sexta-feira, 18 de junho de 2010

NORDESTINOS PIONEIROS

Isaac Duarte de Barros Junior *
Quando os trabalhadores nordestinos pioneiros, incentivados pelo governo federal, principiaram a desembarcar nas matas da colônia de Dourados na metade dos anos quarenta, iniciava-se na era Vargas o ciclo da chegada dos futuros povoadores mais importantes dessa vasta região. Graças aos fortes primeiros nordestinos, retirantes esperançosos das cálidas terras brasileiras, em breve fundar-se-ia novos municípios, incorporando-os mais tarde ao mapa geográfico de Mato Grosso. Todavia, no período de desbravamento do cone sul, esses agricultores chegavam cabisbaixos, trôpegos e com os corpos cansados devido á percalços da viagem. Geralmente, essa jornada migratória era esquematizada no vizinho estado de São Paulo, concluindo a sua ultima pior etapa, na desconfortável carroceria de velhos caminhões fretados ou na “jardineira” do Adão Loureiro (atual Expresso Queiróz). Na época, essa hoje sólida empresa sul-matogrossense, tinha apenas um ônibus revestido de tábuas, com seu dono no volante, outro legendário nordestino.
Entretanto, nesses velhos idos, os trabalhadores apelidados de “cabeças chatas”, quando procedentes do Porto XV usavam os caminhões “pau de arara”, que certamente os conduziria aos solavancos pelos ermos estradões de terra, pois o asfalto nem se cogitava. Desse modo, só sendo passageiros procedentes de Campo Grande, então a rota da chegada pelos trilhos da Noroeste do Brasil, que esses nordestinos se deslocariam usando a “jardineira do Loureiro”, para concluir o difícil trajeto. Aproximando-se dos seus assentamentos na CAND, seguindo caminhos diferentes dos atuais, os nordestinos precursores, normalmente, também usavam pequenas carroças e charretes alugadas.
Essa tração animal ou as charretes de aluguel, como meio trivial urbano de locomoção, durante anos foram conduzidas pelos saudosos irmãos Libório entre outros inesquecíveis charreteiros, guiando-as na boléia. Servindo de primeiros “táxis” douradenses, os “charreteiros” atendiam solicitamente a telefonemas, funcionando como uma oferta antiquada de trabalho honrado. Estacionadas nos “pontos” instalados nas esquinas do centro douradense, essas charretes de aluguel, foram bastante usadas nas ruas lamacentas do século passado em dias de chuva torrencial. Mas, nos tempos de modernos coletivos, acabaram sendo ultrapassadas pelo progresso, desaparecendo de circulação nos anos oitenta. O primeiro e ultimo “ponto” de charretes, funcionou na Avenida Presidente Vargas, na confluência da Avenida Marcelino Pires.

A zona rural douradense, geograficamente destinada a CAND, na divisão original feita no município de Dourados, seria influenciada politicamente pelos nordestinos, quebrando o tradicional rodízio dos sulinos gaúchos e mineiros das alterosas no comando do Paço Municipal. O prefeito Antonio de Carvalho, nos anos quarenta, foi o primeiro desses nordestinos eleitos, embora fizesse oposição ao governo de Getulio Vargas. Seguindo-se a este alcaide, outros prefeitos douradenses figuram como políticos nordestinos de nascimento. Embora os migrantes gaúchos, tenham chegado no final do século dezenove em Dourados, os sulistas tornando-se fazendeiros, decidiram cuidar da economia e do desenvolvimento privado. Quanto aos “redutos” de nordestinos politizados, ao conseguirem ser desmembrados, ficando independentes do município de Dourados, logo surgiriam como municípios prósperos, assumindo seus dirigentes as rédeas da política estadual, através de seus descendentes e migrantes brasileiros adotados pelas suas respectivas cidades.
Sabedores da necessidade cultural para dirigir, os nordestinos lutaram pela implantação de universidades, ou enviaram seus filhos para completar os estudos em grandes centros. O interessante nessas comunidades exemplares, é que eles não se deixaram hipnotizar e nem permitiram que a desgraça tomasse forma de mando, outorgando a chefia de qualquer coisa para despreparados semi-alfabetizados. Essa cartada, usada num sábio jogo de cintura, evitou-lhes ter de passar pela execração hilária a que estão sendo submetidos alguns municípios conhecidos nas suas vizinhanças. Anátema de problemas, que se não fosse uma praga em forma do retrocesso, poderia ser contabilizado como mais um prejuízo temporário causado por eleitores desorientados...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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