sábado, 27 de fevereiro de 2010

JUVENTUDE INOCENTE...

*Isaac Duarte de Barros Junior
Nos falados anos sessenta, havia um procedimento social diferenciado na conduta e no estilo de vida dos mancebos douradenses, que em nada se assemelhava ao comportamento moderno da juventude atual. Divididos em pequenas turminhas, denominação achegada das chamadas patotas, essas rodas de amigos inseparáveis nas festas, se divertiam muito durante as reuniões sociais daqueles tempos, indo dançar no único Clube Social, antes assistindo um bom filme no Cine Ouro Verde. Irrequietos, os filhos de paraguaios, naquela época, nunca participavam das mesmas badaladas festinhas no centro. Isso, até que brasiguaios educados como Leonidas Além e Ladislau Aguilera, demovessem seus iguais de agirem ao contrário, acabando com as complexas diferenças sociais. Conversando bastante sem a presença de psicólogos que nem existiam, dezenas de jovens irônicos pressurosos da colônia paraguaia, na sua maioria residindo no Jardim Itália, um loteamento idealizado pelo engenheiro italiano Vitório Fedrizzi, foram convencidos a se aproximar.
Os nisseis dessa juventude, mais taciturnos, exceto os componentes das famílias Iguma, Miguita, Doko, Yamachita, Takimoto e outras que não me lembro, evitavam participar dos encontros sociais fora das dependências do Clube Nipônico, ou num campo de beisebol erguido na Cabeceira Alegre, onde o atleta Konio Misushima, com suas tacadas esplendidas, empolgava a assistência na torcida. Já os rapazes de origem árabe, comerciantes recém chegados emigrantes dos seus países de origem, gostando tradicionalmente de mastigar alho e cebola crua, tornavam-se pessoas difíceis de incluir nos congraçamentos da juventude, acredito por se expressarem muito mal na língua portuguesa. Além disso, quase sempre nas tentativas de namorar, eram evitados pelas moças púberes nativas.
Suas futuras namoradas e esposas, geralmente, chegavam prometidas em acordos prévios, costume nas arábias, que surpreendia a todos os moradores locais pela grande beleza das mulheres, quando chegavam casadas procedentes do Oriente Médio, adotando Dourados para criarem seus filhos e viver aqui o resto da vida. O moço Zaki Gebara e seu irmão Osman, ainda sonhavam nessa década, achar um local melhor situado, para construírem nele uma mesquita mulçumana. Nas conversas informais que mantinham com o arrebatado prefeito Napoleão Francisco de Souza, um católico praticante, este ficava arredio na posição se devia colaborar ou não. Então, estourou a revolução de trinta e um de março no ano de sessenta e quatro, com regras fiscalizadas sistematicamente pelo brioso subtenente PM Hermógenes, proibindo os pacatos populares de fazerem quaisquer tipos de reuniões, juntando numero superior a dez pessoas. Na Praça Municipal Antonio João, os moços que costumavam se reunir no local à noite, contrariados, usando da condição financeira, passaram a freqüentar forçosamente divididos, os bares Lucchesi, Pingüim e Galo Fino. A dupla, Milionário e José Rico davam canja neste ultimo, porque ainda eram desconhecidos e pobres. Ali também, um gaiteiro de Maracajú de apelido Zé Correa, dedilhava com o Didi.
Nesse período temporal que longe vai à noção, no Ginásio Estadual Presidente Vargas, dirigido pelo professor Celso Amaral e nos bancos escolares do Ginásio Osvaldo Cruz, propriedade do professor paraibano José Pereira Lins, os dois educandários de ensino secundário começavam a delinear os futuros doutores da terra. Alguns, depois de concluírem seu curso científico, prosseguiram estudos nas regiões brasileiras sul e sudeste, prestando vestibulares concorridos e ingressando a seguir nas faculdades de renome. Jadir de Mattos e Walmir Pedroso seriam os nossos primeiros douradenses a formarem-se médicos. Cláudio Iguma e Lauro Machado, presidente da Casa do Estudante em Curitiba, escolheram serem advogados. Alisson Gordim colaria grau em medicina veterinária, enquanto outros estudantes adotados, unidos aos aqui nascidos como a Elizabeth Rocha, se tornavam farmacêuticos e professores.
Interessante, observando o lado positivo nessa geração cheia de idealismo, foi á inexistência do pernóstico alcoolismo e da comentada violência hoje praticada nas salas de aula e nos clubes recreativos. Dependências químicas nos corredores dessas escolas de ensino superior, nem pensar naqueles tempos. Afinal, aquela cabocla geração moça, foi bem mais sequiosa do saber em minha opinião, respeitando os seus mestres no trabalho ou fora dele. Nas universidades dessa sociedade do passado, pensando refletidamente, sentia-se sem dúvida, presente o espírito acadêmico nos alunos. E efetivamente, quanto mais o tempo se distancia daqueles anos sessenta do século vinte, mais envelhece na minha saudade, as memórias dessa juventude pura e inocente...
*advogado criminalista, jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O que os pais desejam para seus filhos

