quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Gripe me pegou e o dia que resolvi doar meus órgãos.

Braz Melo (*)
Já tínhamos combinado que o aniversario de minha sogra, Dona Teresa, seria comemorado em São Paulo, pois 80 anos deve ser festejado, principalmente com a saúde que ela ostenta. E sabemos que esta idade só se comemora uma vez na vida.
Depois da morte do Seu Casinho, ela tem passado uns tempos com os filhos Amilcar e Domingos em Vitória, com Amilza em São Paulo e a maior parte, conosco aqui em Dourados.
Resolvemos fazer em São Paulo, pois é meio caminho dos parentes que viriam de Vitória e nós de Dourados. A festa foi na casa da irmã mais velha da Anete, Amilza e foi uma beleza. Reunimos uma parte da família lá e juntos com amigos, trocamos recordações e lembranças de há muito tempo.
Saímos de Dourados no dia 13, aproveitando o aniversário da Anete. Fomos de carro e além de Anete e eu, foi a Gisella, Arthur e Dona Teresa. Pena que a Mirella, Ademir e filhos não puderam ir, assim como Mané e Maria Fernanda.
Já estava há uns quinze dias com coriza e o corpo dolorido, aquela “morrinha”, mas como todo brasileiro, achava que nada seria forte que um paracetamol não resolvesse.
Logo depois da festa comecei a sentir um calafrio, que passou para uma febre alta e passei a criar preocupações dos parentes médicos que participaram do encontro. Fui parar no hospital no domingo. Receberam-me muito bem e me viraram de cabeça para baixo. Fizeram todo tipo de exames e claro que em primeiro lugar desconfiaram da gripe H1N1, a gripe suína. Fui medicado inclusive com o Tamiflu, para impedir a transmissão do vírus, caso fosse constatado através dos exames esse diagnóstico, pois os exames demoram.
Na volta para casa da Amilza, ninguém queria se aproximar de mim. Parecia que eu estava com lepra. Acabei passando esta virose para Anete, Amilza e Dona Teresa. Foi um grande estrago. E o engraçado é que mesmo com a propaganda maciça feita pelo governo através da mídia, nós não acreditamos que possa acontecer conosco. Temos de tomar mais cuidado.
Os exames ficaram prontos e não era gripe suína, mas foi uma gripe muito forte, que quase se torna uma pneumonia. Tive de ficar de molho mais de uma semana.
Na viagem de volta, no carro, meu neto Arthur me perguntou se eu doaria meus órgãos após minha morte. O engraçado é que eu nunca tinha pensado seriamente sobre isso. Muitas vezes as crianças nos pegam com cada pergunta que nunca tínhamos pensado. Foi aí que pensei o que de mim serviria para alguém, após minha morte.
O coração daria para quebrar o galho de muita gente, pois além de amoroso tem sofrido muitas emoções e decepções, mas tem demonstrado agüentar firme. Os olhos, apesar de usar óculos desde a faculdade, têm muita gente com hipermetropia maior que a minha. O fígado e os rins dão pro gasto, apesar de que o fígado tem de ser retirado antes da parada cardíaca e isso me trás dúvida. A medula pode retirar a vontade. O pulmão é que está meio congestionado e como os médicos acharam nos exames, anda chiando um pouco e mesmo tendo deixado de fumar há 15 anos, o estrago foi inevitável, pois fumei mais de 25 anos. Acredito que seja melhor deixar o pulmão sem doar.
E o resto do corpo? Se aqui já tiver crematório, preferiria cremar. Se não tiver, façam dele o que acharem melhor, pois o Espírito já entreguei a Deus.

