segunda-feira, 7 de junho de 2010

LENHEIROS E CARPINTEIROS

Isaac Duarte de Barros Junior*
Extraindo árvores nativas selecionadas, os antigos madeireiros apelidados popularmente de mateiros, foram uma das especialidades em carpina. Encarregados do fornecimento da matéria prima destinada as primeiras casas construídas nos povoamentos, eles entravam nas matas densas e lá escolhiam a árvore que deveriam serrar. Talhadas manualmente, esse ritual pioneiro exigia um enorme conhecimento profissional sobre qual o tipo de corte que deveria ser utilizado na madeira. Desse modo antiquado, aqueles carpinteiros arcaicamente se valiam de métodos artesanais, fosse fabricando tábuas ou sepilhando os demais madeiramentos. Dependendo da região, o conhecimento a respeito da diversidade das árvores escolhidas, era uma qualidade muito importante para contratar-se um mateiro. As tabuas tinham que ser serradas, rigorosamente dentro das medidas, demonstrando outro dos grandes atributos desses profissionais. Quanto aos “rudimentares” machados, invés da “moderna” lamina manual de serrar troncos, se utilizados nessas ocasiões, só eram usados durante a derrubada da árvore.
Entretanto, havia um grande diferencial comparativo, entre aquilo que significaram os trabalhadores mateiros carpinteiros e lenheiros comuns. Afinal, os primeiros, se religiosamente professavam o catolicismo, eram devotos de São José. Enquanto que os lenhadores, chamados de derrubadores de árvores, foram fiéis ao cristão Santo Antão, um pregador egípcio do século lll. Carpinteiros, nessa época, considerados marceneiros das construções de madeira, satirizavam a falta de conhecimentos dos lenheiros. Assim acontecendo, os alcunharam de “antas”, numa clara alusão as suas ignorâncias em aritmética. Naqueles idos, a lenha sendo barata, não passava de material para consumo, queimada nos fogões das residências, trens, barcos e olarias.
Todavia, novas cidades brasileiras, enchiam de dinheiro os bolsos dos carpinteiros, com casas de madeira erguidas diariamente. Pinheirais da região sul, devido ao seu uso em tudo que se levantava, tiveram araucárias quase dizimadas. Enquanto que no centro-oeste, muita madeira de lei desapareceu da vegetação. O desmatamento, desse período, iniciaria o efeito estufa, sem que nenhuma precaução fosse tomada pela população brasileira crescendo descontrolada. Governantes, já que a grande preocupação era ocupar as terras desabitadas no interior e nas fronteiras, pouca ou quase nenhuma cautela tiveram com a biodiversidade, programando as migrações e facilitando as imigrações pela via marítima, gente que depois devastou mananciais e florestas virgens inteiras.
Mas, se os madeireiros carpinteiros eram profissionais privilegiados desempenhando essas suas funções construtoras, o mesmo não aconteceu com os lenheiros ou lenhadores. Os quais, profissionalmente, eram tratados como simples vendedores comuns de um produto abundante. Ademais, cortar as madeiras e vende-las em forma de lenha, comercialmente só existiu nas cidades, isso até a chegada dos fogões a gás. Adolfo Knopka, descendente de poloneses foi um dos últimos lenheiros tradicionais que conheci. Diziam que no começo das suas atividades, ele tinha um carroção de quatro rodas e dois cavalos zainos fogosos, puxando-o para fazer suas vendas de lenha nas residências.
Já Barnabé Minhos, um dos primeiros migrantes gaúchos nesta região, nela exerceu a profissão de carpinteiro, trabalhando durante anos em Dourados no começo do século vinte. Barnabé, espelhando-se nos seus colegas de profissão contemporâneos, era um artesão das madeiras, fazendo engenhosas máquinas de moer cana-de-açúcar, construções de madeira, coxos para alimentar o gado e mujolos d’água ”socadores” de mantimentos em grãos. Suas qualidades eram tão reconhecidas nessa época, dada a qualidade dos seus serviços, e em muitas propriedades rurais centenárias, que suas obras de carpintaria ainda permanecem bem conservadas.
Por outro lado, Pedro “paraguaio”, de compleição física avantajada, era homem demorado nos seus serviços devido aos intervalos para tomar tereré e tirar a “siesta” do almoço. Tinha como os demais carpinteiros naqueles primeiros tempos, sua freguesia e muito trabalho. Porém, esses homens, salvaguardadas as diferenças no tratamento comercial dado, foram pessoas interessantes como habitantes do século passado.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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