Braz Melo (*)
A música “Chove chuva” de Jorge Ben quase todo mundo com mais idade conhece. Mas não é dela que vou focar no assunto hoje, e sim da chuva que todos os douradenses estão esperando e ela teima em não vir.
Os agricultores, na sua grande maioria, já perderam o primeiro plantio, e se não chover logo, podem perder a segunda e ultima chance de colheita desta safra.
Estou escrevendo este texto dia 20 de dezembro. Dia de Dourados. Dia em que o governador Mario Correia assinou o decreto criando esse município há setenta e três anos. Como os meus artigos saem às quintas feira, e hoje ainda é sábado, quando publicado, espero estar “chovendo no molhado”.
Crise? Que crise? Só aquela que vemos no Jornal Nacional, que falam que está acontecendo nos Estados Unidos e no resto do mundo. Aqui, crise é só de chuva. Sobre a crise de lá, não creio que Dourados vá sofrer com ela. Só se não chover, pois aqui estamos preparados para nem se lembrar dela.
As grandes indústrias que temos aqui estão consolidadas e foram criadas há quase vinte anos, com as preciosas ajudas do Waldir Guerra, quando Secretário de Indústria e Comercio e Flavio Derzi, como Secretario de Agricultura do Estado. E claro com a anuência do Governador Marcelo Miranda e do vice George Takimoto.
Hoje somos um município que além do agro-indústria, somos um pólo prestador de serviços e uma cidade com diversas universidades. Para ter crise, teria de atingir pelo menos dois desses segmentos.
A única dificuldade que podemos ter é no setor sucroalcooleiro que está iniciando, mas será geral, não especifico de nossa região.
Na prestação de serviços, acima da Avenida Weimar Gonçalves Torres até a Rua Ponta Porã, vocês já notaram que está se transformando em só clínicas e consultórios? E da Rua Joaquim Teixeira Alves até a Rua Cuiabá, pela proximidade do fórum, funciona os escritórios de advocacia. Os nossos profissionais liberais daqui atendem todo o sul do estado e até o Paraguai.
Preocupados devem estar os corumbaenses, que mesmo passando Dourados em arrecadação de ICMS por causa da mineração e dos royalties do gás, em novembro já deu férias coletivas a MMX , industria metalúrgica que ajudou a alavancar estes índices.
Três Lagoas também acredito que poderá ter problemas, pois estava se preparando para conseguir grandes indústrias, como fizemos vinte anos atrás, e antes de ter seu desejo concluído, chegou a crise mundial.
Em Dourados, nas festas e outras rodinhas que se formam nessa época do ano, só falam na saudosa chuva.
Aqui, não se falam nem do prefeito que está entrando, nem do que está saindo. É só da falta de chuva que se fala.
E lembro que há alguns anos chovia muito mais do que atualmente. Aqui começava a chover em novembro e ia até março. Mudaram até a nossa data da exposição de gado, que era em novembro e passou para maio por causa da dita cuja.
Uns falam que é por causa do desmatamento. Outros falam que depois que foi construída a Usina de Itaipu, nós ficamos numa região que passou a chover menos. Chove mais perto do lago de Itaipu e aí só em Maracaju, em Nova Alvorada, mas não chove aqui. Ficamos na faixa de pouca precipitação pluviométrica.
Até nos cultos, e acredito que também nas missas, é pedido para que façamos orações para que chova.
De nossa parte, estamos orando para que venha a chuva o mais rápido e que todos possam passar um fim de ano feliz, pedindo a Deus que continue a abençoar nossa cidade e todos que vivem nela.
E que 2009 seja um ano esperado por todos, como ano de boas novas. E com bastante chuva, “pero no mucho”.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
BRAZ, O PLANTADOR DE MANGAS...
Isaac Duarte de Barros Junior *
Adotando atitudes semelhantes com as do lendário agricultor irlandês que teria semeado milhares de macieiras nas inóspitas futuras searas das terras americanas do continente norte, muitos administradores de pequenas e grandes cidades no continente do sul, também escolheram uma fruta predileta para cultivar coletivamente, objetivando degusta-la futuramente com as demais pessoas na comunidade. Seguindo um plano agronômico pesquisado, eles distribuíram essas mudas frutíferas escolhidas, organizadamente plantando-as em grande escala. Toda essa iniciativa gerenciada por representantes dos Poderes Públicos de muitos povos, eu percebi existir pela primeira vez, na hora da ciesta em turismo no Paraguai. Observei para extrair essa lógica conclusão, os centenários laranjais plantados e espalhados por toda a cidade de Assuncion, graças à iniciativa e os imensos cuidados dos históricos catequizadores de índios guaranis ao cristinianismo, os primeiros padres jesuítas. Como peculiaridade frutífera vegetal nativa ou cultivada, respeitados os aspectos climáticos, eu concluí que todas as espécies frutíferas cultivadas, acabaram envolvidas inevitavelmente com os nomes dessas comunidades. Por conseqüência, transformaram-se no transcorrer do tempo, em um sinônimo identificativo quando alguém se referia ao local. Muitas vezes, ao declinar os nomes de algumas cidades sulmatogrossense, já ouvi alguém antecipar os codinomes: terra do figo, da jabuticaba, do caju, das goiabeiras, dentre outros nomes. O apelido dado a todas elas, isso merece ser lembrado, surgiu em decorrência dessas plantas, dominarem a paisagística central urbana e periférica dessas cidades. Algumas localidades conseguiram contrariar esse princípio, exemplifico o caso de Coxim. Certamente seria a terra do caju, se o folclore não a transformasse na do pé de cedro.