domingo, 23 de agosto de 2009

EQUÍVOCO MUNICIPAL

Isaac Duarte de Barros Júnior*

No dia 22 de agosto de 1894, ainda rapazote, Izidro Pedroso de Oliveira, um gaúcho nascido na região missioneira do pampa riograndense, acompanhando o correntino Thomas Laranjeira, pisou pela primeira vez nas terras de Mato Grosso. Na época, antes dessa viagem, ele estava procurando um serviço de domar cavalos, quando o legendário argentino lhe ofereceu um emprego, convidando-o integrar a sua comitiva que rumava para a região de Bela Vista, onde o ex-combatente da guerra do Paraguai pretendia inspecionar parte dos ervais arrendados do governo estadual. O moço de dois metros e oito centímetros, musculoso e da pele queimada pelo sol, se despediu dos companheiros de jornada, logo após a chegada daquela caravana ervateira em solo brasileiro e foi trabalhar como tocador de bois, seguindo no lombo de cavalo em direção do capim preto (Itahum). Como foi muito bem recebido na fazenda para onde levaram a manada, acabou ficando, trabalhando por algum tempo para a lendária dona Maria Amada Azambuja.
Um dia, o moço ficou sabendo da existência de uma outra fazenda próspera, voltada para a labuta agro pastoril, na qual, o seu proprietário se chamava Francisco Xavier Pedroso. Movido pela curiosidade própria da juventude, quis conhecer esse alguém que tinha um sobrenome igual ao seu. Numa bela manhã, arreou o seu cavalo lubuno e rumou para a enorme propriedade conhecida por fazenda ”amparo”. Lá chegando, apeou, conheceu o dono, sua esposa e filhos. Aproveitando a ida, comeu um churrasco gordo, pois era dia de aniversário e assim conheceu o paulista “nhô-chico”, que imediatamente lhe empregou,nascendo uma enorme duradoura amizade entre os dois. Dali só saiu, para tornar-se o proprietário da fazenda “lageadinho” no serrito, localidade próxima do atual aeroporto. Mas ao assentar suas raízes naquele lugar, esse gaúcho abolicionista de convicção, oriundo da cidade de Bagé, se tornaria o primeiro sulino a fixar uma moradia na região douradense.
Casou-se aos vinte e cinco anos de idade, com uma filha de portugueses, criada na “água fria”, região de Maracajú, a jovem Benedita Martinho de Souza, de apenas quinze anos. Em 1900, nasceu a sua primeira filha douradense, que em homenagem a avó uruguaia, recebeu o nome de Celestina. Prosperando, na compra e venda de gado e cereais, com a morte de Joaquim Teixeira Alves, comprou da viúva Pureza Carneiro Alves, parte da fazenda “cabeceira alta” mudando o nome para “coqueiro”. Dentro dessa propriedade, hoje está localizado o bairro com o seu nome, um estádio e o paço municipal, entre outros lugares destacados. Izidro Pedroso foi o fazendeiro doador da área onde está localizado o cemitério municipal santo Antonio e ali também se encontra o seu jazigo, lugar onde os seus ossos, se misturam com as ossadas de negros pioneiros, os membros da família Norberto, suas maiores e mais queridas amizades em vida.
Em 1945, ninguém sabe ao certo o porquê, Izidro retirou o Oliveira do seu sobrenome, passando a assinar somente Izidro Pedroso. No dia da sua morte em 23 de abril de 1954, de madrugada mandou chamar e recomendou ao filho Arlindo, que desejava apenas homens da epiderme negra das famílias amigas que com ele conviveram, fossem os condutores do seu caixão para a sua última morada e em seguida faleceu mansamente cercado pelos filhos e parentes de afinidade. O féretro se realizou segundo a sua ultima vontade. Esse pioneiro desbravador recebeu muitas homenagens póstumas, mas a rua que deveria ter o seu nome, erroneamente recebeu o nome de Izidoro Pedroso nas placas e a Câmara Municipal nada fez ou tomou as devidas medidas esperadas desses fiscais do legislativo, para corrigir o lamentável grosseiro equívoco sancionado pelo executivo, ficando essa mancha na biografia de Izidro Pedroso, ao errarem burocraticamente o nome deste ilustre homenageado...


*advogado criminalista,jornalista.
E mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Agosto, mês de cachorro louco.

