quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quem morre na véspera é peru

Braz Melo (*)

Tenho assistido muitas estórias e conversas sobre política local ultimamente. Teve até um encontro sobre a participação de Dourados na representatividade política de Mato Grosso do Sul. Muito importante, porém quem precisava estar lá, não foi. Talvez por não terem sido convidados com certa antecedência. Ou não acreditaram no projeto em si.
E lá assisti o pronunciamento de diversas pessoas e autoridades que pelo menos, uma me impressionou demais. O do Prefeito de Dourados que em seu discurso disse que vai apoiar os dois senadores que vão ganhar. Que ele não apóia aquele que vai perder. Levei um susto, discordei, mas imaginei que tinha sido apenas um desabafo momentâneo. Só que passado alguns dias, ele continua externando esse seu pensamento em todos os cantos de nossa cidade. Dá a impressão que ele tem uma bola de cristal para saber bem antes, o que vai acontecer somente em outubro.
E uma dos mais importantes predicados da política é o companheirismo. Sem esse predicado, não se vai muito longe.
Lembrei, quando prefeito pela primeira vez saiu candidato a Presidente da Republica o saudoso Ulisses Guimarães. Homem que tinha trabalhado durante sua vida inteira pela democracia e que tinha acabado de presidir a comissão que aprovara a nova Constituição, que foi um marco de avanços em nossa lei maior. Pois este grande brasileiro não conseguia um local para se apresentar em nosso Estado para fazer comícios. A Prefeitura de Campo Grande estava nas mãos do PTB de Ludio Coelho que como a grande maioria dos prefeitos apoiava o Collor e perguntaram para mim se tinha como fazer um comício para o nosso candidato do PMDB em Dourados.
Apesar dos poucos pontos que o Ulisses tinha na disputa com Collor, Brizola, Covas e outros tinham na pesquisa, fizemos uma carreata e um grande comício para nosso candidato. Perdeu em Dourados como em todo o Brasil, mas tivemos a alegria de ter acreditado num projeto dentro de seu partido e com companheirismo.
Tempos depois, ao ir a Brasília atrás de recursos, encontrei com o Senhor Constituição como era conhecido, na entrada do Congresso Nacional. Perguntei a ele se lembrava de mim e ele sem muitas delongas me abraçou e me disse que não poderia esquecer de um prefeito de uma cidade grande que conhecia seus concidadãos pelo nome e muitos até pelo apelido.
Meses depois, Dr. Ulisses, ao saber do casamento de minha filha mais velha, fez questão de vir ao mesmo, agradecido pelo trabalho que fizemos para ele, quando candidato.
O exemplo está no dia a dia da política. Brizola no Rio de Janeiro, até na ultima semana a pesquisa dava ele como derrotado. Eu mesmo, quando saí candidato contra o José Elias, em abril de 1988, tinha 4 por cento contra 65 dele. Se eu não dependesse dos companheiros em acreditar naquele projeto, não teria conseguido aquela grande vitória.
Devido a necessidade de precisarmos que a região de Dourados tenha mais representatividade nos cargos políticos, inclusive de cargos nunca conseguidos anteriormente, é muito importante que o mandatário da maior cidade da região acredite neste projeto.
Não se deve entregar o jogo antes do jogo acabar. Muito menos antes dos times entrarem em campo.
A história da eleição de Senador casada (escolha de dois senadores) nos mostra que aquele que sai na frente, normalmente perde a eleição. Ganharam as eleições os dois candidatos que fizeram o trabalho em conjunto.
Temos de acreditar sempre quando a causa é justa e importante para nós, pois como diz o ditado popular: “Quem morre na véspera é peru.”

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quem não se comunica...

