quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Inclusão digital em Dourados

Braz Melo (*)

Esta semana esteve em nossa cidade técnicos do Governo do Estado através do Núcleo Estadual de Inclusão Digital do MS para incentivar a Prefeitura Municipal em participar do programa idealizado pelo Governo Federal de Inclusão Digital.
Este é um projeto especial para as prefeituras em que o município só entra com a contrapartida do local e funcionários (Em alguns casos) para funcionamento do projeto.
É uma grande oportunidade de nossa cidade, com pouco ou nenhum recurso, entrar na era digital, que em outros lugares está fazendo o maior sucesso. Na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por exemplo, as pessoas estão aproveitando este beneficio dos Governos e saindo mais de casa. Tem cidades, como Rio das Ostras, no Estado do Rio de Janeiro, que já estão totalmente ligadas com esta tecnologia.
Ótima atitude, pois Dourados tem alguns atrativos a mais em relação a outros municípios brasileiros, já que conta ponto para escolha dos municípios, os projetos que são localizados na área de fronteira e também de ter em seu território alguma aldeia indígena.
Logo imaginei que os técnicos da nossa Prefeitura indicariam a Escola Estadual Guateca Marçal de Souza, recém inaugurada pelo Governador André e que fica no centro da Reserva Indígena. Também seriam contemplados na Reserva, no lado do Jaguapiru a Escola Municipal Francisco Meireles e do lado do Bororó a Escola Municipal Araporã.
Nossos irmãos indígenas ficariam felizes, pois como até hoje a FUNAI não se dispôs a colocar endereços para correspondências nesta aldeia, impedindo-os até de poderem comprar um celular ou compras à prestação, já que não tendo endereço não têm como comprar nada, teria pelo menos seu endereço eletrônico para corresponder com o mundo virtual.
Os técnicos da nossa querida Prefeitura, com certeza indicaram o Campus da UFGD, da UEMS e no CEUD para poderem estar ligados a internet de graça, já que a grande maioria dos estudantes universitários já tem seus notebooks. Os que não possuem terão direito a usar os computadores da biblioteca de seus centros acadêmicos.
As bibliotecas do município sem duvida estarão neste pleito dos técnicos também.
Como em todo lugar do mundo os administradores municipais estão fazendo todo esforço para que a população retorne para as praças e para o lazer, devem ter indicado as praças públicas de nossa cidade, como a Praça Antonio João, a praça em construção do Parque Alvorada, o Parque dos Ipês, a Praça Paraguai, a Praça do Cinqüentenário e a Praça Antenor Alves Duarte. Imagina quão bom seria aquele pai, que cuidando de seus filhos e precisando terminar um trabalho, ter a oportunidade de fazê-lo na Praça Publica de sua região. Isso é Dourados digital.
Espero que a atual administração tenha interesse e vontade política para encampar este projeto tão importante para uma cidade com tantas Escolas e Universidades, já que existem projetos fundamentais de saúde e que, infelizmente, estão emperrados há quase 3 anos, o que dá a entender que não precisamos deste serviço básico tão importante para a população. Parece estarmos na Islândia ou Finlândia, pois acham que está tudo bem.
Mas voltando aos dias atuais, ontem ao passar pela Rua Hayel Bon Faker, caí num buraco “dos bons” e estragou o pneu. Procurei um borracheiro e como só tem um que funciona a noite no centro, tive de esperar mais de hora e meia, já que a fila era grande. Quatro motos e dois carros na minha frente. Enquanto não chega a Dourados digital essa é a alegria dos borracheiros.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

FAMÍLIA MATTOS...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitos conhecidos episódios regionais, inclusive aqueles acontecimentos mais marcantes que aparecem como momentos históricos, passam pela saga vagarosa dos pioneiros sulinos, conduzindo suas carretas, erguendo ranchadas e assim participando da fundação do município de Dourados. Para os historiadores, interessados nesses acontecimentos históricos, obrigatoriamente o sobrenome da tradicional família Mattos, faz com justiça parte desse contexto. Participando, ora como militares voluntários, muitos integrantes da família Mattos foram combatentes na guerra do Paraguai. Depois, na condição de civis idealistas, diversos membros dessa família tradicional, aparecem com destaque nos registros de acontecimentos oficiais de vários fatos ligados à política do antigo Mato Grosso.

Migrantes, carreteando sem pressa na lentidão das estradas carroceiras e pelos boqueirões, foi viajando, partindo da cidade gaúcha de São Luiz Gonzaga, que a família Mattos fixou profícuas raízes na história local, participando exaustivamente da árdua labuta do desbravamento. O gosto inteligente dos Mattos, pela política partidária, começou a partir da nomeação do major Ponciano de Mattos Pereira, para ser o novo intendente provisório (prefeito) da sua terra natal, desagradando o poderoso estancieiro de Cruz Alta, general Pinheiro Machado.

O êxodo dessa família, começou nos pampas gaúchos em 1898, quando se tornou insustentável os diversos atritos políticos que os Mattos Pereira, como ex-militares, mantinham com o senador gaúcho Salvador Pinheiro Machado, figurão da velha república. Essa inimizade era de cunho mortal, castigada às vezes com degola do perdedor, o que levou o chefe do clã, coronel José de Mattos Pereira e sua esposa Inácia, a reunirem os seus familiares e fugirem as pressas para a Argentina. De lá, a numerosa família Mattos seguiu de carreta para o Paraguai, alcançando novamente as terras brasileiras no povoado de Bela Vista. Com a morte do coronel José de Mattos Pereira em 1904, seu filho o major Ponciano de Mattos Pereira assumiu a liderança familiar, sendo nomeado interventor (prefeito) do município de Ponta Porã em 1913.

Em 1915 a modesta Vila de Dourados, sofreria as suas primeiras mudanças. Na presença dos irmãos Ponciano e Bento de Mattos Pereira, o povoado seria elevado à categoria significativa de Distrito de Paz. O tenente Manoel de Mattos Pereira, outro filho do coronel José de Mattos Pereira, por se identificar com a pecuária e agricultura, escolheria para morar, criar o gado e plantar suas lavouras, uma localidade apelidada como a “falha”. Devido existir nesse descampado, a ausência completa de matas. Manoel de Mattos Pereira, foi viver nesse lugar com a esposa Maria Camila em 1912. O lugar, hoje é conhecido como Distrito da Picadinha. Este Mattos, era criador de gado e lavoreiro. Foi o pai de José de Mattos Pereira, douradense ilustre, homônimo de seu avo e de um tio, refiro-me ao inesquecível “coronel Juca”.


Juca de Mattos para os amigos, tornou-se uma personalidade marcante do seu tempo. Comerciante respeitado, pela conduta ilibada foi nomeado Inspetor de Quarteirão, quando militava no partido político “perrengue”, opositor do “urucubaca”. Quando o estado de Mato Grosso, se partiu em dois estados na revolução constitucionalista, apoiando o estado de São Paulo; por um breve período, em 1932 o governador Dr. Vespasiano Martins, o nomeou delegado de policia. Quando os revoltosos foram vencidos pelas tropas legalistas da ditadura de Vargas, acabou o estado dividido. O mesmo aconteceu com todos os cargos. Em 1935, “seu Juca” de Mattos esteve presente na cerimônia, que festejava o nascimento do município de Dourados e integrou o nosso primeiro Conselho Municipal. Inclusive, a sua assinatura está acostada na ata de instalação do município em 1936, juntamente com a de outros participes componentes do Diretório Integrado.


Numa parte desse documento, na ata histórica do ano de 1936, se lê: “foi instalado este Município criado pelo Exmo. Senhor Governador do Estado Doutor Mário Correa da Costa por Decreto nº 30, de 23 de dezembro de 1935”. O coronel Juca de Mattos, tinha uma cópia desse apontamento, hoje arquivado em Cuiabá. Esse senhor marcante da família Mattos, fez parte dos comerciantes pioneiros, fundadores da Associação Comercial e Industrial de Dourados. Suas amizades com políticos de renome nacional, eram de conhecimento público. Entre elas, estavam o General e senador Filinto Muller, ex-presidente do senado, além de ex-governadores e deputados federais. Em 1965, aliando-se ao Senador Filinto e ao deputado Weimar Torres, lançou na região da grande Dourados, um jovem engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), de nome Pedro Pedrossian. Esse político desconhecido, filho de armênios, venceu o udenista Lúdio Coelho, numa campanha apimentada de insultos e acusações pessoais. Enfim,os Mattos em Dourados e região, teriam muitos outros nomes para se destacar. Aqui, neste meu modesto artigo, lembrei apenas de alguns desbravadores, entre os muitos dessa família pioneira...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

DATAS IMPORTANTES

Isaac Duarte de Barros Junior *

As ocasiões festivas, geralmente criadas pelos costumes, mesmo possuindo datas consideradas inexatas, tradicionalmente acabam sendo festejadas e respeitadas pelas pessoas. Desses dias relembrados, os estudos antropológicos levam-me a crer, que muitos acontecimentos são provenientes de efemérides inventadas pelos próprios homens. O nosso calendário brasileiro, por exemplo, em nada se assemelha com as famosas calendas romanas, aquelas que iniciavam um ciclo mensal contando a passagem do tempo. Para nós ocidentais, educados e acostumados com as festas natalinas, seria muito difícil aceitar mudanças, se fosse criada uma nova data para o dia do nascimento de Cristo, data esta supostamente imposta pela vontade de um papa. Ainda mais, passados tantos séculos, depois que os comerciantes apadrinharam esses festejos natalinos. Datas, controvertidas e equivocadas, sabemos que sempre existiram em nosso calendário. Porém, repentinamente querer mudá-las, exclusivamente para atender interesses pecuniários, é iniciativa no mínimo impossível.

Dessas datas cheias de controvérsias, existe uma envolvendo alguns douradenses adotados com outros douradenses natos, nestes últimos setenta e quatro anos. E tudo isso começou, quando criaram um feriado municipal no dia 20 de dezembro. Uns, se valendo do cepticismo quanto à data dessa emancipação municipal, devido a procedimentos legalistas ultimados. Este é o meu caso. Outros, igualmente discordantes, recusam aceitar o dia do feriado. São eles, centenas de comerciantes que adotaram Dourados para viver e prosperar. Deles, diferencio-me, respeitadas as razões argumentadas. Isto porque a maioria, apenas discorda do feriado municipal dezembrino, fulcrados em motivos puramente comerciais. Ainda mais, tendo acrescidas, à obrigatoriedade de fechar as portas dos seus estabelecimentos, na época do salutar faturamento, qual seja: nas vendas do fim de ano.

Porém, como douradense descendente de pioneiros, moradores e desbravadores desta cidade há mais de cem anos, compreendo que argumentos pequenos como os meus embora agasalhados em ordem legal, não convencem alguns octogenários aqui nascidos, como minha mãe. Sendo a penúltima filha de uma prole de dezeseis irmãos, ela apenas se lembra saudosa que no dia 20 de dezembro de 1935, tinha somente dez anos e que nesse dia dançou alegremente com sua amiguinha Roma Milan, comemorando o nascimento do município de Dourados. Naquele seu longínquo tempo de criança, meninos dançando em bailes com meninas, nem pensar. Com seus oitenta e quatro anos bem vividos, ela recorda lucidamente que o representante do interventor de Mato Grosso, era um moço claro, vestido de terno branco. E se lembra dele, assinando na folha de um grande livro de capa preta e que depois da festa o transportaram para Cuiabá. O fazendeiro João Vicente Ferreira, futuro primeiro prefeito de Dourados, um primo de minha avó materna, foi o parente quem colocou minha genitora num galho alto de árvore, para que ela pudesse assistir melhor essa cerimônia. Meu tio, Antonio Emilio de Figueiredo, estava entre os muitos cuiabanos presentes nessa primeira festa de 20 de dezembro. Futuramente, presidiria o primeiro conselho do recém criado município de Dourados. Analisando isso tudo, cheguei a uma sensata conclusão: afinal quem sou eu, para querer mudar essa data tradicional importante?

Portanto, ousadias como essa minha, não merece prosperar conflitando e assim resolvi colocar um ponto final na divergência que tenho, quanto à data 20 de dezembro. Resta também, aos nossos ex-forasteiros, agora pessoas integradas politicamente na comunidade local, pisarem fundo nos freios dos seus destrambelhos utópicos, parando de modificar a história douradense passada. Pois tentando mudar os acontecimentos do passado, mostram uma grosseira falta de respeito para com a memória dos fundadores desta cidade. Assim, me parece que querendo inventar “quilombos” na Picadinha; visitantes ilustres mortos, antes mesmo de Dourados existir, como é o caso do tenente Antonio João Ribeiro; rua com nome de pioneiro que nunca existiu e outras bobagens, acho haver exaurida a hora de acabar com essas besteiras de cunho político. Precisamos, como douradenses, civilizadamente olhar o horizonte com mais otimismo. Afinal, o sonho do professor Celso Amaral, está vivo em cada universitário que termina o seu curso superior nesta cidade. Aceitar como ponto pacífico e imutável, os acontecimentos passados que moldaram Dourados tal como ela é, torna-se um tipo de conduta obrigatória a qual todos deveriam aderir. E aderir sem forjar ou criar fatos irrelevantes, torna-se portanto um preceito. Um exemplo, este jornal, o nosso histórico “o progresso”. Gostando ou não alguns bairristas da nossa capital, hoje é o diário mais antigo do estado de Mato Grosso do Sul e não adianta inutilmente inventarem outro em seu lugar.

