quinta-feira, 30 de julho de 2009

FAZENDA COQUEIRO...

Isaac Duarte de Barros Junior*
Na sede da antiga fazenda Coqueiro, ao lado do cemitério Santo Antonio, foi construído no estilo sulino a pedido do seu proprietário, um enorme casarão para abrigar a família Pedroso. A matriarca Benedita de Souza Pedroso cozinhou por meses para os carpinteiros daquele que seria o pai do fazendeiro Estevão Minhos, o encorpado e robusto senhor Barnabé. Esse homem foi o encarregado da obra, incluindo um alambique e a roda do enorme monjolo. Gaúcho de nascimento, Barnabé Minhos havia chegado de carreta em 1906 nas terras douradenses.
Onde hoje está erguido o prédio da prefeitura e o estádio municipal, no bairro Izidro Pedroso, tinha um enorme guaviral, lugar escolhido pelos primeiros moradores do povoado para se reunirem aos domingos, com o consentimento do hospitaleiro jovem Izidro. As mulheres, arrastando vestidos longos, usando lenços enrolados nas cabeças, iam catar as frutinhas nativas. Enquanto os homens, maridos e namorados, preparavam um churrasco na brasa, usando a sombra de alguma guajuvira, árvore hoje em extinção.
Nessa grande propriedade rural, adquirida por Izidro, dos herdeiros de Joaquim Teixeira Alves, nas primeiras décadas do século vinte, criava-se gado de engorda que eram vendidos para a Companhia Mate Laranjeira, graças a um contrato verbal firmado entre o argentino Thomaz Laranjeira e seu protegido, o gaúcho Izidro Pedroso, adolescente que o acompanhou em 1884 na expedição pioneira aos campos de Bela Vista. Ali, in loco, o ex-padeiro Thomaz, combatente da campanha do Paraguai como voluntário da Pátria, buscava conhecer o potencial dos ervais que pretendia explorar. Esse estrangeiro, empreendedor, foi quem ensinou Izidro Pedroso a falar o castelhano corretamente. Na fazenda Coqueiro,desse gaucho, havia uma enorme mangueira para guardar o repouso das boiadas no período noturno, antes delas seguirem para a região de Caarapó, além do que, ali se criavam milhares de cabeças de bois.
Sendo uma vasta propriedade, cercada de matas desde a Cabeceira Alegre, que depois virou o primeiro bairro da cidade, dela em certa ocasião desapareceram cento e vinte e uma novilhas no ponto de abate. Mas graças a uma vidente paraguaia de nome Maria Emília, Izidro Pedroso as localizou numa mata fechada. Por essa razão, num símbolo de agradecimento o jovem fazendeiro a presenteou com um gramofone e discos de vinil da casa Edson do Rio de Janeiro. E sempre que lhe sobrava algum tempo, o guasca de mais de dois metros de altura, encilhava seu cavalo lubuno e ia à casa da pretensa sortiste, só para escutar músicas e tomar chimarrão.
Foi essa mulher, quem também pressagiou as mortes de Julio Pedroso, numa cancha de cavalos e a de Getulio Benevides, violeiro folgazão, fundador da cabeceira alegre, sendo ambos velados nessa fazenda coqueiro. Pois um era o seu filho primogênito e o outro morto, um dos genros.
De algumas estórias repassadas pelo João Vicente Ferreira, que um dia seria o primeiro prefeito douradense, destaco esta entre as misteriosas e interessantes. O João Vicente Ferreira, politizado e social, gostava de fazer visitas aos seus primos Benedita e seu esposo Izidro Pedroso, quando ambos ainda eram residentes na fazenda Coqueiro. Num desses passeios a cavalo que fazia, levou consigo o seu pequeno neto Rene Miguel, tabelião recém falecido, quando no caminho de João Vicente, surgiu uma enorme cobra urutu cruzeiro que espantou o petiço do pequenino Rene Miguel.
Graças à intervenção do místico Antonio Emilio de Figueiredo, outro genro de Izidro Pedroso, nada de grave aconteceu, porque o cuiabano Figueiredo, vendo a cena pegou tranquilamente a enorme cobra nos braços, colocou-a no ombro mansamente, afastando-a do local. A propósito, no guaviral da fazenda Coqueiro, nunca nenhum dos visitantes foi picado de cobra peçonhenta, nisso incluindo o gado. Do então histórico episódio sangrento por causa da rixa que existiu entre as famílias Torraca e Palhano, a fazenda Coqueiro num dia de marcação de gado, me contou o seu Pedro Palhano, viu-se envolvida indiretamente na briga.
Naquele lugar, se reunia certa manhã de primavera, um grande número de peões. Alguém resolveu falar desse movimento na fazenda no acampamento policial e o sargento João Côcco, que queria capturar um fugitivo procurado, de nome Galba Palhano, soube pelos delatores que o bandoleiro provavelmente estaria entre os demais peões. O sargento levou a famosa captura sob o seu comando ao local. Lá chegando, mandou “estender linhas”, que significava posição de ataque. Nesse exato momento, Izidro Pedroso, a cavalo, colocou-se diante da tropa convidando-os para almoçarem na sua fazenda Coqueiro.
Essa atitude gauchesca surpreendente do ex-maragato, agora fazendeiro abastado, desarmou completamente o instinto belicoso da tropa policial, que esfomeados aceitaram o apetitoso e cheiroso convite. Enquanto isso, o Galba Palhano, esperto e ligeiro, fugiu a galope na direção do Porto Cambira, onde morreria tempos depois numa troca de tiros, acompanhado de mais seis companheiros. O fazendeiro Silvano Olidio, trouxe os corpos ensangüentados empilhados numa carroça, passando pela sede da fazenda coqueiro onde almoçou, antes de descarregar a funesta pilha no povoado, na casa do delegado da época...

*advogado criminalista, jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

Um comentário:

  1. Tenho orgulho de fazer parte da familia pedroso. Meu nome é anderson pedroso, neto do Olivio Pedroso. Adoro ouvir as histórias que meu avó conta da vida do finado tataravó Izidro Pedroso. andersoncaceres1@hotmail.com

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