quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Prefeito- Cuê

Braz Melo (*)

Dias atrás estive em uma rua da periferia de nossa Dourados que tem o nome de um amigo que já partiu. Teodoro Capilé foi um dos primeiros amigos que tive aqui. Junto com a Ivone, fazia com que sua casa fosse uma extensão da nossa. Sempre alegres, sabiam receber muito bem a quem os procurassem.
Foi com ele que ouvi pela primeira vez e fiquei encantado com suas estórias contadas em guarani. Além de contador de estórias era um feliz por natureza. Era agrimensor, tocava violão e cantava muito bem. E quando juntava com o Renê Miguel era festa para virar a noite.
Dourados nessa época era uma cidade alegre e como a grande maioria das famílias tinha vindo de fora, era fácil fazer amizades. Fazíamos do vizinho nosso irmão. Tínhamos mais tempo para conversar e trocar idéias.
Tem hora que penso que quem veio estragar este jeito tranqüilo de viver foi a tecnologia, principalmente a televisão e mais tarde, o celular, pois hoje além de acreditarmos só no Jornal Nacional, não tiramos o celular do ouvido, mesmo na frente dos outros, fazendo com que a conversa pessoal fique em segundo plano, o que é uma grande falta de educação.
Mas voltando a última Rua do Jardim Pantanal, que os vereadores sabiamente colocaram o nome do Teodoro Capilé, e que me trouxe saudades de meu amigo, posso contar um pouco de como está sendo a nossa vida, agora que somos cuê. Cuê em guarani quer dizer velho, que já foi, e como dizem os mais jovens, que já era. Tradução confirmada pelos meus especialistas em guarani, Sultan Rasslan e Isaac de Barros Junior.
Tem uma regra que aprendi no mundo político que Ministro de Estado sempre será chamado de Ministro. Aquele que já foi Senador, mesmo saindo do cargo, sempre será reconhecido como Senador. E tem gente que teima em me chamar de prefeito. Talvez por costume, mas lembrando meu amigo Teodoro, respondo que sou prefeito- cuê.
Até que tem inúmeras vantagens em ser cuê nessas horas, pois você pode e deve dar idéias, mesmo que não as tenha executado quando no cargo, por falta de tempo ou de recursos. Infeliz é aquele que não quer o melhor para os seus substitutos ou praticante da tática do quanto pior, melhor.
Por isso dou algumas idéias, mas também conto as falhas das minhas administrações, para que os atuais não cometam os mesmos erros novamente. E feliz aquele que, humildemente, sabe receber conselhos dos mais experientes e sofridos. Lembrem que esse é um momento passageiro. E passa rápido.
Tem países, como o Paraguai, que após o Presidente acabar o seu mandato, passa a ser Senador vitalício, pois durante seu período no governo, recebeu tantas informações importantes e até sigilosas, que servem para diversos mandatos futuros. E na democracia, o Senado é o órgão conselheiro dos Presidentes.
Os ex-Presidentes dos Estados Unidos da America desempenham serviços, principalmente diplomáticos, sociais e de aconselhamento aos atuais de maneira constante. O próprio Presidente Obama antes de assumir seu mandato, perguntado se iria conversar com alguém sobre a sua futura administração, declarou que primeiramente conversaria com todos os ex-presidentes, pois a sabedoria dos que já foram era de importância impar.
E feliz aquele que consegue passar por esse período e ter o respeito das pessoas. Resumindo, para ser cuê, como dizia minha avó, precisa comer muito feijão.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma história de amor...