Braz Melo (*)
Todos os pais têm os seus sonhos para com seus filhos. Mesmo antes de nascer, a maioria já tem a sua preferência. Uns querem que nasça homem, outros que seja mulher. E tem alguns que ficam desiludidos com o nascimento diferente do sexo que ele gostaria.
Nascido, antes de dar os primeiros passos, o pai já compra a camisa de seu time do coração e começa a torcida para que ele siga a mesma equipe dele. O pai pode torcer até pelo Clube Atlético Juventus, que ele não aceita que seu filho torça por outra agremiação. Se o pai torcer por um dos grandes times paulista, não admitirá de maneira alguma que o menino torça por um dos rivais. É um grande desgosto para alguns pais, que seu filho torça para o São Paulo, sendo ele Palmeirense.
Mas isso é só o inicio.
Anos depois, no natal, o guri tem uma vontade imensa de ganhar uma bicicleta, mas seu pai lhe dá um jogo de botões especialmente feito para ele, com as cores do Juventus. E a mãe o presenteia com um par de abotoaduras de madrepérola. Esquece que nem camisa de manga comprida ele tem ainda.
O pai desde criança já escolhe a profissão de seu filho. O Junior vai ser médico! E fica sonhando com o menino de calça, jaleco e sapatos brancos, com um estetoscópio pendurado no pescoço. Quando a criança chega ao ensino fundamental e descobre que o Juninho não pode ver sangue que quase desmaia, fica completamente desesperado e parte para o plano B. Vai ser engenheiro! Construir casas. A verdade é que os pais (e as mães também) querem impor aos seus filhos a vontade deles. Normalmente, querem que seus filhos façam o que eles gostariam de ter feito, quando tiveram a oportunidade de fazerem seu vestibular e por algum motivo não o fizeram.
Presentes? Filho não tem gosto. Querem dar para seus filhos o que queriam ter ganhado quando crianças e não ganharam.
O menino vai crescendo e já se interessa por alguma coleguinha da escola. O pai fica todo orgulhoso, mas a mãe já fica imaginando os dois no altar casando e se a noiva (já a vê como tal) vai roubar seu filho. Começa a achar defeito na menina. Não vê que o primeiro amor de um garoto, a menina nem sabe que está sendo namorada.
O pai, apaixonado por futebol, leva-o para uma escolinha de futebol e quer que ele seja centro-avante. O menino queria mesmo era jogar de goleiro. Ser um novo Rogério Ceni. Claro que não deu certo com o futebol.
Vem o vestibular e o Junior tenta passar em Engenharia, como os pais gostariam. Tenta três vezes e nada. Começa a desconfiar que não é bom em matemática e tenta fazer Letras. Passa na primeira tentativa, mas o pai quase tem um enfarto.
A situação financeira da família fica um pouco mais apertada e ele tem de ajudar no orçamento familiar. Procura emprego e acaba tendo a ajuda de um amigo, que o apresenta a um tio, dono de uma oficina de recuperação de motos, para auxiliá-lo como mecânico.
O tempo passa e já namora firme com a filha do dono da oficina que trabalha. Sua mãe ainda não descobriu que uma regra familiar elementar é que quem tem um filho, ao este se casar, o perde para a família da noiva. E quem tem uma filha, acaba ganhando um filho, quando esta se casa.
Os pais têm de saber que a maior herança que podemos deixar para nossos filhos é a educação, mas devemos os deixar escolherem o que querem fazer.
O Junior acaba se formando em Letras, mas ele é mesmo um senhor doutor em mecânica de motos.

