sábado, 10 de julho de 2010

O LIBANÊS IZZAT BUSSUAN

Isaac Duarte de Barros Junior*
O poeta Kahlil Gibran, nascido em 1883, dizia que “trabalho é o amor tornado visível”. E sem dúvida o seu conterrâneo, um emigrante de nome Izzat Bussuan, era daqueles homens árabes labutadores que amou ser comerciante e se condoia ao ver o sofrimento dos necessitados. Esse douradense adotado na metade do século vinte nasceu em 1908 na cidade de Sagbine no Líbano, concluindo seus estudos do curso secundário em 1928. Depois disso, já como professor, lecionou inglês e matemática no Colégio do Sagrado Coração de Jesus em Beirute. Em 1930, morando na Palestina, trabalhou alguns anos numa companhia de importação e exportação. Emigrando para o Brasil, em 1935 foi viver na pequena cidade matogrossense de Porto Murtinho, onde começou a trabalhar como comerciante de tecidos e armarinhos. No ano de 1942, casou-se em Aquidauana com a jovem Afife Maksoud e finalmente veio residir em Dourados em 1953. Nasceram desse matrimonio o médico Luiz Antonio M. Bussuan e o arquiteto William Geraldo M. Bussuan.
Vivendo quarenta e nove anos nas terras brasileiras, destes, trinta e um Izzat Bussuan dedicou ao social em Dourados. Desportista entusiasta participou da fundação do Operário Esporte Clube, agremiação futebolística que presidiu por duas vezes. Em 1955, foi membro fundador do Asilo de Velhos, construindo no cargo de presidente, o primeiro pavilhão destinado a abrigar aos dez anciões inaugurantes. Nesse mesmo ano, foi eleito presidente da Associação Comercial douradense, cargo para o qual se reelegeu três vezes consecutivamente. Na ocasião, Izzat Bussuan formou uma comissão, que bem organizada, esteve no Rio de Janeiro reivindicando, conseguindo meritoriamente com a ajuda daqueles entusiastas comerciantes desse período, a abertura de uma Agencia do Banco do Brasil na cidade em fase de crescimento.
Sendo um dos fundadores da Loja Maçônica Antonio João, durante uma gestão a presidiu. Em 1956, estava entre os fundadores do Lions Clube douradense, clube que foi presidente seis vezes, além de ser eleito vice-governador leonistico distrital. Sob sua presidência, realizaram-se diversas reuniões congregando altas Autoridades federais, estaduais e municipais, objetivando nelas debater e solucionar problemas do desenvolvimento na região da grande Dourados. Ainda presidindo esse prestigioso clube internacional de serviços, na sua gestão foi fundada a Casa da Criança Desamparada e a atual Escola “Weimar Torres”.
Onde hoje está localizada a Praça “Prefeito Ruy Gomes”, no primeiro residencial de casas populares douradense, esse bom samaritano, liderou uma campanha beneficente que culminou com a instalação de um parque infantil no local. E mesmo podendo ter a nacionalidade brasileira, nunca se interessou em requerê-la, embora houvesse vivido a maior parte de sua existência no Brasil. Gostava de falar o árabe diariamente, jamais perdendo seu carregado sotaque das origens. Lembro-me, dentre as muitas recordações da infância, que o comerciante Izzat Bussuan em se tratando de falar do sábado, costumava expressar esse dia da semana, referindo-se a ele como sabádo. “Seu” Izzat tinha uma aparência tranqüila e costumava vestir-se elegantemente no cotidiano, possuindo como pessoa afável, o respeito carinhoso dos seus compatriotas desta cidade e região.
Nessa trajetória de pessoa ativa, bastante preocupada com os pobres carentes, Izzat Bussuan destacava-se, recebendo em função disso, diversas condecorações. Em 1980, foi agraciado pela Câmara Municipal com o titulo de “Cidadão Douradense”, honraria que lhe emocionou. Finalmente, por ser um cidadão benemérito, com inestimáveis serviços prestados a comunidade local, quando faleceu em Campo Grande em 1984, foi decretado luto oficial no município de Dourados por iniciativa do prefeito da época. E seu nome, como o de outros pioneiros, através de lei municipal, foi imortalizado em uma das muitas ruas douradenses.


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com