domingo, 2 de maio de 2010

ADELANTE PALOMITA!...

Isaac Duarte de Barros Junior*
No primeiro dia do mês de maio douradense, o felizardo torcedor que ganhar um convite do Palomita, poderá ter um assento na arquibancada da saudade, se souber sonhar. Dominando as lágrimas das lembranças, o obsequiado poderá aplaudir com as batidas do coração, os grandes atletas e dirigentes de futebol do passado local. Alguns artilheiros já falecidos, nessa festividade singular, parecem retornar da eternidade, graças ao ambiente proporcionado pela família do ex-meio-atacante Euzébio Lopes, o primeiro palomita, nascido em 23 de março de 1934, em Porto Murtinho. Com um pouco de imaginação, os convidados conseguem fazê-los voltar a pisar nos gramados dos sonhos, prontos para jogarem as inesquecíveis partidas dominicais entre Operário e Ubiratan.
Consumindo um pouco mais da cerveja gelada, lá servida com carinho, Ranulpho Saldivar e Hayel Bom Faker, de guarda-chuva na mão, podem aparecer na memória e tomarem assento nas suas cadeiras reservadas, instaladas na beira do campo na L.E.D.A. Napoleão Francisco de Souza, de revólver na cintura, certamente surgirá pronto para ser o árbitro desse encontro, enquanto um grego alcunhado de Fisíca, se posicionará como massagista. Alambrados de madeira, construídos no antigo estádio municipal da liga, vulgarmente chamados de “puleiros”, lotado de torcedores alvoroçados, voltam milagrosamente a se acotovelar, vezes gritando, ora aplaudindo. Norton Saldivar, ídolo maior da torcida operariana, seguido do companheiro Ramon Bobadilha, parece que acenam para os populares.
De repente, naquele congraçamento anual de desportistas de épocas diferentes, agora misturados, Raphael Bianchi, Fredis Saldivar, Ataliba Penzo, Piper, Valdessi, Oduvaldo Pompeu, Pilo Além, Miro, Munir e Fauze Faker, Leba, Zé Paulo, Nenzo, Mauro Alonso, Jairo Quadros e Tarzan, são escalados para o jogo amistoso das recordações. Mas, Odilon Azambuja, Taifa, Alfio Senatore, Alonsito, Abel Campos, Davi, Mancha Negra e Pedro Lopes, também dão mostras de querer participar do encontro. Nisso, uma gargalhada alta, aflorada nos lábios de um convidado do Euzébio Lopes, interrompe as reminiscências saudosistas deste escriba, mostrando pessoas anatomicamente envelhecidas pelo transcurso do tempo. Pois na verdade, no grande Itália, idealizado pelo engenheiro Vitório Fedrizzi, recanto da colônia paraguaia, morada dos pedreiros que construíram a maioria dos prédios da cidade de Dourados, acontecia salutarmente uma reunião predisposta a homenagear o falecido ex-vereador Valter Brandão da Silva. Para tanto, respeitosamente, uma delicada placa de prata foi entregue a sua viúva Arenil Carneiro da Silva.
O ato cerimonioso demonstrava um pleito de gratidão dos velhos atletas, pelos seus feitos em benefício do esporte local. O cerimonial doméstico, prosseguindo, proporcionou a fala de muitos oradores, que usavam sensibilizados da palavra, prestando tributos ao saudoso treinador “mandioca”. Seguiram-se pós-homenagens, fotos de flash-back e abraços fraternais entre os presentes. O som ao vivo da alegre música paraguaia, adoçava os ouvidos dos convidados, enquanto algumas senhoras serviam um lauto almoço de confraternização.
Parcimoniosas as minhas acumuladas emoções, vê-se que convidados, desportistas veteranos, começavam a remexer no suposto velho baú das recordações. Alkindar Rocha, agora de cabelos grisalhos, trocava figurinhas do seu vasto conhecimento histórico desportivo. Ao seu lado, o vigor de Valdessi Carbonari, sorria como sempre. Albino Torraca de Almeida, um dos fundadores do Operário Futebol Clube em 05 de maio de 1953, lembrava-se da ata assinada em companhia do meu pai e que seu genitor Dalmário Vicente de Almeida, havia presidido o operário FC, o mesmo acontecendo com seu irmão Dr. Heitor, odontólogo e advogado. Eduardo Lopes, o segundo “palomita” que trabalha em uma rádio FM, assessorava com os demais irmãos Ramão, Luiz Carlos, Eusébio e Guedes, o entra e sai dos convidados da solenidade. Desta vez, organizada na residência da filha do veterano jogador, a Dra. Plácida e seu marido Manoel Machado, impecável churrasqueiro.
Cercado desse clima inebriante, meus pensamentos, momentaneamente, transportaram-me aos logincuos domingos da distante mocidade. Assim, em pleno campo da L.E.D.A municipal, voltei a viver as emoções na cabine da rádio clube, trabalhando em companhia dos locutores esportivos Roberto Pompeu, Luiz Antonio Maksoud Bussuan, Percival de Assis e Caiado Netto. Todos nós, assistidos tecnicamente por Ermelindo Azevedo e Jorginho Salomão. Cada qual, nessa recordação, éramos jovens, ainda moços sorridentes, com todo o futuro pela frente, respeitadas as devidas épocas. Olhando no interior do campo, hipnotizado por essa abstração na Vila Hilda, acho até, que ouvi novamente o seu Ranulpho Saldivar, gritar como de costume: adelante palomita, mire bien nel arco!... Fechando os meus olhos, nessa solenidade desportiva que se repete há quase trinta anos, chorei de saudade em silencio.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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