Dourados como muitas outras das nossas novas e velhas cidades regionais, poderia ter se tornado conhecida simplesmente como a terra dos guavirais, se a frutinha nativa não houvesse quase desaparecido dos nossos campos virgens, exterminada sem nenhuma contemplação, pela empolgação sulina colonizadora de plantar o trigo e cultivar a soja. Essa quase extinção da frutinha silvestre nos colocou como exportadores no mercado de grãos. Mas antes dessa fase grandiosa começar, houve o período do Vavá, apelido dado a um personagem tradicional da família Brandão, filho do ex-prefeito Álvaro Brandão, que viveu e morreu solteiro em uma casa velha de madeira. Essa residência foi construída nas proximidades onde inicialmente existiu um prédio de cinema. Ele sofreu na juventude, a revés das seqüelas maléficas provocadas pela doença da meningite. Era um contador de anedotas difíceis de entender, é que o Vavá tinha dificuldades para articular as palavras e quando contava uma piada, só ele ria no final. Esse pioneiro desocupado, tentando arrumar na vida alguma ocupação para preencher as monotonias peculiares a sua enfermidade, andou freneticamente durante algum tempo, plantando por todas as esquinas douradenses, sementes da fruta romã. Acreditava, ter aquela redonda fruta da romã os conteúdos medicinais para se evitar a doença que o vitimara na juventude. A idéia sertaneja desse homem nunca propagou ou prosperou apesar do seu conhecido arrojo e assim o projeto morreu com seu criador, o Vavá Brandão. Diziam os mais antigos povoadores douradenses, muitos deles foram meus conhecidos, que esse senhor simpático foi o autor do plantio dos pés de romã nos quintais tradicionais e algumas das frutas mais velhas, diziam, que produziam resultados afrodisíacos inesperados, comendo-se cinco sementes da romã.
O rádio-operador ocasional Pedro Recchi, foi outro reconhecido plantador comunitário de árvores frutíferas, isto o fazia quando não estava trabalhando na sua oficina de ferragens na década de mil novecentos e trinta. Sua verdadeira nacionalidade pareceu-me ter sido a argentina devido o seu sotaque carregado, ao menos eu assim achava quando conversávamos. Afinal, foi ele mesmo quem se auto-registrou. Nessa época, a lei permitia e o ato aconteceu no cartório dos Carpes. Era o ano de mil novecentos e doze no município de Ponta Porã. Afirmava, quando algumas vezes perguntei, que era gaúcho de São Borja. Acredito que ele mesmo escolheu essa cidade, por ser um fã petebista incondicional do presidente ditador Getúlio Vargas, nascido naquele município gaúcho.
Aliás, os gaúchos da era getulista que chegavam para morar em Dourados, costumavam ter essa tendência optativa de nascimento. Pedro Recchi, falava fluentemente e me ensinou as primeiras noções da língua italiana e possuía consigo costumes bem típicos de um curandeiro. Meio metido a alquimista, usava essência das folhas de laranja brava que plantava pela cidade e no seu quintal, para fazer compotas de doce e água de cheiro. Garantia que conquistou a paraguaia Gumercinda, exalando esse perfume no primeiro encontro, namoro acontecido na fazenda Campanário. Para resumir, o seu Pedrinho Recchi, começou em 1946 a cultivar algumas figueiras argentinas. Porém, quando morreu com 102 anos de idade, a única figueira que restou do seu pretenso projeto urbanístico, foi uma plantada em companhia do ex-prefeito João Vicente Ferreira, que agora é parte integrante do patrimônio histórico. As outras ainda restantes, quem mandou colocar foi o ex-prefeito Antonio de Carvalho.