Concluo, lembrando que tivemos já integrados ao nosso desenvolvimento, pessoas importantes e anônimas, que chegaram antes. Vieram de carretas por estradas vermelhas e outras desembarcaram depois desta cidade se tornar um lugar mais desenvolvido. Mas entre essas, existe ainda muita gente arrogante e deslumbrada, que não passariam de cidadãos comuns nas cidades de onde vieram. Entretanto, em Dourados, esses filhos adotados, tornaram personalidades públicas. Estando então, muito mais bem obrigados a respeitar a nossa história local e regional. Um dia, sabendo esperar pela sua vez, certamente farão parte da história douradense. Sabidamente, muitas dessas pessoas, migrantes aqui fizeram fortunas e galgaram importantes cargos na república brasileira. Essas pessoas, trabalhando, adubaram o crescimento desta cidade sul-matogrossense e a sua importância no atual contexto nacional. Pensando desse modo, façamos serenatas no estilo antigo, como certamente fará o Rozemar de Mattos e o Centro Cívico Cultural, no próximo dia 20 de dezembro.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A ciclovia de Caarapó

Braz Melo (*)

A semana passada ouvi, através de um informativo falado da Prefeitura de Caarapó, que aquela administração tinha inaugurado uma ciclo-faixa para bicicletas naquela cidade. Ela tem em torno de quinhentos metros de extensão, saindo de uma escola estadual e segue até o centro da cidade. O locutor informava da satisfação dos ciclistas com essa nova obra. Realmente, feliz é a comunidade, em que o seu mandatário se preocupa com a segurança e bem estar de seus munícipes.
Ao contrário de Caarapó, a nossa cidade está vendo suas ciclovias sendo desmanchadas pelo seu prefeito, sem ao menos uma desculpa ou esclarecimento para tal fato.
Sempre achei uma falta de respeito os novos governantes desmancharem o que os outros fizeram, sem pelo menos uma explicação bem fundada. É bem mais fácil fazer uma nova obra, com novas idéias em locais semelhantes e só depois de aprovado, desmanchar a que os outros executaram. Assim manda o bom censo.
Aqui, bem antes de assumir a prefeitura, ainda como deputado estadual, o alcaide saiu retirando tachões das ruas, sendo por isso, chamado aos tribunais, para responder a processos.
Ao assumir o cargo de prefeito, retirou os tachões da Rua João Vicente Ferreira, perto do Hospital Santa Rita, criando um transtorno imenso para os ciclistas já acostumados à sua conquista, a ciclovia, sem ao menos aviso prévio.
Todos sabem que o leito carroçável da Rua João Vicente Ferreira, no trecho compreendido entre as ruas dos Missionários e Emilio de Menezes é estreito, porém todos achavam que ele iria fazer a ciclo-faixa no passeio publico, já que neste trecho, é bem mais larga que o normal. Que nada. Retirou os tachões do asfalto e ficou por isso mesmo. E não vejo ninguém contrapor este desatino. Parece brincar com coisas sérias.
E continuam falando em retirar as rotatórias que foram feitas para o melhor funcionamento do transito de nossa cidade, sem ao menos uma explicação técnica. Falam em fluir melhor o transito.
Já repararam como Dourados cresceu em numero de carros e o que falta é um estudo mais apurado, com técnicos gabaritados e especializados, para descobrir que o problema não são as rotatórias e sim, entre tantos outros problemas, os estacionamentos no centro dos canteiros, onde os carros têm de dar ré para saírem. Esse é o caso da Rua Joaquim Teixeira Alves em frente aos bancos e outras mais. Porque não engarrafa o trânsito em frente ao Supermercado Big Bom, na mesma rua? Porque ali o carro não precisa dar ré para sair do estacionamento. Ele sai de frente, não atravancando o trânsito para trás.
Falaram em retirar algumas rotatórias para sincronizarem os semáforos, mas até hoje não conseguiram sincronizar nem os que existem aí, como os semáforos das Avenidas Marcelino Pires e Weimar Gonçalves Torres na Rua Hayel Bon Faker. Desculpa esfarrapada. Não tem é planejamento, ou como diz os mais sinceros, não sabem o que fazer.
O movimento de veículos em Dourados aumentou muito na ultima década e pouco se fez para melhorar o trânsito. Até os guardas de trânsito sumiram. Os crimes constantes em nossa cidade são uma demonstração que faltam policiais nas ruas. Se falta para o policiamento ostensivo, imagina para a ajuda no trânsito.
Parabéns para a comunidade caarapoense, que recebeu sua ciclovia. E Dourados que tem mais de cento e vinte mil bicicletas, ruas com poucas declividades, que são essenciais para o uso de bicicleta, não tem nenhum incentivo da atual administração para melhorar o trânsito.
Fazendo isso, a administração atual de Dourados está na contra mão da nova historia da humanidade, que procura de toda maneira, diminuir os acidentes de trânsito, a poluição pelos gases tóxicos dos veículos e a melhoria da saúde de sua comunidade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A BOTIJA DE OURO

(*) José de Azevedo

Nos meus bons tempos de juventude em Dourados, se ouvia, constantemente, as hist6rias a respeito de Botijas de Ouro, que volta e meia alguém encontrava, tornando-se rico da noite para o dia. Contavam-se mesmo, histórias detalhadas, de pessoas muito conhecidas na comunidade, que estavam bem de vida, e que haviam encontrado uma botija.

Segundo diziam, na época da Guerra do Paraguay, as pessoas guardavam seus tesouros em ouro, enterradas sob coposas árvores, para protegê-los. E, com a morte de seus proprietários, tais botijas, um pote de barro, cheio de ouro, lá ficavam para sempre, até que alguém o encontrasse.

Um velho índio, sempre aparecia lá por minha casa, e eu lhe oferecia sempre, um prato de comida, e por isto ele foi firmando solida amizade comigo. Certo dia, ele me disse que tinha uma botija cheia de ouro e que me daria, desde que eu fosse arrancá-la a meia noite. Disse-me que alguém da Guerra do Paraguay havia lhe dado. Ele me daria a botija, em troca de um cavalo aperado, para ele viajar para baixo da serra de Maracaju, onde tinha um filho.

Contei a historia a meu Pai, que foi contrario a minha ida de arrancar botija, alegando que poderia ter perigo nisto. E disse-me meu Pai, que ouro, iríamos arrancar das nossas milhares covas de café, lavoura grande que, infelizmente, a geada de 1953 cuidou de dizimar e levar meu pai a bancarrota.

Certo dia. um vizinho, o Joã0 Garcia, veio me dizer que um defunto o havia arocado, puxado-o pelo pé e falou para ele ir arrancar uma botija de ouro, mas que ele não tinha coragem de fazê-lo. Passados alguns dias, lá vinha o João Garcia de novo a dizer que o tal defunto novamente o puxara pelo pé, exigindo que ele fosse buscar a botija de ouro e lhe dando uma complicada maratona para encontrá-la. Mas, alegava ele, que lhe faltava coragem para enfrentar a empreitada.

Como eu tinha passado pela experiência do velho índio, que, tendo minha recusa, deu a botija à outra pessoa, que, realmente foi ao local, na raizada d'uma grande figueira e de lá arrancou o tesouro, eu pensei, desta vez nã0 contarei nada a meu Pai, e falei ao João Garcia, que eu iria com ele arrancar a botija.
Tinha que ser numa sexta-feira a meia noite, e o local era longe. Por isto, fomos, eu e o João Garcia, de bicicleta, de dia. fazer uma exploração prévia do local onde estaria o tesouro do tal defunto. Era na velha Estrada de Itahum. Tínhamos que encontrar um velho cemitério no Campo, e lá encontrar uma sepultura com uma cruz de ferro, onde estaria enterrado o tal defunto e quando fossemos arrancar a botija, teríamos que passar por lá, dar tr6s tapas nesta cruz e depois ir arrancar a botija, ao pé de um enorme Angico.

Na sexta-feira a tardinha, montamos em nossas bicicletas, eu e o João Garcia, com as ferramentas e uma garrafa de Chica-boa na garupeira, e lá fomos nós arrancar a tal botija, passamos altas horas da noite no cemiterio, e como haviam lá, três sepulturas com cruzes de ferro, demos, em todas elas, três tapas, e seguimos para o Angico, onde reallzamos a cavação, até quase derrubar a arvore e sem encontrar a tal botija. Só encontramos formigueiro.

O tal defunto prevenira ao João Garcia, em suas aparições, que, durante a escavaçao, ele iria aparecer lá, montado num bode preto e subiria e desceria da arvore, mas que não era para se importar com ele. Assim, quando ouvíamos alguma vaca berrar lá naquele campo, nós já falávamos: Lá vem o bicho. Mas ele não apareceu por lá.

O dia estava clareando e nós já estávamos cansados de tanto cavar, quase derrubamos o Angico, e nada encontramos. Desanimados, decidimos ir embora, sem levar ouro algum...


(*) ex- vereador de Dourados e ex-prefeito
por cinco vezes de Glória de Dourados.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