NOMES DE PRAÇAS E RUAS

Isaac Duarte de Barros Junior*
Os desconhecimentos de detalhes ou dos pormenores passados, algo especial que os argumentos consideram ser fato histórico, podem ser preenchidos com exaustivas prudentes análises. Porque esses dados basilares tão essenciais, agora transformados em publicações pelos historiadores, se abrolhados com as informações motivadoras de estudos envolvendo pesquisas dos acontecimentos passados, devem realmente se tornar livros, não opúsculos supostamente contendo a verdade. Principalmente, quando neles surgem algumas grosseiras alterações em se tratando da história douradense, que só não resultou mais trivial, graças aos depoimentos prestados pelos últimos pioneiros vivos, a escritores e jornalistas ponderados. Ocorre que o frenesi temerário dos desinformados, posando de historiógrafos, gente sem qualquer retentiva, insiste produzir embustes, jactanciosamente mudando passagens do alvorecer municipal. E fazem-no, mesmo que afrontem as famílias tradicionais, falseando a saudosa memória dos nossos fundadores.
Não possuindo o Legislativo Municipal, melhor atilamento nas homenagens ali prestadas, muitos jovens vereadores bajuladoramente reverenciam conspícuos cidadãos mortos, emprestando precipitadamente os seus nomes a praças e logradouros. Geralmente, os arrojados parlamentares assomam impetuosamente na tribuna da edilidade, fazendo suas costumeiras clássicas leituras de currículos póstumos dos homenageados. Todavia, enquanto corriqueiramente as vassalagens advêm no âmbito municipal, pioneiros autênticos que já prestaram impagáveis serviços a cidade, são esquecidos. Resultando dessa falta de melhor agudeza, escolas públicas receberem nomes de analfabetos, enquanto os falecidos burgueses chegados recentemente tornam-se repentinamente denominação de suntuosas avenidas em bairros nobres. O interessante desses nomes mudados por força de projetos legais aprovados unanimemente, é que embora transcorridos vários anos desde as mudanças dessas designações, essas ruas ainda continuem lembradas originariamente por seus antigos nomes, não obstante possuam novas placas indicativas. Todas inoportunamente, foram rebatizadas por alguns edis e simplesmente continuaram sendo mencionadas pelos seus títulos originais.

Uma das estresidas experiências humanas veste-nos de inconformismo, como possuidores que somos do privilégio de haver registrado cenas passadas e ter convivido entre pessoas extraordinárias hoje perecidas, conquanto já transcorridos mais de doze lustros na coletividade que nascemos e vivemos. Mister implicitamente, portanto, se faz complementar a defesa dos verdadeiros pioneiros olvidados. Assim pensando, analisei curiosamente um gráfico urbano da cidade de Dourados, com antonomásias e nomes recentemente modificados colocados em logradouros, que pudessem intencionalmente distinguir as lembranças dos aquilatados pioneiros. Para meu espanto, poucas alamedas e praças ainda carregavam na denominação de via pública inaugurada, quaisquer alusões a esses antigos habitantes douradenses. Cheguei a pensar na hipótese, de ter acontecido alguma iniqüidade proposital em desfavor dos desbravadores, tal era o meu espanto.
Pois numa cidade moderna, reconhecido centro universitário sul-mato-grossense, essa conduta seria inaceitável, mesmo que nela comunitariamente os novos residentes e seus lideres políticos, ignorassem ou desejassem ignorar a biografia dos antigos habitantes, pessoas que foram consideradas as responsáveis pelos primeiros passos dados rumo ao desenvolvimento existente. Essa extravagante nova ordem social habitacional, fosse mais assisada, jamais deveria tencionar colocá-los na vala comum dos deslembrados. Inclusive, afastando-os da consideração principal que merecem e da importância adquirida pelos ingentes feitos labutadores, que praticaram como homens e mulheres, construtores do passado local. Intensas homenagens públicas, na veracidade, lhes deveriam ser tributadas, ao menos de vez em quando para festejá-los. E mesmo que a história seja conhecida como o abrigo de relatos contendo informações nem sempre exatas ao serem transmitidas, se permitirmos que ela seja deturpada por douradenses adotados, conhecendo-a, seria uma atitude negligente...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@ Hotmail.com

