terça-feira, 24 de março de 2009

A SANEMAT e a falta d’água (Primeira Parte)

Braz Melo (*)

Vim para Dourados para fazer a obra de esgotos sanitários, pela Empresa de Saneamento de Mato Grosso, a SANEMAT. Aqui já tinha uma estrutura montada para cuidar do abastecimento de água, chefiado pelo Dr. Domingos Marcondes Terra e que ficava numa casa de tábua (como a maioria dos prédios de Dourados, na época), na Rua Santa Catarina, hoje Onofre Pereira de Matos.
Já trabalhavam ali a Fátima Goelner, o Rui, a Elisena Muzzi e o Aparecido. Esses três últimos por pouco tempo. Depois trabalharam também a Cleuza, o Luiz Carlos Azambuja, a Fia (irmã da Fátima) e a Cecília. Veio depois também o Químico Nicola Hunsi Rayes, para cuidar da qualidade da água.
Na parte operacional tinha os encanadores José Braga da Silva, José Ramos da Rosa e Juraci.
Para manutenção dos equipamentos e bombas foi contratado o mecânico-eletricista José Eduardo.
Existia outra estrutura, comandada pelo romeno George Stefanescu, que executava obras em muitos municípios da região. Aqui em Dourados ele contratava as pessoas para trabalhar por dia ou por empreita, para escavar manualmente e instalar tubos. Lembro instalando tubos de cimento amianto de 50 milímetros, na Rua Major Capilé, atrás do Colégio Erasmo Braga. Isso em 1974. Estão lá até hoje.
Iam interligando com o existente e claro, tinha mais falta do que água.
Todo abastecimento era feito através de poços profundos. Tinha o Poço 1 ao lado do Forum; O poço 2 ficava no pátio da Secretaria de Obras da Prefeitura. o poço 4 na Cabeceira , onde hoje é a rodoviária e o poço 3 ficava no Ubiratan. O poço 5 era localizado em baixo da caixa d’água do BNH 1º Plano.
Antes da SANEMAT, esteve por aqui a FSESP (Fundação Serviço Especial de Saúde Pública), que fez o reservatório que até hoje é usado pela SANESUL, como reservatório mais alto de nossa cidade. Só que ele funcionava como reservatório de jusante, onde só a sobra d’água entrava nele. Só nos dias mais frios do inverno conseguia sobrar água aqui em nossa cidade, pois o consumo era bem maior do que a produção.
Os moradores da parte alta só recebiam água de madrugada, pois os da parte baixa recebiam o precioso líquido primeiro. Uma das poucas situações em que o de baixo leva vantagem sobre o de cima, é no abastecimento d’água.
As reclamações eram muitas e diárias.
Estava há pouco tempo aqui quando foi marcada uma reunião pelos vereadores na Câmara, e toda a sociedade e imprensa esteve lá para saber qual o plano que a SANEMAT teria para resolver de vez este imenso transtorno. O Dr. Domingos me convidou para assistir, e vi todos apertarem meu futuro compadre de um jeito, que ele, para se defender disse que a empresa estaria disposta a, se fosse o caso, iniciar a obra de captação do rio Dourado o mais rápido possível. E de onde estava discursando, pediu a minha concordância. E eu que não conhecia ninguém aqui e também não tinha conhecimento do abastecimento de água, pois vim para executar a obra de esgotos, fiquei sem saber o que responder, e fui questionado na hora pelo Jorge Antonio Salomão, que com microfone em punho, e ao vivo, perguntou quem eu era, e se eu concordava com o que o Chefe da SANEMAT falava. Fui salvo pela interferência providencial do meu futuro amigo Luiz Carlos de Matos.
O Luis Carlos Azambuja me contou, que um dia ao passar com o Dr. Domingos no carro da empresa (um jeep buggy), pela Rua João Rosa Góes e vendo uma mulher lavando a calçada, ele não titubeou e mandou o Luiz que dirigia parar o carro. Falou para a moça que ela deveria economizar água, pois custava caro para a SANEMAT (não tinha hidrômetro ainda) e iria faltar para os vizinhos da parte de cima da rua. Depois de dar uma lição de economia e cidadania, a moça disse para ele que a água que ela estava usando era de poço, pois o dono da casa não aguentou ficar sem água e mandou perfurar um poço em sua casa.
Ele saiu de fininho e mandou o Luiz desaparecer dalí o mais rápido possível.
(Continua semana que vem)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Os novos médicos de Dourados