Entretanto, foi um engenheiro civil, o ex-prefeito Antonio Genelhu Braz Melo, quem transformou Dourados na cidade das mangueiras. Por informações, frutos estes do mais puro acaso, eu fiquei sabendo que esse ex-alcaide municipal, encomendou cinqüenta mil mudas de pés de manga na sua inesquecível gestão. Em seguida, mandou planta-los pela cidade e presenteou para os munícipes as mudas restantes das suas preciosas frutas mangas alimento. Como nunca fui seu correligionário político, não sei se é verdade ou se é mentira, porém afirmam os conhecedores dessa antiga mania desse prócer político em cultivar mangas para alimentar o povo, que o ex-prefeito Braz Melo, quando em substituição legal, tornando-se o governador de Mato Grosso do Sul, encheu de mangas até onde pode, a área reservada ao Parque dos Poderes, na cidade de Campo Grande, com incontáveis mangueiras de diversas qualidades...
*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com
Adotando atitudes semelhantes com as do lendário agricultor irlandês que teria semeado milhares de macieiras nas inóspitas futuras searas das terras americanas do continente norte, muitos administradores de pequenas e grandes cidades no continente do sul, também escolheram uma fruta predileta para cultivar coletivamente, objetivando degusta-la futuramente com as demais pessoas na comunidade. Seguindo um plano agronômico pesquisado, eles distribuíram essas mudas frutíferas escolhidas, organizadamente plantando-as em grande escala. Toda essa iniciativa gerenciada por representantes dos Poderes Públicos de muitos povos, eu percebi existir pela primeira vez, na hora da ciesta em turismo no Paraguai. Observei para extrair essa lógica conclusão, os centenários laranjais plantados e espalhados por toda a cidade de Assuncion, graças à iniciativa e os imensos cuidados dos históricos catequizadores de índios guaranis ao cristinianismo, os primeiros padres jesuítas. Como peculiaridade frutífera vegetal nativa ou cultivada, respeitados os aspectos climáticos, eu concluí que todas as espécies frutíferas cultivadas, acabaram envolvidas inevitavelmente com os nomes dessas comunidades. Por conseqüência, transformaram-se no transcorrer do tempo, em um sinônimo identificativo quando alguém se referia ao local. Muitas vezes, ao declinar os nomes de algumas cidades sulmatogrossense, já ouvi alguém antecipar os codinomes: terra do figo, da jabuticaba, do caju, das goiabeiras, dentre outros nomes. O apelido dado a todas elas, isso merece ser lembrado, surgiu em decorrência dessas plantas, dominarem a paisagística central urbana e periférica dessas cidades. Algumas localidades conseguiram contrariar esse princípio, exemplifico o caso de Coxim. Certamente seria a terra do caju, se o folclore não a transformasse na do pé de cedro.
Dourados como muitas outras das nossas novas e velhas cidades regionais, poderia ter se tornado conhecida simplesmente como a terra dos guavirais, se a frutinha nativa não houvesse quase desaparecido dos nossos campos virgens, exterminada sem nenhuma contemplação, pela empolgação sulina colonizadora de plantar o trigo e cultivar a soja. Essa quase extinção da frutinha silvestre nos colocou como exportadores no mercado de grãos. Mas antes dessa fase grandiosa começar, houve o período do Vavá, apelido dado a um personagem tradicional da família Brandão, filho do ex-prefeito Álvaro Brandão, que viveu e morreu solteiro em uma casa velha de madeira. Essa residência foi construída nas proximidades onde inicialmente existiu um prédio de cinema. Ele sofreu na juventude, a revés das seqüelas maléficas provocadas pela doença da meningite. Era um contador de anedotas difíceis de entender, é que o Vavá tinha dificuldades para articular as palavras e quando contava uma piada, só ele ria no final. Esse pioneiro desocupado, tentando arrumar na vida alguma ocupação para preencher as monotonias peculiares a sua enfermidade, andou freneticamente durante algum tempo, plantando por todas as esquinas douradenses, sementes da fruta romã. Acreditava, ter aquela redonda fruta da romã os conteúdos medicinais para se evitar a doença que o vitimara na juventude. A idéia sertaneja desse homem nunca propagou ou prosperou apesar do seu conhecido arrojo e assim o projeto morreu com seu criador, o Vavá Brandão. Diziam os mais antigos povoadores douradenses, muitos deles foram meus conhecidos, que esse senhor simpático foi o autor do plantio dos pés de romã nos quintais tradicionais e algumas das frutas mais velhas, diziam, que produziam resultados afrodisíacos inesperados, comendo-se cinco sementes da romã.
O rádio-operador ocasional Pedro Recchi, foi outro reconhecido plantador comunitário de árvores frutíferas, isto o fazia quando não estava trabalhando na sua oficina de ferragens na década de mil novecentos e trinta. Sua verdadeira nacionalidade pareceu-me ter sido a argentina devido o seu sotaque carregado, ao menos eu assim achava quando conversávamos. Afinal, foi ele mesmo quem se auto-registrou. Nessa época, a lei permitia e o ato aconteceu no cartório dos Carpes. Era o ano de mil novecentos e doze no município de Ponta Porã. Afirmava, quando algumas vezes perguntei, que era gaúcho de São Borja. Acredito que ele mesmo escolheu essa cidade, por ser um fã petebista incondicional do presidente ditador Getúlio Vargas, nascido naquele município gaúcho.