Braz Melo (*)
Bem diferente do dia das Mães, que é comemorado no segundo domingo de maio, o mês das noivas e que em vendas só perde para o Natal, os comerciantes inventaram tempos depois, o dia dos Pais.
Escolheram o segundo domingo de agosto para nosso dia, talvez por ter o carnaval em fevereiro, a páscoa quarenta dias depois, maio tem o dia das mães, férias escolares em julho, dia das crianças em outubro e natal em dezembro, sobrou logo agosto para nós.
O nome Agosto foi dado pelos romanos como uma homenagem ao Imperador Augusto, mas para os brasileiros, sem ninguém saber o porquê, o oitavo mês do calendário é considerado o mês do azar.
Agosto é o mês das grandes tragédias políticas, dentre elas, o suicídio do Presidente da Republica Getulio Vargas em 24 de agosto de 1954. Janio Quadros renunciou da Presidência da Republica em 25 de agosto de 1961 e o ex Presidente Juscelino Kubitscheck, vítima de um desastre automobilístico, faleceu no dia 22 de agosto de 1976.
Também foi em 1 de agosto de 1914 que iniciou a primeira guerra mundial e também em agosto de 1939 que iniciou a segunda. No dia 13 de agosto de 1961 foi dado o início da construção do muro de Berlim, escondendo o comunismo do resto do mundo.
Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, Hiroshima e Nagazaki foram “varridas” pela bomba atômica, onde mais de duzentas mil pessoas morreram.
Desde o século quinze as mulheres portuguesas não se casavam em agosto, pois era a época em que os navios zarpavam em busca de novas terras, então as chances delas ficarem viúvas era de quase 100%. Muitos dizem que se um idoso que está nas últimas passar o mês de Agosto, não morre mais naquele ano.
Na Argentina muitos deixam de lavar a cabeça em Agosto porque acreditam que isso chama a morte. Na África o dia 24 de Agosto é o chamado “dia em que o Diabo anda solto”. Na França o mês é maldito, pois em 24 de Agosto de 1572, Catarina de Medicis ordenou o massacre de São Bartolomeu, matando dezenas de milhares de pessoas.
Na Polônia, em 14 de Agosto de 1831, os poloneses foram derrotados pelos russos na Revolta de Varsóvia, que também matou muita gente.
No Marrocos, em 14 de Agosto de 1844, a França invadiu o país. Na Alemanha, em 3 de Agosto de 1932, Hitler assumiu o governo alemão após a morte de seu antecessor e na China, em 8 de Agosto de 1937, o Japão invadiu Pequim.
Agosto, dizem ser o mês do cachorro louco. Assim apelidado, pois com o aumento da luminosidade, as cadelas ficam no cio, e os cachorros ficam mais propensos em adquirir raiva, doença incurável para os caninos, que atualmente não mais existe pela intensa campanha de vacinação.
O mês de agosto é o mais seco do ano no Centro Oeste e aqui em Dourados, ainda lembro, que quando ventava nesta época, anos atrás, a poeira subia pro lado do Jardim Água Boa.
E pelo clima seco e com o frio batendo em nossas portas à noite e esquentando à tarde, vem a gripe e viroses. Os postos de saúde estão cheios e todo mundo com medo da gripe H1N1, a falada gripe suína.
Muitos poemas foram feitos para as mães, enquanto para os pais poucos o fizeram. Tirando o Fábio Junior que canta a beleza da musica “Pai”, são poucos os poetas que homenagearam o marido da mãe.
Mas agosto me trás alegria no seu dia mais temível: 13, pois aniversaria minha companheira. Acho lindo o seu dia, Anete. Feliz aniversário.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A VELHA PRAÇA