Braz Melo (*)
Estive na Prefeitura de Dourados outro dia para resolver problemas particulares e tive a oportunidade de conversar um pouco com alguns assessores. Pena que o Ari não estava lá, mas creio que seus assessores passaram as idéias e sugestões para ele.
Havia oito anos que eu não ia até lá. Já tinha sido convidado pelo ex e pelo atual, mas faltava oportunidade.
Lembramos que já estavam formando a quarta turma de médicos na nossa UFGD. E recordei que quando iniciou o curso aqui não tinha estrutura alguma. Faltava tudo.
Ao ver a lista de formandos, reconheci muito poucos.
Faculdade de Medicina é igual fábrica de Coca Cola. São poucas as cidades que tem esse privilegio. E hoje Dourados é conhecida também pela sua Faculdade de Medicina.
Quando do vestibular, vem gente de todos os lugares do Brasil e até dos países vizinhos. Principalmente por ser uma escola pública que além de ter um ótimo ensino, é gratuita.
E a maior preocupação é que nós não temos nenhuma residência em nossa cidade para que os futuros médicos possam se especializar. Por causa disso a grande maioria vai fazer essas residências em Campo Grande, Presidente Prudente ou São Paulo. E pesquisas nos garantem que noventa por cento onde os formandos fazem suas residências, é lá que eles prestam seus serviços como médicos.
Dos quarenta e quatro médicos aqui formados, somente quatro ficariam por aqui, confirmando as pesquisa feita em outros lugares.
E acompanhando o noticiário, fiquei sabendo que a Universidade Federal da Grande Dourados está necessitando da Câmara de Vereadores e da Prefeitura de Dourados para contratar diversos funcionários.
É a oportunidade que temos para oferecer melhores estruturas e criarmos em nossa cidade, pelo menos duas residências. Quem sabe uma de Homeopatia, em que nossa cidade é referencia nacional nesta especialidade e de Clínica Médica, que vai auxiliar em muito o Programa de Saúde da Família, pois temos diversos núcleos funcionando.
E lembro que o salário deste profissional é quase ou mais do que ganha um secretário municipal. Além de outras residências que poderão funcionar no próprio Hospital Universitário.
Conheço médicos que foram fazer especialização em Presidente Prudente ganhando R$ 900,oo por mês.
E a Prefeitura pode pagar muito melhor estes profissionais durante as residências e até no internato, como foi feito há dez anos com as Enfermeiras Padrões. Aprenderam recebendo e prestaram serviços notáveis para a comunidade.
Se conseguirmos isto, Dourados será a Cuba brasileira.
Desta maneira, tenho certeza que teremos profissionais de reposição à altura dos que hoje atendem a população.
Claro que a atual administração demorará um tempo para resolver estes problemas de saúde. Vai demorar, principalmente para termos novamente o agendamento de consultas rápidas pelo telefone, como era há oito anos.
A maioria dos pacientes tem cinqüenta por cento de sua doença curada quando ele é bem atendido. O Dr. Luiz Alexandre é um exemplo dessa técnica, assim como os decanos Mario de Almeida e Issao Motomiya. Tratam todos com um carinho especial.
O Dr. Maranhão, com sua paciência de Jó e sabedoria de Salomão, há muito tempo atende Anete, minhas filhas e até a mim. Muito mais que Ginecologista, ele passou a ser realmente, o médico da família.
É importante que quando das futuras turmas de formandos de nossa Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados estiverem recebendo seus diplomas, tenhamos médicos que já conheçam seus pacientes, como hoje são os Doutores Luiz Machado, Norival Dourado e tantos outros que prestam esse serviço inestimável a nossa comunidade.
E tenho certeza, quando recebermos o convite destas turmas, conheceremos mais os formandos e seus pacientes conhecerão e se orgulharão de seus médicos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Coisas da política - A Dona Cícera

