quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ESTROPÍCIOS...

Isaac Duarte de Barros Junior*
Quando os nossos primeiros migrantes, tipificados pelos historiadores como desbravadores iniciais, ainda davam diversos apelidos para esta cidade, alguns de modo independente batizaram o nascente promissor vilarejo, alcunhando-o de “patrimônio” ou com nomes de santos do catolicismo. Depois, deram outros apelidos, só que estes em homenagem aos peixes e as matas existentes. Nos seus círculos de amizades, cada qual, chamava a nossa futura cidade de Dourados, da maneira que melhor lhe conviesse e dependendo dos vizinhos, pioneiros que iam chegando, transmitiam o nome adotado na localidade.
Os moradores de Entre Rios (município de Rio Brilhante), terra natal da escritora Ercília Pompeu, chamaram o povoado de Dourados, quando ainda era um aglomerado de pessoas vivendo em ranchos cobertos com sapé, de “Vila das Três Padroeiras”. Marcelino Pires, dizem, ergueu uma enorme cruz de madeira e impôs ao vilarejo o nome de “São João dos Dourados’’. Enquanto que Joaquim Teixeira Alves queria fazer prosperar a denominação destas terras, como as “Matas dos Dourados”. Porém, nenhuma dessas designações historicamente emplacou, exceto aquela que conservou o nome do peixe rei da água doce, nadador no rio do mesmo nome.
O “patrimônio”, de muitos apelidos engraçados, mudava de alcunha dependendo da aceitação ou não dos boiadeiros, porque era essa gente transportando gado a cavalo, quem espalhava os muitos nomes batizados nestas paragens. Foi o caso da “cabeceira alegre”, nome de um pouso das boiadas, que pertenceu ao violeiro Getulio Benevides. Bem como o pouso “curral de arame”, do fazendeiro Antenor Martins. Muitos desses apelidos desapareceram com as mortes dos seus donos, para o desgosto de descendentes desses pioneiros. A esses apelidos, juntaram-se outras tolices, pois hoje temos historiadores desinformados, jurando que o fazendeiro Marcelino Pires, mandou matar seu vizinho Joaquim Teixeira Alves. Como criminalista, dou risadas, porque nunca vi defunto mandar assassinar a ninguém. Documentalmente, depondo lucidamente, Salustiano Carneiro Alves, Filho do capitão Joaquim, esclareceu essa página funesta, dizendo que seu pai foi assassinado em 1920. Ora, Marcelino Pires, o suposto mandante, morreu em 06 de julho de 1915.
Outro estropício, criado por falta de assessoria no Legislativo Municipal, temos como seu autor, um vereador douradense que apresentou e fez aprovar o projeto de lei, inventando um brasão com os dizeres: “Dourados, terra de Antonio João”. Ora, o tenente Antonio João Ribeiro, herói brasileiro, resistiu à invasão paraguaia na antiga Colônia Penzo (no município de Antonio João) e nunca esteve aqui na redondeza e sequer visitou a povoação de Dourados. Que, aliás, nessa época nem existia. Acontece, que o “Forte dos Dourados” era um destacamento militar erguido e queimado pelos paraguaios, a muitas léguas de distancia daqui. Acrescentamos, nestas modestas críticas, a teimosa estupidez da permanência das placas indicativas na Rua Izidoro Pedroso, nome trocado de um pioneiro que foi colocado naquela via erroneamente, porque o tal do Izidoro Pedroso nunca existiu. Agora nessa rua, existe o nome quem não existiu, exceto nas veneras que colocaram, e isto até o município resolver através de algum prefeito mais atencioso, reparar esse ridículo erro do Executivo Municipal.
Todavia, em pleno século vinte e um, os disparates ainda prosseguem normalmente pela urbe, o que ocasionará no futuro, quando a cidade for bem maior, sérias complicações. Principalmente, se continuarem usando tantos nomes errados em se tratando de monumentos, logradouros, ruas e praças públicas. Porque, existe oficialmente em Dourados: o Monumento ao Colono, ao contrário de a “mão do Brás”; Praça Pedro Rigotti e não “redondo da água boa”; Praça Walter Guaritá Marquez, diferente da denominação “praça da bandeira”; E a Rua Coronel Ponciano, jamais foi a “rua do cemitério”. Embora, atualmente, esteja com grandes possibilidades de ficar conhecida como a “rua dos buracos”. Finalmente, é errado chamar a Rodovia Antonio Moreno, de “rodovia do lixão”.
Sei que a antiga ”cidade modelo” do INCRA, repentinamente mais populosa, virou terra de supostos quilombolas. E embora cheia de espaços, na margem das suas rodovias estaduais, bem próximas do centro administrativo municipal, surgem favelas porcalhonas esparramando lixo, com crianças humildes, filhos dos moradores, morrendo atropeladas por caminhoneiros. O nosso Distrito Industrial, desrespeitosamente, exala odor de fezes, carniças e sabe-se lá de mais o que, desafiando o olfato da população e a Secretaria Municipal de Saúde. Desunida, a classe política faz alianças alienígenas, enquanto modernos blogs, informativos virtuais, se alimentam de opiniões medíocres, feitas com empáfia por internautas recalcados. Desprovidos de cultura, muitos confundem a arte de se comunicar, agredindo as autoridades com palavreados chulos e grosseiros. Inclui-se nesse besteirol anônimo, o que a “manezada” pensa respeito dos jornalistas e da imprensa tradicional...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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