EL COMISSÁRIO

Isaac Duarte de Barros Junior *

Meio casquilho para animar os bailes “carapés” de paragens e mais animado que garanhão de invernada, na gíria da gauchada, assim definiam os fundadores de Dourados, o personagem apelidado de “Nego Chiquilin”. Esse sujeito era bem caborteiro quando se tratava de trabalhar firme pegando no pesado, principalmente se tivesse que puxar o cabo de uma enxada no eito dos “guajú” para carpir roça. Assim, ouvi por comentários dos pioneiros, era o perfil de um dócil veterano velhaco manso de apelido “Nego Chiquilin”, que morou perto da ponte do Porto Souza nos meados de 1910. Diziam esses povoadores, haver Deus lhe economizado no tamanho e o esticado na monumental safadeza. Chiquilin (pequeno) foi um distinto “trabalhador” que tinha uma enorme sorte com as mulheres, notadamente com as tolinhas, órfãs carentes de origem paraguaia, que habitaram esta região nos tempos idos.
Nego Chiquilin, paraguaio baixinho bom de papo, contava estórias de caçadas e pescarias, de animar a qualquer roda de ótimos mentirosos durante as tomações de tereré, apesar dos seus sessenta anos. Nascido em 1850 n’ algum lugar do chaco boreal no vizinho Paraguai, o Chiquilin foi vítima da sorte, pois nunca soube sequer o nome do pai e muito menos da sua mãe, tendo sido criado pelas mãos de pessoas bondosas que lhe encontraram na primavera, embrulhado em panos sujos remendados, chorando de fome, abandonado numa rede velha de dormir na boca de uma picada da terra guarani. Possivelmente, sua genitora deve ter sido alguma moça solteira que engravidou e se livrou dele assim que nasceu.
O “pucú” (grandão), alcunha chistosa que nada tinha a ver com o seu tamanho, sendo de pouca estatura, estava na fase da adolescência, quando um esquadrão de soldados combatentes da cavalaria brasileira o carregou a força na escaramuça, para alimentar e limpar os cavalos da tropa. Terminados esses combates beligerantes da Guerra no Paraguai, findando as hostilidades e falando um português mais ou menos, Nego Chiquilin resolveu morar no Brasil. Certo dia, colocando um pedaço de charque gordo no bornal de couro na garupa do seu cavalo, o encilhou e partiu. Sendo um bom nadador, cruzou o Rio Paraguai numa vazante baixa, enfrentando os cardumes de piranhas, segundo ele mesmo contava.
Caçou, pescou e dormiu nas camas de taipas que fazia nos lugares por onde acampava, até que acabou finalmente construindo um rancho coberto de sapé na travessia do Porto Souza. Lá, passou a trabalhar para a Companhia Mate Laranjeira, atravessando as famílias de colonizadores juntamente com o companheiro Eudélio Saravi. Caindo nas graças do desbravador Thomaz Laranjeira, repentinamente virou “comissário” (fiscal) dos ervais nativos, visitando e inspecionando os barbacuás do seu “chê patron”, que tinham por sua vez os “habilitados” (gerentes) responsáveis de locais. Cada visita do Nego Chiquilin, acabado o serviço determinado pelo “el patroncíto”, esse encerramento terminava sempre em um baile ao som de violões e gaitas.
Devido a sua “alta” posição funcional na Empresa do mate, única geradora de empregos, esse galanteador “garnisé” deslumbrava os corações femininos, porém jamais se casou ou viveu maritalmente com qualquer uma dessas mulheres. O “sabugo” dos ervais levou a vida enrolando o tempo junto aos seus cigarros de palha, mas nunca calejou as suas pequenas mãos. Sua desculpa mais esfarrapada para evitar fazer força operosa, era o fato de estar passando cheio de reumatismos pela terceira idade ou porque tinha uma sofrível “dor nas cadeiras”. Somente para dançar e jogar conversa fora, me disseram, aquele corpo de um metro e sessenta tinha maiores disposições. Quando virou viajante da empresa, suas jornadas eram solitárias, todas feitas sem acompanhantes exceto um enorme cão preto que atendia pelo nome de “fido”. O aventureiro, nunca deixava fora do seu alcance uma carabina calibre 44, uma vez que não usava outro tipo de arma. Mas, também não tinha inimigos de “dois pés”, costumava se vangloriar para os conhecidos naqueles anos. Dizia entre as “naqueadas” de fumo negro que mastigava cuspindo longe, que o fato de ser pequeno facilitava no trato o seu relacionamento social.
Mesmo ganhando um bom dinheiro “inspecionando”, Nego Chiquilin nunca requereu nenhum pedaço de terra devoluta para fazer seu “pé de meia” e nem quis guardar economias debaixo do colchão, se é que teve algum de seu para dormir. Ganhava dinheiro contado em mil réis de prata e gastava todo ele em farras regadas com bebidas. Nos bailes que promoveu, comprava reses gordas destinadas ao abate e as servia nos lautos churrascos que fazia por sua conta. Para começar um namoro, dizia que bastava o outro lado “falar fino, ter peitos e orelha furada”. Levou muita sorte com esse tipo de afirmativa, ao não ter vivido nestes nossos dias modernos. Senão, teria sérias surpresas com o sexo. Nego Chiquilin, viajava todos os finais de mês para a sede da poderosa Companhia Mate Larangeira em Campanário, recebendo das mãos dos membros da família Mendes Gonçalves, seu dinheiro mensal em moeda corrente nacional.
Apesar da sua idade sexagenária, esse caboclo gostava de fazer longas cavalgadas e consumir carne suína bem frita. Sempre que matava um porco, fritava toda a carne do animal e depois guardava essa fritura em uma lata cheia de banha do mesmo suíno. Quando queria comer um pedaço do petisco, retirava a carne da gordura fria e a esquentava no fogo antes de almoçar. Embora fosse apelidado de Nego Chiquilin, esse tropeiro errante tinha a pele da cor de purungo e os olhos azuis brilhantes, com dentes alvos sem cárie. Acredito por ter sido um “naqueador” contumaz. Não deixou filhos e nem herança para repartir, nos seus bem vividos setenta anos. Ao morrer em 1920, foi enterrado numa encruzilhada, nas margens da estrada de pó vermelho que ligava o nosso pequeno povoado douradense ao Porto Souza onde assombrava os viajantes em noites de lua clara, dizem as lendas...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Jingles Políticos

Braz Melo (*)

Hoje vou falar sobre alguns jingles que fizeram historia, principalmente na política. Anteriormente falei dos comerciais que marcaram a nossa vida, hoje relato alguns que foram especiais, ao meu gosto.

A primeira propaganda (na época era chamada assim) que eu tenho noticia foi na volta do Getulio Vargas em 1950, que após ter ficado no poder 15 anos através da ditadura, elegeu um companheiro, o mato-grossense Eurico Gaspar Dutra. A marchinha de Haroldo Lobo e Marino Pinto dizia assim: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar.O retrato do velhinho faz a gente trabalhar”. Foi um sucesso. Isso na voz do maior cantor da época, Francisco Alves. Foi a música mais cantada no carnaval daquele ano, preconizando a volta de Getulio Vargas à presidência.

Depois dessa eu só me lembro da musica que foi feita para a campanha do Marcelo Miranda para governador. Acredito que tenha sido a primeira campanha feita em nosso estado, comandada por pesquisas. Tudo era estudado no mínimo detalhe. Criaram uma música que mostrava as belezas do pantanal interpretado pelo cantor mais famoso da época, Sergio Reis, mas já pensando na segunda etapa, que era a campanha eleitoral, já que não podia fazer campanha antes do período eleitoral. Quando todos estavam com a música na cabeça e assobiando toda hora, entrou a letra nova com a mesma melodia: “Marcelo sou eu, Marcelo é você, Marcelo é PMDB”.

Nesta mesma eleição, 1986, Totó Câmara foi candidato ao Senado e contratamos uma agência para fazer as peças do nosso candidato ao Senado, que o slogan foi discutido e escolhido pelo governador da época, Ramez Tebet. “Um filho seu não foge a luta” caiu bem com a luta que travaríamos com o rei do voto da época, Wilson Martins. Totó teve quase 120 mil votos com o jingle “Pra Brasília vai Totó”.

Veio a eleição de prefeito de 1988 e a parada aqui sabíamos que seria difícil, pois iríamos enfrentar um deputado federal, o José Elias que já tinha sido prefeito dos bons e candidato a governador do estado, perdendo a eleição por apenas 20 mil votos.
No inicio poucos acreditavam em nossa vitória, pois no inicio da campanha, as pesquisas mostravam que o José Elias tinha 64% e eu apenas 4%. No final ganhamos por 41 votos de diferença. Trabalhei tanto, que nos últimos dias eu estava com baixa resistência. Eu e meus companheiros tínhamos pegado até sarna. Mas uma das razões desta vitória foi o jingle criado pelo João Carlos Maciel e a Ana Leonor, filha do João Leite Shimidt.

Quando recebi a cópia da musica trazida pelo Doutor George Takimoto e Roberto Djalma Barros, não acreditava que poderia influenciar tanto uma cidade, como depois aconteceu.

Os próprios adversários confessaram mais tarde, que tomando banho, se viam cantando o refrão “por isso eu vou votar no Braz”.

Hoje, vinte e um anos após, muitos ao me verem, antes de me cumprimentar pelo nome, cantam o jingle. Velhos ou novos com vinte e poucos anos.

E o João Carlos que trabalhava na Enersul e era líder do Conjunto Zutrik, ao abrilhantar um baile no Indaiá me fez passar uma vergonha danada. Eu já era prefeito e estávamos todos dançando, quando ele começou a apresentar as musicas de todos os países e lugares. Apresentou a música da Argentina e tocou um tango. Do México tocou Adelita, da Espanha tocou Granada. Da França, La Vie em Rose. E assim foi tocando as musicas de diversos lugares. No final ele me saiu com essa. De Dourados a musica que mais está fazendo sucesso é essa: “Eu vou votar no Braz... Braz, Braz, Braz...Quem não fez até agora, não consegue fazer mais...Por isso eu vou votar no Braz”. E o José Elias, como bom pé de valsa que é, estava dançando com a Dona Adenil. Eu não sabia onde enfiava a cara.

Este artigo dedico ao João Carlos Maciel, um dos autores desse jingle, falecido sábado passado, pois sua musica, além de ter ficado na memória de muitos, até hoje todos que mexem com política a conhecem, cantam ou gostariam de ter inspiração para fazer uma parecida.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

LUSITANO ATÉ O FIM

Isaac Duarte de Barros Junior*

Quase na metade da ultima década do século dezenove em território lusitano, acompanhando a costumeira madorna portuguesa transcorria tranqüilamente o ano de 1892. Nesse ano, em Olhão na região do Algarve, nascia o menino João Cândido da Câmara. Seu pai, também de nome João, era o chefe alfandegário do porto da praieira cidade de Fuzeta, uma das doze aldeias históricas existentes em Portugal. Esse lusíada, bom chefe de família, foi um militar culto e politizado, qualidades que o diferenciavam dos homens do seu tempo. Espelhando-se nele, o moço João Cândido da Câmara completou os seus estudos secundários em um liceu na cidade de Faro, ex-Vila de Ossónoba, fundada no período pré-romano. Aos 18 anos, o jovem de espírito aventureiro decidiu imigrar para o Brasil, embarcando num navio cargueiro em 1911. Desembarcou na América do Sul aos 19 anos, percorrendo as plagas frias da Argentina, até empregar-se no comércio da vizinha cidade de Corumbá em terras brasileiras, de onde se mudaria um ano depois, desta vez para residir no município da Ponta Porã do velho Mato Grosso.

Passados aproximadamente três anos de vivencia nessa fronteira inóspita, o português João Cândido da Câmara recomeçou sua senda de trabalho, desta feita comerciando com secos e molhados, na cidade de Entre Rios (Rio Brilhante). Esforçado e, econômico, ganhou dinheiro no ramo escolhido. Casou em 1926 com Maria Rosa Antunes da Silveira e resolveu novamente mudar de cidade, escolhendo a pequena Dourados. Aqui, o casal teve seis filhos: Umbelina, a “sinhá”, João, o “totó”, Sócrates, Maria da Luz, Magdalena e José. Dessa tradicional destacada prole familiar, João Totó seria vereador, prefeito, deputado federal e atualmente é conselheiro aposentado do Tribunal de Contas. Sócrates se elegeria prefeito de Fátima do Sul e o genro Aniz Rasslan se tornaria prefeito de Glória de Dourados. Na época, que data muito próximo de sua chegada a Dourados, valendo-se da sua aprimorada escolaridade, o literato lusitano habilitou-se ao exercício do Tabelionato, função que desempenhou brevemente, todavia austero e devotado.

Rompendo com as oligarquias da velha república, conhecida como a do “café com leite”, Getulio Vargas despontaria na crista de uma revolução vitoriosa em outubro de 1930. Dentre as reformas propostas pelo novo primeiro mandatário da nação, estavam as novas diretrizes nos cargos públicos. Propuseram que essas funções, entre elas as cartoriais dos particulares, somente poderiam ser ocupadas por titulares brasileiros e pelos estrangeiros naturalizados. Fiel as suas origens, João da Câmara perdeu o cargo de tabelião, preferindo continuar um português com certeza. Ligado ao partido trabalhista brasileiro, votava regularmente, apesar de ser estrangeiro e impedido de se candidatar a cargos eletivos. Foi amigo de confiança do general Filinto Muller, a quem recebia em sua residência. Incluiu no rol dessas amizades, próceres políticos como o coronel Ramiro Noronha, primeiro interventor do Território Federal de Ponta Porã. Estava presente entre os fundadores da Associação Comercial e Industrial de Dourados, entidade que depois presidiu. Vale ressaltar, o pioneiro João da Câmara elaborou com seu punho a redação da primeira ata histórica daquela associação que representa os interesses do nosso meio empresarial local.

Particularmente, guardo na memória, pedaços da antiga paisagem urbana douradense e destaco dessas reminiscências dos meus tempos de criança, o velho casarão dos Câmara. Tratava-se de um prédio erguido com madeiras de primeira, onde ficava o bar e restaurante denominado “gaiato”. Uma parte desse enorme quarteirão, o velho português dividia com o átrio da igreja católica Nossa Senhora da Conceição. Um desses lados confrontava-se com a Praça Antonio João, cortados pelas Ruas Minas Gerais e Marcelino Pires. Num anexo, da bodega do “seu” João Câmara, havia um salão de bilhar, point dos douradenses e forasteiros. Esse lugar serviu de palco ocasional para um famoso homicídio, que seria comentado durante muitos anos nos cochichos das matronas tomadeiras de mate. João Câmara, vale Lembrar, foi sócio comercial do cunhado José Ramos Nobre, marido de sua única irmã Maria Magdalena Câmara Nobre, casal que emigrou de Portugal em 1936, poucos anos antes de eclodir a II guerra mundial no continente europeu.