Isaac Duarte de Barros Junior (*)
Nos tempos passados, quando faltava o sal, açúcar, remédio manipulado, tecido para confeccionar roupas do uso diário nas baiúcas comerciais e população para ocupar os espaços vazios em nossa vasta região desabitada, deu-se um idílio de amor que vou contar. Nessa época inocente e audaciosa, o corajoso agricultor mineiro da cidade de Alfenas, de nome João Camilo Martins e sua mulher Ana Ribeiro, colocaram as carretas puxadas por bois mansos na estrada, deixando uma rica região chamada Vista Alegre no povoado de Maracajú, lugar onde moraram algum tempo numa próspera propriedade rural. Porém, foi nessa conhecida localidade bem próxima daqui, que nasceu em 1912 o seresteiro nas horas folgadas de nome Manoel Ribeiro Martins, batizado inicialmente pelos pais com o nome simples de Claudemiro, nome este, transformado depois no seu apelido como todos o conheceram. Estar sempre de bom humor era uma das qualidades desse homem bom, vivendo na sua aconchegante fazenda ou passeando a cavalo pela cidade com um lenço vermelho amarrado no pescoço.
Em setembro de 1921, Claudemiro tinha nove anos de idade, quando chegou por aqui acompanhado dos seus pais e irmãos na boléia de uma carreta. A finalidade de seus genitores viajantes era a de morar no pequeno povoado douradense, numa chácara arrendada. Todavia, no primeiro ano de Claudemiro nestas paragens, acontecimentos nada auspiciosos para um garoto da sua idade, entraram em cena na sua vida, pois o irrequieto menino foi picado por uma cobra venenosa no pé esquerdo, quase morrendo. Sua avó materna a dona Marica, rezou fervorosamente prometendo que mudaria o seu nome para Manoel, santo da sua devoção, caso o neto sobrevivesse ao efeito do poderoso veneno. Sendo costume comum da época, os pais daquele tempo atrasar para registrar seus filhos, quando o cartorário Alberto de Carvalho registrou Claudemiro aos dez anos, já o fez colocando o nome de Manoel na certidão de nascimento.
Campereando gado gordo no pasto das grandes invernadas, marcando reses e apreciando bebida destilada, ele aprendeu a tocar violão com o barbeiro paraguaio Paulino Garcete e se aprimorou no instrumento recebendo aulas de violão do seu austero vizinho Januário de Araújo, pai da formosa Silvia Araújo, primeira paixão platônica do moço Claudemiro. Para ver essa jovem, mesmo que fosse olhando de longe, Claudemiro freqüentava diariamente a casa do mestre Januário, dono de uma olaria próxima da chácara onde ele vivia com seus pais. Como não era correspondido pela moça formosa no plano sentimental, Claudemiro contentou-se em fazer parte de um quinteto musical no qual a bela Silvia tocava violão, fazendo a primeira voz quando cantava. Mas, passada essa fase de paixão juvenil, Claudemiro casou-se com a bela Alice Rosa Light no ano de 1939, que havia conhecido em 1931, com ela, esse pioneiro teve nove filhos.
Esse grupo musical do velho Januário, só tinha outra banda rival nas festanças de aniversários e casamentos. Eram os artistas componentes do trio paraguaio de Marcílio Vargas, rapazes pedreiros de profissão, moradores na Cabeceira Alegre. Com eles tocando ou cantando em muitos bailes de ramadas, noitadas alegres aconteceram nesta cidade no seu começo. Já bem velhinho, lembrando da professorinha Silvia, que mais tarde virou sua fraternal amiga, eu vi uma lágrima furtiva rolar no seu rosto enrugado ao falar dos tempos passados e preferi não fazer quaisquer espécies de comentários sobre o assunto. Porém, se existe alguém vivo, sabendo mais coisas a respeito desse amor não correspondido, se é que o idílio aconteceu realmente, essa pessoa é o médico Dr. Júlio Capilé, lúcida testemunha quase centenária e o maior conhecedor da história antiga local, principalmente a daquela época...

(*) Criminalista e jornalista
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Postos de Saúde- Fechados para almoço.

Braz Melo (*)

