terça-feira, 11 de agosto de 2009

A VELHA PRAÇA

Isaac Duarte de Barros Junior*

Desde o distante ano de 1947, quando o paraibano Antonio de Carvalho, se elegeu como o primeiro prefeito de Dourados pelo voto popular, nunca mais nenhum chefe do executivo municipal foi nomeado para o cargo de alcaide pelo governador do estado. Embora, o município tenha sido criado em 1935, na era do presidente Vargas, os prefeitos eram indicados pelo interventor estadual e o legislativo douradense era apenas composto por um conselho municipal. Assim, somente com a existência da constituição de 1946, é que passou a vigorar o sistema eleitoral que todos nós conhecemos. Nessa época no povoado fundado por Marcelino e Joaquim, os agricultores nordestinos instalados na Colônia Agrícola de Dourados, grande parte destas terras hoje transformadas em novos municípios sul matogrossenses, eram os eleitores cabeçudos que acabavam decidindo a parada eleitoral como costumavam comentar.
O interessante desse pleito, é que o seu Carvalhinho, nordestino afável com seus contemporâneos, ex integrante da expedição Rondon em 1925 e posteriormente nomeado chefe do Posto Indígena Tey Kuê, foi quem ganhou as eleições daquele final de década no recém formado partido udenista. Partido este, do ferrenho tribuno e jornalista Carlos Lacerda, que fazia feroz oposição ao trabalhismo do presidente general Dutra, ex-ministro da Guerra do ex-presidente da república criador da enorme Colônia Federal e responsável pela migração dos milhares de brasileiros trabalhadores oriundos do árido nordeste. Entretanto, udenistas e petebistas, devido à presença dos nordestinos, se revezaram na prefeitura douradense nos vinte anos seguintes, até a extinção desses partidos da era Getúlio, no pós golpe militar de 1964.
Portanto, a maior injustiça praticada por alguns desinformados da história regional na atualidade, contra esses pioneiros, é a de tipificá-los como invasores de terras indígenas. Pois, seu Carvalhinho serviu a nação brasileira durante muitos anos como funcionário público federal no Serviço de Proteção ao Índio e acompanhava sempre que podia com grande interesse, a distribuição das terras aos colonos nordestinos. Até essa parca arborização central existente, com figueiras cinqüentenárias imensas nas áreas nobres da cidade, bem como a construção e criação de quase duas dezenas de escolas municipais na zona rural, deve-se ao então prefeito Antonio de Carvalho, morador nessa época em uma casa pintada de branco na Avenida Marcelino Pires, artéria escolhida pelos pioneiros fundadores para morar.
Florentino Paim, foi o seu primeiro motorista profissional nomeado e o primeiro barnabé oficial que costumava acompanhar o prefeito Carvalhinho nas incursões que este fazia por um dos maiores municípios em tamanho de faixa territorial no estado de Mato Grosso desses tempos. Sendo certo, que esses deslocamentos feitos num ford 27, duravam dias e até semanas, mas este era o jeito de governar naqueles tempos idos. As poucas festas oficiais do município que aconteceram, no final dos anos quarenta, tiveram lugar num salão da tradicional pensão Capilé, já que não havia um lugar público apropriado, ou um clube destinado a realizar esses eventos oficiais e sociais.
Foi seu Antonio de Carvalho, o prefeito caboclo do município, quem resolveu debruçar todos os cuidados necessários por parte do serviço público, embelezando o futuro lugar destinado a ser uma praça pública central, até então ainda sem um nome oficial. Para tanto, seu Carvalhinho designou o construtor Januário Pereira de Araújo, que já havia ajudado a erguer a obra da igreja matriz católica nossa senhora da Conceição, bem próxima do quarteirão, como o guardião do local destinado a ser o futuro paço municipal. Mas, por motivos econômicos municipais, um casarão amarelo na Rua João Rosa Góes foi arrendado do IBRA e a praça central em construção acabou denominada de tenente Antonio João, como queria a vontade do vereador Ciro Mello. Isto, para o desgosto do pedreiro Januário Araújo, que sonhava ter nela imortalizado o seu nome, já que dela cuidava tão bem.
Aliás, esse militar herói da guerra do Paraguai, que empresta o seu nome a praça, festejado nas letras dos alfarrábios pelo Barão de Tunay, o repórter oficial do império brasileiro, pelo que pesquisei, jamais esteve nas imediações destas plagas douradenses. Por sinal, bastante inóspitas nesse período desbravador da história. A propósito, essa praça de tantas metamorfoses desde que surgiu no cenário urbano do município, não tem mais os mesmos bancos, nem as mesmas flores, ou o mesmo jardim, de quando criança inocente nela brinquei. Melhor ainda, só para efeito rememorativo, que ninguém na área musical, em versos ou em prosas, tenha resolvido escrever alguma coisa a respeito dessa primeira sempre mutante praça pública douradense. Afinal, cada prefeito eleito que chega e passa, mexe nessa velha praça...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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