domingo, 26 de julho de 2009

O PRIMEIRO REPÓRTER...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Como de costume, levantei-me muito cedo nesta quinta feira passada e em seguida li rapidamente os dois jornais diários da cidade. Na primeira página de um deles, me deparei com a foto e um texto discreto, dando conta que o jornalista Theodorico Luiz Viegas criador do primeiro jornal a circular diariamente em nossa cidade, havia falecido após uma prolongada enfermidade e que seu corpo estava sendo velado na Câmara Municipal. Querendo prestar as minhas homenagens póstumas ao veterano comunicador, filho de uma família pioneira, fui ao seu funeral. O primeiro jornalista que encontrei no local, foi o João Carlos Torraca e sua esposa a minha prima Jussara. Aquele dia estava muito frio e chuvoso. E permaneceu assim, enquanto eu me deslocava debaixo de uma garoa fina em direção ao lugar estabelecido para as exéquias, destinado as últimas homenagens ao primeiro repórter nativo de Dourados. No trajeto vagaroso, os meus pensamentos voaram para o final dos anos sessenta, aos velhos tempos em que o jornal a Folha de Dourados e a sede dos serviços de alto-falantes do Theodorico, funcionavam num prédio hoje modificado, localizado numa esquina na Avenida Marcelino Pires.
O agora velho repórter falecido era um autodidata dessa época, mas foi daqueles primeiros homens douradenses, nascido na Cabeceira Alegre, a militar na comunicação escrita. Alguém e com quem, eu gostava de conversar sobre assuntos diversos no período das férias escolares. Ademais, foi um moço considerado de confiança, encarregado nos anos cinqüenta pelo jornalista e advogado Dr. Weimar G. Torres, para escrever no seu jornal “o progresso”, qualquer assunto a respeito de acontecimentos fúnebres e os considerados delicados quando se tratava de política. Ainda guardo comigo, um artigo que o Theodorico Viegas reportou quando meu avô materno faleceu na metade do século vinte. Para quebrar a tristeza típica, contei para os filhos do jornalista sobre um texto meu, que ele rasgou três vezes até eu melhorar o conteúdo.
Ele foi um jornalista sem muitas posses, por isso nunca conseguiu implantar a sua emissora de rádio e tv, embora tivesse ganhado uma concessão para tanto do governo federal. Em sua oficina de serviço ou na redação, trabalhava um adolescente inteligente e agitado chamado Valfrido Silva, manipulando um componedor. O Theodorico, como só ele sabia ser com os colaboradores do seu jornal, certo dia me encarregou de escrever para a Folha de Dourados, um artigo despretensioso a respeito da necessidade de se pintar o prédio da antiga prefeitura. Eu estava pensando num titulo para a matéria, quando o Valfrido sugeriu: “casarão da rua João Rosa Góes”, na hora aprovei a sugestão. O Theodorico, nunca ficou sabendo, o nome do verdadeiro autor do rótulo que virou voga. Aliás, esse rapaz criado na mesma Cabeceira Alegre como eu, foi o criador do conhecido jargão: “na grande Dourados...” que inaugurei nos microfones da rádio clube num programa noturno. Depois, essa frase virou a maneira costumeira dos radialistas localizarem as cidades integradas no contexto geográfico da nossa região. Isto tudo aconteceu, porque o prefeito João Totó Câmara gostou da ênfase referencial e assim estimulou o nascimento da sigla Prodegran (projeto de desenvolvimento da região da grande Dourados).
Olhava ainda aquele corpo inerte, quando se achegou perto do caixão o empresário Alkindar Rocha, membro de tradicional família, comerciante em nossa cidade e contemporâneo do falecido. Com seu espírito brincalhão indomável, mais para afastar a tristeza, falamos do mundo na forma que era por nós conhecido, o qual estava morto como o Theodorico. Concordei com a colocação inconformada desse amigo, ao lembrar dentre outros detalhes, dos lambaris que eu pescava na “mina” da sua antiga serraria. Inclusive do meu primo Harrisson, seu compadre, a quem o Alkindar chamava pelo apelido de “jibóia”. Assim, saí dali disposto a escrever, falando daquele velório do Theodorico Luiz Viegas. Só que este seria um texto, o qual, infelizmente, esse repórter não poderia revisar como adiantei consternado ao jornalista José Henrique, atual diretor do jornal que o falecido fundou...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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