Braz Melo (*)
Participei de diversas campanhas políticas. Cada uma tem suas peculiaridades e muitas estórias. Hoje descrevo algumas, porém existem algumas regras que são válidas para todas. Vamos lá.
Quando garoto, meu avô era udenista, apaixonado pelo Brigadeiro Eduardo Gomes e meu pai torcia pelo Getulio Vargas. Mesmo assim eles se davam bem. Talvez por esta democracia vivida dentro da família, ficou fácil torcer pelo Fluminense, mesmo sendo meu pai vascaíno doente.
E quem participa da política tem de ser assim. Não se deve misturar política com amizade. Quantos amigos temos que não comungam da mesma ideologia que a gente? E não é por isso que deixamos de sermos amigos. Se fosse o contrário não valeria a pena fazer política, pois esta é também a arte de conviver com os opostos.
Imagina se o eleito só atendesse os anseios e solicitações dos companheiros que acreditasse, tivessem votado nele.
Uma coisa é compor sua assessoria de pessoas de sua confiança e outra coisa é administrar somente atendendo seus companheiros.
Eu mesmo tive a oportunidade de rever secretarias que estavam com pessoas que me ajudaram a ganhar a eleição e que por necessidade de troca, fazer por um que não era companheiro de então.
Exemplo disso foi quando o Valfrido Silva, que era meu Secretário de Comunicação em 1989 foi convidado para ser Diretor de Jornalismo da TV Morena em Campo Grande, função de grande importância para Dourados e região, escolhi uma profissional para substituí-lo que tinha feito campanha para o José Elias, meu adversário. E a Maria Gorete se incorporou muito bem em nosso meio.
Logo que aqui cheguei, na década de 1970, lembro da fotografia oficial do Prefeito João Totó Câmara, onde abaixo de sua foto, tinha os dizeres: “Prefeito de todos os douradenses”. Aquela frase me chamou a atenção e me norteia até hoje. E aquela época era de política de dois lados. Não tinha coluna do meio. O meu amigo Harrison de Figueiredo me contava que quando um adversário ganhava a eleição, ele não pisava nem na calçada da Prefeitura durante os anos governados pelos outros. Assim também se portava o grupo antagônico.
A primeira vez que participei de uma campanha, ainda de maneira tímida, foi quando o José Elias ganhou do candidato que votei, o Lauro Machado. Naquela eleição, além de apoiar o Lauro, ajudei o Valter Baiano, candidato a vereador que conseguiu, com minha ajuda, 92 votos. O Valter Baiano era comunista de carteirinha e vendia bilhete da loteria federal. Tinha vindo de Vitoria da Conquista para Dourados a fim de gerenciar o Expresso Real. Acabou se apaixonando por nossa cidade e aqui ficou. Com nome de comandante da Marinha, Valter Fernandes de Oliveira Santos, era um homem inteligente, com uma cultura acima do normal e ra um gozador de marca maior. Até hoje sinto falta de nossa prosa.
Nesta eleição, tinha comícios todas as noites. Fazia comícios em todos os bairros, distritos e travessões. Era uma festa todo dia. Um dia no Barreirinho, no dia seguinte em Vila Vargas e assim passavam 90 dias tentando convencer os eleitores de suas propostas. Na eleição para vereador a disputa era voto a voto.
No dia da eleição 1976, ao sair de casa para ajudar meu candidato, Anete me perguntou para quem eu iria votar para vereador. E eu preocupado com o pleito, secamente falei que era no Valter. Quando saiu o resultado e chateado pela pouca votação de meu vereador, descobri que Anete tinha votado no Valter errado. Votou no Valter Carneiro, nosso amigo, mas que era adversário político. Tempos depois morríamos de rir com o engano nosso. Quem não se comunica...

terça-feira, 13 de abril de 2010

ANGÉLICA...