Isaac Duarte de Barros Junior*

Desde o distante ano de 1947, quando o paraibano Antonio de Carvalho, se elegeu como o primeiro prefeito de Dourados pelo voto popular, nunca mais nenhum chefe do executivo municipal foi nomeado para o cargo de alcaide pelo governador do estado. Embora, o município tenha sido criado em 1935, na era do presidente Vargas, os prefeitos eram indicados pelo interventor estadual e o legislativo douradense era apenas composto por um conselho municipal. Assim, somente com a existência da constituição de 1946, é que passou a vigorar o sistema eleitoral que todos nós conhecemos. Nessa época no povoado fundado por Marcelino e Joaquim, os agricultores nordestinos instalados na Colônia Agrícola de Dourados, grande parte destas terras hoje transformadas em novos municípios sul matogrossenses, eram os eleitores cabeçudos que acabavam decidindo a parada eleitoral como costumavam comentar.
O interessante desse pleito, é que o seu Carvalhinho, nordestino afável com seus contemporâneos, ex integrante da expedição Rondon em 1925 e posteriormente nomeado chefe do Posto Indígena Tey Kuê, foi quem ganhou as eleições daquele final de década no recém formado partido udenista. Partido este, do ferrenho tribuno e jornalista Carlos Lacerda, que fazia feroz oposição ao trabalhismo do presidente general Dutra, ex-ministro da Guerra do ex-presidente da república criador da enorme Colônia Federal e responsável pela migração dos milhares de brasileiros trabalhadores oriundos do árido nordeste. Entretanto, udenistas e petebistas, devido à presença dos nordestinos, se revezaram na prefeitura douradense nos vinte anos seguintes, até a extinção desses partidos da era Getúlio, no pós golpe militar de 1964.
Portanto, a maior injustiça praticada por alguns desinformados da história regional na atualidade, contra esses pioneiros, é a de tipificá-los como invasores de terras indígenas. Pois, seu Carvalhinho serviu a nação brasileira durante muitos anos como funcionário público federal no Serviço de Proteção ao Índio e acompanhava sempre que podia com grande interesse, a distribuição das terras aos colonos nordestinos. Até essa parca arborização central existente, com figueiras cinqüentenárias imensas nas áreas nobres da cidade, bem como a construção e criação de quase duas dezenas de escolas municipais na zona rural, deve-se ao então prefeito Antonio de Carvalho, morador nessa época em uma casa pintada de branco na Avenida Marcelino Pires, artéria escolhida pelos pioneiros fundadores para morar.
Florentino Paim, foi o seu primeiro motorista profissional nomeado e o primeiro barnabé oficial que costumava acompanhar o prefeito Carvalhinho nas incursões que este fazia por um dos maiores municípios em tamanho de faixa territorial no estado de Mato Grosso desses tempos. Sendo certo, que esses deslocamentos feitos num ford 27, duravam dias e até semanas, mas este era o jeito de governar naqueles tempos idos. As poucas festas oficiais do município que aconteceram, no final dos anos quarenta, tiveram lugar num salão da tradicional pensão Capilé, já que não havia um lugar público apropriado, ou um clube destinado a realizar esses eventos oficiais e sociais.
Foi seu Antonio de Carvalho, o prefeito caboclo do município, quem resolveu debruçar todos os cuidados necessários por parte do serviço público, embelezando o futuro lugar destinado a ser uma praça pública central, até então ainda sem um nome oficial. Para tanto, seu Carvalhinho designou o construtor Januário Pereira de Araújo, que já havia ajudado a erguer a obra da igreja matriz católica nossa senhora da Conceição, bem próxima do quarteirão, como o guardião do local destinado a ser o futuro paço municipal. Mas, por motivos econômicos municipais, um casarão amarelo na Rua João Rosa Góes foi arrendado do IBRA e a praça central em construção acabou denominada de tenente Antonio João, como queria a vontade do vereador Ciro Mello. Isto, para o desgosto do pedreiro Januário Araújo, que sonhava ter nela imortalizado o seu nome, já que dela cuidava tão bem.
Aliás, esse militar herói da guerra do Paraguai, que empresta o seu nome a praça, festejado nas letras dos alfarrábios pelo Barão de Tunay, o repórter oficial do império brasileiro, pelo que pesquisei, jamais esteve nas imediações destas plagas douradenses. Por sinal, bastante inóspitas nesse período desbravador da história. A propósito, essa praça de tantas metamorfoses desde que surgiu no cenário urbano do município, não tem mais os mesmos bancos, nem as mesmas flores, ou o mesmo jardim, de quando criança inocente nela brinquei. Melhor ainda, só para efeito rememorativo, que ninguém na área musical, em versos ou em prosas, tenha resolvido escrever alguma coisa a respeito dessa primeira sempre mutante praça pública douradense. Afinal, cada prefeito eleito que chega e passa, mexe nessa velha praça...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ARCHIDUQUE FERNANDES.

