quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quem não se comunica...

Braz Melo (*)
Participei de diversas campanhas políticas. Cada uma tem suas peculiaridades e muitas estórias. Hoje descrevo algumas, porém existem algumas regras que são válidas para todas. Vamos lá.
Quando garoto, meu avô era udenista, apaixonado pelo Brigadeiro Eduardo Gomes e meu pai torcia pelo Getulio Vargas. Mesmo assim eles se davam bem. Talvez por esta democracia vivida dentro da família, ficou fácil torcer pelo Fluminense, mesmo sendo meu pai vascaíno doente.
E quem participa da política tem de ser assim. Não se deve misturar política com amizade. Quantos amigos temos que não comungam da mesma ideologia que a gente? E não é por isso que deixamos de sermos amigos. Se fosse o contrário não valeria a pena fazer política, pois esta é também a arte de conviver com os opostos.
Imagina se o eleito só atendesse os anseios e solicitações dos companheiros que acreditasse, tivessem votado nele.
Uma coisa é compor sua assessoria de pessoas de sua confiança e outra coisa é administrar somente atendendo seus companheiros.
Eu mesmo tive a oportunidade de rever secretarias que estavam com pessoas que me ajudaram a ganhar a eleição e que por necessidade de troca, fazer por um que não era companheiro de então.
Exemplo disso foi quando o Valfrido Silva, que era meu Secretário de Comunicação em 1989 foi convidado para ser Diretor de Jornalismo da TV Morena em Campo Grande, função de grande importância para Dourados e região, escolhi uma profissional para substituí-lo que tinha feito campanha para o José Elias, meu adversário. E a Maria Gorete se incorporou muito bem em nosso meio.
Logo que aqui cheguei, na década de 1970, lembro da fotografia oficial do Prefeito João Totó Câmara, onde abaixo de sua foto, tinha os dizeres: “Prefeito de todos os douradenses”. Aquela frase me chamou a atenção e me norteia até hoje. E aquela época era de política de dois lados. Não tinha coluna do meio. O meu amigo Harrison de Figueiredo me contava que quando um adversário ganhava a eleição, ele não pisava nem na calçada da Prefeitura durante os anos governados pelos outros. Assim também se portava o grupo antagônico.
A primeira vez que participei de uma campanha, ainda de maneira tímida, foi quando o José Elias ganhou do candidato que votei, o Lauro Machado. Naquela eleição, além de apoiar o Lauro, ajudei o Valter Baiano, candidato a vereador que conseguiu, com minha ajuda, 92 votos. O Valter Baiano era comunista de carteirinha e vendia bilhete da loteria federal. Tinha vindo de Vitoria da Conquista para Dourados a fim de gerenciar o Expresso Real. Acabou se apaixonando por nossa cidade e aqui ficou. Com nome de comandante da Marinha, Valter Fernandes de Oliveira Santos, era um homem inteligente, com uma cultura acima do normal e ra um gozador de marca maior. Até hoje sinto falta de nossa prosa.
Nesta eleição, tinha comícios todas as noites. Fazia comícios em todos os bairros, distritos e travessões. Era uma festa todo dia. Um dia no Barreirinho, no dia seguinte em Vila Vargas e assim passavam 90 dias tentando convencer os eleitores de suas propostas. Na eleição para vereador a disputa era voto a voto.
No dia da eleição 1976, ao sair de casa para ajudar meu candidato, Anete me perguntou para quem eu iria votar para vereador. E eu preocupado com o pleito, secamente falei que era no Valter. Quando saiu o resultado e chateado pela pouca votação de meu vereador, descobri que Anete tinha votado no Valter errado. Votou no Valter Carneiro, nosso amigo, mas que era adversário político. Tempos depois morríamos de rir com o engano nosso. Quem não se comunica...

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