Isaac Duarte de Barros Junior*
O Distrito de Angélica no século passado foi um dos mais fortes redutos petebistas que existiu na região da grande Dourados, lugar onde a gratidão do colono eleitor nordestino por Getulio Dorneles Vargas, acentuadamente se consolidou com o suicídio presidencial em 1954. Naquela localidade, nós os antigos militantes ex-udenistas, tínhamos em qualquer situação eleitoral o nosso calcanhar de Aquiles. Como nos anos setenta, quem ganhava as eleições na zona rural definia o pleito municipal, José Elias Moreira um perdedor nesse reduto na primeira vez que se candidatou ao cargo, naquele resolveu mineiramente preparar-se para concorrer novamente. Nessa feita, voltando a disputar a prefeitura na sucessão do prefeito João da Câmara, o mineirinho montou uma estratégia juntamente com outros correligionários políticos. Entre eles, estavam o pecuarista Antenor Martins Junior e o farmacêutico Arnulpho Fioravanti. Assim, acompanhado do motorista João Amaral, eu e o barbeiro José Batista dos Santos, o “Zé do Norte”, Zé Elias, funcionário licenciado do INCRA, usando um fusquinha, desembarcamos temporariamente na residência do falecido comerciante Cícero Ferro.
Depois, já acomodados em uma pensão, quando Angélica ainda era pequeno povoado sem atrações noturnas, dividi um quarto modesto da pousada com o motorista João Amaral, companheiro leal da “missão” estabelecida. Uma noite, um bêbedo nordestino me chamou a atenção. Embriagado, meio sonolento, o pinguço cantava uma canção com estes versos: “Lampião tava drumindo, acordou com dor de dente e atirou numa abraúna, pensando que era um tenente...”. A cena engraçada, apesar dos anos transcorridos, continua marcada na minha memória. Nessa época saudosa, a “comissão do sim” para manumitir Angélica, reunia-se a noite na casa do “seu” Tito, às vezes, até a luz de lampião. Entre as pessoas conhecidas arrojadas da época, estavam presentes o professor Ivo Nascimento, Antenor Vargas, os membros da família Ferro, Doralice Wolf e outros personagens componentes da operante caravana pró-emancipação daquele município. Lembro, que tempos depois, nomeado delegado municipal de policia, João “gordo” Pereira acabaria me convencendo a alugar uma sala no centro de Angélica, onde eu abri o primeiro escritório de advocacia daquele município. Ali, passei a atender clientes duas vezes por semana na área criminal. Mas, o município de Angélica, nesse tempo, para minha especialidade, era ordeiro e pacato demais. Com isso acontecendo, durou pouco tempo as minhas atividades advocatícias naquela cidade.
José Elias Moreira, jovem mineiro nascido em Poços de Caldas, acostumado a fazer longas caminhadas, animado, todos os dias fazia centenas de visitas domiciliares, exortando a população que votasse na campanha em favor do “sim” daquele plebiscito. Pois, caso o movimento fosse vencedor, ele explicava que transformaríamos o Distrito de Angélica em novo município sul-mato-grossense. Do lado oposicionista, como destacada liderança, a advogada Marieta Pereira de Souza, então professora, trabalhava pelo voto “não”. Por ironia do destino, venceu a campanha plebiscitária do voto “sim” e a Dra. Marieta Pereira de Souza, elegeu-se como a primeira prefeita de Angélica, fazendo uma excelente administração. O José Elias Moreira, filho esperto da dona Chiquinha e do velho Quinsito, se livrou naquela tacada de mestre, dos votos petebistas de Angélica, elegendo-se finalmente prefeito de Dourados. Depois, candidatou-se a governador e foi deputado federal constituinte. Seu mandato federal teve a produtiva duração de duas legislaturas.
José Batista dos Santos, o “Zé do norte”, eufórico, nessa época, profetizava que durante vinte anos, aquele nosso grupo entusiasta de jovens políticos permaneceria no poder, um presságio que quase acabou acontecendo. Quanto ao comerciante idealista Cícero de Oliveira Ferro, este se elegeu vereador pelo município de Angélica, todavia morreu assassinado no interior do seu estabelecimento comercial. A fatalidade ceifou também a vida do saudoso vereador Ediberto Celestino de Oliveira, o ultimo edil eleito na comunidade de Angélica para compor a Câmara Municipal de Dourados. Todavia, enquanto durou seu mandato, Ediberto foi um homem valoroso na Tribuna. Assim, depois dessa trabalhosa emancipação política, enfim surgiu no mapa de Mato Grosso do Sul a progressista cidade de Angélica. Hoje, um centro agro-pecuário comercial muito próspero, orgulhando a todos os moradores, residentes no Vale do Ivinhema...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Valeu a pena