Takeshi Matsubara

Conheci o Dr. Archiduque em 1991, na época em que eu era um quase recém chegado a Dourados (3 anos), começando minha carreira de médico e ainda estudante de um curso de homeopatia que eu fazia mensalmente em São Paulo, na Sociedade Brasileira de Homeopatia. Figura ímpar, do tipo “Ame-o ou deixe-o”, cativou-me desde o primeiro instante. Comecei a estagiar com ele, no Posto da Vila Rosa, onde ele atendia seus pacientes todas as tardes, e aprendia aos borbotões, passando-me um monte de macetes, de “pulos do gato” ,que curso nenhum oferecia nem que se pagasse o peso em ouro. Com sua simplicidade, fazia escola, pois depois de mim, vários colegas se seguiram, tendo a oportunidade de estagiar enquanto faziam cursos teóricos de homeopatia em São Paulo ou em Campo Grande.
Em 1992, ele lançou o desafio, de fundarmos um Posto de Saúde especializado no atendimento em homeopatia. Eu e o Dr. Leidniz Guimarães, juntamente com o dr. Ailton Salviano, Nelson Kozoroski, Dra Waldenil Rolim, e claro, Dr. Archiduque, formamos um grupo ao qual se juntou o Dr. Laidenss Guimarães, Dra. Alice Kozoroski e Dra. Eliane Guimarães para fundarmos o primeiro Centro Homeopático de Saúde Pública, cujo nome foi sugerido pela assistente administrativa da Secretaria de Saúde, Sra. Elizete: Dr. Santiago Martinez dos Santos, numa edícula na Rua Antonio Emilio de Figueiredo. O prefeito da época, Braz Melo, amigo particular e conterrâneo do dr. Archiduque, deu todo o apoio político para que esta importante obra da saúde pública fosse criada em nossa cidade. O secretario de saúde da época, Eduardo Marcondes, foi outro entusiasta que possibilitou a criação daquele serviço. As paredes das salas foram pintadas magnificamente pelo artista plástico Marcello e equipado com móveis de junco. Porém, o prédio, alugado, tinha um problema crônico de telhado, pois era só chover que inundava tudo. Por isso, tivemos de mudar para a parte traseira do Posto Tipo A que ele carinhosamente apelidara de a “bunda do tipo A”. Mais tarde, em 31 de Março de 2000, já no segundo mandato do Brás Melo, este possibilitou a construção do tão sonhado Centro Homeopático em prédio próprio, com a arquitetura do prédio toda definida pelo dr. Archiduque, juntamente com a arquiteta responsável pela obra. Foi sem dúvida, a obra com a qual ele mais se identificou e que até os seus últimos dias de encarnado, fez questão de frequentar.
Nos intervalos entre as consultas, ou quando terminávamos o atendimento, nosso horário de bate-papo era sagrado. Grande conhecedor e estudioso da filosofia espírita, ele vivia a dar aulas para mim, de uma profundidade imensa, naquele seu jeito simples, de bom contador de “causos”. Tornava simples e compreensível assuntos áridos, de tal maneira que eu me tornava também um interessado por aqueles assuntos, sem o perceber.
Ele também gostava de contar histórias, principalmente sobre a sua vida. Quando falava de sua infância sofrida, na cidade de Mutum, MG, onde, filho de mãe solteira, foi criado na rua, como verdadeiro moleque de rua, passando por todas as dificuldades desta condição, invariavelmente lágrimas apareciam em seus olhos. Contava que fora adotado por uma família caridosa, que acolhia crianças de rua e necessitados, dando-lhe um teto, comida e roupa. Que menino ainda, foi estudar num colégio interno, onde, em troca de estudos, teto e comida, trabalhava nos mais diferentes serviços, enquanto os outros alunos, filhos de famílias abastadas, tinham todo o conforto. Que ao completar dezoito anos, entrou para o Exército, onde foi sargento por muitos anos. Casou-se com Dona Ila, teve 6 filhos, a primeira das quais morreu, por falta de atendimento médico adequado, e já com uma certa idade, resolveu estudar medicina, pois jurara no leito de morte de sua filha que seu passamento não teria sido em vão, pois o inspirara a seguir a carreira médica para que outros não tivessem que morrer por falta de atendimento médico adequado. Formou-se na Universidade Federal de Santa Maria, RS, com uma família de cinco filhos pequenos para criar e o parco soldo de sargento,conciliando as aulas em período integral, com plantões noturnos e nas mais diversas condições do trabalho no quartel.
Assim que concluiu o curso médico, mudou-se para Dourados, onde foi o primeiro pediatra, numa época em que os médicos eram todos generalistas e faziam de tudo, de partos, cirurgias, anestesias, atendimento domiciliar nas fazendas, etc. Ria a solta, quando contava que andava sempre com um revolver 38 na cintura, que ele se orgulhava de nunca ter usado para atirar em outro ser humano. Mas, para aqueles que não o conheciam na intimidade, era tido como um médico disciplinador, bravo, que dava broncas homéricas nas mães, com aquele seu jeitão de sargentão, bigode e, claro, o trinta e oito na cintura.
Ajudou a fundar a Associação Médica de Dourados, em 1970, numa época que tinham 15 médicos na cidade e região, tendo sido o seu primeiro presidente. Ingressou na Maçonaria, e juntamente com outros seis membros, fundou a Loja Maçônica Justiça Liberdade e Disciplina, ligado à Grande Loja Maçônica de Mato Grosso do Sul.
Fundou também uma academia de judô, em Dourados, pois quando morava em Santa Maria, tivera a oportunidade de aprender a arte e a filosofia deste esporte diretamente, com dois imigrantes japoneses, professores da Kodokan de Tokio, que eram seus vizinhos e se tornaram seus amigos, ensinando-o todos os segredos desta arte maravilhosa.
Enfim, eram muitas as histórias que ele me contava, e eu ficava imaginando, como uma pessoa que nascera com um destino determinado para que tudo desse errado, para se tornar um marginal, um bandido, fora escapando das armadilhas, uma após outra, para se tornar aquele grande homem que eu tivera a oportunidade de poder conhecer, conviver e admirar.
Passado um ano do seu passamento, fica uma saudade imensa, uma falta, um vazio difícil de ser preenchido.
Ele sempre dizia que a vida lhe dera muitos amigos, alguns deles, como eu, acabaram se tornando seus filhos adotivos, tamanho o carinho que nos unia.
Fica registrado portanto, a saudade de filho...