O atual prefeito ganhou as eleições com a promessa de melhorar
consideravelmente a saúde de nosso município. Toda a população de
baixa renda via nesse compromisso a “salvação da lavoura”, já que não
é fácil essas famílias terem condições de pagar um plano de saúde
particular. O ”ajuda eu” vinha após a promessa de melhorar o
atendimento nessa área. E muitas pessoas acreditaram nesse
compromisso.
Passado mais de duzentos e cinqüenta dias de sua posse continua o povo
esperando a solução da saúde de Dourados.
Já estamos no terceiro secretário de saúde e por incrível que pareça,
a promessa de funcionar os postos de saúde vinte e quatro horas,
inclusive à noite (sic), ficou para trás e hoje os postos de saúde
municipais de nossa cidade fecham para almoço.
Infelizmente a população necessitada desses atendimentos não pode
ficar doente neste horário, já que das 11 horas até as 13 horas os
postos estão fechados. Imagina uma senhora de idade que está sofrendo
de bronquite, muito comum nesta época do ano e tem de parar a sua
nebulização no meio, pois o posto está na hora de fechar.
Experimenta chegar ao PAM às onze horas da manhã (este não fecha para
almoço), que nesta hora normalmente não tem médico. Só vai chegar o
primeiro quase às duas da tarde. E o paciente tem de ser paciente
mesmo, pois não tem ninguém preparado para atender e tranqüilizar o
doente e seus acompanhantes.
No dia que houve a posse do Clube de Imprensa, o prefeito Ari me
perguntou como tinha conseguido funcionar a saúde na minha época e eu
falei para ele que gastava quase 30 por cento do orçamento municipal
com saúde e por isso conseguimos, naquela época, que as consultas
fossem marcadas pelo telefone.
Falei para ele da necessidade desse serviço tão importante funcionar
durante o almoço e para isso era só trabalhar em escala. Uma turma
entraria às 7 horas e almoçaria às 11. Voltava as 13 e saia às 17
horas. A outra turma entraria às 9 horas e sairia para almoço às 13.
Voltaria as 15 e sairia às 19 horas. Sem gastar mais um tostão
atenderia durante o almoço e até as 7 da noite. Hoje fecha às 5 da
tarde.
Olhando as aplicações do município em saúde nos dois primeiros
trimestres de sua administração, pode se notar que no primeiro
trimestre empenhou-se 14,24 % e no segundo trimestre empenhou-se
22,88%. E a lei obriga gastar (não empenhar) no mínimo 15%. E não é
acumulativo.
A experiência nos ensinou que a formação de médico não aceita chefia,
pois ao operar ele não pode parar para perguntar ao chefe o que deve
fazer.
Outro aprendizado que tivemos é que muitas pessoas vão até ao posto de
saúde por não ter ninguém em casa para conversar. São os viúvos ou
viúvas que perdendo seus companheiros; sua filha indo trabalhar e seus
netos indo para a escola, não têm ninguém para conversar. Vai para o
posto de saúde trocar prosa com os outros pacientes. Muitas vezes, ao
ser bem atendido pelos auxiliares ou enfermeiros, ele melhora.
A saúde pública vem evoluindo de maneira espantosa. Na década de 70 o
médico era fundamental. Depois de décadas, descobriu-se que a
enfermeira era muito importante. Hoje com as doenças novas, como
depressão e doenças psíquicas, é importante a assistente social.
Precisa se investir mais nas assistentes sociais para ter um ótimo
pré-atendimento antes da consulta. Vai ficar mais barato e tenho
certeza que a população vai se sentir mais prestigiado. Boa saúde é a
somatória de serviços que inicia no bom dia do guarda, no sorriso do
funcionário ao fazer a ficha, até chegar ao atendimento médico e
remédios. Tarefa difícil, já que hoje falta até algodão em alguns
postos de saúde.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A MORTE DO CAPITÃO...