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ENTRADAS E ESTRADAS

Isaac Duarte de Barros Junior*
Quase todas as mais antigas estradas abertas no sul de Mato Grosso na fase do seu desenvolvimento, foram sulcadas e fendidas por desbravadores sem o menor conhecimento dos cálculos direcionais da engenharia. Estes batedores, na época do desbravamento foram de grande valia para as expedições que tomavam o rumo do sertão. A maioria deles, homens rudes, foi chamada pelos poucos habitantes de “peões guias”. Quase todos, sem exceção, seus patrões interessados os contratavam como guias nas proximidades das regiões onde moravam e o faziam usando como critério de escolha, o fato de possuírem enormes conhecimentos a respeito das suas respectivas paragens. Sabiam excepcionalmente e com muito profissionalismo, como usar uma foice nos guajus, ou um machete em pequenos galhos dos espinhosos capinzais. Olegário Pallin, argentino de corrientes, estava entre esses pioneiros abridores de antigas estradas no Mato Grosso. Por essa qualidade, foi um daqueles exploradores contratados pela tropa do capitão Luiz Carlos Prestes, em abril de 1925, quando esses revolucionários ocuparam com a coluna o Porto Felicidade e Campanário, precisando em seguida abrir outros estratégicos caminhos para a tropa revoltosa avançar.
Em 1935, os índios cayuás, guaycurus, mbaiás, ahins, humegais, guatós, nuaras, guapís e diversos teis errantes, os seculares verdadeiros donos e conhecedores desta terra, também colaboraram na abertura de mais estradas. Varando perigosas matas fechadas em busca do caá, os silvícolas que já desenvolviam o uso das folhas, ajudaram as caravanas a abastecer os barbácuas da Companhia Mate Laranjeira, porque sabiam como e onde localizar os frondosos ervais. Um pouco antes deles, na expedição do Marechal Rondon, sob o comando do então Major telegrafista Candido Mariano, outras estradas foram abertas, enquanto pontes de madeiras eram construídas, facilitando o acesso das migrações que começavam a percorrer todo o estado para habitar. Embora essas estradas fossem poucas, se algum viajante pioneiro se equivocasse com a direção por ele tomada, melhor mesmo seria seguir em frente abrindo outro caminho nas picadas, do que arriscar um retorno
Aos poucos, a maioria dessas estradas foi se alargando, utilizadas pelo permanente transporte das imensas boiadas, comitivas que deixavam a distante região do Triangulo Mineiro. Elas se transformariam com o passar do tempo, nas useiras estradas boiadeiras batidas, rotas que se tornaram fundas pelo socar dos milhares de cascos das reses na terra vermelha. Uma Vila predestinada a ser conhecida como nossa futura cidade de Dourados, estabelecendo uma verdade a ser considerada, nasceu na bifurcação de alguma dessas estradas sem nenhum planejamento direcional, com a construção imprevista dos casebres cobertos de sapé erguidos por colonos anônimos. Desconhecedores, entretanto, de que no futuro, seriam os verdadeiros responsáveis pelo seu real nascimento. Tais pessoas, jamais vieram saber o enorme valor daquilo que representaria essa atitude construtiva e despretensiosa na forma desses ranchos erguidos a beira dos caminhos nos descampados.
O interessante, extraído da lição dos tempos pioneiros, é de que não foram as vilas do Mato Grosso que criaram as nossas estradas e sim as estradas nascidas antes, é que foram as formadoras dos pequenos lugarejos. No começo do nosso desbravamento estadual, as estradas esburacadas e de terra batida, ainda sem tabernas, tinham lugares obrigatórios como ponto de parada para os viajantes almoçarem, jantarem e repousarem durante a noite a beira das fogueiras no relento. Depois, apareceram as primeiras acolhedoras pousadas, com cavalariças, regos d’ água e cisternas. E em torno delas, surgiriam os primeiros ranchinhos caboclos e as pequenas roças destes. Paraguaios, brasileiros e índios, iniciaram os chamados patrimonios, criando ali as suas famílias. Os paraguaios, de acordo com as suas conveniências, ora eram brasileiros de nascimento, ora era paraguaios assumidos. Porém, havia uma coisa que eles não conseguiam disfarçar: o sotaque. Hoje, vendo tantas estradas asfaltadas e estradas de ferro, muitos recém chegados nem imaginam, o valor que a implantação das estradas antigas tiveram para o nascimento de Mato Grosso do Sul...
*advogado criminalista, jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O chamado veio dobrado

Braz Melo (*)

Outro dia encontrei com uma senhora num posto de gasolina, que disse que lia sempre meus artigos e que eu deveria passar isso para um livro, já que tem diversas crônicas e também me pediu para eu diminuir os relatos pessoais. Fica difícil, pois eu conto o que eu vivi e o que eu assisto ou assisti. Mas obrigado pela sugestão.
Quando eu falo que estamos aqui por vontade de Deus, muitos ainda duvidam. Pois não é que no domingo ele chamou o meu amigo João Góes, companheiro antigo e que vindo do Nordeste para ajudar na implementação da Colônia Agrícola de Dourados, passou por Gloria de Dourados e veio se enraizar em Dourados com toda sua prole. Com esposa e quinze filhos deixa-nos saudades. Deixa história com a participação dos políticos que ele sempre ajudou, desde Joel Saburá Joaquim Taveira e Moacir Djalma Barros, que já nos deixaram e Vivaldi de Oliveira e José de Azevedo, ainda firmes, sempre acreditando em que fazendo política poderia melhorar um pouco nossa Dourados e a vida de nossa região. Partiu, mas deixou uma família unida e tenho certeza que irá continuar o trabalho político de seu patriarca, assim como manter as amizades que fez neste período.
Outro que nos deixou foi o ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de Dourados, Walter Brandão da Silva. De família tradicional de nossa cidade, esportista, uma pessoa que sempre estava à disposição de quem o procurasse para um conselho. Era tão apaixonado pelo esporte que colocou nome de Beline em um de seus filhos, homenageando o grande defensor de nossa seleção de 1958 e do Vasco da Gama, do qual era torcedor fanático. Colocou o nome de Ubiratan em outro filho, homenageando seu clube em Dourados, do qual foi treinador e presidente.
Walter também foi presidente do Clube Social e político. Pertencia a um grupo político, mas mesmo tendo lado, sabia o que fazia e evitava sair à reeleição. Era vereador um período e em vez de tentar a reeleição, saía o Joel Pizzini ou o Moacir Lamparina apoiado pelo seu grupo. No próximo pleito ele era novamente candidato e com isso não sofria o desgaste da reeleição. Com isso, seu grupo sempre fazia seu vereador e o esporte douradense não ficava sem representação na Câmara Municipal. Estratégia política, mas que dependia do desprendimento daquele que estava no cargo.
Foi treinador do Ubiratan e de seu rival, o Operário, dos quais foi campeão nos dois.
No seu enterro, foram colocadas em cima de seu caixão, as bandeiras do Ubiratan e do Operário.
As musicas tocadas pelo solo do saxofone foram escolhidas por ele, aumentando a impressão que sua presença era viva.
Walter Brandão deixa não só uma família formada e consolidada, mas muitos amigos atônicos, pois tem gente que nunca esperamos que morresse.
Seu cunhado, Walter Carneiro, ex-presidente da Assembléia, fez o discurso em homenagem póstuma, que relembrou e mostrou outras qualidades do Walter Brandão.
A homenagem que seus parentes da Seleta prestaram ao seu ilustre companheiro foi emocionante. Fizeram a chamada de todos os obreiros que estavam e todos respondiam presente. Por ultimo, quando chamaram pelo seu nome e não houve a resposta, muitos não agüentaram e derramaram em lágrimas. Nunca mais iremos ouvir os conselhos, assim como as brincadeiras de nosso amigo. Descanse em paz.
Se hoje tivéssemos políticos com o desprendimento e companheirismo do Walter Brandão, tenho certeza que nossa cidade e região seriam muito mais bem servida de representantes. Em quantidade e qualidade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CEL. FELICIANO VIEIRA BENEDETTI