Aliás, os gaúchos da era getulista que chegavam para morar em Dourados, costumavam ter essa tendência optativa de nascimento. Pedro Recchi, falava fluentemente e me ensinou as primeiras noções da língua italiana e possuía consigo costumes bem típicos de um curandeiro. Meio metido a alquimista, usava essência das folhas de laranja brava que plantava pela cidade e no seu quintal, para fazer compotas de doce e água de cheiro. Garantia que conquistou a paraguaia Gumercinda, exalando esse perfume no primeiro encontro, namoro acontecido na fazenda Campanário. Para resumir, o seu Pedrinho Recchi, começou em 1946 a cultivar algumas figueiras argentinas. Porém, quando morreu com 102 anos de idade, a única figueira que restou do seu pretenso projeto urbanístico, foi uma plantada em companhia do ex-prefeito João Vicente Ferreira, que agora é parte integrante do patrimônio histórico. As outras ainda restantes, quem mandou colocar foi o ex-prefeito Antonio de Carvalho.
Entretanto, foi um engenheiro civil, o ex-prefeito Antonio Genelhu Braz Melo, quem transformou Dourados na cidade das mangueiras. Por informações, frutos estes do mais puro acaso, eu fiquei sabendo que esse ex-alcaide municipal, encomendou cinqüenta mil mudas de pés de manga na sua inesquecível gestão. Em seguida, mandou planta-los pela cidade e presenteou para os munícipes as mudas restantes das suas preciosas frutas mangas alimento. Como nunca fui seu correligionário político, não sei se é verdade ou se é mentira, porém afirmam os conhecedores dessa antiga mania desse prócer político em cultivar mangas para alimentar o povo, que o ex-prefeito Braz Melo, quando em substituição legal, tornando-se o governador de Mato Grosso do Sul, encheu de mangas até onde pode, a área reservada ao Parque dos Poderes, na cidade de Campo Grande, com incontáveis mangueiras de diversas qualidades...
*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
As Árvores de Dourados
Braz Melo (*)
Tem coisas que estão “na cara” e nós não conseguimos enxergar. Você já notou a arborização de Dourados? Vamos conhecê-la juntos.
Quem não fica encantado com o florescer dos Ipês de nossa cidade? Cada primavera eles ficam mais bonitos. E muitas vezes, até a estação passa despercebida.
Os mais velhos já desfrutaram da sombra da Figueira da Praça Dr. Antonio Alves Duarte (antiga Praça Mario Correa). E os mais novos usaram muito o parquinho, que hoje está abandonado. Se você é novo aqui, dê um pulo até lá, para conhecer esta árvore que já abrigou tantas pessoas e assistiu tantos amores.
A Figueira da curva (perto da Comid) já foi tombada pelo prefeito Luiz Antonio.
A Aroeira da Rua Ponta Porã, atrás do BNH l Plano é tão importante que fez até o transito ser desviado, assim como a da Rua Clovis Bevilaqua, na Vila Almeida e a Amendoeira localizada quase em frente ao CEU do Climax.
As Figueiras da Rua João Candido Câmara são a seqüência de árvores mais bonita e agradável de nossa cidade. Nas tardes de verão dá vontade de parar e ficar sentado ali, deixando o tempo passar.
Plantadas pelo prefeito Antonio Carvalho, que também plantou as Figueiras da Av. Presidente Vargas, onde as da esquina com a Avenida Marcelino Pires serviu muito tempo de sombra para as saudosas charretes dos irmãos Chico e Pedro Libório, a primeira empresa de transporte popular, que os animais, se não fossem forçados, já conheciam o caminho a tomar.
Na Praça Antonio João tem a “Corintiana”, plantada pelo Renê Miguel que ele cuidava com todo carinho. Além de Palmeiras Imperial, Paus Brasil, Cerejeiras e outras árvores, lá também têm uma árvore Sequóia, da família das maiores do mundo.
No Ubiratan tem os Alamos, trazidos em mudas dos Estados Unidos na mala, pelo Antonio Tonani.
O prefeito João Totó Câmara foi buscar em Maringá as mudas das Sibipirunas e Flamboyants que plantou macicamente em toda a cidade.
O José Elias plantou Palmeiras Imperial em diversos pontos, como nós plantamos na Avenida Marcelino Pires, da rodoviária até o Ubiratan.
Os Paus Ferro da Avenida Marcelino Pires são lindos no outono e são como árvores de natal gigante, preparadas para a ornamentação natalina.
