domingo, 23 de agosto de 2009

EQUÍVOCO MUNICIPAL

Isaac Duarte de Barros Júnior*

No dia 22 de agosto de 1894, ainda rapazote, Izidro Pedroso de Oliveira, um gaúcho nascido na região missioneira do pampa riograndense, acompanhando o correntino Thomas Laranjeira, pisou pela primeira vez nas terras de Mato Grosso. Na época, antes dessa viagem, ele estava procurando um serviço de domar cavalos, quando o legendário argentino lhe ofereceu um emprego, convidando-o integrar a sua comitiva que rumava para a região de Bela Vista, onde o ex-combatente da guerra do Paraguai pretendia inspecionar parte dos ervais arrendados do governo estadual. O moço de dois metros e oito centímetros, musculoso e da pele queimada pelo sol, se despediu dos companheiros de jornada, logo após a chegada daquela caravana ervateira em solo brasileiro e foi trabalhar como tocador de bois, seguindo no lombo de cavalo em direção do capim preto (Itahum). Como foi muito bem recebido na fazenda para onde levaram a manada, acabou ficando, trabalhando por algum tempo para a lendária dona Maria Amada Azambuja.
Um dia, o moço ficou sabendo da existência de uma outra fazenda próspera, voltada para a labuta agro pastoril, na qual, o seu proprietário se chamava Francisco Xavier Pedroso. Movido pela curiosidade própria da juventude, quis conhecer esse alguém que tinha um sobrenome igual ao seu. Numa bela manhã, arreou o seu cavalo lubuno e rumou para a enorme propriedade conhecida por fazenda ”amparo”. Lá chegando, apeou, conheceu o dono, sua esposa e filhos. Aproveitando a ida, comeu um churrasco gordo, pois era dia de aniversário e assim conheceu o paulista “nhô-chico”, que imediatamente lhe empregou,nascendo uma enorme duradoura amizade entre os dois. Dali só saiu, para tornar-se o proprietário da fazenda “lageadinho” no serrito, localidade próxima do atual aeroporto. Mas ao assentar suas raízes naquele lugar, esse gaúcho abolicionista de convicção, oriundo da cidade de Bagé, se tornaria o primeiro sulino a fixar uma moradia na região douradense.
Casou-se aos vinte e cinco anos de idade, com uma filha de portugueses, criada na “água fria”, região de Maracajú, a jovem Benedita Martinho de Souza, de apenas quinze anos. Em 1900, nasceu a sua primeira filha douradense, que em homenagem a avó uruguaia, recebeu o nome de Celestina. Prosperando, na compra e venda de gado e cereais, com a morte de Joaquim Teixeira Alves, comprou da viúva Pureza Carneiro Alves, parte da fazenda “cabeceira alta” mudando o nome para “coqueiro”. Dentro dessa propriedade, hoje está localizado o bairro com o seu nome, um estádio e o paço municipal, entre outros lugares destacados. Izidro Pedroso foi o fazendeiro doador da área onde está localizado o cemitério municipal santo Antonio e ali também se encontra o seu jazigo, lugar onde os seus ossos, se misturam com as ossadas de negros pioneiros, os membros da família Norberto, suas maiores e mais queridas amizades em vida.
Em 1945, ninguém sabe ao certo o porquê, Izidro retirou o Oliveira do seu sobrenome, passando a assinar somente Izidro Pedroso. No dia da sua morte em 23 de abril de 1954, de madrugada mandou chamar e recomendou ao filho Arlindo, que desejava apenas homens da epiderme negra das famílias amigas que com ele conviveram, fossem os condutores do seu caixão para a sua última morada e em seguida faleceu mansamente cercado pelos filhos e parentes de afinidade. O féretro se realizou segundo a sua ultima vontade. Esse pioneiro desbravador recebeu muitas homenagens póstumas, mas a rua que deveria ter o seu nome, erroneamente recebeu o nome de Izidoro Pedroso nas placas e a Câmara Municipal nada fez ou tomou as devidas medidas esperadas desses fiscais do legislativo, para corrigir o lamentável grosseiro equívoco sancionado pelo executivo, ficando essa mancha na biografia de Izidro Pedroso, ao errarem burocraticamente o nome deste ilustre homenageado...


*advogado criminalista,jornalista.
E mail: isane_isane@hotmail.com

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