Isaac Duarte de Barros Junior*
Na formação da Policia Militar de Mato Grosso, nas primeiras décadas do século vinte, diversos foram os oficiais dessa milícia, que mesmo depois de promovidos hierarquicamente, ainda continuaram sendo lembrados pela população num posto mais antigo apreciado. Alguns acenderam essas graduações na policia militar por atos de bravura, em momentos conturbados dos seus valentes feitos. Muitos desses oficiais serão lembrados dessa forma, porque era no posto militar do oficialato inicial, que geralmente a população identificava um período de suas atividades mais marcantes.
Entre esses militares, estão arquivadas cuidadosamente nos anais castrenses, biografias corajosas como a do coronel PM Feliciano Vieira Benedetti, gaúcho natural do município de São Francisco de Assis. Nesse lugar, Feliciano nasceu em nove de junho de 1905. Seus pais, depois de libertos do cativeiro pela Lei Áurea, casados foram trabalhar como agregados nas propriedades dos Vargas em São Borja. Lugar, onde Benedetti cresceu e aprendeu cavalgar, nutrindo o gosto belicoso dos estancieiros maragatos sulinos pelas corajosas refregas sangrentas, que tingiram de vermelho as pequenas sangas nos gelados pampas. Feliciano Benedetti chegaria em 1929 nas terras do Mato Grosso. No ano seguinte seria comissionado como segundo tenente da policia militar e nomeado delegado municipal da cidade de Bela Vista pelo coronel Antônio Mena Gonçalves, interventor federal.
Em 1931, respeitado e temido pelos quadrilheiros ladrões de gado, era confirmado no cargo de Delegado Regional no sul do estado, sendo transferido para Dourados como habilidoso “chefe da captura” determinado a prender bandoleiros. Severo e disciplinado, em quinze meses de serviços na região, merecidamente havia se tornando homem de confiança das autoridades superiores, capturando perigosos quadrilheiros, colocando finalmente ordem na explosiva fronteira. Como ninguém é completamente perfeito, logo o delegado Benedetti se desentenderia com dirigentes partidários governamentais, mudando-se em 1932 para a cidade de São Paulo. Na capital paulista, o militar aderiu e lutou ao lado das forças constitucionalistas, comandadas pelo general Bertoldo Klinger. Derrotado pelas forças da ditadura varguista, asilou-se no posto de major em 1934 na vizinha Bolívia, pois no Paraguai era odiado mortalmente pelos delinqüentes de então, devido a sua atuação anterior decisiva no combate ao crime organizado na região de fronteira.
Voltou para Dourados em 1935, no momento exato em que a família Mattos comandava o movimento pró-emancipação, aderindo à cívica iniciativa. Nesse mesmo ano, se casou com Olívia Brum. Em 1937, era nomeado tenente-coronel e delegado de policia em Cuiabá, pelo interventor Mário Correa da Costa, fixando sua residência na capital. Porém, genioso, novamente se desentendeu com assessores governamentais, voltando para o Rio Grande do Sul. Regressou ao Mato Grosso em 1940, escolhendo para residir o Distrito de Palmeiras no município de Nioaque. No ano de 1947, requereu do governo de Mato Grosso, uma gleba de terras devolutas no Distrito de Caarapó, onde montou a fazenda “Cuiabazinho”. Passado algum tempo, no ano de 1952, o coronel Feliciano Vieira Benedetti assumiria a função de Delegado de Policia douradense. Permaneceria nessa condição policial, até exonerar-se do cargo em 1953. Naquele ano, por motivos desconhecidos, matou um conhecido produtor rural, no interior do bar Pingüim em Dourados, diante de vários espantados freqüentadores do local.
Após esse trágico duelo ocorrido, seus inusitados contatos políticos se deram reservadamente na clausura cautelosa da sua residência, porque nela recebia seletos amigos trabalhistas como o compadre Antonio Emilio de Figueiredo, seu afilhado Harrison Figueiredo e o comerciante Joel Saburá, ex-vice prefeito de Dourados. Entretanto, manter essas velhas amizades causaria problemas entre o velho coronel reformado e os revolucionários udenistas da cidade. Pois, no golpe militar em 31 de março de 1964, se daria á única prisão do gaúcho Feliciano Vieira Benedetti, solto imediatamente por determinação do coronel de exército Leodovico de Barros Lima, que considerou o ato desnecessário e arbitrário. A historiógrafa douradense, Suzana Arakaki, é quem melhor relata as cenas nada convencionais daquelas prisões políticas nesses tempos idos. Quando faleceu, foi enterrado no cemitério Santo Antonio, sem honras militares, conforme pedido feito para sua única filha, a veterinária e professora Dra. Clori Benedetti...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

