeiras e vende-las em forma de lenha, comercialmente só existiu nas cidades, isso até a chegada dos fogões a gás. Adolfo Knopka, descendente de poloneses foi um dos últimos lenheiros tradicionais que conheci. Diziam que no começo das suas atividades, ele tinha um carroção de quatro rodas e dois cavalos zainos fogosos, puxando-o para fazer suas vendas de lenha nas residências.
Já Barnabé Minhos, um dos primeiros migrantes gaúchos nesta região, nela exerceu a profissão de carpinteiro, trabalhando durante anos em Dourados no começo do século vinte. Barnabé, espelhando-se nos seus colegas de profissão contemporâneos, era um artesão das madeiras, fazendo engenhosas máquinas de moer cana-de-açúcar, construções de madeira, coxos para alimentar o gado e mujolos d’água ”socadores” de mantimentos em grãos. Suas qualidades eram tão reconhecidas nessa época, dada a qualidade dos seus serviços, e em muitas propriedades rurais centenárias, que suas obras de carpintaria ainda permanecem bem conservadas.
Por outro lado, Pedro “paraguaio”, de compleição física avantajada, era homem demorado nos seus serviços devido aos intervalos para tomar tereré e tirar a “siesta” do almoço. Tinha como os demais carpinteiros naqueles primeiros tempos, sua freguesia e muito trabalho. Porém, esses homens, salvaguardadas as diferenças no tratamento comercial dado, foram pessoas interessantes como habitantes do século passado.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com