terça-feira, 12 de maio de 2009

BR 163...

Isaac Duarte de Barros Junior *

Imprimindo um passo apressado na cavalgada, esporeando a monta nas ancas e objetivando chegar antes do escurecer ao próspero povoado comercial da paróquia de Entre Rios (Rio Brilhante), era seguindo essa rotina, que os nossos cavaleiros de trote seguro, deram a sua preciosa parcela para o desbravamento regional. Conduzindo cuidadosamente centenas de caravanas e trazendo pessoas procedentes de Campo Grande, eles percorriam a nossa região escoltando passageiros corajosos, enfrentando obstáculos e perigos. Como guias e seguranças, esses homens fizeram o primeiro serviço de vigilância, escoltando gente por muitas léguas, no estradão da terra vermelha batida, um trilheiro traçado desaparecido. Tudo isso aconteceu a mais de um século, quando tropeiros armados, exímios atiradores em feras se necessário, transitaram em lombo de cavalo conduzindo viajantes, na maioria, comerciantes destas plagas.
No começo do século vinte, os inaugurais mercadores da nossa cidade, tinham o costume de partir do centro urbano douradense de madrugada e realizarem compras diversificadas naquela povoação fundada pela férrea vontade do mineiro Antonio Gonçalves Barbosa, o “gato”. O fato desse ato, deu-se mais ou menos por volta do ano de 1835. Embora esse lugarejo modesto fosse considerado distante para os padrões da época, ainda assim, a pequena cidade de Entre Rios foi exaustivamente procurada pelos mascateiros douradenses, pois era considerada uma paragem maior e de comércio abastado em grãos, tecidos e remédios.
Nesse tortuoso caminho, muito antes das máquinas niveladoras abrirem as rodovias em 1950, não havia lugares seguros para serem colocados a disposição dos viajantes e era bastante comum esse percurso estradeiro, ser feito com a duração de um a dois dias. Geograficamente, nos referimos à rodovia BR 163, estrada atualmente considerada como o principal corredor de escoamento dos grãos e da pecuária sulmagrossense. Esse pedaço de rodovia, batizado popularmente como a estrada de Dourados a Rio Brilhante, está bem diferente do longo caminho poeirento daqueles dias. Atualmente, em questão de minutos, completa-se a rota num automóvel. Entretanto, o viajante de outros tempos distantes, só conseguia chegar ao povoado de Entre Rios, depois de transpor enumeras dificuldades naturais, quando então atravessava as densas matas, sulcava rios sem pontes e córregos caudalosos profundos.

Nesse período, o pioneiro cavalgador só chegava ao meio do dia num entreposto comercial nas proximidades da futura Vila Sapé e ali ele desencilhava o cavalo na sombra, ao lado de um coxo preparado e cheio d’ água , onde o animal primordialmente era bem tratado pelo dono. Todavia, somente depois dessa atitude cuidadosa de lida campestre costumeira acontecer, é que o cavaleiro das estradas rústicas, já descansado, ia almoçar tranqüilo numa taberna miscelânea de boteco com pensão. A pior etapa dessa viagem pioneira cansativa, iniciava justamente nas imediações desse lugar ermo. Essa região, era cheia de animais selvagens e foi conhecida como a paragem onde começava o sapezal. Passados muitos anos, ali se ergueram diversos ranchos cobertos de capim sapé, daí o nome da localidade.
Muitos comentários nascidos desse episódio pioneiro, rolados de boca em boca pelos povoadores das vilas daqueles tempos idos, foram misturas de estórias e lendas. Contavam os antigos, que a florescente povoação douradense, foi um dos motivos estagnantes do crescimento populacional no município de Entre Rios, que 1943 passou a ser denominado município de Caiuás. Seu desenvolvimento, só foi retomado novamente pelas autoridades estaduais a partir da primavera de 1948, quando recebeu o nome definitivo de município do Rio Brilhante. Verdadeiras ou não essas estórias antigas, são as que ouvi a respeito do suposto fracionamento urbano e rural da cidade de Entre Rios do Francisco Cardoso. Mas, o certo é, que nesse ínterim vieram morar em Dourados, João Rosa Góes e sua sobrinha nascida naquele povoado em 1919. Trata-se da nossa recém falecida escritora, dona Ercília de Oliveira Pompeu.
Na seqüência desenvolvimentista empreendida pelo governo estadual de Mato Grosso, foi criada a Comarca de Dourados em 1946. Assim, outros dois inesquecíveis filhos de Rio Brilhante, transferiram as suas bancas para a nossa cidade e aqui abriram os seus respectivos escritórios. Desse modo, para sorte dos douradenses, ganhamos do município ainda vizinho nas divisas, os advogados Dr.José Cerveira, que se tornou deputado estadual e prefeito municipal. Incluindo nessa leva de migrantes riobrilhantenses, adotamos o também inesquecível Dr.Ayrton Barboza, nomeado posteriormente promotor de justiça, cargo que ocupou até sofrer um atentado em sua residência, uma casa de madeira que existia na Rua Rio Grande do Sul (Weimar G. Torres).
Diziam as boas línguas desses falecidos falantes pioneiros, que a vinda desses dois grandes homens para Dourados, deu-se graças ao exercício das habilidades políticas progressistas do também advogado Dr. Weimar G. Torres. Se esse fato histórico realmente aconteceu, eu não sei se foi assim mesmo que eles se deram. Certo é, que o Procurador Dr. José Cerveira, entrou para a política do velho Mato Grosso, meio envolvido pelos convites do deputado federal Weimar Torres e quanto ao Dr. Ayrton Barboza, foi um hábil criminalista em vida, inclusive escreveu memoráveis artigos para este jornal, com o qual colaborou desde a sua fundação em 1951...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com

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