terça-feira, 13 de abril de 2010

ANGÉLICA...

Isaac Duarte de Barros Junior*
O Distrito de Angélica no século passado foi um dos mais fortes redutos petebistas que existiu na região da grande Dourados, lugar onde a gratidão do colono eleitor nordestino por Getulio Dorneles Vargas, acentuadamente se consolidou com o suicídio presidencial em 1954. Naquela localidade, nós os antigos militantes ex-udenistas, tínhamos em qualquer situação eleitoral o nosso calcanhar de Aquiles. Como nos anos setenta, quem ganhava as eleições na zona rural definia o pleito municipal, José Elias Moreira um perdedor nesse reduto na primeira vez que se candidatou ao cargo, naquele resolveu mineiramente preparar-se para concorrer novamente. Nessa feita, voltando a disputar a prefeitura na sucessão do prefeito João da Câmara, o mineirinho montou uma estratégia juntamente com outros correligionários políticos. Entre eles, estavam o pecuarista Antenor Martins Junior e o farmacêutico Arnulpho Fioravanti. Assim, acompanhado do motorista João Amaral, eu e o barbeiro José Batista dos Santos, o “Zé do Norte”, Zé Elias, funcionário licenciado do INCRA, usando um fusquinha, desembarcamos temporariamente na residência do falecido comerciante Cícero Ferro.
Depois, já acomodados em uma pensão, quando Angélica ainda era pequeno povoado sem atrações noturnas, dividi um quarto modesto da pousada com o motorista João Amaral, companheiro leal da “missão” estabelecida. Uma noite, um bêbedo nordestino me chamou a atenção. Embriagado, meio sonolento, o pinguço cantava uma canção com estes versos: “Lampião tava drumindo, acordou com dor de dente e atirou numa abraúna, pensando que era um tenente...”. A cena engraçada, apesar dos anos transcorridos, continua marcada na minha memória. Nessa época saudosa, a “comissão do sim” para manumitir Angélica, reunia-se a noite na casa do “seu” Tito, às vezes, até a luz de lampião. Entre as pessoas conhecidas arrojadas da época, estavam presentes o professor Ivo Nascimento, Antenor Vargas, os membros da família Ferro, Doralice Wolf e outros personagens componentes da operante caravana pró-emancipação daquele município. Lembro, que tempos depois, nomeado delegado municipal de policia, João “gordo” Pereira acabaria me convencendo a alugar uma sala no centro de Angélica, onde eu abri o primeiro escritório de advocacia daquele município. Ali, passei a atender clientes duas vezes por semana na área criminal. Mas, o município de Angélica, nesse tempo, para minha especialidade, era ordeiro e pacato demais. Com isso acontecendo, durou pouco tempo as minhas atividades advocatícias naquela cidade.
José Elias Moreira, jovem mineiro nascido em Poços de Caldas, acostumado a fazer longas caminhadas, animado, todos os dias fazia centenas de visitas domiciliares, exortando a população que votasse na campanha em favor do “sim” daquele plebiscito. Pois, caso o movimento fosse vencedor, ele explicava que transformaríamos o Distrito de Angélica em novo município sul-mato-grossense. Do lado oposicionista, como destacada liderança, a advogada Marieta Pereira de Souza, então professora, trabalhava pelo voto “não”. Por ironia do destino, venceu a campanha plebiscitária do voto “sim” e a Dra. Marieta Pereira de Souza, elegeu-se como a primeira prefeita de Angélica, fazendo uma excelente administração. O José Elias Moreira, filho esperto da dona Chiquinha e do velho Quinsito, se livrou naquela tacada de mestre, dos votos petebistas de Angélica, elegendo-se finalmente prefeito de Dourados. Depois, candidatou-se a governador e foi deputado federal constituinte. Seu mandato federal teve a produtiva duração de duas legislaturas.
José Batista dos Santos, o “Zé do norte”, eufórico, nessa época, profetizava que durante vinte anos, aquele nosso grupo entusiasta de jovens políticos permaneceria no poder, um presságio que quase acabou acontecendo. Quanto ao comerciante idealista Cícero de Oliveira Ferro, este se elegeu vereador pelo município de Angélica, todavia morreu assassinado no interior do seu estabelecimento comercial. A fatalidade ceifou também a vida do saudoso vereador Ediberto Celestino de Oliveira, o ultimo edil eleito na comunidade de Angélica para compor a Câmara Municipal de Dourados. Todavia, enquanto durou seu mandato, Ediberto foi um homem valoroso na Tribuna. Assim, depois dessa trabalhosa emancipação política, enfim surgiu no mapa de Mato Grosso do Sul a progressista cidade de Angélica. Hoje, um centro agro-pecuário comercial muito próspero, orgulhando a todos os moradores, residentes no Vale do Ivinhema...
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria.
    Se quiser mais informações tem um blog com trechos de textos retirados do Livro Angélica - Paixão de Um Povo.
    www.angelicamsmaio.blogspot.com

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