quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Demarcação de terras indígenas- 11/09/2008

Demarcação de terras indígenas (ou Saudades de Getulio Vargas)
Braz Melo

Recebi, pelo Orkut, de uma filha de amigos meus, a Mayara, que estando nos Estados Unidos estudando e trabalhando, fez uma cobrança sobre meu posicionamento em relação à demarcação da terra indígena em nosso Estado. Alertava sobre a possibilidade de outros países terem interesse em nossa região e também no aqüífero guarani, que vem desde Ribeirão Preto, até nossa região e chegam ao Paraguai, Uruguai e Argentina, constituindo na maior reserva de água subterrânea do mundo. Este oceano de água doce que está a maior parte em território brasileiro, daria para abastecer a população brasileira de água potável durante 2.500 anos. E todos sabem, que mais importante do que petróleo é água, pois o homem não vive sem ela.
Tinha estado, na ultima sexta-feira, na Câmara Municipal de Dourados, na audiência publica sobre a demarcação de terras, e vi principalmente os fazendeiros, bastante ansiosos e preocupados. Os indígenas que ali estavam, demonstraram que não tinham interesse em tirar terra de ninguém, mas como diz o ditado: “O que cai na rede é peixe”.
E onde eu tenho andado, não se fala em outra coisa. Cada um com sua idéia do que, e quem está por trás disto. Um amigo me falou que os Estados Unidos querem se fortalecer na fronteira dos países que fazem divisa com o Brasil, e que já demonstraram interesse em ser contra eles (caso da Bolívia e Venezuela).
Outros falam sobre Roraima e sua Raposa Serra do Sol. Sobre nióbio, plasma e fusão nuclear. Sobre a invasão de norte americanos e japoneses naquele estado. Faz-me recordar de Getulio Vargas, que por muito menos, ao visitar nossa fronteira em 1943 e ao ver nossa região invadida pelo idioma guarani, criou o Território de Ponta Porã, a Colônia Agrícola Nacional de Dourados e doou terrenos de 30 hectares a perto de dez mil famílias brasileiras, para manter a soberania brasileira. Foi o primeiro passo para o desenvolvimento de nossa região.
Aqui já invadiram terras do Deputado José Teixeira, e poucos dias atrás invadiram a fazenda do Ex- governador Pedro Pedrossian em Miranda, entre outros. Lembro-me de que em 1980, pedimos e o Governador Pedro Pedrossian autorizou o Dersul a construir uma lagoa para os índios, na Reserva Bororo. Depois de pronta, conseguimos alevinos e peixes para aquela lagoa.
Naquela época, era difícil entrar, e principalmente fazer alguma obra na Reserva, mas acredito que tenha sido uma grande benfeitoria para a aldeia. Mais tarde conseguimos fazer muitas outras obras, como o CEU Tengatui Marangatu, o Posto de Saúde, a Sala de Cirurgia, as Escolas do Panambizinho, do Carlito, entre outras.
Em 1986, eu era vice-governador, e um dia, sem mais nem menos, surgiu o Ministro da Justiça Nelson Jobim em nossa cidade, sem sequer avisar, como manda o protocolo, as autoridades. Nem a governadoria sabia. Fomos saber no outro dia, pela imprensa. O aeroporto de Dourados estava em ampliação. O avião do Ministro desceu em Ponta Porã, e de lá pegou um carro e se deslocou até a aldeia Panambizinho. Dizem que assinou o decreto de demarcação a luz de lamparina.
Junto aos Senadores Ramez Tebet, Ludio Coelho e Levi Dias e outros políticos, conseguimos falar com o Ministro da Agricultura Iris Resende, que nos apresentou o Presidente da FUNAI, Sr. Sulivan Silvestre, e que nos atendeu com toda fidalguia.
Diversas vezes estivemos em Brasília com ele, juntamente com uma comissão dos fazendeiros interessados e o Deputado Valdenir Machado. Não tínhamos interesse em resolver só o problema dos fazendeiros, mas de ajudar a solucionar um problema criado pelos administradores e políticos desde a sua criação, já que os índios foram levados para aquele local, pois não tinham nascidos na Reserva de Dourados.
Conseguimos trazê-lo em Dourados duas vezes. E o tínhamos convencidos que o ideal para todos era adquirir duas áreas de cinco mil hectares cada e deixaríamos a disposição de duas etnias, das três que vivem na Reserva de Dourados atualmente.
Com isso começaríamos a resolver os dois maiores problemas da Reserva de Dourados. Falta de terra, já que a Reserva Indígena de Dourados, criada em 1917, com 3.475 hectares, abriga hoje mais de onze mil índios, sendo mais povoado que trinta e dois municípios sul-mato-grossense e pelo conflito de cultura, já que três etnias na mesma área gera suicídios, alcoolismo e depressão.
Infelizmente, Sulivan Silvestre veio a falecer em um acidente de avião e não conseguimos solucionar da maneira que achávamos melhor naquela época.
Hoje, os fazendeiros do Panambi estão em Juti, muitos deles em depressão. As terras desapropriadas do Panambi viraram uma quiçaça, e os problemas dos índios da Aldeia Panambizinho só aumentaram de tamanho.
Hoje o problema é bem maior. Os antropólogos da FUNAI defendem a demarcação de números extraordinários, criando transtornos, além de demarcações indevidas e absurdas, problemas econômicos para o Estado.
Mas a proposta para a Reserva de Dourados pode servir de inicio de solução dos problemas maiores.
Por isso, temos de pensar muito antes de tomar uma decisão, como o Ministro da Justiça Nelson Jobim tomou.
Para que a gente não precise virar o rosto toda vez que ele aparece na televisão, já que hoje ele é o Ministro da Defesa do Brasil.

2 comentários:

  1. Como a Mayara - a quem não conheço, diga-se de passagem - gostaria muito de saber, afinal, qual sua opinião e disposição de atuação no caso.

    Na qualidade de cidadão brasileiro, ainda que não nascido neste estado, que adotei como meu, tenho tentado, com os únicos recursos de que disponho, municiar aqueles que se dispõem a fazer alguma coisa concreta contra essa estapafúrdia tentativa de acabar com as possibilidades de desenvolvimento rápido deste estado.

    Caso seja este o seu caso, estou à disposição para atuar.

    Para saber o que tenho feito, por favor, visite meu blog http://normannkalmus.wordpress.com e selecione as TAGs indios, questões de MS ou FUNAI.

    Atenciosamente

    Normann Kalmus
    Economista

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  2. Caro Normann, sou a favor de uma emenda na Constituição(Sei que é dificil), porém acredito que se não houver essa medida sempre vai ter discussão com prejuizos para os fazendeiros.A solução proposta na aldeia de Dourados poderia ser uma saída. No Panambizinho, apesar de tudo, ainda teve uma solução discutida, mas com prejuizos grandes.

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