domingo, 25 de outubro de 2009

VELHO MAJOR CAPILÉ

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitas pessoas de saudosas lembranças ajudaram a colocar Dourados no mapa do velho Mato Grosso, trabalhando e emprestando as suas operosas presenças ao surgimento, lembranças hoje memoráveis que descansam em paz no passado. Uma dessas lembranças é a de Manoel Pompeu Capilé, filho do paulista Antonio Pompeu, que se casou com uma judia residente na terra dos bandeirantes, chamada Sara. Esse desbravador, descendente de emboabas, foi trabalhar na região de Castro, interior do Paraná, quando inventou um medicamento para curar infecções. Essa dosagem, misturada com xarope de avenca, cientificamente conhecido por adiantum capillus veneris, ganhou na linguagem popular das ruas do século dezenove, o apelido de capilé.
Algumas vezes, diziam as pessoas dessa época, que o interessante medicamento funcionava como uma espécie de antiinflamatório no sangue, se acompanhado com cachaça. Os moradores de São José da Boa Vista, considerando a fórmula do remédio, passaram a chamar o alquimista de Antonio Pompeu do capilé, alcunha que ele incorporou ao seu sobrenome. Assim, quando Manoel, seu primogênito nasceu, na pia batismal também nascia oficialmente o primeiro Capilé. Nesse estado das araucárias, ele cresceu, casou, nasceram-lhe seis filhos e foi onde recebeu a patente de major da guarda nacional. Na metade do ano de 1912, o major Capilé em companhia da esposa Genoveva, num cruzamento das futuras Ruas Marcelino Pires e Presidente Vargas, instalou-se numa chácara como o mais novo morador, montando uma loja comercial. Que a bem de estabelecer a verdade, foi inclusive á primeira farmácia douradense.
Nessa rudimentar botica, o farmacêutico Major Capilé, manipulava de maneira inteligente os seus medicamentos, destinados ao tratamento das doenças conhecidas e desconhecidas, porque em Dourados não existiam médicos. Essas dificuldades obrigavam Manoel Pompeu Capilé, por vezes, durante o tratamento dos pacientes, a permanecer nas residências dos mesmos fazendo companhia para aqueles doentes terminais. Outras ocasiões, simplesmente os acomodavam franciscanamente em pequenos quartos da sua própria casa, de onde o enfermo se retirava somente depois de estar razoavelmente curado. Uma outra abnegada prestação de serviços do Major Capilé para a coletividade, era feita quando ele como dentista prático extraía dentes infeccionados, sem anestesia. Quem o procurava, iniciava o tratamento dentário com uma boa conversa, onde nos intervalos Capilé servia embriagantes “goles de pinga” e quando o paciente relaxava da tensão, colocava-o a seguir numa cadeira de madeira, entrando com o boticão em ação. Esses pacientes ficavam curados das dores, mas curtiam uma boa ressaca antes de deixarem aquele tradicional consultório improvisado.
Homem socialmente ativo associou-se a Januário Pereira de Araújo, construtor e músico, organizando o primeiro salão de bailes e outros eventos em um anexo da sua residência. Na família Capilé, surgiriam muitos músicos, dentre eles, com grandes dotes artísticos para tocar violão e cantar, se destacou Teodoro Capilé. Participando do processo inicial de urbanização do povoado douradense, o major Capilé comungava com O Dr. Vlademiro Muller do Amaral, do planejamento urbano de se abrir e espalhar ruas com quarenta metros de largura, pelo pequeno vilarejo.
Politicamente relembrando o passado genealógico, destacaram-se nessa família, seu neto escritor João Augusto Capilé Junior, o “sinjão”, que foi prefeito de Dourados na década de quarenta. Seguindo os passos profissionais do avô, ligado à saúde, destacamos outro neto, que além de escritor, foi pracinha brasileiro na ll guerra mundial, citamos de maneira carinhosa o médico e historiador, Dr. Júlio Capilé. Porém, acredito que seriam os maiores portadores de seu encantado humor, seu neto e chará, o engenheiro civii Dr. Manoel Capilé e o bisneto, meu colega de profissão e de curso primário, Dr. Osmar Milan Capilé. Os três netos do Major Capilé aqui lembrados, são alguns dos dezenove filhos de seu filho João Augusto com Júlia Frost, irmã do fotografo pioneiro Raul, autor de uma foto histórica tirada em 20 de dezembro de 1935, na emancipação do município.
O velho major Capilé faleceu no ano de 1944, e possivelmente tinha 90 anos de idade no dia do seu passamento. Todos os douradenses que o conheceram em vida, teriam ficado uma noite inteira num enorme salão de sua propriedade, velando, orando e prestando homenagens ao ilustre pioneiro douradense morto. Só não estiveram presentes naquelas exéquias concorridas, seu filho Dr. Júlio Capilé, com alguns de meus familiares e outros rapazes, porque os jovens como pracinhas da FEB, estavam combatendo o nazi-facismo nos distantes frios campos da Itália. Merecidamente, por iniciativa do legislativo municipal, encontramos o nome do major Manoel Pompeu Capilé, agora imortalizado em uma das principais artérias centrais da cidade de Dourados...


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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