Takeshi Matsubara
médico

P.S.: Numa próxima oportunidade, contaremos outras histórias deste nosso amigo.

Reunião de Mineiros

Braz Melo

De vez em quando vem à tona a discussão de que Dourados é terra de ninguém na política, pois muitos acreditam que os candidatos de fora vêm aqui só nas eleições e depois de receberem os votos, somem. São conhecidos como candidatos “Copa do Mundo”. Quando prefeito, fiz uma campanha na mídia para que o douradense votasse nos candidatos de nossa região. Atualmente entidades e clubes de serviços pensam fazer este trabalho para aumentar a representação política de nossa terra. Muito válido e importante.
Já tivemos três representantes na Câmara de Deputados e cinco Deputados Estaduais. Hoje contamos apenas com um Deputado Estadual e com a vacância de um suplente, dois Deputados Federais.
Verificando os votos das ultimas eleições proporcionais de Deputado em Dourados, constatamos que em 2002 para Deputado Estadual, 67,3% dos votos foram dados aos candidatos de nossa cidade. Para Deputado Federal esse percentual foi de 73,3%. Em 2006, os Estaduais daqui tiveram 67,6%, enquanto os Federais conseguiram 71,12% dos votos válidos. Se tivéssemos condições de receber os 100% dos votos seria o ideal, mas sabemos que isso é impossível.
Se analisarmos mais profundamente, vamos ver que não são só os votos dados a candidatos de fora que tiram as nossas chances de elegermos mais Deputados, mas também a quantidade de nomes que as lideranças daqui soltam para concorrerem ao mesmo cargo.
Como quem referenda os candidatos são as convenções estaduais, os políticos de outras regiões, que são maioria, forçam políticos de nossa região, que nunca pensavam sair candidatos naquele pleito, a disputarem, para principalmente, atrapalhar os que têm chance de ganhar a eleição. E aquele que se sujeita a isso, pensa que ganha, pois pelo menos, tem seu nome lembrado para as próximas eleições, normalmente a de prefeito ou vereador, dois anos depois. Com isso prejudica um candidato que teria grande chance de ganhar, mas por tirarem votos dentro de casa que seriam do outro, acabam prejudicando não só um candidato, mas uma região inteira.
Enquanto isso, em outras regiões, podemos verificar que quando lançam um nome forte para um cargo, as lideranças destes lugares procuram lançar outros muito mais fracos, para não tirar muitos votos do mais forte.
Por isso acredito que aqueles que hoje querem e podem defender este projeto, conversem com as lideranças, para começarmos em nossa casa a resolvermos este problema.
Nasci em Minas Gerais e saí de lá com pouco mais de um ano, mas aprendi através da vida que muitas das soluções estão nas conversas antes e não nas reuniões desgastantes e sem proveito. Tem uma regra em Minas Gerais que político mineiro só inicia uma reunião depois de muita conversa e principalmente, depois de tudo resolvido.
É o que está faltando há muito tempo em Dourados: conversar antes de sentar para soluções definitivas. Ser um pouco mais mineiro, pois depois não adianta chorar.

