quinta-feira, 12 de março de 2009

CASA DE MINAS GERAIS

Isaac Duarte de Barros Junior *
As minhas mais íntimas lembranças, dos velhos tempos passados por conta da permanência que fiz em Uberaba, ganharam repentinamente espaço saudosista numa festa recente que reuniu num restaurante douradense, expressiva parte da colônia mineira aqui radicada desde o século passado. O local escolhido pelos promotores do evento festivo foi simples e aconchegante, naturalmente com o clima mineiro hospitaleiro se fazendo presente exatamente como o sentido naqueles dias idos da minha juventude. A música sertaneja cantada e tocada ao vivo no palco, destacando o acordeom do Adão Cavalheiro, harmonizava em letras com a história épica cabocla dos peões e das boiadas, que um dia foram conduzidas pelas estradas de pó vermelho ao som inesquecível do berrante ponteiro.
A famosa culinária apetitosa misturava-se ao inodoro perfume da saudade recordando-me, a época em que fui morar nas sete colinas alterosas há quase quarenta anos, para estudar na faculdade de direito. Lembrei nessa festa pitoresca, do dia quando cheguei à terra das grandes montanhas, apadrinhado pelo ex-embaixador mineiro o imortal Mário da Ascensão Palmério, indo morar num hotel centenário da Rua Vigário Silva, propriedade do pai do Aldair Capatti Aquino. Assim, durante o dia eu era funcionário do Dr. Renê Barsan na televisão, dirigida pelo jornalista Paulo Cabral e a noite era aluno da Fiube no velho prédio da Avenida Guilherme Ferreira.
Nas terras do alferes Joaquim José da Silva Xavier, absorvi os ensinamentos dos professores mineiros Mauro Baracho, Edson Prata, Edgar Rodrigues da Cunha, Humberto Theodoro Junior, entre outros. Lembrei, fechando os olhos enlevados, da estreita Rua Arthur Machado, onde existia o bar da “viúva”, bastante freqüentado pelos universitários da época e que às vezes recebia visitas da já famosa cantora mineira da jovem guarda, com o nome de Vanusa, que era filha de um barbeiro local. Naquele lugar, todo pessoal da imprensa falada, escrita e televisada se reunia nos fins de noite, ouvindo calada o jornalista Raul Jardim falar mal do prefeito Hugo Rodrigues da Cunha. Na minha passagem por Minas Gerais, particularmente foi marcante uma ocasião num mês de setembro, quando plantei numa rua uberabense, como representante de toda a imprensa, uma muda de árvore. Ali, pessoalmente e pela primeira vez, cruzei o caminho de um senhor nascido na cidade de Pedro Leopoldo, por nome Francisco Cândido Xavier. Na brincadeira eu o apelidei de “secretário dos espíritos”, pois dizem que ele psicografava, supostamente no meu conceito, personalidades falecidas. No ano em que conclui o meu curso de direito, a Câmara de Vereadores de Uberaba, me honrou com o título de “cidadão uberabense” e o velhote estava presente, a meu convite, com o seu inseparável boné. Após esses acontecimentos em Minas Gerais, voltei a viver nas terras douradenses onde um dia eu nasci.
Nessa ocasião, já advogando, um filho da dona “Chiquinha” e do seu “Quinzito”, o agrônomo mineiro José Elias Moreira, me convidou a participar da sua campanha eleitoral para eleger-se prefeito de Dourados. Ele era tão empolgado com seus projetos futuristas, que eu o tipificava de “mineirinho maluco” com a sua futura pretendida eletrificação rural e as suas ornogramadas galerias fluviais. Mas, o homem fez tanta coisa na cidade de Dourados depois de eleito, que virou candidato a governador do novo estado, façanha que nenhum prócer político brasileiro da gema, antes ou depois dele, conseguiu repetir o feito no interior sulmatogrossense. A propósito, muitos mineiros já foram eleitos prefeitos em Dourados, começando pelo inaugural João Vicente Ferreira, seguido de Álvaro Brandão, Nelson de Araújo, Antonio Morais dos Santos, Vivaldi de Oliveira, Napoleão Francisco de Souza, José Elias Moreira e Antonio Brás Genelhu Mello.
O primeiro encontro da colônia mineira me relembrou essas passagens e os meus pensamentos voltaram aos vinte e poucos anos de idade, dando-me a oportunidade de revendo amigos, abraçar muitas pessoas dos tempos do meu relacionamento social universitário, gente com quem não encontrava fazia alguns anos. Hoje, eles são homens e mulheres amadurecidos que voltaram para cá, aqui vivendo na condição de médicos, advogados, jornalistas, dentistas e engenheiros. Vendo-os homenagearem a advogada e jornalista Adiles do Amaral Torres, escoltada pelo seu amado Dr. Carlos Alberto Farnesi, confesso que fiquei emocionado com o gesto da mineirada. Afinal, o seu jornal sempre esteve presente na vida social dos mineiros da estirpe de Gustavo Adolfo Pável, Li Teixeira, Valter e Vander Guaritá, Orestes Dávila, José Ambrósio e das pioneiras famílias Ferreira, Rezende, Duarte, Castro, Assunção, Morais e Brandão.
Descontraídos, amáveis, alegres e solícitos, os organizadores da “mineiragem”, José Henrique Marques e Rubens Moreira Junior, pareciam naquela festa, dois meninos da “porteira” recebendo seus convidados nesse encontro de mineiros extraviados, onde bebi a vontade e comi muitos pedaços de queijo. Entretanto, senti que nem mesmo a distancia temporal conseguiu diminuir o carinho das antigas amizades feitas aqui e lá na terra do Juscelino. Assim, como os mineiros não escondem as lágrimas emocionais dos amigos, eu vi muito “caboco” velho chorando na festa. É, querida Minas Gerais... quem te conhece, realmente não esquece jamais!

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