sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A GUERRA NO PARAGUAI

Isaac Duarte de Barros Junior *

O território da vizinha República do Paraguai emancipou-se politicamente no ano de 1811 e durante muitos anos o povo foi submetido ao controle de aventureiros espanhóis como se fosse uma grande propriedade rural sob a gerência de alguns abastados estancieiros europeus. Sendo herdeiro político de Don Carlos Antonio Lopes, presidente vitalício do país, de quem também foi um ativo e eficaz colaborador, seu filho o general Francisco Solano Lopes, lhe sucedeu no governo da nação guarani. Na condição de admirador do imperador francês Napoleão III, o jovem militar Francisco Solano Lopes estava passeando pela velha Europa quando se apaixonou e se casou com a bela irlandesa Elisa Lynch de Quatrefages. Esse general temperamental, falava corretamente cinco idiomas quando recebeu poderes plenos para governar, os quais lhe foram concedidos pelo senado paraguaio em 16 de outubro de l862. Assim, Solano Lopes sucedeu ao seu pai, que havia falecido após uma prolongada enfermidade.
No dia 02 de novembro de 1864, o general Francisco Solano Lopes, forçado e acuado politicamente, iniciou hostilidades bélicas contra o império brasileiro. E o fez, sem preencher quaisquer formalidades de uma declaração de guerra, prendendo no rio Paraguai o navio “Marquês de Olinda” que conduzia o governador recém nomeado da província de Mato Grosso. Esse foi o seu erro fatal. O ato diplomaticamente considerado hostil, provocado pela mais poderosa potencia militar do continente sul contra o império do Brasil, era o suficiente para iniciar uma guerra. O congresso paraguaio em 18 de março de 1865, diante da situação beligerante desencadeada pelo caudilho guarani assessorado por sua esposa, promoveu Lopes às pressas ao posto de marechal do exército. Na campanha de Mato Grosso, invasão que foi comandada pelo general Francisco Isidoro Resquim, aconteceram gestos heróicos de resistência como o do tenente brasileiro Antonio João Ribeiro, comandante do forte “El dorado” na cabeceira do rio Apa e muitos outros também ocorreram na retomada de Corumbá. Essa operação militar de dois mil e novecentos homens partiu com objetivos pré-estabelecidos de Concepción, em 29 de dezembro de l864. Iniciava-se desse modo, a carnificina que duraria cinco longos anos.
Quanto a dados biográficos da maioria dos militares desse conturbado tempo que participaram do front na guerra no Paraguai, apesar do magnífico esforço empreendido por todos os combatentes durante as batalhas na guerra da tríplice aliança, é quase impossível conseguir-se informações detalhadas a respeito de suas breves vidas. Pois esses personagens históricos começaram na caserna como simples soldados descalços e ganharam lutando nos campos de batalha as suas promoções ao generalato.
Nascidos em famílias humildes dos arredores da capital paraguaia, quase todos sem muita escolaridade, tiveram as suas biografias resumidas nos epitáfios de tumbas cavadas nos campos do conflito ou revividas nas conversas em rodas do tereré, que foram transmitidas por seus comandados admiradores a outras gerações nativas. Em 02 de maio de 1868 no combate de Estero Bellaco, quarenta e três mil homens entre brasileiros, argentinos e uruguaios, lutaram bravamente enfrentando o bem armado exército paraguaio comandado pelo general de artilharia José Maria Bruguez. Nesse combate, morreram muitos anônimos militares paraguaios, uruguaios, argentinos e brasileiros de alta patente. Essa quantidade se resumiu no grande número de baixas, cujo total os historiadores não sabem precisar. Na batalha de Tuyuti, em 24 de maio de 1866, vinte e quatro mil homens do exército paraguaio apoiados por cento e cinqüenta canhões, enfrentaram em dias chuvosos os aliados entrincheirados comandados pelos generais brasileiros Osório e Sampaio. Ao final dessa sangrenta justa, o saldo de mortos passava de oito mil combatentes. No entrevero de Boqueron, o coronel paraguaio Elizardo Aquino perdeu dois mil e quinhentos soldados, falecendo em decorrência de graves ferimentos no hospital do Paso Pucú.
Já na batalha de Curupayty, realizada em território pantanoso, vinte mil homens se enfrentaram. Entre esses oficiais comandantes, havia graduados e soldados das três armas existentes: infantaria, artilharia e cavalaria. Nesse dia os aliados morreram a granel, mas o comandante brasileiro, então Marquês de Caxias, com efetivo militar superior venceu o prélio. Ainda na peleja de Tatayiba, realizada em 03 de outubro de 1867, o major paraguaio Bernardino Caballero, enfrentou vinte e seis mil soldados brasileiros sob o comando do general Manuel Mena Barreto, combatendo-os com inarrável firmeza de choque corporal enfrentando lanças e baionetas, produzindo um dos combates mais sangrentos da guerra no Paraguai. A desproporção das forças aliadas vencedoras, nesse dia, foi evidentemente muito superior.
Na desembocadura da lagoa Pikysyry Angostura, em 06 de dezembro de 1868, deu-se o combate encarniçado de Ytororo e a trajetória guerreira seguiu na batalha de Avay em 11 de dezembro de 1868. Finalmente no dia 27 de dezembro de 1868, o marechal paraguaio Francisco Solano Lopez, contava com apenas sete mil homens em armas e muitos feridos no entrevero de Lomas Valentinas. Nas últimas lutas, a de Piribebuy e Acosta Ñu, o seu exército agonizava com soldados meninos. Assim, com os militares chegando por todos os caminhos e com as suas tropas sitiadas, o marechal paraguaio Francisco Solano Lopez, limpava seus ferimentos múltiplos nas margens do rio Aquidaban no dia 1º de março de 1870.
Embora tivesse inteira liberdade para decidir pela sua rendição, o militar paraguaio cercado pelas tropas do general brasileiro Antonio Correia da Câmara, decidiu incluir-se na lista dos sacrificados daquela guerra, pronunciando a frase: “morro por minha pátria”. Brandindo ainda a sua espada pela ultima vez, teria dito: “um marechal paraguaio não se rende”. Essa atitude, segundo a maioria dos historiadores, liquidou a guerra no Paraguai com a morte brutal pelas armas da soldadesca, daquele marechal comandante-em-chefe...
* advogado criminalista,jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

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