sábado, 6 de fevereiro de 2010

POLICIAIS, DELEGADOS DE CARREIRA...

Isaac Duarte de Barros Junior*
Observei com satisfação, um dia destes, a política evolutiva da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, com todas as suas atuais transformações radicais. Fiz essa reflexão contemplativa, enquanto aguardava absorto nos meus pensamentos, à hora de ser atendido. Vendo o ir e vir apressado dos funcionários da policia civil, percorrendo os amplos corredores da repartição pública, muitas recordações me convidavam a voltar no tempo, precisamente quando comecei advogar nas plagas douradenses em 1975. Nessa época, os jovens bacharéis em direito desta cidade, nem imaginavam a massificação proliferada dos cursos jurídicos. Pois quem colava grau, em lugares distantes daqui, retornando sonhava exercer a advocacia, ser promotor ou vestir a toga de juiz. Entretanto, mesmo assim, ainda existiam em muitas comarcas mato-grossenses, juízes e promotores sendo nomeados ao bel prazer dos políticos. Os quais eram empossados sem a necessidade de fazer concursos públicos.
Também, nessa mesma ocasião, para se tornar um delegado municipal de polícia, não era necessário ter o titulo de bacharel em direito. Portanto, esse importante cargo da chefia policial, ao invés de ser uma carreira funcional com promoções, era simplesmente um cargo político seguindo os interesses de quem nomeava o cidadão. No velho Mato Grosso uno, lembro-me bem, em cidades pequenas do nosso interior, os advogados sofriam toda a sorte de humilhações para atuarem na defesa dos seus clientes. Porque os chefes de policia, folclóricos delegados agressivos, assessorados pelos seus escrivães truculentos, seguiam nos inquéritos policiais as suas próprias normas de entendimento penal, sem creditar ao indiciado o principio da inocência. Quanto a nós, os profissionais defensores constituídos, eles reservadamente nos criticavam por defendê-los, não permitindo violências ou os costumeiros espancamentos.
Nesse tempo distante da minha juventude, ainda vigorava habitualmente nas delegacias policiais, essa metodologia de trabalho investigativo nos meios repressivos mato-grossenses, quando o então velho Mato Grosso repentinamente dividiu-se em 11 de outubro de 1977. Campo Grande tornar-se-ia a capital da nova conjuntura federativa. Em 20 de outubro de 1979 aconteceria naquela cidade o nosso primeiro Congresso Regional de advogados. Nesse encontro inesquecível, os Drs. Plinio Rocha, Francisco Giordano Netto, Nelson Trad, Josephino Ujacow, juntamente comigo, que usando da palavra passei a fazer uma exposição de motivos resolvendo a acabar com aquela situação constrangedora, reinante há anos nos expedientes internos das diversas delegacias de policia. Os colegas advogados, entusiasmados com a proposta para melhorar o clima entre nós e esses funcionários policiais, aprovaram eufóricos a medida apontada, aplaudindo de pé essa iniciativa pioneira daquele pequeno grupo de advogados criminalistas, oriundos de regiões em crescimento do novo estado.
No final daquela tarde, das dependendencias da Associação Comercial Campo-grandense, foi enviado aos deputados estaduais, reunidos na Assembléia Legislativa, um documento formal da nossa classe advocatícia, solicitando que fosse incorporado à Constituição Estadual de Mato Grosso do Sul, um dispositivo legal disciplinando como deveria ser preenchido o cargo de carreira para Delegado de Policia, tendo como “conditio sine qua non” ser esse funcionário concursado, bacharel em direito. Claro, as forças tradicionais do retrocesso, inconformadas passaram a nos criticar em diversos jornais e emissoras de rádio, dizendo que estávamos com a nossa pretensão de modernidade, desempregando os valentes conhecidos delegados municipais de policia e abrindo vagas para pessoas com desconhecimento completo da função, brasileiros inexperientes de ambos os sexos. Os deputados Sérgio Manoel da Cruz e Sultan Rasslan, ex-radialistas, experimentados em assuntos ligados aos meios policiais, discordaram dessas opiniões tolas da mídia e nos paraninfaram apoiando, influenciando decisivamente na aprovação do novo texto constitucional e com ele nascia o delegado de carreira.
Convocado a trabalhar, fui gentilmente chamado a novíssima realidade por um educado funcionário do 1º Distrito Policial, que interrompeu essas minhas reminiscências, ao me encaminhar como advogado convidado. Adentrando no confortável gabinete douradense do delegado de carreira Dr. Carlos Delano Gehring Leandro de Souza, um notável policial concursado da nova geração, talvez um futuro Secretário de Segurança. Sorri orgulhoso, quase que enigmaticamente, por sentir com esses moços, ter contribuído modestamente na companhia de saudosos causídicos, com a transformação dessa milícia civil num passado recente. Hoje, efetivamente preparada, auxiliando o Poder Judiciário regional...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A feira-livre

