sábado, 27 de fevereiro de 2010

JUVENTUDE INOCENTE...

*Isaac Duarte de Barros Junior
Nos falados anos sessenta, havia um procedimento social diferenciado na conduta e no estilo de vida dos mancebos douradenses, que em nada se assemelhava ao comportamento moderno da juventude atual. Divididos em pequenas turminhas, denominação achegada das chamadas patotas, essas rodas de amigos inseparáveis nas festas, se divertiam muito durante as reuniões sociais daqueles tempos, indo dançar no único Clube Social, antes assistindo um bom filme no Cine Ouro Verde. Irrequietos, os filhos de paraguaios, naquela época, nunca participavam das mesmas badaladas festinhas no centro. Isso, até que brasiguaios educados como Leonidas Além e Ladislau Aguilera, demovessem seus iguais de agirem ao contrário, acabando com as complexas diferenças sociais. Conversando bastante sem a presença de psicólogos que nem existiam, dezenas de jovens irônicos pressurosos da colônia paraguaia, na sua maioria residindo no Jardim Itália, um loteamento idealizado pelo engenheiro italiano Vitório Fedrizzi, foram convencidos a se aproximar.
Os nisseis dessa juventude, mais taciturnos, exceto os componentes das famílias Iguma, Miguita, Doko, Yamachita, Takimoto e outras que não me lembro, evitavam participar dos encontros sociais fora das dependências do Clube Nipônico, ou num campo de beisebol erguido na Cabeceira Alegre, onde o atleta Konio Misushima, com suas tacadas esplendidas, empolgava a assistência na torcida. Já os rapazes de origem árabe, comerciantes recém chegados emigrantes dos seus países de origem, gostando tradicionalmente de mastigar alho e cebola crua, tornavam-se pessoas difíceis de incluir nos congraçamentos da juventude, acredito por se expressarem muito mal na língua portuguesa. Além disso, quase sempre nas tentativas de namorar, eram evitados pelas moças púberes nativas.
Suas futuras namoradas e esposas, geralmente, chegavam prometidas em acordos prévios, costume nas arábias, que surpreendia a todos os moradores locais pela grande beleza das mulheres, quando chegavam casadas procedentes do Oriente Médio, adotando Dourados para criarem seus filhos e viver aqui o resto da vida. O moço Zaki Gebara e seu irmão Osman, ainda sonhavam nessa década, achar um local melhor situado, para construírem nele uma mesquita mulçumana. Nas conversas informais que mantinham com o arrebatado prefeito Napoleão Francisco de Souza, um católico praticante, este ficava arredio na posição se devia colaborar ou não. Então, estourou a revolução de trinta e um de março no ano de sessenta e quatro, com regras fiscalizadas sistematicamente pelo brioso subtenente PM Hermógenes, proibindo os pacatos populares de fazerem quaisquer tipos de reuniões, juntando numero superior a dez pessoas. Na Praça Municipal Antonio João, os moços que costumavam se reunir no local à noite, contrariados, usando da condição financeira, passaram a freqüentar forçosamente divididos, os bares Lucchesi, Pingüim e Galo Fino. A dupla, Milionário e José Rico davam canja neste ultimo, porque ainda eram desconhecidos e pobres. Ali também, um gaiteiro de Maracajú de apelido Zé Correa, dedilhava com o Didi.
Nesse período temporal que longe vai à noção, no Ginásio Estadual Presidente Vargas, dirigido pelo professor Celso Amaral e nos bancos escolares do Ginásio Osvaldo Cruz, propriedade do professor paraibano José Pereira Lins, os dois educandários de ensino secundário começavam a delinear os futuros doutores da terra. Alguns, depois de concluírem seu curso científico, prosseguiram estudos nas regiões brasileiras sul e sudeste, prestando vestibulares concorridos e ingressando a seguir nas faculdades de renome. Jadir de Mattos e Walmir Pedroso seriam os nossos primeiros douradenses a formarem-se médicos. Cláudio Iguma e Lauro Machado, presidente da Casa do Estudante em Curitiba, escolheram serem advogados. Alisson Gordim colaria grau em medicina veterinária, enquanto outros estudantes adotados, unidos aos aqui nascidos como a Elizabeth Rocha, se tornavam farmacêuticos e professores.
Interessante, observando o lado positivo nessa geração cheia de idealismo, foi á inexistência do pernóstico alcoolismo e da comentada violência hoje praticada nas salas de aula e nos clubes recreativos. Dependências químicas nos corredores dessas escolas de ensino superior, nem pensar naqueles tempos. Afinal, aquela cabocla geração moça, foi bem mais sequiosa do saber em minha opinião, respeitando os seus mestres no trabalho ou fora dele. Nas universidades dessa sociedade do passado, pensando refletidamente, sentia-se sem dúvida, presente o espírito acadêmico nos alunos. E efetivamente, quanto mais o tempo se distancia daqueles anos sessenta do século vinte, mais envelhece na minha saudade, as memórias dessa juventude pura e inocente...
*advogado criminalista, jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

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