quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Precisa-se Engraxate

Braz Melo (*)

João Candido de Souza, o Joãozinho engraxate vai aposentar. Estou preocupado, pois é o único engraxate de nossa cidade. E aqueles que são fregueses dele há bastante tempo, como eu, onde vamos engraxar os sapatos quando isso acontecer?
Lembro que muitos garotos nas décadas de 70 e 80 iniciaram seus serviços engraxando sapatos. Depois escolheram outras profissões. Conheço um pastor, o Pastor Jurandir que engraxou muito sapatos nesta época. Saía do Parque das Nações e vinha até o centro para engraxar os sapatos dos fregueses. Antes disso, o deputado federal Geraldo Resende foi outro que ajudou seus pais no orçamento familiar, engraxando sapato.
Quando fui candidato a prefeito em 1982 fiz um projeto oferecendo a diversos garotos um kit que continha uma caixa de engraxate, escovas e graxas para eles poderem engraxar e ajudarem seus pais como complementação do salário familiar. Todo mês nós dávamos duas latas de graxas. Uma preta e outra marrom.
Não sei se é culpa do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe menor de 16 anos de trabalhar ou se é porque todos querem ser Doutores em Medicina, Engenharia e principalmente em nossa cidade, como Advogados.
Há uma falta muito grande de trabalhadores de nível intermediário e quem presta este serviço são especialistas e também doutores no que fazem.
Tem certas profissões que as pessoas resolveram banir de seus interesses. Como engraxate, ninguém também quer ser barbeiro. Dificilmente você tem a oportunidade de ver um barbeiro novo. Tem muito tempo que não há renovação nessa profissão. Os barbeiros são os mesmos de muitos anos atrás. O engraçado é que renova cabeleireiros, mas o correlato masculino, não. Daqui um tempo não teremos substitutos do Toninho, do Zé dos Artistas, Ademir, Souza, Cabral, Magal, Adauto, Irineu e Seu Lázaro.
Conversando com o Zé Barbeiro, o Zé dos Artistas, ele me disse que dos seis filhos que ele tem, nenhum quis seguir a carreira do pai. Todos fizeram faculdades. Na região do seu salão só tem a barbearia dele e tem nove salões de cabeleireiros. Acredito que daqui um tempo, vamos ter de cortar cabelo com as cabeleireiras Sônia, Bene, Diva, os cabeleireiros Marcos, Alessandro, Vandré e tantos outros profissionais, que hoje nossas mulheres tratam e cortam seus cabelos.
Quando assumi a prefeitura em 1989, tive a idéia de criar no CSU a Universidade da Vida, órgão que dava condições daquele profissional que não teve uma faculdade pudesse se preparar melhor para enfrentar sua profissão. Muitos profissionais fizeram especializações naquele órgão. Teve cursos das mais variadas áreas. Cursos práticos e intensivos. Trazíamos especialistas de fora, como o Maitre Cristofoleti, de Campo Grande para treinar e melhorar os garçons de nossa cidade. Veio aqui umas três vezes ensinar esta bela profissão a três equipes de garçons diferentes.
Também teve cursos para pedreiros se especializarem em concreto aparente e alvenaria de tijolo à vista. Treinaram secretárias e telefonistas, que nem sabiam atender telefones. Motoristas só sabiam guiar o carro. E ser Motorista é saber muito mais que isso.
Nos fins de ano foram oferecidos cursos para empacotador e vendas para o comercio natalino. Teve curso de inseminador artificial, de limpador de piscina e tantos outros.
Infelizmente acabaram com este trabalho feito por nós na prefeitura. Ajudou-me naquele projeto a Eunice Senzack, que era Secretaria de Promoção Social, a Anete pelo Prosocial, o Idenor Machado pela Secretaria de Educação e o Professor Lins como um dos conselheiros.
Se continuasse este projeto, sem duvida, não precisaríamos ler nos jornais de Dourados anúncios insistentes de “Precisa-se Pedreiros”, como vi nos últimos dias. Tanto como engraxates e barbeiros está faltando é quem bota a mão na massa.

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