Seus ternos de linho, com lenços brancos no bolso do paletó, emprestavam-lhe um ar de gentleman europeu. Na sua fala cortez e macia, adicionava uma gentileza impar. Eu, embora bem menino, nunca esqueci um gesto afável que ele tinha, ofertando em sua hospitaleira casa, deliciosas azeitonas pretas que mandava retirar de um enorme recipiente, contendo o produto importado de sua Portugal. As servia aos amigos, ofertando-as misturadas com queijo fresco, servindo-as num grande prato comprido. Nessa residência, os cardápios sempre foram escolhidos e temperados, de acordo com saborosos pratos da “santa terrinha” como ele costumava comentar. Incluí o portuga, entre as pessoas marcantes que viveram na Dourados antiga, confidenciei ao colega da minha turma do curso de direito, o Dr. José Câmara. Dentre as nossas ruas que emprestam nomes de pessoas ilustres, numa se destaca o nome do português João Cândido da Câmara.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Ilustre Douradense Ausente

Braz Melo (*)
Dourados é uma cidade especial, que além de receber de braços abertos todos aqueles que a escolheram para ser sua nova terra, também foi e é uma cidade que oferece oportunidades para as pessoas virem para cá, aprenderem e repassarem seu aprendizado em outros lugares.
Foi assim com o atual prefeito de Presidente Prudente, Milton Melo, o Tupã, que residiu em Dourados e foi engenheiro da SANESUL por um período. Foi para Prudente trabalhar na prefeitura de lá, virou secretário de obras e hoje é prefeito daquela grande cidade paulista.
Outro que orgulhamos de ter vivido aqui é o médico Paulo Roberto Teixeira. Filho do “Seu” Paulo, antigo contador de nossa cidade e que hoje é uma das maiores autoridades mundiais em tratamento de AIDS. É consultor do Programa das Nações Unidas para AIDS, da Organização Mundial da Saúde e membro do Comitê Internacional para AIDS e Governabilidade na África.
O douradense Daoud Nasser é médico cirurgião geral e um dos mais experientes médicos em cirurgia gástrica da América do Sul. Já realizou mais de 3.000 operações de redução de estômago por diversas técnicas e tem sua clinica em Maringá.
Outro que passou por aqui é o atual Ministro do Tribunal Superior do Trabalho Guilherme Augusto Caputo Bastos, que foi juiz presidente da 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Dourados, em 1991. Junto com sua esposa Claudia, deixou saudades quando foram para Cuiabá e depois para Brasília. Hoje ocupa um dos maiores cargos da carreira que escolheu seguir.
Na área do Judiciário foram diversos os Juízes e Desembargadores que passaram por nossa cidade e que seria difícil enumerá-los, porém arrisco lembrar alguns, como os Drs. Remulo Leteriello, José Goulart Quirino, Aleixo Paraguassu, Paulo Alfeu Puccinelli, Josué de Oliveira, Dorival Moreira dos Santos, Paulo Bucker, Davi Rosa Barbosa, João Astolfi, Jorge Siufi, Ademar Pereira e tantos outros. Isso para relacionar os que aqui moraram e se mudaram daqui. São todos ilustres douradenses ausentes.
Também devemos prestar nossas homenagens àqueles que administraram Dourados, como o João Augusto Capilé Junior, o Sinjão Capilé que foi prefeito na década de 40 e que hoje reside em Cuiabá, assim como o Antonio Moraes dos Santos que foi prefeito na década de 50 e que hoje mora em Campo Grande.
No futebol então, são inúmeros jogadores que nasceram ou jogaram aqui e estão em lugares bem longe de nós. Antonio Carlos hoje é técnico de futebol, mas até hoje aplica suas economias em nossa cidade. Tem o Lucas do Manchester e da seleção brasileira, o Keirrison que é do Benfica de Portugal, Alex Dias, que jogou até pouco tempo no meu Fluminense. Dario Alves joga no FC Fehérvar da Hungria, Alex Cruz no Flamengo, Yuri no Santos, Dieguinho no Fluminense, Adriano Alves no Goiás, Diego Rosa no Juventude, Marinho no Guarani, Alex Sandro no Paisandu, Bruno no Hai Phong do Vietnã, Gilton no Albirex Nigata do Japão e Thiaguinho no Gama de Brasília.
No Futsal temos o Euller e o Babalu, que joga na Itália e foi recentemente convocado para a seleção Italiana de Futsal. (www.ledaesportes.com.br).
No cinema temos o Joel Pizzini, que por seu trabalho é reconhecido internacionalmente e na música o José Rico da famosa dupla com Milionário, que por muito tempo esteve aqui fazendo suas serenatas.
Tem o Julio Capilé que toda semana nos brinda com suas crônicas pelos jornais e que reside em Brasília, assim como diversas outras personalidades que no momento me foge a lembrança, mas que também serão importantes participarem desta seleta lista.
Quem sabe a sociedade douradense convide-os para um grande jantar, onde todos eles seriam homenageados pelos serviços prestados em nosso município e também por terem levado o nome de Dourados a outros rincões.
O aniversario da cidade seria uma época propicia para este evento, pois a grande maioria estaria de férias.
A Câmara poderia até fazer uma comenda para esta festividade e com o apoio da Prefeitura oferecer a arrecadação do evento à construção do Hospital do Câncer de Dourados.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Xodozinho

Braz Melo (*)

No inicio do meu primeiro mandato iniciei uma obra que complementava uma destas obras que marcaram as administrações de nossa cidade.
Na semana passada, falei sobre os lagos e as obras de drenagem do José Elias Moreira. Hoje falo das galerias de águas pluviais que o João Totó da Câmara fez no centro da cidade e que despejava as águas na Rua Cuiabá, entre as Ruas João Rosa Góes e Firmino Vieira de Matos. Esta bacia recebe as águas entre as Ruas Floriano Peixoto e Hayel Bom Faker, vindas desde a Rua Monte Alegre. Chegava ali, na Rua da Liberdade, se não me engano oito tubos de 1200 milímetros. E teve de ser feito uma caixa de dissipação imensa para diminuir a força da água, antes de chegar ao Córrego Rego D’água. Mesmo assim, em virtude da grande quantidade de água, cem metros abaixo já voltava a fazer estrago. A continuação daquela grande obra do Totó logo foi apelidada de Xodozinho, apelido dado pelo meu Secretário de Comunicações da época Valfrido Silva e Harrison de Figueiredo, Secretario de Administração.
Porque Xodozinho? Por que eu não saia dali. Ia cedo, de tarde e de noitinha ver o andamento da obra. Uma obra dessa natureza é como um novo amor, um filho que a gente vai vendo crescer. Na época era meu xodó. Depois vieram outros, porém ninguém esquece o primeiro amor.
Havia disputado uma eleição muito apertada com o José Elias e feito compromisso com os moradores à jusante daquele ponto que iria resolver aquele problema sério, que era a erosão que causava aos bairros Jardim Londrina, Vila Hilda e chácaras abaixo.
Tinha uma senhora, Dona Maria, moradora da Rua Montese no Jardim Londrina, que na campanha eleitoral quase me expulsou de sua casa, quando eu falei que iria resolver aquele problema. A erosão tangenciava sua residência e quando chovia mais um pouco do normal, ela não tinha condições de dormir em casa, com medo das águas levarem sua casa e sua vida. Ela era descrente de todos, principalmente dos políticos. Tinha também um dos Areco que sofria do mesmo mal. Para mim, era compromisso de honra resolver aquele problema.
Naquela época era tudo feito com recursos próprios e não tinham inventado esta parceria entre Governos Federal, Estadual e Município. E o meu primeiro ano foi de organização, porém esta obra iniciou ainda no primeiro trimestre. Fiz um convênio com o Sindicato da Construção Civil e eles contratavam os operários necessários para tocarmos esta obra. Feita com pedras de mão e rejuntada de cimento, depois de feita, virou outra coisa. Tem cara de progresso.
Mais tarde consegui do DNOS uma maquina Clamb Sheld (grande retro-escavadeira) e fizemos a retificação do Córrego Rego D’água desde a rodovia BR-463 até as portas da feira livre, na Rua Cuiabá. Foi uma senhora obra. Na segunda administração consegui um recurso para leva-la até a Rua Leônidas Além, interligando à BR-463, através do BNH- Quarto Plano. Os ambientalistas entraram com uma ação, impedindo que concretizássemos mais uma saída da cidade. Até hoje não entendi o porquê.
Esta obra foi de uma importância tão grande, pois a partir daí tivemos condições de fazer as travessias dos Bairros Jardim Londrina com a Vila Rigotti, da Vila Hilda com o Jardim Água Boa e do Jardim Itália ao Jardim Água Boa, na antiga W-9.
Dourados passava a ser uma cidade interligada em diversos pontos. As pessoas da região do Jardim Itália não precisavam mais subir até a Rua Monte Castelo para irem até o Jardim Água Boa. Os estudantes da Escola Estadual Antonia Silveira Capilé que moravam no Jardim Londrina ficaram muito mais perto de sua escola. Economizavam diariamente mais de três quilômetros de caminhada.
Neste lugar, que na época era inviável morar, hoje estão instalados diversos órgãos, como o Ministério do Trabalho, O Ministério Publico Estadual (Prédio Jose Cerveira), o Centro Homeopático, o Cartório Eleitoral e o SENAC.
A Dona Maria, o Areco, assim como toda a população daqueles bairros puderam, a partir dessa obra, dormir em paz.

(*) Engenheiro civil e ex-prefeito http://estoriasdedourados.blogspot.com/

terça-feira, 10 de novembro de 2009

MAGISTRADO CYRO MELLO

Isaac Duarte de Barros Junior*

Quando falamos a respeito de soberania nacional em nossas fronteiras, principalmente nas fronteiras divisórias do Mato Grosso, devemos nos lembrar que elas nos foram asseguradas pelos guerreiros sulinos, cavaleiros rústicos do século dezenove. Muitas foram essas nossas páginas épicas, escritas nos anais da história pós-guerra do Paraguai. E todos esses fatos ganham vida novamente, quando em pensamentos cavalgamos nas ancas das lembranças no lombo de cavalos relinchando nas estradas de pó vermelho, tempos que eram montados por indômitos gaúchos guerreiros de lança.
Centenas desses rio-grandenses, passada á luta fratricida, retornariam pilchados nestas paragens. Lugar, onde fardados foram aliados dos índios guaicurus, cavalgando juntos nas batalhas da tríplice aliança. Afinal, foi neste solo, que eles travaram sangrentas lutas com os paraguaios de Francisco Solano Lopes. Alguns deles, como o coronel João de Oliveira Mello, resolveu ficar no sul depois da guerra. Porém, falava tão entusiasmado destas plagas férteis com matas densas, que seu filho Cyro Silveira de Mello, nascido no ano de 1884 em Cruz Alta, se interessou por conhecê-las. Cyro Mello tinha treze irmãos, destacamos alguns: Alonso (bispo católico), Raul (general de exército), Tupy (médico) e Mário (advogado).
Aos dezoito anos, Cyro Mello foi morar na capital gaúcha, arrumando serviço numa tipografia. Em seguida, se alistaria num batalhão do exército brasileiro, que se deslocou de Porto Alegre para a região norte do Brasil. Em 1902, estava sob o comando do general José Plácido de Castro, quando este militar expulsou os bolivianos instalados nas divisas da amazônia, retomando na força o Território Federal do Acre. Contraindo a febre beribéri que grassava no norte, doença provocada por um terrível mosquito, Cyro Mello terminou sendo hospitalizado. Posteriormente, licenciado das tropas beligerantes, embarcou de volta para o Rio Grande do Sul, onde aportou pelo mar, sendo recebido como herói na sua terra natal. Seu pai, primeiro intendente (prefeito) de Cruz Alta, havia comprado mercadorias e uma junta mansa de bois carreteiros, incentivando-o a conhecer nossa região em fase de povoamento.
Cyro Mello, moço cheio de vigor, deixou a cidade de Cruz Alta nos pampas sulinos em 1905. Passou por Palmas e Guarapuava, entre outras cidades do Paraná, seguindo estradas rumo do sertão. Por uma delas, atravessou os Rios Iguaçu e Paraná. Chegando ao Vale do Ivinhema depois de meses, concluiu sua longa viagem em 1906 instalando-se em Ponta Porã, promissora cidade mato-grossense. Em 1908, conheceu a jovem Laudemira Coutinho da Rocha, argentina de 16 anos, com quem se casou naquele mesmo ano. Após o matrimonio, foi morar na zona rural pontaporanense num lugar chamado Capão Rico. Cultivou cereal e tornou-se próspero criador de gado.
No ano de 1910, mudou-se para a fazenda Passo dos Dourados, onde criava cavalos e ainda trabalhava como balseiro na travessia de pessoas no Rio Dourados. Naquele mesmo ano, retornaria a Ponta Porã, criando gado na fazenda Ramalhete. Em 1913, atendendo um convite formulado pelo coronel Baltazar Saldanha, exerceu o cargo de secretário geral desse prefeito. Criada a Comarca de Ponta Porã, foi nomeado Promotor Público, já que o interventor (governador) tinha poderes de nomear pessoas para essa função. Usando das mesmas atribuições, outro interventor nomeou Cyro Mello, Juiz de Entre Rios (Rio Brilhante), em 1932. Esse gaúcho era um homem culto, lia e relia livros, assim como os jornais do país e do exterior. Acima de tudo, Cyro Mello foi espírita convicto, seguidor fiel dos ensinamentos do francês Alan Kardec.
Retornando ao município Dourados no ano de 1934, o veterano Cyro Mello, ex-professor ambulante, boticário homeopático, guarda livros (contador) e farmacêutico, passou a se interessar por política partidária. Submetendo seu nome ao crivo das urnas em 1936 pelo Partido Evolucionista, elegeu-se membro do Conselho Municipal e nessa legislatura exerceu as funções de secretário da mesa diretora. Voltou a ser reeleito, desta vez como vereador pelo município de Dourados, no ano de 1946. Porém, com a promulgação da nova Constituição Federal, aboliu-se a nomenclatura “Conselho Municipal”. Assim, ao invés da denominação de “conselhereiro” para seu titular, o cargo destinado aos eleitos passou a ser chamado de vereador, como agora é conhecido.
O gaúcho Cyro Silveira de Mello, homem talentoso acreditava no desenvolvimento progressista, falecendo em Dourados aos setenta e sete anos, em abril de 1962. Foi sepultado no cemitério Santo Antonio, no mesmo em que repousa a maioria de outros pioneiros douradenses. Nesse local, seus restos terrenos, descansam na paz espiritual da última morada. Para homenagear o patriarca dessa família antiga, entre as poucas centenárias desta cidade, seu nome foi imortalizado numa das nossas ruas mais conhecidas...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ESTROPÍCIOS...