Braz Melo (*)
Um dos maiores exemplos que eu conheço de como é a política foi o que aconteceu com Anete.
Quando assumimos a prefeitura em 1989, Anete foi cuidar do Prosocial como presidente. Não ganhava nada, mas ficou super entusiasmada com o serviço, principalmente de poder ajudar os mais necessitados. E isso é o que não falta em qualquer cidade, apesar de Dourados ser uma cidade que têm pobres, mas não têm miseráveis.
Um belo dia chegou um casal a procurando desesperados e Anete vendo sua agonia, pediu para que eles entrassem em sua sala. Falaram que eram de Alagoas e tinham vindo para cá fazia três anos e tinham deixado três filhos menores num sítio pertencente a Fazenda Primavera, em Satuba do Norte. Nunca mais tiveram noticias deles, o que estavam deixando-os amargurados. Não sabiam como eles estavam, nem se estavam vivos.
Anete pegou os dados de onde eles moravam e imediatamente entrou em contato com a esposa do prefeito de Satuba e esta se ofereceu de mandar uma assistente social atrás dos meninos na fazenda onde os pais os haviam deixados. Faltava gasolina na prefeitura de lá e Anete mandou dinheiro para que pudessem achá-los.
“Seu” José Valério, esposo da D. Cícera veio para cá no peito e na raça, pois ao chegar em São Paulo, vindo de Alagoas atrás de serviço, foi “tocado”, quando o auto falante da rodoviária de São Paulo informou que o ônibus que iria para Dourados sairia dentro de 30 minutos. Ele não titubeou, e junto com seu filho José Cícero, comprou passagem para esse lugar que pela primeira vez tinha ouvido falar.
Chegou aqui num sábado e logo encontrou um conterrâneo, que na segunda feira o apresentou ao Enoque, presidente do Sindicato dos Ensacadores que arrumou emprego pra ele na terça feira. Em quatro meses trouxe Dona Cícera que veio com as crianças mais novas. José Adilson com 4, Marilene com 3 e Marineide com apenas 1 ano. Sozinho, em quatro meses conseguiu economizar e trazer uma parte de sua prole, porém com a família com mais gente aqui, não conseguia economizar para trazer os outros que ficaram no Nordeste.
Alguns dias depois Anete voltou a ligar, agora diretamente para a assistente social da Prefeitura de Satuba, que a informou que tinha achado os rapazes em um sitio. O mais velho era José Sergio, que quando os pais vieram para cá tinha 16 anos. Já tinha 19 anos e trabalhava na Usina Leão. Os outros, José Severino com 17 anos e José Ricardo com 15, ainda não trabalhavam, pois ali era difícil emprego.
Anete fez as contas e ajudados por amigos conseguiu enviar o dinheiro para que eles pudessem chegar até aqui. Não esqueceu que São Paulo fazia frio e até cobertor eles compraram para fazer a viagem.
Quando aqui chegaram foi uma festa e todos os que participaram desta odisséia choraram.
No outro dia Anete esteve lá e Dona Cícera não sabia o que fazer para agradecer a chegada de seus filhos.
A história dessa família mexeu com todo o Prosocial e até com a Prefeitura. Logo arrumaram um terreno para eles no Cachoeirinha, que Dona Cícera não quis e acabou indo para o Bairro São Braz e muitos, a pedido da Anete, os ajudaram a construir sua casa. Arrumaram emprego para os rapazes e se sentiram no céu.
Dois anos depois, nas eleições de prefeito, Anete fazendo visitas, procurou Dona Cícera e pediu o voto para os nossos candidatos. Ela olhou para Anete e disse: Dona Anete, se a senhora tivesse vindo dois dias antes eu votaria. Só que veio um rapaz aqui e pagou minha conta de luz e já fiz compromisso com ele.
Isso tem quase vinte anos. Estive estes dias com Dona Cícera, Sr. José e filhos. Continuam na mesma casa e agradecidos a Dona Anete. Não sabem como pagar o que ela fez por eles.