O Humberto Teixeira fez o Parque dos Ipês, cartão postal de nossa cidade, e plantou diversas árvores que já estão dando frutos naquele parque.
Pelo histórico que vimos acima, o modismo das árvores em Dourados sofreu uma mudança muito grande e rápida.
Plantamos muitas Mangueiras em nossa administração, principalmente na periferia, onde não havia nenhuma sombra. Plantamos também Oitis, Resedás e Murtas, que além de serem árvores de portes médios, não criando grandes problemas com as redes de energia, também não tem raízes danosas para os encanamentos de água, esgotos sanitários, muros e calçadas.
Plantamos Cerejeiras na rodoviária, e a aparência quando ela dá flor, é como dando boas vindas aos que aqui chegam.
Dourados hoje está acima da media nacional e mundial em arborização. Conforme informações da Prefeitura, nossa cidade tem 5 vezes mais que a média mundial. Onde as normas aconselham 12 metros quadrados, nós já alcançamos 60 metros quadrados por habitante. A atual administração plantou menos de 5 mil mudas. È muito pouco para uma cidade que tem tradição de plantar muitos milhares de árvores por administração.
Muitas vezes vemos ninhos de passarinhos em pleno centro de Dourados. Com o desmatamento crescendo na zona rural, os pássaros vieram para a cidade.
É comum acordarmos com os bem-te-vis e sabiás cantando em nossas janelas.
Criamos o Jardim Botânico, mas pouco foi acrescentado nesses últimos anos.
E eu mesmo me arrependo de não ter plantado mais árvores nativas, como Ipês, Jequitibás, Perobas, Jacarandás e outras nos Parques Arnulfo Fioravante e Antenor Martins.
Normalmente somos mais imediatistas. Quando plantamos Mangueiras, é porque queremos ter sombra e manga o mais rápido possível. Se um Ipê demora de 30 a 50 anos para se formar e outras espécies em menos de 4 anos já está dando fruto, optamos pelo mais rápido. Só que já passaram quase 20 anos.
Na segunda administração, ao construir a segunda pista na saída de Campo Grande, íamos perder 7 Palmeiras Imperial adultas em frente da Seara. O Secretário de Serviços Urbanos José Carlos Cimatti e seu colega Engenheiro Florestal Bernardino Bezerra tiveram uma tarefa difícil, mas com técnica e carinho conseguiram transplantá-las intactas para a rotatória da entrada da cidade.
Tem coisas que estão “na cara” e nós não conseguimos enxergar. Você já notou a arborização de Dourados? Vamos conhecê-la juntos.
Quem não fica encantado com o florescer dos Ipês de nossa cidade? Cada primavera eles ficam mais bonitos. E muitas vezes, até a estação passa despercebida.
Os mais velhos já desfrutaram da sombra da Figueira da Praça Dr. Antonio Alves Duarte (antiga Praça Mario Correa). E os mais novos usaram muito o parquinho, que hoje está abandonado. Se você é novo aqui, dê um pulo até lá, para conhecer esta árvore que já abrigou tantas pessoas e assistiu tantos amores.
A Figueira da curva (perto da Comid) já foi tombada pelo prefeito Luiz Antonio.
A Aroeira da Rua Ponta Porã, atrás do BNH l Plano é tão importante que fez até o transito ser desviado, assim como a da Rua Clovis Bevilaqua, na Vila Almeida e a Amendoeira localizada quase em frente ao CEU do Climax.
As Figueiras da Rua João Candido Câmara são a seqüência de árvores mais bonita e agradável de nossa cidade. Nas tardes de verão dá vontade de parar e ficar sentado ali, deixando o tempo passar.
Plantadas pelo prefeito Antonio Carvalho, que também plantou as Figueiras da Av. Presidente Vargas, onde as da esquina com a Avenida Marcelino Pires serviu muito tempo de sombra para as saudosas charretes dos irmãos Chico e Pedro Libório, a primeira empresa de transporte popular, que os animais, se não fossem forçados, já conheciam o caminho a tomar.
Na Praça Antonio João tem a “Corintiana”, plantada pelo Renê Miguel que ele cuidava com todo carinho. Além de Palmeiras Imperial, Paus Brasil, Cerejeiras e outras árvores, lá também têm uma árvore Sequóia, da família das maiores do mundo.
No Ubiratan tem os Alamos, trazidos em mudas dos Estados Unidos na mala, pelo Antonio Tonani.
O prefeito João Totó Câmara foi buscar em Maringá as mudas das Sibipirunas e Flamboyants que plantou macicamente em toda a cidade.
O José Elias plantou Palmeiras Imperial em diversos pontos, como nós plantamos na Avenida Marcelino Pires, da rodoviária até o Ubiratan.
