segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

DATAS IMPORTANTES

Isaac Duarte de Barros Junior *

As ocasiões festivas, geralmente criadas pelos costumes, mesmo possuindo datas consideradas inexatas, tradicionalmente acabam sendo festejadas e respeitadas pelas pessoas. Desses dias relembrados, os estudos antropológicos levam-me a crer, que muitos acontecimentos são provenientes de efemérides inventadas pelos próprios homens. O nosso calendário brasileiro, por exemplo, em nada se assemelha com as famosas calendas romanas, aquelas que iniciavam um ciclo mensal contando a passagem do tempo. Para nós ocidentais, educados e acostumados com as festas natalinas, seria muito difícil aceitar mudanças, se fosse criada uma nova data para o dia do nascimento de Cristo, data esta supostamente imposta pela vontade de um papa. Ainda mais, passados tantos séculos, depois que os comerciantes apadrinharam esses festejos natalinos. Datas, controvertidas e equivocadas, sabemos que sempre existiram em nosso calendário. Porém, repentinamente querer mudá-las, exclusivamente para atender interesses pecuniários, é iniciativa no mínimo impossível.

Dessas datas cheias de controvérsias, existe uma envolvendo alguns douradenses adotados com outros douradenses natos, nestes últimos setenta e quatro anos. E tudo isso começou, quando criaram um feriado municipal no dia 20 de dezembro. Uns, se valendo do cepticismo quanto à data dessa emancipação municipal, devido a procedimentos legalistas ultimados. Este é o meu caso. Outros, igualmente discordantes, recusam aceitar o dia do feriado. São eles, centenas de comerciantes que adotaram Dourados para viver e prosperar. Deles, diferencio-me, respeitadas as razões argumentadas. Isto porque a maioria, apenas discorda do feriado municipal dezembrino, fulcrados em motivos puramente comerciais. Ainda mais, tendo acrescidas, à obrigatoriedade de fechar as portas dos seus estabelecimentos, na época do salutar faturamento, qual seja: nas vendas do fim de ano.

Porém, como douradense descendente de pioneiros, moradores e desbravadores desta cidade há mais de cem anos, compreendo que argumentos pequenos como os meus embora agasalhados em ordem legal, não convencem alguns octogenários aqui nascidos, como minha mãe. Sendo a penúltima filha de uma prole de dezeseis irmãos, ela apenas se lembra saudosa que no dia 20 de dezembro de 1935, tinha somente dez anos e que nesse dia dançou alegremente com sua amiguinha Roma Milan, comemorando o nascimento do município de Dourados. Naquele seu longínquo tempo de criança, meninos dançando em bailes com meninas, nem pensar. Com seus oitenta e quatro anos bem vividos, ela recorda lucidamente que o representante do interventor de Mato Grosso, era um moço claro, vestido de terno branco. E se lembra dele, assinando na folha de um grande livro de capa preta e que depois da festa o transportaram para Cuiabá. O fazendeiro João Vicente Ferreira, futuro primeiro prefeito de Dourados, um primo de minha avó materna, foi o parente quem colocou minha genitora num galho alto de árvore, para que ela pudesse assistir melhor essa cerimônia. Meu tio, Antonio Emilio de Figueiredo, estava entre os muitos cuiabanos presentes nessa primeira festa de 20 de dezembro. Futuramente, presidiria o primeiro conselho do recém criado município de Dourados. Analisando isso tudo, cheguei a uma sensata conclusão: afinal quem sou eu, para querer mudar essa data tradicional importante?

Portanto, ousadias como essa minha, não merece prosperar conflitando e assim resolvi colocar um ponto final na divergência que tenho, quanto à data 20 de dezembro. Resta também, aos nossos ex-forasteiros, agora pessoas integradas politicamente na comunidade local, pisarem fundo nos freios dos seus destrambelhos utópicos, parando de modificar a história douradense passada. Pois tentando mudar os acontecimentos do passado, mostram uma grosseira falta de respeito para com a memória dos fundadores desta cidade. Assim, me parece que querendo inventar “quilombos” na Picadinha; visitantes ilustres mortos, antes mesmo de Dourados existir, como é o caso do tenente Antonio João Ribeiro; rua com nome de pioneiro que nunca existiu e outras bobagens, acho haver exaurida a hora de acabar com essas besteiras de cunho político. Precisamos, como douradenses, civilizadamente olhar o horizonte com mais otimismo. Afinal, o sonho do professor Celso Amaral, está vivo em cada universitário que termina o seu curso superior nesta cidade. Aceitar como ponto pacífico e imutável, os acontecimentos passados que moldaram Dourados tal como ela é, torna-se um tipo de conduta obrigatória a qual todos deveriam aderir. E aderir sem forjar ou criar fatos irrelevantes, torna-se portanto um preceito. Um exemplo, este jornal, o nosso histórico “o progresso”. Gostando ou não alguns bairristas da nossa capital, hoje é o diário mais antigo do estado de Mato Grosso do Sul e não adianta inutilmente inventarem outro em seu lugar.

Concluo, lembrando que tivemos já integrados ao nosso desenvolvimento, pessoas importantes e anônimas, que chegaram antes. Vieram de carretas por estradas vermelhas e outras desembarcaram depois desta cidade se tornar um lugar mais desenvolvido. Mas entre essas, existe ainda muita gente arrogante e deslumbrada, que não passariam de cidadãos comuns nas cidades de onde vieram. Entretanto, em Dourados, esses filhos adotados, tornaram personalidades públicas. Estando então, muito mais bem obrigados a respeitar a nossa história local e regional. Um dia, sabendo esperar pela sua vez, certamente farão parte da história douradense. Sabidamente, muitas dessas pessoas, migrantes aqui fizeram fortunas e galgaram importantes cargos na república brasileira. Essas pessoas, trabalhando, adubaram o crescimento desta cidade sul-matogrossense e a sua importância no atual contexto nacional. Pensando desse modo, façamos serenatas no estilo antigo, como certamente fará o Rozemar de Mattos e o Centro Cívico Cultural, no próximo dia 20 de dezembro.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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