Isaac Duarte de Barros Junior*
Quando os nossos primeiros migrantes, tipificados pelos historiadores como desbravadores iniciais, ainda davam diversos apelidos para esta cidade, alguns de modo independente batizaram o nascente promissor vilarejo, alcunhando-o de “patrimônio” ou com nomes de santos do catolicismo. Depois, deram outros apelidos, só que estes em homenagem aos peixes e as matas existentes. Nos seus círculos de amizades, cada qual, chamava a nossa futura cidade de Dourados, da maneira que melhor lhe conviesse e dependendo dos vizinhos, pioneiros que iam chegando, transmitiam o nome adotado na localidade.
Os moradores de Entre Rios (município de Rio Brilhante), terra natal da escritora Ercília Pompeu, chamaram o povoado de Dourados, quando ainda era um aglomerado de pessoas vivendo em ranchos cobertos com sapé, de “Vila das Três Padroeiras”. Marcelino Pires, dizem, ergueu uma enorme cruz de madeira e impôs ao vilarejo o nome de “São João dos Dourados’’. Enquanto que Joaquim Teixeira Alves queria fazer prosperar a denominação destas terras, como as “Matas dos Dourados”. Porém, nenhuma dessas designações historicamente emplacou, exceto aquela que conservou o nome do peixe rei da água doce, nadador no rio do mesmo nome.
O “patrimônio”, de muitos apelidos engraçados, mudava de alcunha dependendo da aceitação ou não dos boiadeiros, porque era essa gente transportando gado a cavalo, quem espalhava os muitos nomes batizados nestas paragens. Foi o caso da “cabeceira alegre”, nome de um pouso das boiadas, que pertenceu ao violeiro Getulio Benevides. Bem como o pouso “curral de arame”, do fazendeiro Antenor Martins. Muitos desses apelidos desapareceram com as mortes dos seus donos, para o desgosto de descendentes desses pioneiros. A esses apelidos, juntaram-se outras tolices, pois hoje temos historiadores desinformados, jurando que o fazendeiro Marcelino Pires, mandou matar seu vizinho Joaquim Teixeira Alves. Como criminalista, dou risadas, porque nunca vi defunto mandar assassinar a ninguém. Documentalmente, depondo lucidamente, Salustiano Carneiro Alves, Filho do capitão Joaquim, esclareceu essa página funesta, dizendo que seu pai foi assassinado em 1920. Ora, Marcelino Pires, o suposto mandante, morreu em 06 de julho de 1915.
Outro estropício, criado por falta de assessoria no Legislativo Municipal, temos como seu autor, um vereador douradense que apresentou e fez aprovar o projeto de lei, inventando um brasão com os dizeres: “Dourados, terra de Antonio João”. Ora, o tenente Antonio João Ribeiro, herói brasileiro, resistiu à invasão paraguaia na antiga Colônia Penzo (no município de Antonio João) e nunca esteve aqui na redondeza e sequer visitou a povoação de Dourados. Que, aliás, nessa época nem existia. Acontece, que o “Forte dos Dourados” era um destacamento militar erguido e queimado pelos paraguaios, a muitas léguas de distancia daqui. Acrescentamos, nestas modestas críticas, a teimosa estupidez da permanência das placas indicativas na Rua Izidoro Pedroso, nome trocado de um pioneiro que foi colocado naquela via erroneamente, porque o tal do Izidoro Pedroso nunca existiu. Agora nessa rua, existe o nome quem não existiu, exceto nas veneras que colocaram, e isto até o município resolver através de algum prefeito mais atencioso, reparar esse ridículo erro do Executivo Municipal.
Todavia, em pleno século vinte e um, os disparates ainda prosseguem normalmente pela urbe, o que ocasionará no futuro, quando a cidade for bem maior, sérias complicações. Principalmente, se continuarem usando tantos nomes errados em se tratando de monumentos, logradouros, ruas e praças públicas. Porque, existe oficialmente em Dourados: o Monumento ao Colono, ao contrário de a “mão do Brás”; Praça Pedro Rigotti e não “redondo da água boa”; Praça Walter Guaritá Marquez, diferente da denominação “praça da bandeira”; E a Rua Coronel Ponciano, jamais foi a “rua do cemitério”. Embora, atualmente, esteja com grandes possibilidades de ficar conhecida como a “rua dos buracos”. Finalmente, é errado chamar a Rodovia Antonio Moreno, de “rodovia do lixão”.
Sei que a antiga ”cidade modelo” do INCRA, repentinamente mais populosa, virou terra de supostos quilombolas. E embora cheia de espaços, na margem das suas rodovias estaduais, bem próximas do centro administrativo municipal, surgem favelas porcalhonas esparramando lixo, com crianças humildes, filhos dos moradores, morrendo atropeladas por caminhoneiros. O nosso Distrito Industrial, desrespeitosamente, exala odor de fezes, carniças e sabe-se lá de mais o que, desafiando o olfato da população e a Secretaria Municipal de Saúde. Desunida, a classe política faz alianças alienígenas, enquanto modernos blogs, informativos virtuais, se alimentam de opiniões medíocres, feitas com empáfia por internautas recalcados. Desprovidos de cultura, muitos confundem a arte de se comunicar, agredindo as autoridades com palavreados chulos e grosseiros. Inclui-se nesse besteirol anônimo, o que a “manezada” pensa respeito dos jornalistas e da imprensa tradicional...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

Obras Marcantes

Braz Melo (*)

Existem obras importantes que ajudam a resolver os problemas das cidades. Para que isso aconteça, o prefeito deve se cercar e ir atrás de empresas e pessoas que têm experiências das necessidades de sua cidade.
Na década de 70, ao assumir a Prefeitura de Dourados, o José Elias contratou o escritório do arquiteto Jaime Lerner, para fazer o primeiro Plano Diretor de nossa cidade. Até a pouco tempo, era a lei municipal que estabelecia diretrizes para a ocupação da cidade. E muitas das mudanças de nossa estrutura urbana, devemos a êle.
No inicio do novo século, na administração Tetila, foi feito um novo plano diretor, que hoje está em vigência.
Jaime Lerner não tinha entrado na politica ainda. Depois foi prefeito de Curitiba por duas vezes e governador do Estado do Paraná. Como prefeito ele revolucionou a cidade de Curitiba, transformando-a em um laboratório de experiências que encantou o Brasil e o mundo.
Quando o Jaime Lerner esteve em nossa cidade, o prefeito José Elias, convidou todos os engenheiros e arquitetos da cidade para participarem da explanação do arquiteto na Prefeitura. Eu participei da reunião e ele convenceu a todos os presentes das mudanças previstas em seu plano.
Foi aí que surgiu a ideia de diminuir a largura de nossas ruas que ainda não tinham asfalto, aumentando a extensão das calçadas. Calçadas que assim é chamada, quando o poder público quer que o proprietario seja o responsavel pelas benfeitorias e cuide dela.E quando quer que sirva aos orgãos públicos a chamam de passeio público. Como Dourados eram previsto as avenidas em todas vias paralelas à Avenida Presidente Vargas, fazendo esta mudança, seria feito o dobro do asfalto com o mesmo recurso.
Também foi nessa época que pensou-se pela primeira vez nas pessoas que usavam bicicletas para seu transporte. E as ciclovias já eram projetadas pelos passeios públicos.
Outra obra importante projetada nesta epoca foram os lagos dos parques Arnulfo Fioravante, na região da Rodoviaria e Antenor Martins, no Flórida. Estas obras foram projetadas para que as galerias de águas pluviais tivessem um local para serem despejadas, pois como nós não temos rios, teriamos uma tubulação muito maior em extensão e diametro até chegarmos em algum local para fazer a descarga das águas a céu aberto.
O lago da rodoviaria recebe águas das chuvas da rua Hayel Bon Faker até ao Ubiratan, vindas desde a Rua Ponta Porã. É muita água.
Quer ver como tem água, vá no final da Rua Cuiabá, já chegando no lago, em dia de chuva forte e veja a célula construida pelo prefeito José Elias, para captar as águas à esquerda dessa bacia. Nesta célula cabe um caminhão dentro. Tive a oportunidade de fazer a complementação desse serviço, pois a água estava criando uma erosão enorme no fim da célula.
Imagina se não tivesse esse lago para funcionar como remanso. Já teria uma erosão maior do que teve em Gloria de Dourados do meu irmão José de Azevedo, que ao ve-la de avião, o Ministro Rangel Reis disse que era mais barato mudar a cidade de lugar do que tapar aquela erosão.
Meses atrás, ao encontrar com o prefeito Ari Artuzi na ACED, o lembrei, que aproveitando os recursos que ele conseguiu para drenagens e galerias pluviais, para que ele fizesse o que o Jaime Lerner bolou há trinta e poucos anos e que para o resto da vida, os douradenses vão lembrar do prefeito José Elias. Falei também que aproveitasse a oportunidade ao conseguir este recurso e construisse o Parque Ecológico do Parque das Nações, entre os bairros João Paulo ll, Jardim Marcia, Vila Guaraní, Parque das Nações l e rodovia BR-163. Gastaria menos dinheiro com galerias, teria um local para receber toda a água desde o Ubiratan até o Potreirito e daria de presente àqueles moradores uma área de lazer especial. Um novo parque na cidade. Quem fizer será lembrado por muito tempo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Precisa-se Engraxate

Braz Melo (*)

João Candido de Souza, o Joãozinho engraxate vai aposentar. Estou preocupado, pois é o único engraxate de nossa cidade. E aqueles que são fregueses dele há bastante tempo, como eu, onde vamos engraxar os sapatos quando isso acontecer?
Lembro que muitos garotos nas décadas de 70 e 80 iniciaram seus serviços engraxando sapatos. Depois escolheram outras profissões. Conheço um pastor, o Pastor Jurandir que engraxou muito sapatos nesta época. Saía do Parque das Nações e vinha até o centro para engraxar os sapatos dos fregueses. Antes disso, o deputado federal Geraldo Resende foi outro que ajudou seus pais no orçamento familiar, engraxando sapato.
Quando fui candidato a prefeito em 1982 fiz um projeto oferecendo a diversos garotos um kit que continha uma caixa de engraxate, escovas e graxas para eles poderem engraxar e ajudarem seus pais como complementação do salário familiar. Todo mês nós dávamos duas latas de graxas. Uma preta e outra marrom.
Não sei se é culpa do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe menor de 16 anos de trabalhar ou se é porque todos querem ser Doutores em Medicina, Engenharia e principalmente em nossa cidade, como Advogados.
Há uma falta muito grande de trabalhadores de nível intermediário e quem presta este serviço são especialistas e também doutores no que fazem.
Tem certas profissões que as pessoas resolveram banir de seus interesses. Como engraxate, ninguém também quer ser barbeiro. Dificilmente você tem a oportunidade de ver um barbeiro novo. Tem muito tempo que não há renovação nessa profissão. Os barbeiros são os mesmos de muitos anos atrás. O engraçado é que renova cabeleireiros, mas o correlato masculino, não. Daqui um tempo não teremos substitutos do Toninho, do Zé dos Artistas, Ademir, Souza, Cabral, Magal, Adauto, Irineu e Seu Lázaro.
Conversando com o Zé Barbeiro, o Zé dos Artistas, ele me disse que dos seis filhos que ele tem, nenhum quis seguir a carreira do pai. Todos fizeram faculdades. Na região do seu salão só tem a barbearia dele e tem nove salões de cabeleireiros. Acredito que daqui um tempo, vamos ter de cortar cabelo com as cabeleireiras Sônia, Bene, Diva, os cabeleireiros Marcos, Alessandro, Vandré e tantos outros profissionais, que hoje nossas mulheres tratam e cortam seus cabelos.
Quando assumi a prefeitura em 1989, tive a idéia de criar no CSU a Universidade da Vida, órgão que dava condições daquele profissional que não teve uma faculdade pudesse se preparar melhor para enfrentar sua profissão. Muitos profissionais fizeram especializações naquele órgão. Teve cursos das mais variadas áreas. Cursos práticos e intensivos. Trazíamos especialistas de fora, como o Maitre Cristofoleti, de Campo Grande para treinar e melhorar os garçons de nossa cidade. Veio aqui umas três vezes ensinar esta bela profissão a três equipes de garçons diferentes.
Também teve cursos para pedreiros se especializarem em concreto aparente e alvenaria de tijolo à vista. Treinaram secretárias e telefonistas, que nem sabiam atender telefones. Motoristas só sabiam guiar o carro. E ser Motorista é saber muito mais que isso.
Nos fins de ano foram oferecidos cursos para empacotador e vendas para o comercio natalino. Teve curso de inseminador artificial, de limpador de piscina e tantos outros.
Infelizmente acabaram com este trabalho feito por nós na prefeitura. Ajudou-me naquele projeto a Eunice Senzack, que era Secretaria de Promoção Social, a Anete pelo Prosocial, o Idenor Machado pela Secretaria de Educação e o Professor Lins como um dos conselheiros.
Se continuasse este projeto, sem duvida, não precisaríamos ler nos jornais de Dourados anúncios insistentes de “Precisa-se Pedreiros”, como vi nos últimos dias. Tanto como engraxates e barbeiros está faltando é quem bota a mão na massa.

