quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Susto no Romita

Braz Melo (*)

Lembro que era perto do dia da emancipação de Dourados, 20 de dezembro, no meio da década de 70. Acredito que dia 17 ou 18, quando conversando com o Totó, que era prefeito e resolvemos visitar o nosso amigo Hayel Bon Faker, o Elias em sua loja, a Damasco.
Elias era um libanês que chegou em Dourados na década de 40, comerciante, torcedor do Ubiratan, e que não largava o cigarro, o que fazia de seu bigode ficar russo/amarelado. Casado com Dona Carmelita e pai de uma família numerosa e querida em nossa cidade, dentre eles Dr. Fandi, Ex-Deputado Aniz, Fauze, Amir, Dr. Munir, Amine e Adibe.
Chegando lá e já perto da época de maior venda do ano, o Natal e instigado pelo Elias, resolvemos pregar uma peça em outro amigo nosso, o Romita, que era dono da Insinuante Calçados, que ficava em frente de sua loja.
O Terêncio Romita era um comerciante de nossa cidade. Solteiro e na época já beirando os 60 anos, de descendência grega e que tinha vindo de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado de São Paulo. Os dois foram presidentes da Associação Comercial de Dourados.
Eu trabalhava na Sanemat e estava executando a primeira etapa do esgoto sanitário de Dourados. Todos queriam que fosse ligado esse beneficio na sua casa ou comércio em primeiro lugar e fazíamos o possível para seguir uma seqüência lógica. Já relatei que a primeira ligação foi experimental no Hotel Denise.
Atendendo uma solicitação do Governador José Frajelli, que veio aqui lançar obras e foi convidado para inaugurar o Alfonsus Hotel, foi feita a ligação também deste estabelecimento.
Como disse, era perto do Natal e resolvemos pregar uma peça no Romita, fingindo iniciar as obras na sua quadra naquele dia. Imagina passar o Natal cheio de buracos em frente a sua loja. Trouxemos a retro escavadeira, o caminhão e a turma que estava se encaminhando para outra quadra e mandei fazer tudo como se fosse iniciar a obra. Até pintamos com cal a calçada, para começar a escavação.
De longe assistíamos o coitado do Romita procurando o encarregado da obra, o Nelson, e dizendo que não podiam fazer esta quadra nesta época e perguntava “onde estava o meu irmão Braz”, pois o Nelson tinha dito que só com a ordem do chefe é que poderia mudar de local. Falaram que eu tinha ido para Caarapó e ele quis ir até o ponto de taxi para ir atrás de mim naquela cidade.
Como todos queriam fazer a ligação em suas casas, ele dizia para fazer na quadra da Casa Vitória. Ele abria mão da prioridade.
E nós, escondidos dentro da Casa Damasco morríamos de rir. Que maldade! Hoje fico imaginando que poderíamos ter matado o amigo Romita. Ele poderia ter tido um enfarte, pois já era bem mais velho do que eu.
Depois de muito tempo dei a volta no quarteirão e para surpresa do meu amigo, cheguei por trás dele e perguntei o que estava acontecendo. Quando ele ouviu minha voz, deve ter sentido um alivio imenso e quase chorou ao me pedir para que eu não fizesse aquela quadra, pois ele tinha investido muito com as compras para venda no Natal e se fizéssemos a obra na frente da Insinuante ele teria um prejuízo irreparável. Mandei os funcionários levantarem acampamento e convidei-o para tomar um cafezinho na casa do Elias. Quando chegamos lá, ele começou a desconfiar quando viu o Totó e o Elias morrendo de rir.
Tanto o Romita, como o Elias já partiram. Elias ganhou uma rua, a Hayel Bon Faquer e o Romita homenageei com uma pracinha na Rua Monte Castelo, ao lado da Praça Paraguai.

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