Os Paus Ferro da Avenida Marcelino Pires são lindos no outono e são como árvores de natal gigante, preparadas para a ornamentação natalina.
O Humberto Teixeira fez o Parque dos Ipês, cartão postal de nossa cidade, e plantou diversas árvores que já estão dando frutos naquele parque.
Pelo histórico que vimos acima, o modismo das árvores em Dourados sofreu uma mudança muito grande e rápida.
Plantamos muitas Mangueiras em nossa administração, principalmente na periferia, onde não havia nenhuma sombra. Plantamos também Oitis, Resedás e Murtas, que além de serem árvores de portes médios, não criando grandes problemas com as redes de energia, também não tem raízes danosas para os encanamentos de água, esgotos sanitários, muros e calçadas.
Plantamos Cerejeiras na rodoviária, e a aparência quando ela dá flor, é como dando boas vindas aos que aqui chegam.
Dourados hoje está acima da media nacional e mundial em arborização. Conforme informações da Prefeitura, nossa cidade tem 5 vezes mais que a média mundial. Onde as normas aconselham 12 metros quadrados, nós já alcançamos 60 metros quadrados por habitante. A atual administração plantou menos de 5 mil mudas. È muito pouco para uma cidade que tem tradição de plantar muitos milhares de árvores por administração.
Muitas vezes vemos ninhos de passarinhos em pleno centro de Dourados. Com o desmatamento crescendo na zona rural, os pássaros vieram para a cidade.
É comum acordarmos com os bem-te-vis e sabiás cantando em nossas janelas.
Criamos o Jardim Botânico, mas pouco foi acrescentado nesses últimos anos.
E eu mesmo me arrependo de não ter plantado mais árvores nativas, como Ipês, Jequitibás, Perobas, Jacarandás e outras nos Parques Arnulfo Fioravante e Antenor Martins.
Normalmente somos mais imediatistas. Quando plantamos Mangueiras, é porque queremos ter sombra e manga o mais rápido possível. Se um Ipê demora de 30 a 50 anos para se formar e outras espécies em menos de 4 anos já está dando fruto, optamos pelo mais rápido. Só que já passaram quase 20 anos.
Na segunda administração, ao construir a segunda pista na saída de Campo Grande, íamos perder 7 Palmeiras Imperial adultas em frente da Seara. O Secretário de Serviços Urbanos José Carlos Cimatti e seu colega Engenheiro Florestal Bernardino Bezerra tiveram uma tarefa difícil, mas com técnica e carinho conseguiram transplantá-las intactas para a rotatória da entrada da cidade.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Terra Vermelha
Valfrido Silva (*)
Preparei-me naquele dia, para aquele espetáculo, como se fosse o único. Afinal, não é todo dia que um roteirista de cinema principiante, nascido no Jaguapiru, tem a oportunidade de ver um filme produzido em sua cidade, particularmente quando o foco da trama são exatamente os índios deste mesmo Jaguapiru. Lembrei-me dos tempos em que empapava o cabelo com brilhantina glostora e subia a Marcelino Pires para assistir bangue-bangues, no velho cine Ouro Verde. Desta vez, fiz o caminho contrário, avenida abaixo, pedindo pra Anita me deixar no centro, prosseguindo a pé até a Cabeceira Alegre.
Como nesta época do ano o sol ainda esquenta o lombo dos pobres mortais às cinco da tarde, fui buscando abrigo debaixo das marquises ao longo da avenida e tomando todo cuidado para não danificar ainda mais a coluna com o desnível das calçadas. Na esquina com a Rua Aquidauana, o primeiro flashback. Antigamente ali funcionava a Mecânica Modelo, tempo em que Gilberto Serrante começava a mostrar sua habilidade ao volante, fazendo cavalos-de-pau nas tardes de sábado. Uns passos à frente, uma vidraçaria, onde, num barracão de tábuas, funcionava um bolicho da família Minhos, tendo à frente uma casa mal-assombrada que mais tarde abrigaria o escritório do Areião. Mais cem metros e estou diante de uma grande loja de pneus. Ali, vêm-me à memória o sempre bonachão Renato Lemes Soares e seu Ferro Velho, na esquina de cá; no quarteirão da frente, também gente boa uma barbaridade, seu João Moraes, sua serraria e uma colônia de casas geminadas de madeira, muito comum da Cabeceira Alegre das muitas serrarias nas décadas de 1950/60. Do outro lado da rua era a fábrica de carroças de João Mizigutti, espremida entre a máquina de Arroz da família Anze e uma mercearia dos Porto Sandre. No lugar da máquina de arroz, hoje, uma moderna concessionária de reluzentes importados que em nada lembram os poucos fusquinhas, Gordines e Studbeackers daquela época. Reluzente, até então, só mesmo a única Mercedez Benz da cidade – do pecuarista, chefão da UDN, prefeito e deputado Antonio Moraes dos Santos.