domingo, 25 de outubro de 2009

VELHO MAJOR CAPILÉ

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitas pessoas de saudosas lembranças ajudaram a colocar Dourados no mapa do velho Mato Grosso, trabalhando e emprestando as suas operosas presenças ao surgimento, lembranças hoje memoráveis que descansam em paz no passado. Uma dessas lembranças é a de Manoel Pompeu Capilé, filho do paulista Antonio Pompeu, que se casou com uma judia residente na terra dos bandeirantes, chamada Sara. Esse desbravador, descendente de emboabas, foi trabalhar na região de Castro, interior do Paraná, quando inventou um medicamento para curar infecções. Essa dosagem, misturada com xarope de avenca, cientificamente conhecido por adiantum capillus veneris, ganhou na linguagem popular das ruas do século dezenove, o apelido de capilé.
Algumas vezes, diziam as pessoas dessa época, que o interessante medicamento funcionava como uma espécie de antiinflamatório no sangue, se acompanhado com cachaça. Os moradores de São José da Boa Vista, considerando a fórmula do remédio, passaram a chamar o alquimista de Antonio Pompeu do capilé, alcunha que ele incorporou ao seu sobrenome. Assim, quando Manoel, seu primogênito nasceu, na pia batismal também nascia oficialmente o primeiro Capilé. Nesse estado das araucárias, ele cresceu, casou, nasceram-lhe seis filhos e foi onde recebeu a patente de major da guarda nacional. Na metade do ano de 1912, o major Capilé em companhia da esposa Genoveva, num cruzamento das futuras Ruas Marcelino Pires e Presidente Vargas, instalou-se numa chácara como o mais novo morador, montando uma loja comercial. Que a bem de estabelecer a verdade, foi inclusive á primeira farmácia douradense.
Nessa rudimentar botica, o farmacêutico Major Capilé, manipulava de maneira inteligente os seus medicamentos, destinados ao tratamento das doenças conhecidas e desconhecidas, porque em Dourados não existiam médicos. Essas dificuldades obrigavam Manoel Pompeu Capilé, por vezes, durante o tratamento dos pacientes, a permanecer nas residências dos mesmos fazendo companhia para aqueles doentes terminais. Outras ocasiões, simplesmente os acomodavam franciscanamente em pequenos quartos da sua própria casa, de onde o enfermo se retirava somente depois de estar razoavelmente curado. Uma outra abnegada prestação de serviços do Major Capilé para a coletividade, era feita quando ele como dentista prático extraía dentes infeccionados, sem anestesia. Quem o procurava, iniciava o tratamento dentário com uma boa conversa, onde nos intervalos Capilé servia embriagantes “goles de pinga” e quando o paciente relaxava da tensão, colocava-o a seguir numa cadeira de madeira, entrando com o boticão em ação. Esses pacientes ficavam curados das dores, mas curtiam uma boa ressaca antes de deixarem aquele tradicional consultório improvisado.
Homem socialmente ativo associou-se a Januário Pereira de Araújo, construtor e músico, organizando o primeiro salão de bailes e outros eventos em um anexo da sua residência. Na família Capilé, surgiriam muitos músicos, dentre eles, com grandes dotes artísticos para tocar violão e cantar, se destacou Teodoro Capilé. Participando do processo inicial de urbanização do povoado douradense, o major Capilé comungava com O Dr. Vlademiro Muller do Amaral, do planejamento urbano de se abrir e espalhar ruas com quarenta metros de largura, pelo pequeno vilarejo.
Politicamente relembrando o passado genealógico, destacaram-se nessa família, seu neto escritor João Augusto Capilé Junior, o “sinjão”, que foi prefeito de Dourados na década de quarenta. Seguindo os passos profissionais do avô, ligado à saúde, destacamos outro neto, que além de escritor, foi pracinha brasileiro na ll guerra mundial, citamos de maneira carinhosa o médico e historiador, Dr. Júlio Capilé. Porém, acredito que seriam os maiores portadores de seu encantado humor, seu neto e chará, o engenheiro civii Dr. Manoel Capilé e o bisneto, meu colega de profissão e de curso primário, Dr. Osmar Milan Capilé. Os três netos do Major Capilé aqui lembrados, são alguns dos dezenove filhos de seu filho João Augusto com Júlia Frost, irmã do fotografo pioneiro Raul, autor de uma foto histórica tirada em 20 de dezembro de 1935, na emancipação do município.
O velho major Capilé faleceu no ano de 1944, e possivelmente tinha 90 anos de idade no dia do seu passamento. Todos os douradenses que o conheceram em vida, teriam ficado uma noite inteira num enorme salão de sua propriedade, velando, orando e prestando homenagens ao ilustre pioneiro douradense morto. Só não estiveram presentes naquelas exéquias concorridas, seu filho Dr. Júlio Capilé, com alguns de meus familiares e outros rapazes, porque os jovens como pracinhas da FEB, estavam combatendo o nazi-facismo nos distantes frios campos da Itália. Merecidamente, por iniciativa do legislativo municipal, encontramos o nome do major Manoel Pompeu Capilé, agora imortalizado em uma das principais artérias centrais da cidade de Dourados...


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Meu Celular

Braz Melo (*)

As minhas filhas Gisella e Mirella me deram de presente pelo Dia dos Pais um novo telefone celular. Daqueles que além de ligar e receber ligações, você tem condições de ouvir musica, radio FM, ver TV e até mandar e receber e-mail. Sem teclas aparentes, pois é do tipo touch screen tem um peso de 90 gramas. Uma beleza.
O presente já veio atrasado, pois demoraram a ir ao país “hermano” para escolherem o dito cujo. Aproveitaram o cambio baixo e desde quando chegou, estou tentando aprender como funciona o aparelho. O manual dele vem em inglês e em mandarim, já que a procedência dele é a China. Se em inglês já é difícil entender os termos técnicos, imagina aquela grafia chinesa, que parece mais pisado de mosca.
Nesse período que estou tentando aprender como funciona esta maravilha da comunicação moderna, fico pensando como evoluiu nos últimos anos esse setor.
Os mais antigos lembram que há três décadas, ficávamos horas para conseguir uma ligação telefônica de Dourados para o resto do país. Dependendo da urgência, tínhamos de ir a Campo Grande, de carro, para conseguir este intento. E lá tínhamos de entrar na fila no centro telefônico, para finalmente falar.
Hoje tudo isso mudou. Em qualquer lugar de nossa região você fala com o mundo inteiro através da telefonia celular.
Quem não se lembra do seu primeiro celular? Eu lembro que isso aconteceu comigo nos idos de 1990 e até hoje recordo que era difícil de conseguir uma linha de celular, que custava o olho da cara. O primeiro celular que eu usei, foi emprestado por um amigo, o Frederico Oto, que tinha conseguido adquirir três aparelhos no primeiro plano de vendas e que me cedeu um por um período, até que abriu novos planos e consegui comprar uma linha. Lembro até hoje o numero e que tinha o final 1208. O aparelho era um Motorola grande e pesado, o famoso tijolão, mas que me prestou um serviço enorme. Pelo seu tamanho e peso, mais tarde ficou também conhecido como orelhão portátil.
Em 1996, ao viajar para os Estados Unidos, verifiquei que lá, os aparelhos celulares já eram vendidos por um dólar para quem comprava uma linha. O importante para as empresas de telefonia portátil são as ligações feitas. Hoje, um pouco mais de dez anos depois, já acontece isso no Brasil. E tem planos para todo gosto. O de cartão é o mais usado, principalmente pela população de media e baixa renda.
Um amigo me falou anos atrás que mesmo sem dinheiro, o homem comum, nunca deixa de ter o seu aparelho celular. Como exemplo me mostrou um senhor de sandálias tipo havaianas, que ia passando empurrando uma bicicleta com pneu furado e ele me disse: “Olha ali. Sem dinheiro para consertar o pneu da bicicleta, mas falando pelo celular”. Ele tinha razão. Hoje o celular é fundamental para aquele que deseja se comunicar. E como dizia o Abelardo “Chacrinha” Barbosa: “Quem não se comunica se estrumbica”.
O Distrito Federal é a unidade da federação com maior numero de celular por habitantes: 1,5 celulares por habitante. Outros três estados brasileiros já romperam a barreira de um celular por habitante: nosso Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
Muitas famílias já cancelaram seus números fixos e usam somente celulares até em casa, pois é mais fácil o controle, principalmente para quem tem adolescente em casa. Ninguém agüenta pagar impulso telefônico com uma filha namorando ao telefone. Compra-se um crédito e o filho se vira para chegar ao fim do mês.
Sem duvidas, o setor das comunicações do Brasil foi um dos que mais se desenvolveu. A tecnologia avançou, aumentando a capacidade da memória, como a alcance das antenas e diminuindo o tamanho dos aparelhos. Sofisticou tanto que a única coisa que falta é que se precisa fazer um curso intensivo para aprender a manusear os celulares.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Procurando o Cruzeiro do Sul

Braz Melo (*)

Dourados tem crescido bastante, haja vista, que ao sair de casa às sete da manhã, demoramos algum tempo nas travessias de ruas para chegar ao trabalho. Aí que vemos quanto está movimentado nossa cidade. Não é pra menos, pois são mais de 87 mil veículos licenciados pelo DETRAN em nossa cidade.
No ultimo fim de semana, aproveitando o feriado da segunda feira, tive a oportunidade de junto com boa parte da família e amigos, conhecer um local que valeu a pena, principalmente pelas horas tranqüilas que ali passamos. É a Pousada Canindé, que fica a 40 quilômetros de Jardim, na descida da Serra de Maracajú.
Localizada a 160 quilômetros de Dourados, ainda no município de Maracaju, é um lugar para conhecer com a família. São doze bangalôs que abrigam em torno de 50 pessoas com o conforto e simplicidade que precisamos quando saímos de nossa casa. Pra mim, que sou extremamente caseiro e urbano, não deve ter muita diferença de nossa casa. E lá é assim.
Os proprietários, Jaci e Enilda Alves de Lima sabem receber muito bem. Jaci é bioquímico e tinha aqui o Laboratório São Marcos. Resolveu aproveitar a fazenda da família e tocar este novo empreendimento. Contrataram o projeto arquitetônico aos arquitetos douradenses Alessandro Machado e Fabiano Forucho, que projetaram tudo que precisa em uma pousada. Uma sede que funciona a cozinha com fogão, forno à lenha e restaurante, onde se tem uma vista panorâmica da região. No projeto, usaram da natureza tudo que ela pode dar sem agredir o meio-ambiente. Toda a madeira foi aproveitada da fazenda, sem derrubar nenhuma. Só usaram as que já tinham caído pelas mãos do Criador. E o local, com os morros ao fundo parece uma pintura.
Saímos daqui às dez horas da manhã do domingo e chegamos lá ao meio-dia para almoçar. Já tinha um carneiro assado e peixe ensopado à nossa espera. Arroz, feijão e saladas diversas no acompanhamento. De sobremesa, doces caseiros.
À tarde fomos para a cachoeira do Rio Canindé, que fica a 850 metros da sede. Tem uma altura de 23 metros que cai numa inclinação de 60 graus, o que faz a gente ficar muito tempo com a água batendo em nossas costas. Não tem massagem melhor.
No jantar foi servido um arroz carreteiro, que, de gula, comemos demais e tivemos, eu e Anete, de caminharmos bastante para fazer a digestão.
À noite quis reunir os netos para mostrar-lhes o céu, já que podíamos ver todas as estrelas, coisa que aqui em Dourados nós não mais podemos ver por causa da iluminação da cidade. Era um desejo meu mostrar o Cruzeiro do Sul para a garotada, mas eles estavam entretidos em diversas brincadeiras. Ainda bem que não vieram, pois não lembrava onde localizaria no céu. Fica pra próxima. Na primeira oportunidade faça isso com seu filho. Ele vai ficar feliz.
Depois de tanto exercícios, fomos dormir cedo. Não eram dez horas e já estávamos na cama.
No bangalô tem água quente, frigobar e o colchão nos fizeram sentir em casa.
Na segunda feira acordamos cedo e o café da manhã já estava servido. Além do arroz carreteiro do jantar, tinha um café reforçado com ovo caipira. Aquele com a gema vermelhinha.
Após o café, a garotada foi andar à cavalo e uma turma voltou para a cachoeira, enquanto outros foram conhecer outras cachoeiras menores da fazenda.
Logo deu a hora do almoço e lá estava outro carneiro e porco assados, acompanhados de feijão tropeiro, arroz e salada à vontade. E tome doce caseiro.
Infelizmente chegou a hora da partida. A volta foi bem mais rápida, pois já conhecíamos o caminho.
Se você tiver interessado e passar um fim de semana agradável como nós passamos, entre no site www.pousadacaninde.com.br, mas antes, veja no céu onde fica o Cruzeiro do Sul.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MARCELINO PIRES, FUNDADOR?