CASA DE MINAS GERAIS

Isaac Duarte de Barros Junior *
As minhas mais íntimas lembranças, dos velhos tempos passados por conta da permanência que fiz em Uberaba, ganharam repentinamente espaço saudosista numa festa recente que reuniu num restaurante douradense, expressiva parte da colônia mineira aqui radicada desde o século passado. O local escolhido pelos promotores do evento festivo foi simples e aconchegante, naturalmente com o clima mineiro hospitaleiro se fazendo presente exatamente como o sentido naqueles dias idos da minha juventude. A música sertaneja cantada e tocada ao vivo no palco, destacando o acordeom do Adão Cavalheiro, harmonizava em letras com a história épica cabocla dos peões e das boiadas, que um dia foram conduzidas pelas estradas de pó vermelho ao som inesquecível do berrante ponteiro.
A famosa culinária apetitosa misturava-se ao inodoro perfume da saudade recordando-me, a época em que fui morar nas sete colinas alterosas há quase quarenta anos, para estudar na faculdade de direito. Lembrei nessa festa pitoresca, do dia quando cheguei à terra das grandes montanhas, apadrinhado pelo ex-embaixador mineiro o imortal Mário da Ascensão Palmério, indo morar num hotel centenário da Rua Vigário Silva, propriedade do pai do Aldair Capatti Aquino. Assim, durante o dia eu era funcionário do Dr. Renê Barsan na televisão, dirigida pelo jornalista Paulo Cabral e a noite era aluno da Fiube no velho prédio da Avenida Guilherme Ferreira.
Nas terras do alferes Joaquim José da Silva Xavier, absorvi os ensinamentos dos professores mineiros Mauro Baracho, Edson Prata, Edgar Rodrigues da Cunha, Humberto Theodoro Junior, entre outros. Lembrei, fechando os olhos enlevados, da estreita Rua Arthur Machado, onde existia o bar da “viúva”, bastante freqüentado pelos universitários da época e que às vezes recebia visitas da já famosa cantora mineira da jovem guarda, com o nome de Vanusa, que era filha de um barbeiro local. Naquele lugar, todo pessoal da imprensa falada, escrita e televisada se reunia nos fins de noite, ouvindo calada o jornalista Raul Jardim falar mal do prefeito Hugo Rodrigues da Cunha. Na minha passagem por Minas Gerais, particularmente foi marcante uma ocasião num mês de setembro, quando plantei numa rua uberabense, como representante de toda a imprensa, uma muda de árvore. Ali, pessoalmente e pela primeira vez, cruzei o caminho de um senhor nascido na cidade de Pedro Leopoldo, por nome Francisco Cândido Xavier. Na brincadeira eu o apelidei de “secretário dos espíritos”, pois dizem que ele psicografava, supostamente no meu conceito, personalidades falecidas. No ano em que conclui o meu curso de direito, a Câmara de Vereadores de Uberaba, me honrou com o título de “cidadão uberabense” e o velhote estava presente, a meu convite, com o seu inseparável boné. Após esses acontecimentos em Minas Gerais, voltei a viver nas terras douradenses onde um dia eu nasci.
Nessa ocasião, já advogando, um filho da dona “Chiquinha” e do seu “Quinzito”, o agrônomo mineiro José Elias Moreira, me convidou a participar da sua campanha eleitoral para eleger-se prefeito de Dourados. Ele era tão empolgado com seus projetos futuristas, que eu o tipificava de “mineirinho maluco” com a sua futura pretendida eletrificação rural e as suas ornogramadas galerias fluviais. Mas, o homem fez tanta coisa na cidade de Dourados depois de eleito, que virou candidato a governador do novo estado, façanha que nenhum prócer político brasileiro da gema, antes ou depois dele, conseguiu repetir o feito no interior sulmatogrossense. A propósito, muitos mineiros já foram eleitos prefeitos em Dourados, começando pelo inaugural João Vicente Ferreira, seguido de Álvaro Brandão, Nelson de Araújo, Antonio Morais dos Santos, Vivaldi de Oliveira, Napoleão Francisco de Souza, José Elias Moreira e Antonio Brás Genelhu Mello.
O primeiro encontro da colônia mineira me relembrou essas passagens e os meus pensamentos voltaram aos vinte e poucos anos de idade, dando-me a oportunidade de revendo amigos, abraçar muitas pessoas dos tempos do meu relacionamento social universitário, gente com quem não encontrava fazia alguns anos. Hoje, eles são homens e mulheres amadurecidos que voltaram para cá, aqui vivendo na condição de médicos, advogados, jornalistas, dentistas e engenheiros. Vendo-os homenagearem a advogada e jornalista Adiles do Amaral Torres, escoltada pelo seu amado Dr. Carlos Alberto Farnesi, confesso que fiquei emocionado com o gesto da mineirada. Afinal, o seu jornal sempre esteve presente na vida social dos mineiros da estirpe de Gustavo Adolfo Pável, Li Teixeira, Valter e Vander Guaritá, Orestes Dávila, José Ambrósio e das pioneiras famílias Ferreira, Rezende, Duarte, Castro, Assunção, Morais e Brandão.
Descontraídos, amáveis, alegres e solícitos, os organizadores da “mineiragem”, José Henrique Marques e Rubens Moreira Junior, pareciam naquela festa, dois meninos da “porteira” recebendo seus convidados nesse encontro de mineiros extraviados, onde bebi a vontade e comi muitos pedaços de queijo. Entretanto, senti que nem mesmo a distancia temporal conseguiu diminuir o carinho das antigas amizades feitas aqui e lá na terra do Juscelino. Assim, como os mineiros não escondem as lágrimas emocionais dos amigos, eu vi muito “caboco” velho chorando na festa. É, querida Minas Gerais... quem te conhece, realmente não esquece jamais!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Um pouco de historia e saudades de Ponta Porã

