terça-feira, 19 de maio de 2009

QUILOMBO?...

Isaac Duarte de Barros Junior *

Os aventureiros desbravadores oriundos de diversas regiões brasileiras, inclusive do exterior, foram alcunhados na linguagem dos costumes quando aqui desembarcaram, de forasteiros, pelos nativos há cinqüenta anos antes já assentados. Esses povoadores iniciais, principalmente os do período precursor ao desenvolvimento da Vila de Dourados, chegavam no fulgor da juventude, cheios de sonhos ambiciosos. Aqueles que lhes sucederam e ajudaram nessa empreitada de ocupação, foram apelidados de colonos e os antigos nativos grileiros, na maioria ex-combatentes da guerra do Paraguai, foram tipificados como os pioneiros. Cada um desses grupos, aqui chegou para viver e morar, formados de pessoas esperançosas e sonhadoras. A maioria desempenhou bem os serviços simplórios de arar, como renomados trabalhadores braçais. Todos esses indivíduos, homens e mulheres, em suas respectivas épocas fixaram com suor do rosto e labuta diária, o seu lugar de destaque na história sul-mato-grossense e regional.
Antropologicamente, comentando essas efemérides douradenses, impõem-se sob o angulo apurador da verdade histórica, esclarecer alguns dos aspectos factuais inventados de haverem acontecido durante o desbravamento em detrimento dos acontecimentos reais, estes modificados maldosamente e fomentados por ONGS oportunistas desencontradas da história local. Sem usar das malévolas utopias e estórias forjadas ultimamente pela alquimia maquiavélica nos gabinetes políticos, ocupados neste momento por outros forasteiros, ironicamente investidos nos cargos pelo voto popular, precisamos restabelecer o curso da verdade. Basta de iniciativas como estas que estão se tornando comuns na região, grassando com danosas dúvidas históricas os parcos conhecimentos dos habitantes migrantes, jocosamente qualificados de serem os menos informados e de fácil indução.
Como exemplos, dessas useiras bobagens criadas possivelmente por ONGS, geraram e esparramaram a famigerada notícia da suposta existência, em tempos idos no distrito da Picadinha, de escravos do regime malacafento que espancava seres humanos através de feitores, caçando-os como se fossem animais fugidos, auxiliados pelos conhecidos capitães do mato. Apurando-se a verdade na plenitude, nunca se soube que estas paragens abrigassem tal horror ou mesmo uma senzala, a useira vergonha amaldiçoada do século dezenove que manchou a biografia do império brasileiro. Primeiro, porque o Paraguai foi o único país sul americano a não ter escravos, e até o dia 1 de março de 1870, estas divisas nacionais não pertenciam ao território do Brasil. Assim sendo, este pedaço de solo que hoje habitamos, eram terras paraguaias.
Quanto aos negros “voluntários da pátria”, terminada essa guerra genocida sul americana, na condição de heróis, todos os negros guerreiros foram alforriados. Libertos, por força de lei escrita, esses soldados da cor do ébano retornaram das sangrentas batalhas travadas em solo guarani, como ex-combatentes e vencedores. Alguns desses bravos permaneceram morando por aqui, se casaram e tiveram filhos. Ora, se na época da escravidão não havia negros fugitivos nesta região mato-grossense, como se explica a besteirol impertinente dos quilombolas na Picadinha?
Afrodescendentes, pasmem os críticos e leitores, recentemente iniciaram um movimento quilombeiro nessa localidade, colidindo com provas documentais arquivadas e fatos incontestes pesquisados pelo Instituto Histórico sul-matogrossense. Praticaram, com essas irresponsabilidades impetuosas, sem tomarem as devidas cautelas salutares de apuração da real e verdadeira história dessa época, deturpações significativas dos acontecimentos regionais datados desde a abertura do século passado. Fez-se nesse gesto absurdo, de preservar um suposto quilombo, fossem verdadeiros o fato de ter ele existido, uma justa tentativa. Acredito até compreensível, analisando os interesses dos seus autores.
Porém, quero crer, fazendo esse empreendimento impulsivo, praticaram uma violência imerecida, porque é o que desastrosamente estão fazendo com a memória de um dos maiores amigos negros de meu abolicionista avo materno Izidro Pedroso, in casu, o negro tropeiro analfabeto Desidério Felipe de Oliveira, ou simplesmente “compadre Desidério”, maneira como meu avo o identificava amistosamente, por força de uma afetiva amizade, feita desde a data quando ele passou conduzindo uma boiada pela fazenda lageadinho. Dia também, da sua primeira passagem por Dourados.
Desidério, data vênia, senhores vilipendiadores da história douradense, era um homem livre e honrado e nunca foi escravo de ninguém, assim como a sua digna prole. Desidério Felipe de Oliveira, por direitos documentados cartorialmente em Nioaque e Ponta Porã, adquiriu a sua propriedade na Picadinha usando os meios normais e legais, os utilizados plenamente como faria qualquer cidadão requerente de terras devolutas da república brasileira.Portanto senhores criadores de quilombos, recolham-se a dignidade do silencio e procurem “plantar” quilombos bem longe daqui, mas muito longe mesmo, de preferência nas cidades e regiões de onde alguns dos senhores articuladores desse absurdo vieram...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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