segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CEL. FELICIANO VIEIRA BENEDETTI

Isaac Duarte de Barros Junior*
Na formação da Policia Militar de Mato Grosso, nas primeiras décadas do século vinte, diversos foram os oficiais dessa milícia, que mesmo depois de promovidos hierarquicamente, ainda continuaram sendo lembrados pela população num posto mais antigo apreciado. Alguns acenderam essas graduações na policia militar por atos de bravura, em momentos conturbados dos seus valentes feitos. Muitos desses oficiais serão lembrados dessa forma, porque era no posto militar do oficialato inicial, que geralmente a população identificava um período de suas atividades mais marcantes.
Entre esses militares, estão arquivadas cuidadosamente nos anais castrenses, biografias corajosas como a do coronel PM Feliciano Vieira Benedetti, gaúcho natural do município de São Francisco de Assis. Nesse lugar, Feliciano nasceu em nove de junho de 1905. Seus pais, depois de libertos do cativeiro pela Lei Áurea, casados foram trabalhar como agregados nas propriedades dos Vargas em São Borja. Lugar, onde Benedetti cresceu e aprendeu cavalgar, nutrindo o gosto belicoso dos estancieiros maragatos sulinos pelas corajosas refregas sangrentas, que tingiram de vermelho as pequenas sangas nos gelados pampas. Feliciano Benedetti chegaria em 1929 nas terras do Mato Grosso. No ano seguinte seria comissionado como segundo tenente da policia militar e nomeado delegado municipal da cidade de Bela Vista pelo coronel Antônio Mena Gonçalves, interventor federal.
Em 1931, respeitado e temido pelos quadrilheiros ladrões de gado, era confirmado no cargo de Delegado Regional no sul do estado, sendo transferido para Dourados como habilidoso “chefe da captura” determinado a prender bandoleiros. Severo e disciplinado, em quinze meses de serviços na região, merecidamente havia se tornando homem de confiança das autoridades superiores, capturando perigosos quadrilheiros, colocando finalmente ordem na explosiva fronteira. Como ninguém é completamente perfeito, logo o delegado Benedetti se desentenderia com dirigentes partidários governamentais, mudando-se em 1932 para a cidade de São Paulo. Na capital paulista, o militar aderiu e lutou ao lado das forças constitucionalistas, comandadas pelo general Bertoldo Klinger. Derrotado pelas forças da ditadura varguista, asilou-se no posto de major em 1934 na vizinha Bolívia, pois no Paraguai era odiado mortalmente pelos delinqüentes de então, devido a sua atuação anterior decisiva no combate ao crime organizado na região de fronteira.
Voltou para Dourados em 1935, no momento exato em que a família Mattos comandava o movimento pró-emancipação, aderindo à cívica iniciativa. Nesse mesmo ano, se casou com Olívia Brum. Em 1937, era nomeado tenente-coronel e delegado de policia em Cuiabá, pelo interventor Mário Correa da Costa, fixando sua residência na capital. Porém, genioso, novamente se desentendeu com assessores governamentais, voltando para o Rio Grande do Sul. Regressou ao Mato Grosso em 1940, escolhendo para residir o Distrito de Palmeiras no município de Nioaque. No ano de 1947, requereu do governo de Mato Grosso, uma gleba de terras devolutas no Distrito de Caarapó, onde montou a fazenda “Cuiabazinho”. Passado algum tempo, no ano de 1952, o coronel Feliciano Vieira Benedetti assumiria a função de Delegado de Policia douradense. Permaneceria nessa condição policial, até exonerar-se do cargo em 1953. Naquele ano, por motivos desconhecidos, matou um conhecido produtor rural, no interior do bar Pingüim em Dourados, diante de vários espantados freqüentadores do local.
Após esse trágico duelo ocorrido, seus inusitados contatos políticos se deram reservadamente na clausura cautelosa da sua residência, porque nela recebia seletos amigos trabalhistas como o compadre Antonio Emilio de Figueiredo, seu afilhado Harrison Figueiredo e o comerciante Joel Saburá, ex-vice prefeito de Dourados. Entretanto, manter essas velhas amizades causaria problemas entre o velho coronel reformado e os revolucionários udenistas da cidade. Pois, no golpe militar em 31 de março de 1964, se daria á única prisão do gaúcho Feliciano Vieira Benedetti, solto imediatamente por determinação do coronel de exército Leodovico de Barros Lima, que considerou o ato desnecessário e arbitrário. A historiógrafa douradense, Suzana Arakaki, é quem melhor relata as cenas nada convencionais daquelas prisões políticas nesses tempos idos. Quando faleceu, foi enterrado no cemitério Santo Antonio, sem honras militares, conforme pedido feito para sua única filha, a veterinária e professora Dra. Clori Benedetti...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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