quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Zé da Mala- 06/11/2008

Recebi a visita do meu amigo José de Azevedo. Passamos horas agradáveis relembrando casos antigos, que como ele poucos sabem relatar. Havia anos que não conversávamos e aproveitamos para colocar a prosa em dia.
Esteve aqui na região antes da eleição, tentando acalmar os ânimos da política calorosa de sua Vila Glória. Terra que viu nascer e depois de ter virado Glória de Dourados foi prefeito por cinco vezes. Antes da emancipação de Dourados foi vereador por dois mandatos, sendo que no primeiro foi o vereador mais votado de todo o antigo Estado de Mato Grosso.
Homem de muitos amigos, padrinho de 600 afilhados, continua demonstrando entusiasmo ao falar sobre nossa região, e as lágrimas, muitas vezes, escapam-lhes dos olhos.
Tem ficado mais em Barretos, pois um câncer lhe impede de viver em outro lugar. Devido à situação financeira que ele passa, teve de ficar longe de sua companheira de mais de 51 anos, D. Aparecida, pois as despesas lá são pesadas para um homem que dedicou toda sua vida em prol da comunidade em que viveu, e nunca se preocupou em guardar recursos para a velhice.
Contou-me que lá, em Barretos no Hospital do Câncer, eles mesmos lavam suas roupas. E que ele virou um exímio lavadeiro.
Mesmo em tratamento, tenho certeza que em Barretos, ele deve está procurando atender as pessoas carentes e principalmente aos conterrâneos mais necessitados. Logo será reconhecido embaixador do MS.
Para os mais novos, José de Azevedo é um homem público exemplar, que chegou a Dourados na década de 50, e que junto com seu pai, veio plantar café em Itaporã, então distrito de Dourados. Por causa da geada perdeu toda a sua lavoura. Devendo ao Banco do Brasil, foi parar em Jateí, mas como já tinha algumas casas e até uma feirinha, não se contentou com o patrimônio e resolveu ir mais adiante, onde ia ser criada a Vila Glória. Com espírito de bandeirante viu criar os municípios de Itaporã, Glória de Dourados e outros no Mato Grosso.
Tudo que tem em Glória tem a mão do José de Azevedo. Lembro que apareceu um buraco na cidade, que foi crescendo a olhos vistos. Pensem em coisa grande. Em pouco tempo tinha tomado uma proporção enorme, que o Ministro Rangel Reis ao ver de avião, comentou que era mais fácil e barato mudar a cidade de lugar. Pois o José não descansou e conseguiu através do DNOS e do Exercito ajuda para tapar aquele buraco imenso.
Os filhos precisavam estudar e ele e D. Aparecida, como na região não existia faculdades, foram para Campo Grande, procurando educar melhor seus sete filhos.
Veio a campanha de 1982, e um amigo dele queria ser prefeito de Glória, mas como na época existiam as sublegendas, precisava de reforço de companheiros que tinham votos, e foi até Campo Grande e convenceu o José de Azevedo a ajudá-lo a vencer dos adversários, que eram fortes demais. Acabou convencendo-o a vir ajudá-lo como candidato a prefeito em outra sublegenda. Ajudou tanto que o José ganhou a eleição.
Nesse período ganhou um apelido, Zé da Mala. Como não tinha casa em Glória, ficava nas casas dos compadres.
Em 1988, fazia parte da diretoria da Frente Municipalista Nacional e foi um dos assessores que contribuiu com muitas conquistas para os municípios junto a Ulisses Guimarães. Antes da Constituição de 1988 o IPVA era exclusivo do Estado. A partir das lutas da Frente Municipalista, passou a ser 50% dos municípios. Também aumentou a participação do FPM de 12,50% para 22.50%. Foi uma grande vitória para todos os municípios.
Por estas e outras lutas, José de Azevedo é cidadão municipal em dezenas de municípios em Estados bem longe do nosso. E aqui onde dedicou sua vida toda? Só lembranças. Como diz o ditado “Santo de casa não faz milagres”.
Em 1989, me ajudou a criar o concurso de Bandas e Fanfarras que faz parte do calendário nacional. Ajudou-me também a conseguir trazer de Goiânia as mudas de flores e arvores que melhor se adaptaram ao nosso solo e clima.
Quando vejo governantes trazendo pessoas de outros lugares para trabalharem em nossa região, esquecendo de pessoas que deram o sangue para que pudéssemos viver hoje uma vida bem melhor, entendo como os homens esquecem rápidamente.
Mas a vida é mesmo assim, caro amigo José de Azevedo. Continue acreditando que amanhã sempre será melhor que hoje. Que Deus te dê todas as bênçãos do céu, juntamente com D. Aparecida e familiares.

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