Braz Melo (*)

Toda quarta-feira vou à feira-livre do BNH 1º Plano. No mínimo vou comprar um queijo, pois apesar de estar em Dourados há quase quarenta anos, continuo mineiro e como tal, sou doido por um e quando estou abastecido, por já ter comprado no sábado na feira-livre da Rua Cuiabá, pelo menos me delicio comendo um pastel. De queijo, é claro.
Com a minha ida constante lá o que não falta é um papo agradável e despretensioso. A grande maioria é antigo na feirinha, conhecidos de há muito e por isso sempre me perguntam e questionam sobre o que está acontecendo em nossa cidade e no Brasil. O papo vai desde os Vereadores até o Presidente da Republica. Isso quando não passa a ser assunto internacional. Como em muitos lugares, conversa-se muito e solução mesmo é muito pouca. Mas nos divertimos. Quando eu saio devem perguntar para os outros o que perguntaram para mim.
Sou defensor ardoroso da feirinha e tudo que incentiva ao pequeno e micro empresário e talvez por isso, fez com que o Aroldo me pedisse para que eu escrevesse sobre as feiras de Dourados e resolvi seguir seu conselho.
A feira da Rua Cuiabá é tradicional e antes dali, funcionava na Rua Onofre Pereira de Matos.
Lembro que uma vez o Prefeito João Totó Câmara, em sua segunda administração, construiu um prédio para que pudesse abrigar e funcionar o Mercado Municipal, que substituiria a feira, como se achava importante na época. Foi construído com todo esmero, tanto que hoje funciona um dos maiores supermercados de nossa cidade, o Santo Antonio Abevê. Mas não deu certo.
Tem coisa que só funciona em alguns locais. Se mudar de lugar, passa a não ser como antes.
Quando Prefeito criamos a Feira do Produtor, que funcionou bastante tempo na Cabeceira Alegre, onde os produtores vendiam direto ao consumidor. Infelizmente o prédio adaptado para que funcionasse bem foi vendido pelo Estado e até hoje, toda quarta-feira, os produtores ficam na calçada do terreno da Petrobras vendendo os seus produtos com esperança que o poder público tome providencias e consiga outro local para funcionarem adequadamente. Ninguém mexe uma palha para resolver este problema. Pena, pois na Feira do Produtor vendia-se bem mais barato que os outros locais, já que não tinha intermediário.
Também criamos as feiras do BNH 1º Plano nas quartas, o do BNH 3º Plano nas quintas e a do BNH 2º Plano nas sextas- feira. Estas funcionam até hoje. A que criamos no CSU atendendo o Jardim Água Boa, infelizmente não funciona mais.
Tínhamos um carinho especial pelas feiras e sua limpeza. Antes de começarem a montar os barracos era limpa toda sua área e quando terminava, antes dos barracos saírem do local os caminhões d’água já limpavam tudo para que não houvesse reclamação dos moradores.
E para que houvesse uma maior integração com os feirantes criamos o Distrito Verde, no Potreirito na primeira e a Agrovila, em Formosa na segunda administração, o que fez baratear os custos das hortaliças e frutas. Naquela época quem imaginava comer morangos colhidos em nossas terras? Hoje Dourados é auto-suficiente nesta fruta.
Foi criado o SIM- Serviço de Inspeção Municipal, para que os micros e pequenos fabricantes de derivados de leite, como iogurte, queijo caipira, requeijão e outros produtos tivessem o selo de qualidade, dando aprovação para comercialização, após inspeção, aos produtos. Está completamente adormecido.
Infelizmente hoje o que vemos é um desprezo por esta classe de trabalhadores que tanto fez e faz para o engrandecimento de nossa terra. Tem tempo que só fazem obras e serviços com recursos advindos de emendas ou de convênios com recurso Estadual ou Federal.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

THOMÁZ LARANJEIRA... COMENDADOR DOS ERVAIS.