Isaac Duarte de Barros Junior*

O gaúcho Joaquim Teixeira Alves, capitão patenteado na guarda nacional riograndense pelo presidente Campos Sales, casado com Pureza Carneiro Alves, utilizando uma carreta cheia de objetos domésticos e com um único filho chamado João, depois teriam mais três, chegou à região douradense no ano de 1903. Na sua chegada, ficou uns dias descansando na fazenda lageadinho, como hóspede do também gaúcho Izidro Pedroso e de sua esposa, estes dois já estavam assentados anos antes e com duas filhas. Em seguida, na condição de agricultor, tomou posse dos seus direitos em terras, adquiridos de seu conterrâneo Augusto da Silva Machado, área que ele mesmo denominou fazenda cabeceira alta. Nessa época, Joaquim Teixeira Alves tinha aproximadamente uns trinta anos de idade e havia lutado ferozmente em sua terra, na revolução federalista ao lado dos companheiros maragatos, fugindo depois das derrotas para o Mato Grosso, temendo a famigerada operação degola, um sistema de matar os desafetos usado pelos chimangos para não fazer prisioneiros, ou exterminar quando podiam, os seus opositores.
Esse ex-militar do pampa gaúcho, um contumaz leitor dos famosos raros pasquins, conhecidos por revistas almanaques, criava o seu gado trocando-o de pastos de acordo com as fases da lua. O modo era useiro também pelos agricultores, para melhor se orientar no plantio das lavouras, metodologia cabocla muito comum e aplicada na plantação de quaisquer roças de arroz, feijão e milho. Esse homem rude, das mãos calejadas, de enormes bigodes pretos, fugitivo das terríveis guerras interioranas sulinas, incentivava a vinda e permanência de outros posseiros como ele, para residirem nas proximidades destas terras sem dono, já que eram devolutas, portanto consideradas propriedade de quem chegasse primeiro e fincasse os seus marcos. Como foi um desbravador de visão desenvolvimentista, o ex-capitão da guarda nacional articulou fundar uma povoação.
Essa maneira rara e lhana de agir, pensando sempre em dividir as oportunidades de crescimento econômico, incluindo o próximo, fez o idealista Joaquim Teixeira Alves entrar em inevitável confronto judicial, uma vez colidindo as suas idéias e princípios imateriais, com as do fazendeiro Marcelino José Pires Martins, proprietário da fazenda alvorada. Os dois demandaram judicialmente por alguns anos a posse e os direitos que achavam possuir na área onde a cidade de Dourados nasceu. Eram, aos seus modos de ser, litigiantes cordiais, querendo apenas resolver problemas de divisas possessórias.
Falavam as pessoas daqueles tempos de fartura, que pelo menos duas vezes por ano, demorando um mês para chegar ao destino, esse pioneiro chamado Joaquim, se deslocava de carreta para o povoado de Campo Grande, acompanhado de alguns dos seus dois filhos homens, onde comprava diversificados remédios, tecidos para roupas e cama, querosene e sementes. Era em síntese, um homem simples trabalhador, mas foi bastante descuidado quando se tratava de ter as cautelas tão necessárias com os negócios que fazia, pois confiava em demasia na honestidade das pessoas e nos compromissos de palavra empenhada.
Diziam os pioneiros que o conheceram, naquela época embrutecida pelas circunstancias e regada de ódios selvagens, haver o ex-juiz de paz Paulo Hildebrando, outro fazendeiro local, ter sido realmente o causador e mandante da morte prematura de Joaquim Teixeira Alves. Segundo os comentários desses mais antigos douradenses e seus contemporâneos de lutas, alguns eu até conheci, todos eles contavam que Joaquim Teixeira Alves arrendou 400 reses de cria para o juiz de paz Paulo Hildebrando e quando foram acertar esse arrendamento, por falta de documentos escritos e provas testemunhais no contrato, ambos tiveram uma discussão acirrada. Dias depois, Joaquim foi ferido mortalmente numa emboscada noturna, por um atirador solitário. Nesse infeliz momento, estava com seu filho João no colo, que culminou sendo baleado no mesmo tiroteio.
A família deste pioneiro, vindo da região missioneira do Rio Grande do Sul, uma das construtoras desta cidade de tantas atribulações atuais, passou por grandes dificuldades financeiras depois do seu inesperado falecimento, mas os seus ilustres descendentes hoje são nativos vencedores abastados na sociedade local. Entretanto, todos esses acontecimentos fatalisticos, cumulados de pesquisas sérias, incluindo-se as documentais, levam-me a concluir com esse triste desenlace do ex-capitão, que tanto Joaquim Teixeira Alves como Marcelino José Pires Martins, mortos no começo do século vinte, um a bala e o outro de grave enfermidade, ambos, nunca doaram nenhum pedaço de suas vastas propriedades, muito menos para nela erguer-se um futuro povoado. Restando concluir, que a cidade de Dourados nasceu mesmo e se desenvolveu, graças às primeiras cinco casas de madeira construídas pelo carpinteiro Januário Pereira de Araújo, feitas entre as dezenas de ranchos cobertos de sapé, nas terras que os dois fazendeiros evitavam circular e outros pequenos sitiantes foram se apossando aos poucos...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ASSIM NASCEU DOURADOS...