Isaac Duarte de Barros Junior*

Rumando vagarosos para as regiões brasileiras desconhecidas inóspitas, com muitos desses viajantes migrando ainda bem jovens para outros pedaços de chão, diversos foram os valorosos desbravadores, aventureiros e corajosos. A partir da segunda metade do século dezenove, centenas deles viajariam bastante percorrendo os antigos trilheiros, caminhos que lhes conduziriam na longa jornada estafante, até a inexplorada província de Mato Grosso. Um desses aventureiros, naquele século, foi o vaqueiro Marcelino José Pires Martins, nascido no norte paranaense em 1859 num lugarejo denominado Jataizinho da Serra Pequena. Boiadeiro e amansador de cavalos por profissão, ele saiu da sua terra natal para trabalhar com o fazendeiro mineiro Joaquim Tenório Barbosa. Chegou, passado meses, à região de Vista Alegre. Enfrentando várias vicissitudes, fixou-se na zona rural de Maracajú em 1881, onde permaneceu trabalhando alguns anos e ali se casou. Tenório, antigo proprietário rural daquelas paragens, era também o tutor da órfã Eulália Garcia. Com ela Marcelino contraiu matrimonio em 1884 aos 25 anos de idade, a moça só tinha 13. Após o nascimento de sete filhos desse casamento em Maracajú, Marcelino Pires mudou para a Colônia Santa Terezinha, situada no atual município de Itaporã, onde começou imediatamente plantar café. Porém, antes de deixar a velha fazenda Passatempo do patrão Joaquim Barbosa, Marcelino Pires vendeu a metade das terras pertencentes á esposa Eulália Garcia, para o seu irmão Francisco Pires Martins o “Chico Pires” que se mudou para o povoado de São João dos Dourados.
Nesse breve período como vendedor ambulante, Marcelino comprou carreta com uma junta de bois e foi mascatear a domicilio na Serra da Bodoquena. Sabendo da existência do próspero povoado denominado São João dos Dourados, nele adquiriu algumas terras devolutas em 1901 numa área onde hoje está localizado o Parque Alvorada. A posse terminava nas imediações do Colégio estadual Reis Veloso. Daí, a famosa encrenca com o fazendeiro Joaquim Teixeira Alves, que entendia ser parte da sua fazenda Cabeceira Alta adquiridas em 1903, as divisas que começavam no Distrito Industrial e terminavam na atual Praça Antonio João. Nesse tempo, entre 1904 e 1910 Marcelino Pires montou um alambique e vendeu muita cachaça na companhia do genro Albino Torraca. A sociedade da dupla familiar acabou em 1915 quando Marcelino Pires morreu após contrair uma grave doença, cujo tratamento combativo foi realizado pelo seu sobrinho, o médico Dr. Vespasiano Martins, futuro sogro do ex-governador Wilson Barbosa Martins. A filha de Marcelino Pires, Olinda Pires de Almeida, foi casada com um primo da minha mãe por nome Sidinez. Hoje, ambos já são falecidos. Mas essa austera mulher pioneira douradense, um dos seus últimos depoimentos, foi prestado à professora Dra.Maria Goretti Dal Bosco, na presença do filho Ramão. Este era irmão do falecido ex-deputado Edson Pires de Almeida, pois eram dez o numero de filhos, inclusive a caçula Eulália tem o nome da avó. Resolvendo falar a respeito do pai, muito lúcida, disse que “a geada vinha e queimava tudo. Sendo á deixa para virem morar no povoado pequeno, que estava nascendo...”. Então, afinal Marcelino Pires, fundou o que?
Ora, se as terras eram devolutas, naturalmente pertenciam ao estado de Mato Grosso em 1935, inclusive a área do rocio e este na criação do município, comprovadamente foram doadas pelo interventor estadual Mário Correa da Costa. Portanto, nunca existiu nenhum documento de Marcelino Pires e Joaquim Teixeira doando absolutamente nada para neste solo erguer-se um povoado, se existisse, dado a sua importância estaria no museu local. Afinal, quem fundou o município de Dourados?...Teria sido o gaúcho Izidro Pedroso, o primeiro a se fixar com animus domini na zona rural em 1894 na fazenda Lageadinho, proximidades da faculdade de agronomia, onde nasceu Celestina a primeira filha em 1900? Ou seria Januário Pereira de Araújo, ao construir as primeiras cinco casas de alvenaria na zona urbana? Questionamos ainda: teria sido à família Mattos, ao liderar o movimento pró-emancipação?
O fazendeiro Izidro Pedroso era um abolicionista assumido, certamente essa conduta não agradava a sociedade preconceituosa e racista daquela época. O carpinteiro e pedreiro Januário de Araújo foi apenas um humilde construtor de casas na Vila de São João dos Dourados e era avesso á se intrometer em assuntos de política. A inteligente família Mattos, ultimamente, está mais se importando em defender a data precisa da emancipação municipal, da qual foram seus principais artífices. Enquanto prevalece essa estória controvertida, o advogado matogrossense, escritor e historiador Dr. Altair da Costa Dantas, juntamente com o médico douradense Dr. Júlio Capilé, defendem uma respeitável tese, que por discrição prefiro não revelar, mesmo porque comungo do mesmo entendimento. Porém, no momento oportuno, acredito que se esses homens sábios resolverem torná-la conhecida, irá se estabelecer uma grande polemica entre eles e os historiógrafos contumazes modificadores da verdade, uma delas a de criar quilombos.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rio 2016 e Lula lá

Braz Melo (*)

Depois de muita disputa, foi escolhida a cidade do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Pela terceira vez o Rio pleiteava sediar esta honraria, que muitos não acreditavam em seu êxito, já que tentamos em 2004 e 2012.
A decisão foi na cidade de Copenhague, capital da Noruega e estavam na disputa, pelo direito de sediar esta importante Olimpíada as cidades de Tókio, Madri, Chicago e Rio de Janeiro. Pela diferença de fuso horário, muita gente acordou cedo para assistir a festa que foi armada para a escolha da cidade-sede.
Diversas autoridades prestigiaram este evento e a defesa de Chicago ficou pelo seu maior representante, presidente Barack Obama, que além de maior mandatário de seu país, foi em Chicago que iniciou sua vida publica. Todos temiam a força e influência norte-americana, mas foi eliminada na primeira votação.
Na segunda rodada de votação Tókio foi eliminada.
Sobraram então Madri e Rio. A capital da Espanha, Madri, foi defendida pelo Rei Juan Carlos e a defesa do Brasil foi feita pelo presidente Lula que fez um discurso que emocionou não só os brasileiros, mas também a todos os povos que assistiram. Creio que foi uma defesa do projeto mais bem feita, pois além de provar a nossa capacidade de realização deste evento, demonstrou quanto era importante, pela primeira vez, a America do Sul ter uma Olimpíada.
No inicio da tarde, depois de quase dez horas de muita emoção, veio a proclamação do resultado. Rio de Janeiro tinha ganhado a honra de sediar a Olimpíada de 2016.
Não se pode negar do trabalho feito pessoalmente pelo Presidente Lula, que apostou todas as fichas em premiar o Brasil com este evento. Apesar da cidade do Rio de Janeiro ser a escolhida, todo o Brasil ganha com isso. Só um homem que perdeu três eleições seguidas e que acabou se tornando Presidente da Republica, poderia ter esta persistência e determinação.
Não foi à toa que perseguimos esta conquista, que logo depois da Copa do Mundo em 2014, será o maior espetáculo que um povo poderia assistir e também participar. Participar, porque a cidade terá de se preparar, não só com obras e serviços, mas os milhares de voluntários se prepararão com afinco e carinho para receber milhões de pessoas que virão para assistir e cobrir este evento especial.
Serão R$ 29 bilhões investidos em obras para esta Olimpíada, sem contar com os investimentos feitos para a Copa do Mundo de futebol em 2014.
Imagino logo serem criados “pólos de treinamentos” em diversas cidades do país para preparação de atletas em esportes que disputarão nesta Olimpíada. As cidades de Santa Catarina sempre foram campeãs no vôlei feminino e poderão sediar um desses pólos neste esporte. Até nós de Dourados poderemos pleitear um pólo, quem sabe de taekwondo, esporte marcial que já tivemos campeões. A Prefeitura deve ficar em alerta e se colocar a disposição do Comitê Olímpico Brasileiro, pois faltam sete anos para o evento.
Voltando ao trabalho do Lula sobre esta conquista, relembro a estória de que quando Napoleão Bonaparte ia invadir um país, no inicio do século 19, ao escolher seus comandantes dessa batalha, reunia seu Comando Geral e perguntava quem eles indicavam para chefiar aquela contenda. Logo após o Comando ter chegado a uma escolha, lia o seu “curriculum”: General Fulano de Tal, formado com louvor desde a escola primária; primeiro lugar no concurso para oficiais na melhor escola de Paris; ajudou a conquista de diversas batalhas, etc e etc... Depois de toda a leitura de suas habilidades, Napoleão perguntava: E ele tem sorte?
Pois é isso. Tem de ter sorte, pois sem sorte, não dá.
Com estas conquistas da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e com as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, o presidente Lula teve sorte e se prepara substancialmente para ser o primeiro presidente de três mandatos eletivos, com sua volta em 2014.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Susto no Romita

Braz Melo (*)

Lembro que era perto do dia da emancipação de Dourados, 20 de dezembro, no meio da década de 70. Acredito que dia 17 ou 18, quando conversando com o Totó, que era prefeito e resolvemos visitar o nosso amigo Hayel Bon Faker, o Elias em sua loja, a Damasco.
Elias era um libanês que chegou em Dourados na década de 40, comerciante, torcedor do Ubiratan, e que não largava o cigarro, o que fazia de seu bigode ficar russo/amarelado. Casado com Dona Carmelita e pai de uma família numerosa e querida em nossa cidade, dentre eles Dr. Fandi, Ex-Deputado Aniz, Fauze, Amir, Dr. Munir, Amine e Adibe.
Chegando lá e já perto da época de maior venda do ano, o Natal e instigado pelo Elias, resolvemos pregar uma peça em outro amigo nosso, o Romita, que era dono da Insinuante Calçados, que ficava em frente de sua loja.
O Terêncio Romita era um comerciante de nossa cidade. Solteiro e na época já beirando os 60 anos, de descendência grega e que tinha vindo de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado de São Paulo. Os dois foram presidentes da Associação Comercial de Dourados.
Eu trabalhava na Sanemat e estava executando a primeira etapa do esgoto sanitário de Dourados. Todos queriam que fosse ligado esse beneficio na sua casa ou comércio em primeiro lugar e fazíamos o possível para seguir uma seqüência lógica. Já relatei que a primeira ligação foi experimental no Hotel Denise.
Atendendo uma solicitação do Governador José Frajelli, que veio aqui lançar obras e foi convidado para inaugurar o Alfonsus Hotel, foi feita a ligação também deste estabelecimento.
Como disse, era perto do Natal e resolvemos pregar uma peça no Romita, fingindo iniciar as obras na sua quadra naquele dia. Imagina passar o Natal cheio de buracos em frente a sua loja. Trouxemos a retro escavadeira, o caminhão e a turma que estava se encaminhando para outra quadra e mandei fazer tudo como se fosse iniciar a obra. Até pintamos com cal a calçada, para começar a escavação.
De longe assistíamos o coitado do Romita procurando o encarregado da obra, o Nelson, e dizendo que não podiam fazer esta quadra nesta época e perguntava “onde estava o meu irmão Braz”, pois o Nelson tinha dito que só com a ordem do chefe é que poderia mudar de local. Falaram que eu tinha ido para Caarapó e ele quis ir até o ponto de taxi para ir atrás de mim naquela cidade.
Como todos queriam fazer a ligação em suas casas, ele dizia para fazer na quadra da Casa Vitória. Ele abria mão da prioridade.
E nós, escondidos dentro da Casa Damasco morríamos de rir. Que maldade! Hoje fico imaginando que poderíamos ter matado o amigo Romita. Ele poderia ter tido um enfarte, pois já era bem mais velho do que eu.
Depois de muito tempo dei a volta no quarteirão e para surpresa do meu amigo, cheguei por trás dele e perguntei o que estava acontecendo. Quando ele ouviu minha voz, deve ter sentido um alivio imenso e quase chorou ao me pedir para que eu não fizesse aquela quadra, pois ele tinha investido muito com as compras para venda no Natal e se fizéssemos a obra na frente da Insinuante ele teria um prejuízo irreparável. Mandei os funcionários levantarem acampamento e convidei-o para tomar um cafezinho na casa do Elias. Quando chegamos lá, ele começou a desconfiar quando viu o Totó e o Elias morrendo de rir.
Tanto o Romita, como o Elias já partiram. Elias ganhou uma rua, a Hayel Bon Faquer e o Romita homenageei com uma pracinha na Rua Monte Castelo, ao lado da Praça Paraguai.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Prefeito- Cuê