Isaac Duarte de Barros Junior*
Ao soarem nas trincheiras mato-grossenses os primeiros toques das estrídulas cornetas militares, anunciando o inicio dos combates na guerra da Tríplice Aliança, os moços Thomáz e Serafim Laranjeira, naturais da província de Santa Catarina, voluntariamente se apresentaram para servirem como soldados. A dupla se incorporou nas forças do Exército Imperial, alistando-se no recrutamento da província do Paraná quando eclodiram as primeiras batalhas. Vieram de muito longe, cavalgando, pois nessa época viviam no Rio Grande do Sul comerciando animais na cidade de Santa Maria do Monte. Serafim, ao terminar os conflitos bélicos, recebeu as divisas de sargento, voltando para sua casa no sul. Thomáz Laranjeira, aventureiro, se estabeleceu como próspero comerciante na cidade paraguaia de Concepción, ocupada pelas tropas vencedoras.
Aconteceu que com o término dessa guerra genocida, foi criada uma Comissão Mista de Limites para demarcar as linhas divisórias entre Brasil e Paraguai, sob o comando do coronel engenheiro Rufino Eneas Gustavo Galvão, Visconde de Maracajú. Ao ser investido no cargo, esse oficial convidou o arrojado Thomáz Laranjeira para servir como secretário civil da Comissão. Nesse tempo, o trabalho demarcatório era extremamente difícil e cansativo, acrescido do problema crucial de abastecimento para a tropa. Percebendo essa necessidade alimentar, inteligentemente, após um período breve, Thomáz Laranjeira propôs ao seu comandante deixar o cargo de secretário da Comissão e passar a ser “fornecedor de mantimentos”. Diante daquela enorme disposição incomum, portando uma saúde impressionante e com o aumento dos graves problemas da subsistência, a proposta foi aceita pelo alto comando. No desempenho desse mister, Thomáz Laranjeira descobriria nossos grandes ervais nativos nas bacias dos rios Iguatemi e Amambai.
Como conhecia bem da industrialização e do comércio da exuberante folhagem, notou que o maciço dos ervais com a fixação dos limites internacionais, se achava localizado em território neutro. Essas faixas de florestas verdes, mais tarde se integrariam ao patrimônio nacional pelo tino de ocupação do brasileiro Thomáz Laranjeira. Assim, pelo Decreto n. 8.799 de nove de dezembro de 1882, já comendador, o ex- “fornecedor de mantimentos” conseguiu uma concessão para colher e industrializar a erva mate em Mato Grosso, renovando-a com a proclamação da república. Logo, ele passaria a exportar para a vizinha Argentina, aquilo que ensacado, cientificamente recebeu o nome de ilex paraguaiensis.
Deliberando crescer no mercado do exterior, a Companhia Mate Laranjeira, unificou-se com os exportadores de erva mate, conceituados na Argentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil. A Empresa Francisco Mendes & Cia, foi uma delas. Finalmente, no ano de 1902, em Buenos Aires, sede da Empresa ervateira, a firma Laranjeira Mendes & Cia, iria adquirir todos os bens que antes pertenciam a Companhia Mate Laranjeira. Nessa unificação, como nossa primeira empresa extrativa de erva, a Companhia Mate Laranjeira, chegou a produzir anualmente cinco milhões de quilos de erva mate, possuindo para esses serviços, aproximadamente quatro mil e quinhentos empregados espalhados por diversos países do continente sul americano. Mas, em 1934, se iniciariam profundas modificações administrativas na ervateira que chegou a ter nos seus quadros funcionais, 18 mil trabalhadores e 10 mil dependentes. Hoje, dela, só resta o mburêo nostálgico dos peões, ecoando misturados ao som dos violões no entardecer das recordações.
Triste, é que o ocaso da fabulosa Empresa fundada por Thomáz Laranjeira, já nas mãos da poderosa família Mendes Gonçalves, aconteceu por um ato político do presidente Getúlio Vargas, em 1943. Criando o território federal de Ponta Porã, o grande estadista rescindiu o contrato sexagenário da concessão para extrair erva-mate nativa no Mato Grosso. Assim, o desbravador Thomáz Laranjeira, fundador de Porto Murtinho, Porto Felicidade, Porto Guairá e um dos colonizadores de vilarejos como Dourados no século dezenove, morreria em 1935 aos 96 anos em Porto Alegre, pobre como nasceu. Era então, apenas o dono de uma modesta padaria...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com