quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Gripe me pegou e o dia que resolvi doar meus órgãos.

Braz Melo (*)
Já tínhamos combinado que o aniversario de minha sogra, Dona Teresa, seria comemorado em São Paulo, pois 80 anos deve ser festejado, principalmente com a saúde que ela ostenta. E sabemos que esta idade só se comemora uma vez na vida.
Depois da morte do Seu Casinho, ela tem passado uns tempos com os filhos Amilcar e Domingos em Vitória, com Amilza em São Paulo e a maior parte, conosco aqui em Dourados.
Resolvemos fazer em São Paulo, pois é meio caminho dos parentes que viriam de Vitória e nós de Dourados. A festa foi na casa da irmã mais velha da Anete, Amilza e foi uma beleza. Reunimos uma parte da família lá e juntos com amigos, trocamos recordações e lembranças de há muito tempo.
Saímos de Dourados no dia 13, aproveitando o aniversário da Anete. Fomos de carro e além de Anete e eu, foi a Gisella, Arthur e Dona Teresa. Pena que a Mirella, Ademir e filhos não puderam ir, assim como Mané e Maria Fernanda.
Já estava há uns quinze dias com coriza e o corpo dolorido, aquela “morrinha”, mas como todo brasileiro, achava que nada seria forte que um paracetamol não resolvesse.
Logo depois da festa comecei a sentir um calafrio, que passou para uma febre alta e passei a criar preocupações dos parentes médicos que participaram do encontro. Fui parar no hospital no domingo. Receberam-me muito bem e me viraram de cabeça para baixo. Fizeram todo tipo de exames e claro que em primeiro lugar desconfiaram da gripe H1N1, a gripe suína. Fui medicado inclusive com o Tamiflu, para impedir a transmissão do vírus, caso fosse constatado através dos exames esse diagnóstico, pois os exames demoram.
Na volta para casa da Amilza, ninguém queria se aproximar de mim. Parecia que eu estava com lepra. Acabei passando esta virose para Anete, Amilza e Dona Teresa. Foi um grande estrago. E o engraçado é que mesmo com a propaganda maciça feita pelo governo através da mídia, nós não acreditamos que possa acontecer conosco. Temos de tomar mais cuidado.
Os exames ficaram prontos e não era gripe suína, mas foi uma gripe muito forte, que quase se torna uma pneumonia. Tive de ficar de molho mais de uma semana.
Na viagem de volta, no carro, meu neto Arthur me perguntou se eu doaria meus órgãos após minha morte. O engraçado é que eu nunca tinha pensado seriamente sobre isso. Muitas vezes as crianças nos pegam com cada pergunta que nunca tínhamos pensado. Foi aí que pensei o que de mim serviria para alguém, após minha morte.
O coração daria para quebrar o galho de muita gente, pois além de amoroso tem sofrido muitas emoções e decepções, mas tem demonstrado agüentar firme. Os olhos, apesar de usar óculos desde a faculdade, têm muita gente com hipermetropia maior que a minha. O fígado e os rins dão pro gasto, apesar de que o fígado tem de ser retirado antes da parada cardíaca e isso me trás dúvida. A medula pode retirar a vontade. O pulmão é que está meio congestionado e como os médicos acharam nos exames, anda chiando um pouco e mesmo tendo deixado de fumar há 15 anos, o estrago foi inevitável, pois fumei mais de 25 anos. Acredito que seja melhor deixar o pulmão sem doar.
E o resto do corpo? Se aqui já tiver crematório, preferiria cremar. Se não tiver, façam dele o que acharem melhor, pois o Espírito já entreguei a Deus.

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