Passando a Câmara Municipal atravesso o canteiro central, caindo na esquina do antigo “Bar do Pedro”. Como um pouco antes está a loja de lubrificantes de Vazinho Mariano, interessante também a volta no tempo e no espaço com as imagens da antiga casa Mariano (Albano, Neno, dona Jandira), atacadista que funcionava alguns quarteirões acima, esquina com a Hilda Bergo Duarte. Mais cem metros e estou diante do novo templo de consumo dos douradenses. Uma última parada na calçada para lembrar os tempos em que exatamente naquele local estava a oficina mecânica de seu Lima, tendo à frente a máquina de Arroz cujo gerente era o “Dé”, irmão de meu padrinho, sargento Baiano (temido lugar-tenente do delegado Couto). Ali, a Marcelino Pires era só erosão, local conhecido como Bueiro, linha demarcatória entre a Cabeceira Alegre e o centro da cidade e dor de cabeça constante para os prefeitos; um martírio, também, para quem fazia aquele trecho a pé ou de bicicleta.
Antes de entrar estico os olhos para o prédio da Cergrand, ao lado do ainda vazio e famoso quarteirão “parido” por especuladores imobiliários, que desalinhou o traçado das transversais, dali para frente. A área, até hoje ocupada apenas durante as visitas de circos e parques, à época de mata fechada, era-nos muito útil nas emergências fisiológicas, exceto um dia, quando ali já cheguei todo borrado, depois de horas e horas de aperto durante uma parada de Sete de Setembro, com a coisa desandando na altura do posto de Inimá Ribeiro, na esquina com a Mato Grosso.
Enfim, o cinema. São três salas, das mais modernas do Brasil, ar condicionado, poltronas espaçosas e até um lugarzinho para o refrigerante e a pipoca. Mas, como nada é perfeito, não dá pra imaginar tudo isso sem a nostalgia de “amores clandestinos”, a trilha sonora que embalava os corações apaixonados no escurinho dos cinemas daqueles bons tempos.
Tudo bem. Que venha Terra Vermelha. Programa de índio? Não. Um filme até mediano, boa fotografia (conseguiram até mostrar mato aonde não existe mais), cenas chocantes de índios enforcados, o apelo sexual de sempre e por aí vai. Porém, se a idéia era mostrar o drama dessa gente, tirando a questão de baixo do tapete, como informam as sinopses que correm o mundo, o que se conseguiu foi colar ainda mais em nossos índios a imagem do ócio, da prostituição e de pequenos furtos, o que só faz aumentar o preconceito.
Saio do cinema e percebo que os últimos raios de sol ainda iluminam o Parque Arnulpho Fioravanti. Num dia de tantas recordações, já do lado de fora do Shopping, agora na calçada da Rua Joaquim Teixeira Alves, dou-me conta de que acabei de assistir Terra Vermelha no exato local onde busquei inspiração para uma das futuras locações de meu primeiro longa-metragem. Estico as canelas em direção ao Terminal Rodoviário e vislumbro, logo adiante, ali nos fundos da garagem da Viação Motta, impoluta, resistindo bravamente ao tempo, a velha casa avarandada onde passei os anos dourados de minha infância. Naquele tempo, sim, é que era terra vermelha.
* Jornalista:valfridosmelo@hotmail.com blog: valfridosilva.blog.terra.com.br).
16 de Dezembro de 2008 20:33
Preparei-me naquele dia, para aquele espetáculo, como se fosse o único. Afinal, não é todo dia que um roteirista de cinema principiante, nascido no Jaguapiru, tem a oportunidade de ver um filme produzido em sua cidade, particularmente quando o foco da trama são exatamente os índios deste mesmo Jaguapiru. Lembrei-me dos tempos em que empapava o cabelo com brilhantina glostora e subia a Marcelino Pires para assistir bangue-bangues, no velho cine Ouro Verde. Desta vez, fiz o caminho contrário, avenida abaixo, pedindo pra Anita me deixar no centro, prosseguindo a pé até a Cabeceira Alegre.
