segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ORCÍRIO PEDROSO...

Isaac Duarte de Barros Junior*
As biografias dos nossos mais populares pioneiros douradenses, notadamente daqueles aqui nascidos nas primeiras duas décadas do século passado, algumas costumam se confundir com os principais acontecimentos históricos da cidade. Em múltiplas ocasiões, esses pioneiros trabalhadores travaram incontáveis lutas comuns para sobreviverem e em outras tantas situações, se viram diante de grandes tragédias familiares nunca olvidadas. Dentre esses desbravadores conhecidos, destaco o empresário Orcírio. Ele foi o filho varão caçula de uma família constituída por dezesseis irmãos, nasceu no ano de 1923, na sede da fazenda “coqueiro”, nas proximidades do local onde agora localizamos o atual Centro Administrativo Municipal. Nesse mesmo lugar, existiu por quase oitenta anos uma enorme residência de madeiras, cuja morada levantou-a o conhecido carapina artesanal Barnabé Minhos. Como construtor dessa habitação, esse carpinteiro do século passado, levou meio ano serrando o madeiramento e sepilhando as taboas na mão. A respeito desse antigo casarão, me disseram, que algumas autoridades até planejaram desapropriar a área construída e nela erguer um museu em memória dos pioneiros. Porém, ao contrário do supostamente planejado, a velha casa do gaúcho Izidro Pedroso, acabou sendo demolida dando lugar para outra obra, esta de alvenaria.
Todavia, antes mesmo de existir como bairro, “Cabeceira Alegre” foi um nome dado pelos rústicos boiadeiros para uma ponta de mata nativa situada outrora entre a Avenida Marcelino Pires e a Rua Coronel Ponciano, lugar onde morou o violeiro Getulio Benevides. Lá, começaram alguns dissabores do piá Orcírio. Ainda bem menino, contando com apenas dez anos de idade, ele foi encarregado de cuidar de algumas reses do pai. Nessa invernada, não se sabe como e porque, o garoto corajoso travou uma altercação acirrada com alguns campeiros estouvados, valentões intimoratos, que prometeram lhe aplicar uma boa surra na primeira oportunidade que surgisse. Passada uma semana desse entrevero, seus irmãos Julio, Mário e Arlindo, resolveram assistir as carreiras de cavalos, numa cancha existente nas proximidades. Os briguentos, advertidos da chegada dos três irmãos de Orcírio no local, avistando-os se aproximarem juntos, os campeiros se assustaram. Precipitadamente, um dos rapazes atirou em Julio, que surpreendido caiu morto. Arlindo, para defender-se e salvar a vida de Mário, matou o autor do tiro, enquanto o restante do grupo fugiu galopando.
De outra feita, ainda na infância, Orcírio brincava, quando caiu do alto de uma escada com quase três metros de altura. Socorrido pela mãe, milagrosamente nada sofreu além do susto. Essas cenas dramáticas do seu passado, Orcírio às vezes recordava delas com uma ponta de tristeza no olhar. Ficando adulto, Orcírio mostrou-se um homem correto nas suas obrigações e compromissos assumidos. Desse modo, cheio de responsabilidades, ainda adolescente já auxiliava o genitor nos negócios. Tendo excelente tino administrativo para fazer empreendimentos rurais, logo prosperou como fazendeiro criador de gado. Casou-se ainda jovem com a bonita Eurides, moça da tradicional família Mattos, com quem teve oito filhos. Sua honrada descendência, hoje ocupa lugares destacados no comércio regional e nas mais diferentes profissões liberais. Juntamente com o filho Clóvis, herdeiro das suas qualidades comerciais fundou as Empresas Gráficas Caiuá.
Durante a formação da Colônia Agrícola Federal de Dourados (CAND), Orcírio tornou-se amigo de todos os seus administradores, virando grande incentivador dos assentamentos coloniais nordestinos, de quem comprava cereais para revender, como o milho, arroz e feijão. Companheiro de destacados próceres políticos do seu tempo, embora envolvente nos bastidores, só ajudava seus sobrinhos políticos, porém nunca se candidatou a qualquer cargo eletivo. Era um homem voltado às reuniões com a família, tanto foi assim, que os falecimentos do pai, mãe e da esposa, o deixaram bastante abatido emocionalmente. Conservador, o lenço vermelho de “maragato” que pertenceu ao seu genitor, pouco antes de morrer aos 86 anos, passou-o a guarda da filha Cleuza, recusando-se a doá-lo para o museu municipal dos pioneiros. Entretanto, este ilustre pioneiro, colaborador do nosso desenvolvimento, é mais um dos muitos douradenses, que até o momento não receberam nenhuma homenagem por parte do Poder Público Municipal...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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