Braz Melo (*)

Ponta Porã, além de Princesinha dos ervais, sempre foi a segunda cidade dos sul-mato-grossenses. Ele poderia morar em Dourados, Campo Grande ou Paranaíba, mas depois de sua cidade, ele elegeria Ponta Porã como a sua preferida. E não era só por ser fronteira com o Paraguai. Muito se dava pelo seu povo hospitaleiro e gentil.
Perdeu este lugar há uns quinze anos, depois que surgiu Bonito no contexto turístico de nosso estado, balneário hoje conhecido e admirado nacionalmente. Atualmente, muitos dos que sempre estavam lá, vão agora para Bonito e Corumbá.
O pantanal nas ultimas décadas foi muito bem vendido através da mídia e até a Copa do Mundo de 2014 merece uma sede em Cuiabá ou Campo Grande por causa desse santuário da natureza.
E como Ponta Porã é o município mãe de Dourados, sempre torcemos por esta cidade de tantas historias de nosso estado. E também é o município que mais contribui com o crescimento demográfico de nossa cidade. De cada oito moradores de Dourados, um veio de Ponta Porã.
Cidade que se tornou capital por pouco tempo, mas que marcou seu nome nas ex-capitais desse nosso Brasil. Assim como Maracaju, foi capital do Território Federal de Ponta Porã na década de 40.
Getulio Vargas através do Decreto-lei n.°5 812 de 13 de setembro de 1943, criou o Território Federal de Ponta Porã e estabeleceu que o mesmo fosse formado pelo município de Ponta Porã (onde foi instalada a capital, apesar do decreto ter sido omisso nesse quesito) e mais outros seis: Porto Murtinho, Bela Vista, Dourados, Miranda, Nioaque e Maracaju. A capital foi transferida para Maracaju em 31 de maio de 1944 (Decreto-lei n.° 6 550), voltando a Ponta Porã em virtude de Decreto de 17 de junho de 1946.
O território foi extinto em 18 de setembro pela Constituição de 1946 e reincorporado ao então estado de Mato Grosso. Seu governador durante os três anos de existência foi o militar Ramiro Noronha.
Durante este periodo Dourados foi contemplada pelo governo do Território com quatro obras: A Usina Termoéletrica Filinto Muller (Usina Velha), a Escola do Jaguapiru (Escola Municipal Pedro Palhano), Escola da Picadinha (Escola Municipal Geraldino Neves Correia) e a ponte de madeira no Passo Torraca.
Em 28 de outubro de 1943, Getulio Vargas criou a Colonia Agricola Nacional de Dourados, o maior evento de desenvolvimento de toda esta região, colocando a disposição de trabalhadores de todo o país e até dos irmãos japoneses, 10 mil lotes de 30 hectares cada, onde realmente concretizou-se a prosperidade desta terra.
Mas voltando aos dias de hoje, sinto saudades daquela Ponta Porã da década de 70.
Saudades das “siestas” após o almoço e das rodinhas de chimarrão.
Saudades de quando íamos aos bailes no Tênis Clube, organizados pela Isolina e João Natalicio, abrilhantados pelas grandes orquestras da época, onde os convidados eram recebidos e tratados como príncipes.
Saudades de quando precisávamos comprar algum equipamento ou ferramenta mais sofisticada e não precisávamos cruzar a fronteira, pois na Casa Tókio tinha.
Saudades dos dias frios e neblina baixa, que há muito tempo nem isso vejo. Ambiente que nos convidava a desfrutar da feijoada especial de sábado no Pousada do Bosque.
Saudades das horas ganhas com as historias do “Seu” Juvenal Fróes. Desde os casos da Mate Laranjeira até o seu entusiasmo por nós, no breve período que fomos vice-governador, termos incluído Ponta Porã em ser passagem obrigatória da Travessia Atlântico ao Pacifico. Eram horas ouvindo e aprendendo.
Saudades do eterno senador Rachid, que já tinha sido médico, vereador, prefeito, deputado estadual, federal, mas que nunca se esqueceu de sua terra e que onde estivesse sempre atendia seu conterrâneo como irmão.

