segunda-feira, 29 de junho de 2009

LA CHIQUITITA...

Isaac Duarte de Barros Junior *

No interior do meu velho Mato Grosso, nas cidades de pequeno porte, como foram estas plagas douradenses no começo dos anos sessenta, já expandia-nos em todos os setores. Apesar disso, as nossas promissoras raízes desenvolvimentistas ainda dependiam exclusivamente das riquezas extraídas do campo. Através da monocultura, em propriedades mais prósperas, não faltava o trabalho honesto para um agregado sustentar seus familiares. Esse crescimento tornava-se irreversível, na medida em que aumentava o volume dos profissionais liberais se fixando na condição de residentes.
Enquanto isso acontecia, imediatamente, para confirmarem as suas intenções de que iam permanecer morando na comunidade, seus filhos eram matriculados nas nossas escolas públicas como o Grupo Escolar Joaquim Murtinho, ou nas particulares como o Erasmo Braga, dos presbiterianos, o Patronato de Menores das freiras franciscanas e na Princesa Isabel, do batista professor Lins. Nesse tempo, o então jovem deputado estadual Weimar G. Torres, não media esforços criando na Assembléia Legislativa em Cuiabá, meios para aumentar o maior número possível de escolas estaduais em Dourados. Esse procedimento do parlamentar, voltado exaustivamente para a educação, resultava por sempre haver muitas vagas escolares para os estudantes que quisessem adquirir maior cultura.
Sem variadas distrações, os donos de circos viveram o seu apogeu preferencial, como foi o caso do palhaço pastachuta. Nele, seus artistas se apresentavam esporadicamente num quarteirão devidamente alugado, onde montavam alambrados e erguiam uma imensa lona. Costumeiramente, esses nômades saltimbancos perambulavam pelas pequenas cidades, atraindo um grande público. Os freqüentadores mais abastados, geralmente assistiam aos espetáculos circenses confortavelmente acomodados em camarotes, ou nas cadeiras numeradas. Porém, a maioria da platéia presente, se acomodava nas populares arquibancadas. Nesse ínterim, os garotos vendedores de pipoca e pirulitos, aproveitavam à multidão ali reunida para venderem as suas iguarias. A freguesia ocasional, não dispensava os deliciosos sorvetes e os gelados picolés, oferecidos em carrinhos ambulantes.
O cine Santa Rita, único cinema da cidade, de propriedade do empresário Austrilio Ferreira de Souza, era a outra opção noturna permanente dos finais de semana. Esse cinema, exibia filmes em preto e branco, que vinham locados direto da cidade paulista de Botucatú, antes dos irmãos Rosa inaugurarem o cine ouro verde como seu moderno concorrente. No palco desse cine teatro, se apresentaram muitos valores musicais em festivais populares da canção no final dos anos sessenta e essas apresentações de calouros, eram transmitidas pela rádio clube.
Até as atividades anuais do Tribunal do Júri, era um outro local douradense, que atraia os nossos curiosos moradores nos anos sessenta. Esse plenário ficava geralmente lotado de homens e mulheres maiores de dezoito anos, todos querendo saber qual o resultado e o destino do réu em julgamento. Alguns ouviam atentos os debates. Outros, mais afoitos, aplaudiam os acalorados embates entre acusação e defesa, provocando a imediata irritação do Magistrado Ítalo Gioardano Netto, que tinha o estopim bem curto. Quem mais se destacou no plenário forense, nessa década impressionante de mudanças políticas e sociais, foi sem dúvida o jovem advogado criminalista Altair da Costa Dantas. Todavia, uma alternativa de lazer nas noites douradenses, muito procurada pelos moços da época, eram os mal iluminados salões de bilhar, como foi o de sinuca do Arce. Sendo que o mais freqüentado de todos eles, funcionava na esquina da Avenida Marcelino Pires, confluência com a Rua Goiás (atual João Rosa Góes).
Familiares, como os do comerciante Osvaldo Volf, se sobressaiam por serem altos e loiros, sendo curiosamente observados pelos populares por onde passavam devido as características germânicas os diferenciar dos demais moradores. Em assuntos políticos, a ordeira população urbana e rural só se envolvia na época destinada as eleições. Os nossos eleitores caboclos, escolhiam as melhores propostas dos candidatos, nunca as siglas partidárias. As casas, a maioria prédios de madeira cerrada, pintadas com tinta a óleo, davam um colorido acolhedor. E essas propriedades foram erguidas, sem que os seus proprietários derrubassem as árvores centenárias nascidas nos velhos quintais.
Mas quem deu a descrição urbana mais singela e inesquecível dessa Dourados antiga, foi o saudoso barbeiro paraguaio Chamorro. Embora vivesse em território brasileiro há muitos anos, falava sempre em portunhol com sotaque. O velho pioneiro costuma dizer: Eu vivo em una cidade, que sú pueblo es trabalhador e nel futuro quem vivir vá vêr, mi chiquitita cidade será grande, hay solo que saber esperar...
* advogado criminalista,jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com

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