segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

THOMÁZ LARANJEIRA... COMENDADOR DOS ERVAIS.

Isaac Duarte de Barros Junior*
Ao soarem nas trincheiras mato-grossenses os primeiros toques das estrídulas cornetas militares, anunciando o inicio dos combates na guerra da Tríplice Aliança, os moços Thomáz e Serafim Laranjeira, naturais da província de Santa Catarina, voluntariamente se apresentaram para servirem como soldados. A dupla se incorporou nas forças do Exército Imperial, alistando-se no recrutamento da província do Paraná quando eclodiram as primeiras batalhas. Vieram de muito longe, cavalgando, pois nessa época viviam no Rio Grande do Sul comerciando animais na cidade de Santa Maria do Monte. Serafim, ao terminar os conflitos bélicos, recebeu as divisas de sargento, voltando para sua casa no sul. Thomáz Laranjeira, aventureiro, se estabeleceu como próspero comerciante na cidade paraguaia de Concepción, ocupada pelas tropas vencedoras.
Aconteceu que com o término dessa guerra genocida, foi criada uma Comissão Mista de Limites para demarcar as linhas divisórias entre Brasil e Paraguai, sob o comando do coronel engenheiro Rufino Eneas Gustavo Galvão, Visconde de Maracajú. Ao ser investido no cargo, esse oficial convidou o arrojado Thomáz Laranjeira para servir como secretário civil da Comissão. Nesse tempo, o trabalho demarcatório era extremamente difícil e cansativo, acrescido do problema crucial de abastecimento para a tropa. Percebendo essa necessidade alimentar, inteligentemente, após um período breve, Thomáz Laranjeira propôs ao seu comandante deixar o cargo de secretário da Comissão e passar a ser “fornecedor de mantimentos”. Diante daquela enorme disposição incomum, portando uma saúde impressionante e com o aumento dos graves problemas da subsistência, a proposta foi aceita pelo alto comando. No desempenho desse mister, Thomáz Laranjeira descobriria nossos grandes ervais nativos nas bacias dos rios Iguatemi e Amambai.
Como conhecia bem da industrialização e do comércio da exuberante folhagem, notou que o maciço dos ervais com a fixação dos limites internacionais, se achava localizado em território neutro. Essas faixas de florestas verdes, mais tarde se integrariam ao patrimônio nacional pelo tino de ocupação do brasileiro Thomáz Laranjeira. Assim, pelo Decreto n. 8.799 de nove de dezembro de 1882, já comendador, o ex- “fornecedor de mantimentos” conseguiu uma concessão para colher e industrializar a erva mate em Mato Grosso, renovando-a com a proclamação da república. Logo, ele passaria a exportar para a vizinha Argentina, aquilo que ensacado, cientificamente recebeu o nome de ilex paraguaiensis.
Deliberando crescer no mercado do exterior, a Companhia Mate Laranjeira, unificou-se com os exportadores de erva mate, conceituados na Argentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil. A Empresa Francisco Mendes & Cia, foi uma delas. Finalmente, no ano de 1902, em Buenos Aires, sede da Empresa ervateira, a firma Laranjeira Mendes & Cia, iria adquirir todos os bens que antes pertenciam a Companhia Mate Laranjeira. Nessa unificação, como nossa primeira empresa extrativa de erva, a Companhia Mate Laranjeira, chegou a produzir anualmente cinco milhões de quilos de erva mate, possuindo para esses serviços, aproximadamente quatro mil e quinhentos empregados espalhados por diversos países do continente sul americano. Mas, em 1934, se iniciariam profundas modificações administrativas na ervateira que chegou a ter nos seus quadros funcionais, 18 mil trabalhadores e 10 mil dependentes. Hoje, dela, só resta o mburêo nostálgico dos peões, ecoando misturados ao som dos violões no entardecer das recordações.
Triste, é que o ocaso da fabulosa Empresa fundada por Thomáz Laranjeira, já nas mãos da poderosa família Mendes Gonçalves, aconteceu por um ato político do presidente Getúlio Vargas, em 1943. Criando o território federal de Ponta Porã, o grande estadista rescindiu o contrato sexagenário da concessão para extrair erva-mate nativa no Mato Grosso. Assim, o desbravador Thomáz Laranjeira, fundador de Porto Murtinho, Porto Felicidade, Porto Guairá e um dos colonizadores de vilarejos como Dourados no século dezenove, morreria em 1935 aos 96 anos em Porto Alegre, pobre como nasceu. Era então, apenas o dono de uma modesta padaria...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

Um comentário:

  1. Ao caro amigo historiador, creio que lhe faltou informações em seu escrito, pois meu bisavô, Thomaz Laranjeira, veio a falecer no estado do Rio de Janeiro, em 18/12/1911, aos 71 anos, sendo um dos próprios Mendes o declarante de sua morte.
    Abraço, Nina Laranjeira

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