domingo, 1 de março de 2009

RAÍZES

Isaac Duarte de Barros Junior *

A maioria das nossas mais desenvolvidas grandes cidades sulmatogrossenses foram centradas, nasceram e cresceram no meio de imensas propriedades rurais dos migrantes pioneiros. Algumas das centenárias metrópoles no sul do estado começaram a desenvolver com a construção de ranchos toscos as centenas, erguidos rusticamente nas barrancas de grandes rios inexplorados ou nas vizinhanças das tabernas propositalmente construídas em curvas empoeiradas, sombreadas com gigantescas frondosas guájuviras nas suas entradas. Todas, sem exceção, foram instaladas nesses locais estrategicamente pelos primeiros comerciantes de secos e molhados, objetivando atender o integral descanso e alimentação dos viajantes, que costumavam dormir em redes armadas sob o teto hospedativo das varandas dessas pousadas. Essa colonização do velho Mato Grosso foi recheada de folclore e esperteza no seu desbravamento, principalmente na época em que vigorava a posse da terra amparada numa tal lei dos espinhos. Esta lei não escrita exigia pelos costumes, um tempo mínimo de efetiva moradia num mesmo lugar, para depois o colono titular-se dono da terra. Significava em síntese, que uma propriedade rural podia ser requerida por qualquer cidadão, fosse brasileiro ou estrangeiro e nem precisava de muitas formalidades.
Bastava nessa época, ter-se uma casa erguida, com um laranjal considerado velho no terreiro. Muitos desses posseiros driblavam a lei dos espinhos, transportando por léguas inóspitas e solitárias, mudas de laranjeiras vintenárias. Geralmente elas eram arrancadas com a raiz em pomares paulistas e depois transportadas por carretas puxadas pelas enormes juntas de bois, sendo replantadas nos quintais das distantes posses. Estas logicamente, quando eram formalmente fiscalizadas pelos fiscais do governo estadual, apresentavam todos os aspectos necessários para se deferir o esperado titulo de aforamento perpétuo.
A aguerrida viúva do barão de Antonina, senhora Maria Amada Azambuja, muito mais colona desbravadora no sangue do que baronesa, pertenceu à nobreza imperial reinante. Herdou com a morte do seu marido, milhares de acres, que geograficamente incluíam toda a serra de Maracajú até as pradarias do Distrito de Itahum. Esse latifúndio foi doado ao barão de Antonina pelo agradecido imperador D. Pedro II, regalando nesse gesto muito próprio daquele monarca, o seu leal vassalo e servidor, pelos serviços prestados na campanha do Paraguai. Ocorreu que a baronesa Maria Amada, tornando-se dona desse feudo, estimulou a ocupação social e o plantio nas suas terras, como madrinha de abolicionistas e de pequenos agricultores, agregando-os. Um dos beneficiados, por essa mulher nobre com gestos grandiosos, foi o meu avô materno. Ele trabalhou dois anos para baronesa e ao sair com destino às maciças matas dos Dourados, recebeu algumas reses e também uma carreta abastecida de mantimentos. O gaúcho Izidro Pedroso, dizia que Maria Amada Azambuja, foi uma mulher nobre de nome e alma.