O Maracanã

(*) Braz Melo
Até hoje, um dos locais que não deve deixar de ser visitado quando for ao Rio de Janeiro, é o Maracanã. Imagina isso na década de 50. Era uma visita primordial.
Quando você chega perto do Maracanã, você já desconfia, pois o movimento é demais. Muitas pessoas, chegando de todas as direções para adentrar em duas entradas. Uma loucura para comprar os ingressos. Parecem sardinhas em latas, de tanto aperto. Antes a gritaria dos cambistas, sempre alardeando que tem os melhores lugares.
Após a odisséia da compra das entradas, entramos e subimos a rampa, onde muitos torcedores gritam e fazem piadas com o time adversário. Acabada a rampa, segue-se através do anel externo e entra num das dezenas de corredores, que leva às arquibancadas do Maracanã. Só aí, levamos susto com o tamanho do estádio. Em virtude dos corredores serem inclinados para cima a sensação de grandeza é ainda maior.
Toda vez que vinha alguém de fora e papai levava ao Maracanã, ele questionava as pessoas em imaginar alguma coisa grande, para depois comparar com o estádio. Sempre as pessoas ficavam boquiabertas com a grandeza e beleza do Maracanã.
A primeira vez que fui lá, foi num jogo Flamengo contra o meu Fluminense. Papai, que era vascaíno, e meus tios Gonzaga e Ozeas, tricolores de quatro costados, me levaram. Lembro que o Flamengo estava ganhando de um a zero e o Dida se machucou, e papai me alertou que era para os zagueiros do Fluminense tomassem cuidado com ele mesmo machucado. Naquela época não tinha substituição. E não deu outra. Ele fez o segundo e o Flamengo ganhou por dois a zero.
Tive a oportunidade de assistir muitos jogos importantes no Maracanã. Fui assistir ao Santos contra o Milan, onde o Pelé não jogou, pois estava machucado, e o Pepe fez um gol de falta, que o goleiro do Milan até hoje está procurando a bola. Lembro que o Amarildo, que jogava no Botafogo, tinha se transferido para o time italiano e ao pegar a primeira bola do jogo, o Almir, que jogava no lugar do Pelé, entrou rachando em cima do possesso. O Santos perdia até o fim do primeiro tempo. Choveu demais no intervalo e a partir do gol do Pepe, de falta, logo no inicio do segundo tempo, fez o Santos virar e ganhar a partida por quatro a dois e se tornar campeão mundial.
Assisti também o jogo Brasil e Inglaterra, em que o Julio Botelho, foi escalado no lugar do Garrincha. Imagina, após ter ganho a Copa da Suécia, o Maracanã receber a seleção brasileira sem o seu maior jogador carioca.
Antes dos times entrarem em campo, o locutor anunciava, através do serviço de auto falantes do estádio, a escalação das equipes. Ao anunciar Julinho no lugar do Garrincha, ouviu-se a maior vaia, que continuou com a entrada em campo e não respeitaram nem o Hino Nacional. Foi a primeira e única vez que vi até o hino nacional ser vaiado. Começou o jogo e a vaia só terminou quando Didi jogou uma bola pro Julinho e ele driblou alguns ingleses e fez o gol. O Maracanã inteiro aplaudiu.
Em 1969 tive a felicidade de assistir ao jogo Brasil e Paraguai, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, ganho pelo Brasil por um a zero, que falam ter comportado mais de 190 mil pessoas no maior do mundo. Tinha gente sentada no colo do outro. Hoje, por motivo de segurança e conforto, tem cadeiras em todo o estádio cabendo menos de 100 mil espectadores.
Dizem que jogadores que não estão acostumados tremem quando vão jogar lá pela primeira vez.
Todo torcedor brasileiro, não importa para que time torça deve conhecer o Maracanã, o maior e mais charmoso estádio de futebol do mundo.