Braz Melo (*)

Dias atrás estive em uma rua da periferia de nossa Dourados que tem o nome de um amigo que já partiu. Teodoro Capilé foi um dos primeiros amigos que tive aqui. Junto com a Ivone, fazia com que sua casa fosse uma extensão da nossa. Sempre alegres, sabiam receber muito bem a quem os procurassem.
Foi com ele que ouvi pela primeira vez e fiquei encantado com suas estórias contadas em guarani. Além de contador de estórias era um feliz por natureza. Era agrimensor, tocava violão e cantava muito bem. E quando juntava com o Renê Miguel era festa para virar a noite.
Dourados nessa época era uma cidade alegre e como a grande maioria das famílias tinha vindo de fora, era fácil fazer amizades. Fazíamos do vizinho nosso irmão. Tínhamos mais tempo para conversar e trocar idéias.
Tem hora que penso que quem veio estragar este jeito tranqüilo de viver foi a tecnologia, principalmente a televisão e mais tarde, o celular, pois hoje além de acreditarmos só no Jornal Nacional, não tiramos o celular do ouvido, mesmo na frente dos outros, fazendo com que a conversa pessoal fique em segundo plano, o que é uma grande falta de educação.
Mas voltando a última Rua do Jardim Pantanal, que os vereadores sabiamente colocaram o nome do Teodoro Capilé, e que me trouxe saudades de meu amigo, posso contar um pouco de como está sendo a nossa vida, agora que somos cuê. Cuê em guarani quer dizer velho, que já foi, e como dizem os mais jovens, que já era. Tradução confirmada pelos meus especialistas em guarani, Sultan Rasslan e Isaac de Barros Junior.
Tem uma regra que aprendi no mundo político que Ministro de Estado sempre será chamado de Ministro. Aquele que já foi Senador, mesmo saindo do cargo, sempre será reconhecido como Senador. E tem gente que teima em me chamar de prefeito. Talvez por costume, mas lembrando meu amigo Teodoro, respondo que sou prefeito- cuê.
Até que tem inúmeras vantagens em ser cuê nessas horas, pois você pode e deve dar idéias, mesmo que não as tenha executado quando no cargo, por falta de tempo ou de recursos. Infeliz é aquele que não quer o melhor para os seus substitutos ou praticante da tática do quanto pior, melhor.
Por isso dou algumas idéias, mas também conto as falhas das minhas administrações, para que os atuais não cometam os mesmos erros novamente. E feliz aquele que, humildemente, sabe receber conselhos dos mais experientes e sofridos. Lembrem que esse é um momento passageiro. E passa rápido.
Tem países, como o Paraguai, que após o Presidente acabar o seu mandato, passa a ser Senador vitalício, pois durante seu período no governo, recebeu tantas informações importantes e até sigilosas, que servem para diversos mandatos futuros. E na democracia, o Senado é o órgão conselheiro dos Presidentes.
Os ex-Presidentes dos Estados Unidos da America desempenham serviços, principalmente diplomáticos, sociais e de aconselhamento aos atuais de maneira constante. O próprio Presidente Obama antes de assumir seu mandato, perguntado se iria conversar com alguém sobre a sua futura administração, declarou que primeiramente conversaria com todos os ex-presidentes, pois a sabedoria dos que já foram era de importância impar.
E feliz aquele que consegue passar por esse período e ter o respeito das pessoas. Resumindo, para ser cuê, como dizia minha avó, precisa comer muito feijão.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma história de amor...

Isaac Duarte de Barros Junior (*)
Nos tempos passados, quando faltava o sal, açúcar, remédio manipulado, tecido para confeccionar roupas do uso diário nas baiúcas comerciais e população para ocupar os espaços vazios em nossa vasta região desabitada, deu-se um idílio de amor que vou contar. Nessa época inocente e audaciosa, o corajoso agricultor mineiro da cidade de Alfenas, de nome João Camilo Martins e sua mulher Ana Ribeiro, colocaram as carretas puxadas por bois mansos na estrada, deixando uma rica região chamada Vista Alegre no povoado de Maracajú, lugar onde moraram algum tempo numa próspera propriedade rural. Porém, foi nessa conhecida localidade bem próxima daqui, que nasceu em 1912 o seresteiro nas horas folgadas de nome Manoel Ribeiro Martins, batizado inicialmente pelos pais com o nome simples de Claudemiro, nome este, transformado depois no seu apelido como todos o conheceram. Estar sempre de bom humor era uma das qualidades desse homem bom, vivendo na sua aconchegante fazenda ou passeando a cavalo pela cidade com um lenço vermelho amarrado no pescoço.
Em setembro de 1921, Claudemiro tinha nove anos de idade, quando chegou por aqui acompanhado dos seus pais e irmãos na boléia de uma carreta. A finalidade de seus genitores viajantes era a de morar no pequeno povoado douradense, numa chácara arrendada. Todavia, no primeiro ano de Claudemiro nestas paragens, acontecimentos nada auspiciosos para um garoto da sua idade, entraram em cena na sua vida, pois o irrequieto menino foi picado por uma cobra venenosa no pé esquerdo, quase morrendo. Sua avó materna a dona Marica, rezou fervorosamente prometendo que mudaria o seu nome para Manoel, santo da sua devoção, caso o neto sobrevivesse ao efeito do poderoso veneno. Sendo costume comum da época, os pais daquele tempo atrasar para registrar seus filhos, quando o cartorário Alberto de Carvalho registrou Claudemiro aos dez anos, já o fez colocando o nome de Manoel na certidão de nascimento.
Campereando gado gordo no pasto das grandes invernadas, marcando reses e apreciando bebida destilada, ele aprendeu a tocar violão com o barbeiro paraguaio Paulino Garcete e se aprimorou no instrumento recebendo aulas de violão do seu austero vizinho Januário de Araújo, pai da formosa Silvia Araújo, primeira paixão platônica do moço Claudemiro. Para ver essa jovem, mesmo que fosse olhando de longe, Claudemiro freqüentava diariamente a casa do mestre Januário, dono de uma olaria próxima da chácara onde ele vivia com seus pais. Como não era correspondido pela moça formosa no plano sentimental, Claudemiro contentou-se em fazer parte de um quinteto musical no qual a bela Silvia tocava violão, fazendo a primeira voz quando cantava. Mas, passada essa fase de paixão juvenil, Claudemiro casou-se com a bela Alice Rosa Light no ano de 1939, que havia conhecido em 1931, com ela, esse pioneiro teve nove filhos.
Esse grupo musical do velho Januário, só tinha outra banda rival nas festanças de aniversários e casamentos. Eram os artistas componentes do trio paraguaio de Marcílio Vargas, rapazes pedreiros de profissão, moradores na Cabeceira Alegre. Com eles tocando ou cantando em muitos bailes de ramadas, noitadas alegres aconteceram nesta cidade no seu começo. Já bem velhinho, lembrando da professorinha Silvia, que mais tarde virou sua fraternal amiga, eu vi uma lágrima furtiva rolar no seu rosto enrugado ao falar dos tempos passados e preferi não fazer quaisquer espécies de comentários sobre o assunto. Porém, se existe alguém vivo, sabendo mais coisas a respeito desse amor não correspondido, se é que o idílio aconteceu realmente, essa pessoa é o médico Dr. Júlio Capilé, lúcida testemunha quase centenária e o maior conhecedor da história antiga local, principalmente a daquela época...

(*) Criminalista e jornalista
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Postos de Saúde- Fechados para almoço.

Braz Melo (*)

O atual prefeito ganhou as eleições com a promessa de melhorar
consideravelmente a saúde de nosso município. Toda a população de
baixa renda via nesse compromisso a “salvação da lavoura”, já que não
é fácil essas famílias terem condições de pagar um plano de saúde
particular. O ”ajuda eu” vinha após a promessa de melhorar o
atendimento nessa área. E muitas pessoas acreditaram nesse
compromisso.
Passado mais de duzentos e cinqüenta dias de sua posse continua o povo
esperando a solução da saúde de Dourados.
Já estamos no terceiro secretário de saúde e por incrível que pareça,
a promessa de funcionar os postos de saúde vinte e quatro horas,
inclusive à noite (sic), ficou para trás e hoje os postos de saúde
municipais de nossa cidade fecham para almoço.
Infelizmente a população necessitada desses atendimentos não pode
ficar doente neste horário, já que das 11 horas até as 13 horas os
postos estão fechados. Imagina uma senhora de idade que está sofrendo
de bronquite, muito comum nesta época do ano e tem de parar a sua
nebulização no meio, pois o posto está na hora de fechar.
Experimenta chegar ao PAM às onze horas da manhã (este não fecha para
almoço), que nesta hora normalmente não tem médico. Só vai chegar o
primeiro quase às duas da tarde. E o paciente tem de ser paciente
mesmo, pois não tem ninguém preparado para atender e tranqüilizar o
doente e seus acompanhantes.
No dia que houve a posse do Clube de Imprensa, o prefeito Ari me
perguntou como tinha conseguido funcionar a saúde na minha época e eu
falei para ele que gastava quase 30 por cento do orçamento municipal
com saúde e por isso conseguimos, naquela época, que as consultas
fossem marcadas pelo telefone.
Falei para ele da necessidade desse serviço tão importante funcionar
durante o almoço e para isso era só trabalhar em escala. Uma turma
entraria às 7 horas e almoçaria às 11. Voltava as 13 e saia às 17
horas. A outra turma entraria às 9 horas e sairia para almoço às 13.
Voltaria as 15 e sairia às 19 horas. Sem gastar mais um tostão
atenderia durante o almoço e até as 7 da noite. Hoje fecha às 5 da
tarde.
Olhando as aplicações do município em saúde nos dois primeiros
trimestres de sua administração, pode se notar que no primeiro
trimestre empenhou-se 14,24 % e no segundo trimestre empenhou-se
22,88%. E a lei obriga gastar (não empenhar) no mínimo 15%. E não é
acumulativo.
A experiência nos ensinou que a formação de médico não aceita chefia,
pois ao operar ele não pode parar para perguntar ao chefe o que deve
fazer.
Outro aprendizado que tivemos é que muitas pessoas vão até ao posto de
saúde por não ter ninguém em casa para conversar. São os viúvos ou
viúvas que perdendo seus companheiros; sua filha indo trabalhar e seus
netos indo para a escola, não têm ninguém para conversar. Vai para o
posto de saúde trocar prosa com os outros pacientes. Muitas vezes, ao
ser bem atendido pelos auxiliares ou enfermeiros, ele melhora.
A saúde pública vem evoluindo de maneira espantosa. Na década de 70 o
médico era fundamental. Depois de décadas, descobriu-se que a
enfermeira era muito importante. Hoje com as doenças novas, como
depressão e doenças psíquicas, é importante a assistente social.
Precisa se investir mais nas assistentes sociais para ter um ótimo
pré-atendimento antes da consulta. Vai ficar mais barato e tenho
certeza que a população vai se sentir mais prestigiado. Boa saúde é a
somatória de serviços que inicia no bom dia do guarda, no sorriso do
funcionário ao fazer a ficha, até chegar ao atendimento médico e
remédios. Tarefa difícil, já que hoje falta até algodão em alguns
postos de saúde.