Confirmando a veracidade dessa saga longínqua, existe ainda um antigo cemitério cercado, com túmulos de mármore, bem próximo do distrito de Itahum, demonstrando comprovadamente as nossas afirmações no concernente ao tratamento igualitário dispensado pela baronesa Maria Amada Azambuja aos seus empregados. Ela nunca diferenciava pessoas por raça, credo ou cor da epiderme, pois todos, negros e brancos misturados nessas serranias, repousam agora nesse campo santo. O advogado Neri Azambuja, é um dos muitos douradenses descendentes dessa ancestral ilustre da tradicional família Azambuja.
Vale recordar que no ano de mil novecentos e trinta e dois, as nossas raízes entraram em fervor regionalista, quando os sulmatogrossenses aliaram-se aos revolucionários paulistas. Provisoriamente, instalou-se na cidade de Campo Grande sob o comando do Dr. Vespasiano Martins, o primeiro Estado de Mato Grosso do Sul. Sufocado o levante paulista e com a rendição incondicional dos vencidos, o sul de Mato Grosso uno amargou o preço dos derrotados. Creio que a capacidade sulmatogrossense de recuperação, aliada a costumes diferenciados dos adotados pelos irmãos cuiabanos, definitivamente cortaram os laços que nos uniam ao norte do estado. Porém, passando o tempo, faltaram lideres comprometidos com as nossas raízes. Cumulado da inexistência salutar do bairrismo representativo, sem dúvida, essa falha política nos enfraqueceu bastante.
Aconteceu também, nas nossas badernadas raízes sulmatogrossenses, uma famosa concessão (autorização) imperial brasileira arrendando a um empreendedor que vivia em Concepción, áreas onde nessa época existiam milhares de ervais nativos no sul de Mato Grosso. O contrato foi celebrado pelas autoridades imperiais daquela época, concedendo privilégios discutíveis ao aventureiro Thomaz Laranjeira, de nacionalidade dúbia. Pois enquanto uns afirmam ter sido ele brasileiro nascido em Santa Catarina, outros, diziam que Thomaz Laranjeira, era argentino de nascimento e apenas havia secretariado os trabalhos da Comissão Mista de Limites, pós-guerra do Paraguai. Provavelmente, tratava-se mesmo de um brasileiro, afinal ninguém entregaria uma parte tão vasta do território nacional recém conquistado, para um estrangeiro explorar. Seja como for, esse arrendamento renovado na república proclamada, se associando ao ministro da fazenda Joaquim Murtinho e familiares, acabou virando um grande problema para o estado de Mato Grosso. Ocorreu que desde o começo do século vinte, até a metade dos anos trinta, a poderosa Companhia Mate-Laranjeira atravancou o progresso no sul do estado matogrossense. Getúlio Vargas, ardiloso como era e querendo acabar com o famigerado contrato, criou temporariamente o Território Federal de Ponta Porã, visando destratar sem desonrar. Assim, assessorado por experientes juristas, o estadista gaúcho colocou um fim na concessão matogrossense celebrada com a ervateira, pois legalmente o Território Federal de Ponta Porã não tinha nenhum negócio com a companhia Mate-Laranjeira. Concluído o ato jurídico, Getúlio Vargas, criou a CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados) e tempos depois, simplesmente extinguiu o território federal...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com