Braz Melo (*)

A semana passada ao ler o jornal, deparei com uma noticia que me pegou de surpresa ao constatar que Dourados tinha sido contemplada com uma obra de uma grandeza imensa, prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC-2) do Governo Federal, que é a parte da ferrovia que fará a ligação da rota bi oceânica Atlântico- Pacifico.
A ferrovia que ligará Santos, em São Paulo à Antofogasta, no Chile e que hoje está interrompida em Panorama, no estado de São Paulo, terá recursos garantidos para dar continuidade até Dourados.
Assustei, pois há muito tempo não via ninguém falar nesta obra tão importante para nossa região. Obra que defendi com unhas e dentes quando assumi a vice-governadoria em 1995. Naquela época, sabendo das dificuldades que teria em conviver com a turma de Campo Grande e escolhido pessoalmente pelo Governador Wilson Martins, preferi ficar bem longe de lá, para não criar transtorno. Pedi ao governador para cuidar do MERCOSUL, desacreditado e recém instalado. Em menos de uma semana já tinha visitado o Presidente Juan Carlos Wasmosy em Assunção e dele conseguido a simpatia e apoio de duas obras importantes para Mato Grosso do Sul e o Paraguai. A rota bi oceânica e o aproveitamento, pelo governo brasileiro, do porto de Concepcion.
O Presidente Wasmosy foi o único mandatário guarani que em se tratando de Brasil, gostava mais de Mato Grosso do Sul do que os outros, que sempre se aproximavam mais ao Paraná. Talvez por ter propriedades na região norte do Paraguai, que era mais próximo de nosso estado.
Toda vez que convidado para vir em nosso Estado, nunca se esquivou, participando de festas, exposições, palestras e inaugurações.
Pela nossa localização, até agora ficávamos no fim da linha. Daqui não se seguia para frente. Era o fim da picada. A rota bi oceânica vai fazer com que nossa região e o Paraguai passem a ser trajeto obrigatório para aqueles que irão aproveitar o caminho mais barato para levarmos nossos produtos para a Ásia e principalmente à China, onde mais de um bilhão e trezentos milhões de pessoas anseiam pelos nossos produtos mais em conta.
Sempre afirmei que seria fundamental que a rota bi oceânica passasse por aqui, principalmente porque seria mais barato executar esta obra e que diminuiria os custos de nossos produtos em mais de trinta por cento. São oito mil quilômetros a menos do que usado atualmente. A partir daí seremos mais competitivos com os outros mercados.
Quem também lutou por esta obra foi o ex-prefeito de Iquique, Jorge Quiroga, que esteve aqui de carro por três vezes, e que a seu convite, uma comissão douradense fez o caminho inverso, de ônibus. Dourados é cidade irmã de Iquique, no Chile.
No futuro, Ponta Porã será a mais beneficiada, já que não tendo a força de nossa cidade, fica a mercê da influencia do comercio do outro lado da fronteira. Será a salvação da região. Já tem previsto o estudo para lá, chegando à Resistência, na Argentina, onde já existe uma ferrovia que atravessa toda a Argentina e chega à costa do Chile, no Pacífico.
Também está previsto o projeto de um ramal de Dourados até Porto Murtinho.
Estas obras mudarão a cara do sul de Mato Grosso do Sul.
Mesmo tendo muita gente que não acreditava neste pleito, valeu a pena ter lutado por plantar esta semente no coração de alguns.
Assim como valeu a pena e serve de exemplo a vida de um amigo que nos deixou este fim de semana, Vivaldi de Oliveira. Foi vereador no fim da década de 50, prefeito e deputado estadual mais votado no Mato Grosso uno que acreditando que teria outras maneiras de fazer mais pelos outros, largou a política quando a grande maioria não quer deixá-la. Aclamado pelo povo.