segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma história de amor...

Isaac Duarte de Barros Junior (*)
Nos tempos passados, quando faltava o sal, açúcar, remédio manipulado, tecido para confeccionar roupas do uso diário nas baiúcas comerciais e população para ocupar os espaços vazios em nossa vasta região desabitada, deu-se um idílio de amor que vou contar. Nessa época inocente e audaciosa, o corajoso agricultor mineiro da cidade de Alfenas, de nome João Camilo Martins e sua mulher Ana Ribeiro, colocaram as carretas puxadas por bois mansos na estrada, deixando uma rica região chamada Vista Alegre no povoado de Maracajú, lugar onde moraram algum tempo numa próspera propriedade rural. Porém, foi nessa conhecida localidade bem próxima daqui, que nasceu em 1912 o seresteiro nas horas folgadas de nome Manoel Ribeiro Martins, batizado inicialmente pelos pais com o nome simples de Claudemiro, nome este, transformado depois no seu apelido como todos o conheceram. Estar sempre de bom humor era uma das qualidades desse homem bom, vivendo na sua aconchegante fazenda ou passeando a cavalo pela cidade com um lenço vermelho amarrado no pescoço.
Em setembro de 1921, Claudemiro tinha nove anos de idade, quando chegou por aqui acompanhado dos seus pais e irmãos na boléia de uma carreta. A finalidade de seus genitores viajantes era a de morar no pequeno povoado douradense, numa chácara arrendada. Todavia, no primeiro ano de Claudemiro nestas paragens, acontecimentos nada auspiciosos para um garoto da sua idade, entraram em cena na sua vida, pois o irrequieto menino foi picado por uma cobra venenosa no pé esquerdo, quase morrendo. Sua avó materna a dona Marica, rezou fervorosamente prometendo que mudaria o seu nome para Manoel, santo da sua devoção, caso o neto sobrevivesse ao efeito do poderoso veneno. Sendo costume comum da época, os pais daquele tempo atrasar para registrar seus filhos, quando o cartorário Alberto de Carvalho registrou Claudemiro aos dez anos, já o fez colocando o nome de Manoel na certidão de nascimento.
Campereando gado gordo no pasto das grandes invernadas, marcando reses e apreciando bebida destilada, ele aprendeu a tocar violão com o barbeiro paraguaio Paulino Garcete e se aprimorou no instrumento recebendo aulas de violão do seu austero vizinho Januário de Araújo, pai da formosa Silvia Araújo, primeira paixão platônica do moço Claudemiro. Para ver essa jovem, mesmo que fosse olhando de longe, Claudemiro freqüentava diariamente a casa do mestre Januário, dono de uma olaria próxima da chácara onde ele vivia com seus pais. Como não era correspondido pela moça formosa no plano sentimental, Claudemiro contentou-se em fazer parte de um quinteto musical no qual a bela Silvia tocava violão, fazendo a primeira voz quando cantava. Mas, passada essa fase de paixão juvenil, Claudemiro casou-se com a bela Alice Rosa Light no ano de 1939, que havia conhecido em 1931, com ela, esse pioneiro teve nove filhos.
Esse grupo musical do velho Januário, só tinha outra banda rival nas festanças de aniversários e casamentos. Eram os artistas componentes do trio paraguaio de Marcílio Vargas, rapazes pedreiros de profissão, moradores na Cabeceira Alegre. Com eles tocando ou cantando em muitos bailes de ramadas, noitadas alegres aconteceram nesta cidade no seu começo. Já bem velhinho, lembrando da professorinha Silvia, que mais tarde virou sua fraternal amiga, eu vi uma lágrima furtiva rolar no seu rosto enrugado ao falar dos tempos passados e preferi não fazer quaisquer espécies de comentários sobre o assunto. Porém, se existe alguém vivo, sabendo mais coisas a respeito desse amor não correspondido, se é que o idílio aconteceu realmente, essa pessoa é o médico Dr. Júlio Capilé, lúcida testemunha quase centenária e o maior conhecedor da história antiga local, principalmente a daquela época...

(*) Criminalista e jornalista
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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