quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um pedaço de Dourados no Rio de Janeiro

Braz Melo (*)
Em março de 1958, mudei pro Rio de Janeiro, onde morei boa parte da minha juventude. Estava com onze anos e meu pai vendia letreiros luminosos a neon.
Fomos morar em Botafogo, na Rua São Clemente, 30. Era uma casa de dois andares, onde em baixo era um armarinho do Sr. Tuffí e nos fundos a sua residência. Em cima ele alugava dois apartamentos. No 201 morava uma senhora desquitada, Dona Irene com três filhos e sua irmão solteirona D. Maria. Foi a primeira vez que conheci alguém desquitado, pois em Colatina, de onde vim, não tinha chegado esta moda ainda. Nós morávamos no 202.
Rio de Janeiro... Tudo era novidade. Todo domingo íamos conhecer um lugar da Cidade Maravilhosa. Naquela época era fácil e prazeroso andar no Rio, pois tinha bonde para toda a cidade.
Um dos primeiros passeios foi na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão. Era um passeio pro domingo todo. Além de conhecer o Museu Nacional, lá também ficava o Jardim Zoológico. Levávamos o frango com farofa para fazer o piquenique, como centenas de outras famílias.
Conhecer o Pão de Açúcar... Que maravilha. De casa dava pra ir a pé. Passávamos pelo Clube Guanabara, que mais tarde fiquei sócio. Depois o Iate Clube (Na época um dos clubes mais seletos da cidade). Aí vinha a Universidade Federal, o Instituto Benjamim Constante para cegos e logo estávamos na Praia Vermelha. Lá fica o Pantheon aos Heróis da Guerra do Paraguai, onde tem um monumento contando a epopéia daquela guerra, do escultor Antonio Pinto de Matos. Em cima os dizeres: “Aos Heróis de Laguna e Dourados, a pátria agradecida”. No subterrâneo as criptas com os restos mortais dos heróis. Naquela época, nem imaginava que viria parar aqui. Os douradenses, quando forem ao Rio, devem conhecer este local. Na frente tem o bondinho pra subir pro morro da Urca e de lá pro Pão de Açúcar.
Todo domingo era uma novidade. Corcovado, praia de Copacabana, Aeroporto Santos Dumont. Quantas vezes pegávamos o bonde 21 que era um circular e subia a São Clemente, passando pelas embaixadas, Largo dos Leões, Humaitá, Jardim Botânico (Que paz), Hipódromo da Gávea, Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana e descíamos em frente de casa.
Fomos umas duas vezes em Paquetá. Ilha que fica dentro da baia de Guanabara e que íamos fazer piquenique, andar de bicicletas de dois ou três selins e charrete. O passeio era diferente, pois pegávamos a barca na Praça Quinze e fazíamos uma viagem marítima. No retorno a Praça Quinze, comíamos o delicioso angu do Gomes.
Nesta época, governo de Carlos Lacerda, estava iniciando o aterro do Flamengo e de Botafogo, obra que mudou a cara do Rio de Janeiro.
O Clube de Regatas Guanabara era conhecido por ter uma piscina olímpica que era abastecida pela água do mar, por isso mais leve que as águas das outras piscinas, e que era homologada pela Confederação de Natação. Ali conheci Maria Lenk e Manoel dos Santos, ícones da natação brasileira. Até alguns nadadores argentinos vinham disputar torneios naquela piscina, pensando nos recordes.
Lá na marina do Guanabara conheci Oscarito, o maior comediante do Brasil. E achei-o triste. Acostumado a vê-lo fazer graça no cinema, não imaginava que ele não me fazia rir quando conversava fora da tela. Ainda não tinha idéia que temos momentos diferentes na nossa vida profissional e particular.
Sempre íamos ao Maracanã, mas essa é outra história.

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