Isaac Duarte de Barros Júnior*

Possuindo enormes florestas verdes, ricas em madeiras e árvores de erva mate, no século dezenove essas matas chegavam até as barrancas do rio Paraná quando se planejou o primeiro mapa geográfico do território municipal douradense. Este município promissor foi desmembrado do município de Ponta Porã no ano de 1935, do qual fazia parte desde os anos dez do século vinte. O período inicial desenvolvimentista douradense começou quando do momento da ocupação das terras devolutas pelos brasileiros sulinos, fato que ocorreu tão logo terminou a guerra do Paraguai e após haver sido celebrado o tratado de Assunção. Esses pioneiros, integrantes da primeira ocupação migratória, sem saber estavam assegurando com as suas presenças físicas a nossa soberania nacional, neste pedaço de chão antes pertencente a Nação Guarani.
Quando o presidente Getúlio Vargas criou a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) nos anos quarenta, a pequena cidade recebeu o seu segundo período fluxo de desenvolvimento através do êxodo provocado pelos colonos nordestinos. Porém, foram as famílias Pires, Teixeira, Pedroso, Mattos, Azambuja, Vieira, Brum, Ferreira, Minhos e Silva, que requerendo terras devolutas, se fizeram as responsáveis pelo nascimento da povoação douradense no final do século dezenove. Essas pessoas migrantes, quase todas vieram ainda muito jovens dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina e a maioria do Rio Grande do Sul.
Entretanto, dois fatos importantes aconteceram no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta nessa região. O primeiro, bastante promissor, foi a chegada dos agricultores sulinos. O segundo se deu com a presença de alguns aventureiros, que até a história municipal tentaram mudar, se infiltrando nos meandros da política. Pois, maldosamente tipificaram os fundadores da cidade, como sendo pessoas violentas e ousaram estimular a existência de um suposto quilombo no Distrito da Picadinha, algo que jamais existiu, porque em Dourados nunca houve escravos trabalhando ou fugidos de senzalas.
A bem de estabelecer a verdade histórica, devemos esclarecer, que pelo fato dos fazendeiros Marcelino José Pires Martins e Joaquim Teixeira Alves, no inicio do século vinte, iniciarem uma demanda judicial para determinar as reais divisas de suas propriedades, facilitariam nesse litígio, que nelas viessem se agregar centenas de posseiros. Um deles foi o pioneiro Januário Pereira de Araújo, construtor das primeiras cinco casas de madeiras entre os ranchos de sapé já existentes. No meio dessa aglomeração popular, se ergueu a Vila das Três Padroeiras, nome não oficial, que se transformou no Distrito de Dourados por força de lei municipal pontaporanense. A organizada família Mattos, a mais politizada de todas das afixadas, iniciou na década de trinta um movimento local visando à emancipação política administrativa municipal. Isto levou o interventor estadual Mário Correa da Costa a enviar um alto funcionário para esta região, especialmente celebrando a criação do município. Em seguida, numa confraternização popular, uma ata foi assinada por todos os líderes presentes, os mesmos que foram imortalizados numa foto do fotógrafo Raul Frost, no dia 20 de dezembro de 1935.
Esse documento, em seguida, foi transportado até a capital Cuiabá, para que de praxe se produzissem os efeitos legais. Quanto ao dúbio aniversário da cidade, ficam duas hipóteses a ser escolhidas: o dia da cerimônia local e a data da publicação no Diário Oficial do estado. Mas criado o município, os quarteirões e as novas ruas, na época, foram medidos pelos agrônomos Valdomiro Gonçalves e Wlademiro Müller do Amaral. Nessa ocasião, eram entregues sem custos, títulos de aforamento perpétuo para os primeiros moradores urbanos, garantindo-lhes a posse urbana definitiva. A palavra Dourados, pode bem ser identificada como o rio do tenente Antonio João Ribeiro, já que ele passava próximo do forte “dos dourados” onde ele resistiu bravamente aos invasores em solo pátrio. Entretanto, falar desta terra, como a de Antonio João, é produto de desconhecimento histórico de alguns escritores, porque estas terras jamais foram honradas com a sua patriótica presença.
Assim, com a divisão do estado, houve as gestões municipais progressistas e algumas delas certamente não tiveram a aprovação exigente dos munícipes, algo perfeitamente natural. Mas, mesmo assim acontecendo, a cidade de Dourados se tornou a maior cidade do interior. Devido ao grande numero de faculdades e universidades, hoje é considerada como a capital universitária do estado de Mato Grosso do Sul, com a pretensão de se tornar no futuro também num pólo industrial. Em se tratando desta cidade e do seu povo trabalhador, não duvido, porque economicamente já o é há muito tempo...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Gafes políticas.

