quinta-feira, 11 de junho de 2009

BURBURINHO...

Isaac Duarte de Barros Junior *

O fumo arapiraca, do nordeste brasileiro, chegava em rolos enormes ao mercado de secos e molhados do comerciante paulista Bráulio dos Reis, nos anos cinqüenta, num prédio por ele construído se assemelhando a um enorme galpão de alvenaria na antiga Rua Minas Gerais (João C. Câmara), para ser vendido logo em seguida no seu balcão de madeira. De lá, saiam diariamente, mais nácos cortados para os consumidores de palheiro e naqueadores, que os pacotes de cigarros Continental da Souza Cruz.
Nessa época acaboclada, o povoado douradense começava a ter aspecto de cidade em desenvolvimento, no meio do burburinho crescente dos estabelecimentos iniciais desse gênero. Começava a aparecer na Marcelino Pires, as primeiras sorveterias, como a Solar da Alegria, do Manuel “português” e bares agitados tipo o União, de Inácio do “café”. A segunda guerra tinha terminado há dez anos, o “pai dos pobres” Getúlio Vargas havia se suicidado, enquanto João Ponce de Arruda se preparava para ser o novo governador de Mato Grosso.
Chapéus de marca cury na cabeça, por serem muito usados sob forma de complemento da moda masculina, vendiam-se em grandes quantidades nas lojinhas típicas dos árabes, negociantes austeros do centro douradense, como foram os bem acertados jovens Aniz Rasslen e Ahmad Sater, futuro avô do cantor sertanejo Almir. As maiores autoridades do município no respeitoso conceito popular, reconhecia-se, nas pessoas do juiz de direito, do prefeito municipal, dos delegados da policia em exercício e do clérigo católico vigário da única paróquia existente. Esse destaque religioso dava-se, devido a um dispositivo legal textualmente escrito na constituição federal em vigor. Carta Magna, que tornava essa religião como a oficial do país.
O caminhoneiro Toshinobu Katayama, obeso, disposto, risonho e usando o seu japorguês inconfundível, dedicava-se a transportar no seu gigante importado, sacos de arroz com casca recém colhido, para beneficiá-lo numa máquina instalada próxima ao clube nipônico. Prédio este, anos mais tarde, construído pela colônia do sol nascente, localizando-se na esquina da rua que agora empresta o seu nome. Ali, em cinqüenta e cinco, se aglomeravam trabalhando manualmente o dia inteiro, outras dezenas de japoneses imigrantes. As famílias Doko e Fujinaka, estavam entre esses orientais. Nesse ano, o caminhoneiro Antonio Morais dos Santos, se elegeu prefeito de Dourados, encerrando o ciclo de próceres udenista que ocupariam o casarão da rua João Rosa Góes.
As lavadeiras, mulheres humildes paraguaias e tímidas, que se prontificavam comercialmente a lavar as roupas dos outros moradores na coletividade, carregavam enormes volumes na cabeça, usando os córregos para mergulharem os tecidos sujos. Geralmente, faziam os serviços com eficiência. Nesse pioneiro profissionalismo, empenhadas elas concluíam o trabalho auxiliadas pelas filhas solteiras, que alisavam tudo passando um ferro esquentado por brasas, nas roupas secas. Seus maridos, como não gostavam da agricultura e pecuária, eram pedreiros e carpinteiros.
No mês de junho, os lenheiros nas suas carroças percorrendo a cidade, aproveitavam as festas e vendiam bastante. Era comum, nessa época singular, se acenderem centenas de enormes fogueiras em frente das residências. As algazarras da mocidade, iam pela noite adentro, queimando fogos, tomando-se quentão de gengibre e se a festa junina era no dia dedicado ao santo Antonio, as moças se encarregavam de bancarem as pitonisas. As quiromantes, após as simpatias místicas, diziam que tinham poderes para revelar o nome desconhecido dos maridos. Naturalmente, para as interessadas em se casar. Mas o melhor em cinqüenta e cinco, era não precisar do poder público municipal para festejar o três santos católicos, não haver camelodromos barraqueiros, ou pessoas confundindo festejos do cristianismo, com comercialismo junino. Pensando bem, eu era feliz e não sabia...


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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