quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HISTORIÓGRAFOS ?

Isaac Duarte de Barros Junior *

Acredito como descendente dos desbravadores, calado continuasse lendo tanta bobagem a respeito da história local, sem contestar acontecimentos inverídicos plantados na cara dura por articulistas desinformados, me sentiria um omisso. Ainda mais, não asseverando a minha clara posição de protesto. Afinal, os construtores de Dourados, agora repousam nas silenciosas campas fúnebres, sem poderem prestar inestimáveis depoimentos sobre o que fizeram. Diante dessa impossibilidade, penso que esses fundadores foram omissos, deixando informações inconclusivas. As passagens de muitas efemérides, desastradamente são eivadas de dúvidas, tudo porque eram repassadas de modo relapso, numa atitude pouco sensata. Esses colonizadores, dificilmente comentavam algo, principalmente em se tratando do desenvolvimento douradense que presenciaram. Inclusive, possuindo costumes acaboclados, raramente se permitiam posar para a câmera do Raul Frost, nosso primeiro fotógrafo. Daí a escassez de fotografias desses antigos aqui residentes, ou os primeiros moradores das plagas douradenses.
Todavia, com o nascimento do jornal “O Progresso” no ano de 1951, fundado pelo advogado pontaporanense Dr. Weimar G. Torres, iríamos conseguir com essa testemunha ocular da história, documentar fatos regionais importantes a respeito de vários acontecimentos. Outros congêneres surgiriam nesse ínterim. Entretanto, muitos tiveram curta duração, circulando em períodos breves, para satisfazer as necessidades e os interesses de políticos eleitos. Esses jornais, sutilmente se colocariam a serviço das siglas existentes, para depois das campanhas eleitorais, desaparecerem. Todavia, a maioria desses tablóides, apesar de idôneos, durante as atividades, na atualidade não servem como fonte isenta, principalmente para se pesquisar o passado douradense. Dessa imprensa, apenas um jornalista, o falecido Teodorico Luiz Viegas, ao contrário dos demais repórteres de sua época, imparcial relatou com confiabilidade assuntos considerados importantes, imprimindo-os na sua “Folha de Dourados”.
Outra parte da imprensa local foi exercida nos microfones da Rádio Clube com o prefixo ZYX 23, gravando as primeiras notícias radiofônicas douradenses, sonorizadas na voz do locutor Sócrates Câmara, nos meados de cinqüenta. No inicio dos anos sessenta, vindo do interior paulista, fazendo um jornalismo combativo e polemico, Jorge Antonio Salomão se tornaria o radialista mais respeitado do seu tempo. Na região da grande Dourados, com sua equipe de jovens locutores, criaria o rádio jornalismo. O arquivo dessa primeira emissora de rádio douradense, guarda sonorizado momentos festivos, tristes e tensos. Mas seu Departamento de rádio jornalismo, raramente é pesquisado por jovens estudantes de história. Acredito que relatar passagens históricas, sem o conhecimento dessas informações, é preocupante. Penso que muitos acontecimentos, seriam simplesmente inventados ou “plantados” como andam fazendo, comprometendo a salutar verdade.
A história douradense, que modestamente aprendi a conhecer, está baseada em provas documentais e em depoimentos prestados pelos filhos de nossos fundadores. Ocorre, por haver nascido aqui, tive a oportunidade de conhecê-los. Todavia, foi contemplando esses documentos, que pude ler na ata de instalação da municipalidade, ex-distrito do mesmo nome, escrita textualmente a informação que este município de Dourados foi desmembrado do município de Ponta Porã, sendo “criado pelo Decreto n. 30 de 23 de dezembro de 1935, pelo interventor Mário Correa da Costa”. Nessa ata histórica, cujo original está guardado nos arquivos cuiabanos, estão acostadas as assinaturas dos nossos primeiros dirigentes municipais. Quanto ao explorado problema energético, o governador Pedro Pedrossian foi quem o resolveu definitivamente, nessa época presidindo a Cemat o engenheiro Marcelo Miranda Soares. O ex-general, senador Filinto Muller, apenas nos forneceu o primeiro motor municipal a diesel, um gerador temporário. Entretanto, o fornecimento energético até a meia noite de cada dia, a implantação desse sistema coube ao governador Fernando Correa da Costa. Inclusive, inaugurando e instalando um enorme transformador, nas esquinas das avenidas presidente Vargas e Joaquim Teixeira Alves, na Praça Antonio João, nos anos cinqüenta.
A Colônia Nacional Agrícola de Dourados incluindo o Território Federal de Ponta Porã, foram criados pelo presidente Getulio Dorneles Vargas. E esses decretos presidenciais tiveram a finalidade precípua, extinguir a exploração ervateira da companhia mate laranjeira, empresa estribada em um contrato feito entre o governo do estado de Mato Grosso e o argentino Thomáz Laranjeira, no final do século dezenove. No Distrito da Picadinha, nunca habitaram quilombolas e nem houve negro escondido em quilombo, muito menos na área de propriedade do fazendeiro Desidério Felipe de Oliveira, compadre do meu avô Izidro Pedroso, que ainda morava no Serrito. Na verdade, aquele tropeiro nascido nas montanhas das alterosas, requereu três mil setecentos e quarenta e oito hectares de terras lavradias, porém como um homem negro livre.
A propósito, os dois maiores historiógrafos douradenses Dr. Júlio Capilé e Ercília de Oliveira Pompeu, me disseram que nunca existiu oficialmente, paragens denominadas São João dos Dourados e Povoado das Três Padroeiras, antecedendo o nome da cidade. Vale esclarecer finalmente, que esta comunidade já existia como lugarejo próspero, quando Marcelino Pires e seus irmãos vieram morar nas terras por eles requeridas. Desse modo, senhores novos historiógrafos, os nossos fundadores relatavam fatos sobre o inicio da povoação. Os antigos desbravadores, incluindo a pioneira Olinda Pires de Almeida, filha de Marcelino Pires, mulher a quem tive o privilégio de conhecer, afirmava ter sido assim. Além disso, confirmam essa mesma história, os descendentes de Joaquim Teixeira Alves, outro desbravador da cidade de Dourados. Aliás, localidade onde o segundo tenente cavaleiro Antonio João Ribeiro, jamais esteve...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_ isane@hotmail.com

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