Braz Melo (*)

Toda vez que participo de uma reunião onde têm autoridades, fico pensando nas gafes de políticos e também do cerimonial.
Outro dia participando de uma solenidade em um órgão, pude constatar que a pessoa que estava dirigindo os trabalhos, fez “questão” de esquecer de saudar alguns dos presentes, dentre eles a mim. Mais tarde o rapaz me procurou, dizendo que tinha esquecido de saudar a mim, como representante de autoridade e como amigo meu, pedia desculpas pelo esquecimento. Falei para não se preocupar com isso, pois ele não tinha idéia da quantidade de “esquecimentos” que já passei por esse mundo político.
Quando vice-governador, o chefe do cerimonial do estado cansou de saudar todos os presentes, inclusive as esposas das autoridades e esquecia-se do vice. No inicio ficava bravo e triste, mas depois de alguns meses, me considerava saudado quando, depois de todos denominados, saudavam as “demais autoridades”.
Quantas vezes nós já vimos ao comentarem sobre nosso estado, chamar de Mato Grosso em vez de Mato Grosso do Sul. E, no inicio de mandato, chamar o nome do antigo ocupante do cargo em vez do atual?
Lembro que uma vez ao abrir a Exposição Agropecuária e Industrial de Dourados, a Expoagro Dourados, representando o governador, a chamei de Expogrande, que é a homônima de nossa capital. Desconfiei quando o presidente da entidade não tirando os olhos de mim, levantava as sobrancelhas.
Em política é fundamental termos conhecimento do que falamos e discutirmos. É mais fácil e simpático passarmos a palavra para quem entende do assunto, do que querer falar sobre assuntos que desconhecemos.
E não se deve falar muito. Já foi a época de discursos longos. Fidel Castro falava oito horas seguidas. Ninguém agüenta.
Nós tivemos diversos oradores que falavam muito. Quando você vê um político falar de Norte a Sul, de Leste a Oeste, é porque além de prolixo, está pensando no que falar. O saudoso Senador Rachid Saldanha Derzi, quando se perdia durante um pronunciamento, colocava a mão na gravata e pausava seu discurso com um “realmente” mais longo.
Contam que o Deputado Federal Juarez Marques Batista, mestre em falar bastante, ao participar de um aniversário de quinze anos de uma afilhada em Aquidauana, pediu a palavra para saudá-la antes dos parabéns e fez uma grande retrospectiva da vida da afilhada e familiares, demorando muito em seu pronunciamento, que inclusive fez a aniversariante cair no choro. E ele, empolgado, acreditando que era pelo discurso que fazia, continuou o seu pronunciamento por mais tempo ainda, até que a aniversariante virou-se para seu pai e pediu para pedir ao padrinho que parasse o discurso, já que os seus convidados, cansados, estavam indo embora. Se demorasse mais um pouco não teria ninguém para cantar o “parabéns à você”.
Tem muitas estórias desse tipo, mas para não ser prolixo, conto aquela que estando em Campo Grande, junto com o Totó Câmara e o Roberto Djalma Barros, soube do falecimento da mãe do Levi Dias. Naquela época não tinha celular e as informações não se conseguia rapidamente como hoje. Fomos direto para o Cemitério Parque das Primaveras e chegando lá, entramos na sala que tinha mais gente. Ficamos um pouco e não achávamos o Levi para dar as condolências, até que o Djalma me deu um toque, dizendo que o enterro era de uma japonesa. Saímos de fininho e logo encontramos o Levi Dias que acabava de chegar acompanhando o corpo de sua mãe.