quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A BOTIJA DE OURO

(*) José de Azevedo

Nos meus bons tempos de juventude em Dourados, se ouvia, constantemente, as hist6rias a respeito de Botijas de Ouro, que volta e meia alguém encontrava, tornando-se rico da noite para o dia. Contavam-se mesmo, histórias detalhadas, de pessoas muito conhecidas na comunidade, que estavam bem de vida, e que haviam encontrado uma botija.

Segundo diziam, na época da Guerra do Paraguay, as pessoas guardavam seus tesouros em ouro, enterradas sob coposas árvores, para protegê-los. E, com a morte de seus proprietários, tais botijas, um pote de barro, cheio de ouro, lá ficavam para sempre, até que alguém o encontrasse.

Um velho índio, sempre aparecia lá por minha casa, e eu lhe oferecia sempre, um prato de comida, e por isto ele foi firmando solida amizade comigo. Certo dia, ele me disse que tinha uma botija cheia de ouro e que me daria, desde que eu fosse arrancá-la a meia noite. Disse-me que alguém da Guerra do Paraguay havia lhe dado. Ele me daria a botija, em troca de um cavalo aperado, para ele viajar para baixo da serra de Maracaju, onde tinha um filho.

Contei a historia a meu Pai, que foi contrario a minha ida de arrancar botija, alegando que poderia ter perigo nisto. E disse-me meu Pai, que ouro, iríamos arrancar das nossas milhares covas de café, lavoura grande que, infelizmente, a geada de 1953 cuidou de dizimar e levar meu pai a bancarrota.

Certo dia. um vizinho, o Joã0 Garcia, veio me dizer que um defunto o havia arocado, puxado-o pelo pé e falou para ele ir arrancar uma botija de ouro, mas que ele não tinha coragem de fazê-lo. Passados alguns dias, lá vinha o João Garcia de novo a dizer que o tal defunto novamente o puxara pelo pé, exigindo que ele fosse buscar a botija de ouro e lhe dando uma complicada maratona para encontrá-la. Mas, alegava ele, que lhe faltava coragem para enfrentar a empreitada.

Como eu tinha passado pela experiência do velho índio, que, tendo minha recusa, deu a botija à outra pessoa, que, realmente foi ao local, na raizada d'uma grande figueira e de lá arrancou o tesouro, eu pensei, desta vez nã0 contarei nada a meu Pai, e falei ao João Garcia, que eu iria com ele arrancar a botija.
Tinha que ser numa sexta-feira a meia noite, e o local era longe. Por isto, fomos, eu e o João Garcia, de bicicleta, de dia. fazer uma exploração prévia do local onde estaria o tesouro do tal defunto. Era na velha Estrada de Itahum. Tínhamos que encontrar um velho cemitério no Campo, e lá encontrar uma sepultura com uma cruz de ferro, onde estaria enterrado o tal defunto e quando fossemos arrancar a botija, teríamos que passar por lá, dar tr6s tapas nesta cruz e depois ir arrancar a botija, ao pé de um enorme Angico.

Na sexta-feira a tardinha, montamos em nossas bicicletas, eu e o João Garcia, com as ferramentas e uma garrafa de Chica-boa na garupeira, e lá fomos nós arrancar a tal botija, passamos altas horas da noite no cemiterio, e como haviam lá, três sepulturas com cruzes de ferro, demos, em todas elas, três tapas, e seguimos para o Angico, onde reallzamos a cavação, até quase derrubar a arvore e sem encontrar a tal botija. Só encontramos formigueiro.

O tal defunto prevenira ao João Garcia, em suas aparições, que, durante a escavaçao, ele iria aparecer lá, montado num bode preto e subiria e desceria da arvore, mas que não era para se importar com ele. Assim, quando ouvíamos alguma vaca berrar lá naquele campo, nós já falávamos: Lá vem o bicho. Mas ele não apareceu por lá.

O dia estava clareando e nós já estávamos cansados de tanto cavar, quase derrubamos o Angico, e nada encontramos. Desanimados, decidimos ir embora, sem levar ouro algum...


(*) ex- vereador de Dourados e ex-prefeito
por cinco vezes de Glória de Dourados.

Um comentário:

  1. Olá, é só você mesmo para me fazer rir. Cavaram a noite e nãoencontraram ouro algum. Imagina se tivessem encontrado. Abraços...

    ResponderExcluir