domingo, 21 de dezembro de 2008

BRAZ, O PLANTADOR DE MANGAS...

Isaac Duarte de Barros Junior *

Adotando atitudes semelhantes com as do lendário agricultor irlandês que teria semeado milhares de macieiras nas inóspitas futuras searas das terras americanas do continente norte, muitos administradores de pequenas e grandes cidades no continente do sul, também escolheram uma fruta predileta para cultivar coletivamente, objetivando degusta-la futuramente com as demais pessoas na comunidade. Seguindo um plano agronômico pesquisado, eles distribuíram essas mudas frutíferas escolhidas, organizadamente plantando-as em grande escala. Toda essa iniciativa gerenciada por representantes dos Poderes Públicos de muitos povos, eu percebi existir pela primeira vez, na hora da ciesta em turismo no Paraguai. Observei para extrair essa lógica conclusão, os centenários laranjais plantados e espalhados por toda a cidade de Assuncion, graças à iniciativa e os imensos cuidados dos históricos catequizadores de índios guaranis ao cristinianismo, os primeiros padres jesuítas. Como peculiaridade frutífera vegetal nativa ou cultivada, respeitados os aspectos climáticos, eu concluí que todas as espécies frutíferas cultivadas, acabaram envolvidas inevitavelmente com os nomes dessas comunidades. Por conseqüência, transformaram-se no transcorrer do tempo, em um sinônimo identificativo quando alguém se referia ao local. Muitas vezes, ao declinar os nomes de algumas cidades sulmatogrossense, já ouvi alguém antecipar os codinomes: terra do figo, da jabuticaba, do caju, das goiabeiras, dentre outros nomes. O apelido dado a todas elas, isso merece ser lembrado, surgiu em decorrência dessas plantas, dominarem a paisagística central urbana e periférica dessas cidades. Algumas localidades conseguiram contrariar esse princípio, exemplifico o caso de Coxim. Certamente seria a terra do caju, se o folclore não a transformasse na do pé de cedro.

Dourados como muitas outras das nossas novas e velhas cidades regionais, poderia ter se tornado conhecida simplesmente como a terra dos guavirais, se a frutinha nativa não houvesse quase desaparecido dos nossos campos virgens, exterminada sem nenhuma contemplação, pela empolgação sulina colonizadora de plantar o trigo e cultivar a soja. Essa quase extinção da frutinha silvestre nos colocou como exportadores no mercado de grãos. Mas antes dessa fase grandiosa começar, houve o período do Vavá, apelido dado a um personagem tradicional da família Brandão, filho do ex-prefeito Álvaro Brandão, que viveu e morreu solteiro em uma casa velha de madeira. Essa residência foi construída nas proximidades onde inicialmente existiu um prédio de cinema. Ele sofreu na juventude, a revés das seqüelas maléficas provocadas pela doença da meningite. Era um contador de anedotas difíceis de entender, é que o Vavá tinha dificuldades para articular as palavras e quando contava uma piada, só ele ria no final. Esse pioneiro desocupado, tentando arrumar na vida alguma ocupação para preencher as monotonias peculiares a sua enfermidade, andou freneticamente durante algum tempo, plantando por todas as esquinas douradenses, sementes da fruta romã. Acreditava, ter aquela redonda fruta da romã os conteúdos medicinais para se evitar a doença que o vitimara na juventude. A idéia sertaneja desse homem nunca propagou ou prosperou apesar do seu conhecido arrojo e assim o projeto morreu com seu criador, o Vavá Brandão. Diziam os mais antigos povoadores douradenses, muitos deles foram meus conhecidos, que esse senhor simpático foi o autor do plantio dos pés de romã nos quintais tradicionais e algumas das frutas mais velhas, diziam, que produziam resultados afrodisíacos inesperados, comendo-se cinco sementes da romã.

O rádio-operador ocasional Pedro Recchi, foi outro reconhecido plantador comunitário de árvores frutíferas, isto o fazia quando não estava trabalhando na sua oficina de ferragens na década de mil novecentos e trinta. Sua verdadeira nacionalidade pareceu-me ter sido a argentina devido o seu sotaque carregado, ao menos eu assim achava quando conversávamos. Afinal, foi ele mesmo quem se auto-registrou. Nessa época, a lei permitia e o ato aconteceu no cartório dos Carpes. Era o ano de mil novecentos e doze no município de Ponta Porã. Afirmava, quando algumas vezes perguntei, que era gaúcho de São Borja. Acredito que ele mesmo escolheu essa cidade, por ser um fã petebista incondicional do presidente ditador Getúlio Vargas, nascido naquele município gaúcho.

Aliás, os gaúchos da era getulista que chegavam para morar em Dourados, costumavam ter essa tendência optativa de nascimento. Pedro Recchi, falava fluentemente e me ensinou as primeiras noções da língua italiana e possuía consigo costumes bem típicos de um curandeiro. Meio metido a alquimista, usava essência das folhas de laranja brava que plantava pela cidade e no seu quintal, para fazer compotas de doce e água de cheiro. Garantia que conquistou a paraguaia Gumercinda, exalando esse perfume no primeiro encontro, namoro acontecido na fazenda Campanário. Para resumir, o seu Pedrinho Recchi, começou em 1946 a cultivar algumas figueiras argentinas. Porém, quando morreu com 102 anos de idade, a única figueira que restou do seu pretenso projeto urbanístico, foi uma plantada em companhia do ex-prefeito João Vicente Ferreira, que agora é parte integrante do patrimônio histórico. As outras ainda restantes, quem mandou colocar foi o ex-prefeito Antonio de Carvalho.

Entretanto, foi um engenheiro civil, o ex-prefeito Antonio Genelhu Braz Melo, quem transformou Dourados na cidade das mangueiras. Por informações, frutos estes do mais puro acaso, eu fiquei sabendo que esse ex-alcaide municipal, encomendou cinqüenta mil mudas de pés de manga na sua inesquecível gestão. Em seguida, mandou planta-los pela cidade e presenteou para os munícipes as mudas restantes das suas preciosas frutas mangas alimento. Como nunca fui seu correligionário político, não sei se é verdade ou se é mentira, porém afirmam os conhecedores dessa antiga mania desse prócer político em cultivar mangas para alimentar o povo, que o ex-prefeito Braz Melo, quando em substituição legal, tornando-se o governador de Mato Grosso do Sul, encheu de mangas até onde pode, a área reservada ao Parque dos Poderes, na cidade de Campo Grande, com incontáveis mangueiras de diversas qualidades...


*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com

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