Como nesta época do ano o sol ainda esquenta o lombo dos pobres mortais às cinco da tarde, fui buscando abrigo debaixo das marquises ao longo da avenida e tomando todo cuidado para não danificar ainda mais a coluna com o desnível das calçadas. Na esquina com a Rua Aquidauana, o primeiro flashback. Antigamente ali funcionava a Mecânica Modelo, tempo em que Gilberto Serrante começava a mostrar sua habilidade ao volante, fazendo cavalos-de-pau nas tardes de sábado. Uns passos à frente, uma vidraçaria, onde, num barracão de tábuas, funcionava um bolicho da família Minhos, tendo à frente uma casa mal-assombrada que mais tarde abrigaria o escritório do Areião. Mais cem metros e estou diante de uma grande loja de pneus. Ali, vêm-me à memória o sempre bonachão Renato Lemes Soares e seu Ferro Velho, na esquina de cá; no quarteirão da frente, também gente boa uma barbaridade, seu João Moraes, sua serraria e uma colônia de casas geminadas de madeira, muito comum da Cabeceira Alegre das muitas serrarias nas décadas de 1950/60. Do outro lado da rua era a fábrica de carroças de João Mizigutti, espremida entre a máquina de Arroz da família Anze e uma mercearia dos Porto Sandre. No lugar da máquina de arroz, hoje, uma moderna concessionária de reluzentes importados que em nada lembram os poucos fusquinhas, Gordines e Studbeackers daquela época. Reluzente, até então, só mesmo a única Mercedez Benz da cidade – do pecuarista, chefão da UDN, prefeito e deputado Antonio Moraes dos Santos.
Passando a Câmara Municipal atravesso o canteiro central, caindo na esquina do antigo “Bar do Pedro”. Como um pouco antes está a loja de lubrificantes de Vazinho Mariano, interessante também a volta no tempo e no espaço com as imagens da antiga casa Mariano (Albano, Neno, dona Jandira), atacadista que funcionava alguns quarteirões acima, esquina com a Hilda Bergo Duarte. Mais cem metros e estou diante do novo templo de consumo dos douradenses. Uma última parada na calçada para lembrar os tempos em que exatamente naquele local estava a oficina mecânica de seu Lima, tendo à frente a máquina de Arroz cujo gerente era o “Dé”, irmão de meu padrinho, sargento Baiano (temido lugar-tenente do delegado Couto). Ali, a Marcelino Pires era só erosão, local conhecido como Bueiro, linha demarcatória entre a Cabeceira Alegre e o centro da cidade e dor de cabeça constante para os prefeitos; um martírio, também, para quem fazia aquele trecho a pé ou de bicicleta.
Antes de entrar estico os olhos para o prédio da Cergrand, ao lado do ainda vazio e famoso quarteirão “parido” por especuladores imobiliários, que desalinhou o traçado das transversais, dali para frente. A área, até hoje ocupada apenas durante as visitas de circos e parques, à época de mata fechada, era-nos muito útil nas emergências fisiológicas, exceto um dia, quando ali já cheguei todo borrado, depois de horas e horas de aperto durante uma parada de Sete de Setembro, com a coisa desandando na altura do posto de Inimá Ribeiro, na esquina com a Mato Grosso.
Enfim, o cinema. São três salas, das mais modernas do Brasil, ar condicionado, poltronas espaçosas e até um lugarzinho para o refrigerante e a pipoca. Mas, como nada é perfeito, não dá pra imaginar tudo isso sem a nostalgia de “amores clandestinos”, a trilha sonora que embalava os corações apaixonados no escurinho dos cinemas daqueles bons tempos.
Tudo bem. Que venha Terra Vermelha. Programa de índio? Não. Um filme até mediano, boa fotografia (conseguiram até mostrar mato aonde não existe mais), cenas chocantes de índios enforcados, o apelo sexual de sempre e por aí vai. Porém, se a idéia era mostrar o drama dessa gente, tirando a questão de baixo do tapete, como informam as sinopses que correm o mundo, o que se conseguiu foi colar ainda mais em nossos índios a imagem do ócio, da prostituição e de pequenos furtos, o que só faz aumentar o preconceito.
Saio do cinema e percebo que os últimos raios de sol ainda iluminam o Parque Arnulpho Fioravanti. Num dia de tantas recordações, já do lado de fora do Shopping, agora na calçada da Rua Joaquim Teixeira Alves, dou-me conta de que acabei de assistir Terra Vermelha no exato local onde busquei inspiração para uma das futuras locações de meu primeiro longa-metragem. Estico as canelas em direção ao Terminal Rodoviário e vislumbro, logo adiante, ali nos fundos da garagem da Viação Motta, impoluta, resistindo bravamente ao tempo, a velha casa avarandada onde passei os anos dourados de minha infância. Naquele tempo, sim, é que era terra vermelha.
* Jornalista:valfridosmelo@hotmail.com blog: valfridosilva.blog.terra.com.br).
16 de Dezembro de 2008 20:33
CHANGA-Y
CHANGA-Y
Isaac Duarte de Barros Junior *
Nas adversidades da vida, quando a opção de trabalho era bastante embrutecida e rude no rigor dos ervais, existiu o famoso ladrão de erva, que foi a maior das muitas dores de cabeça da Companhia Mate Laranjeira. Com o aumento dos consumidores de chimarrão ou da ka’a akaiguê (erva queimada) com água quente na linguagem dos índios guaranis, os habilitados da Laranjeira Mendes & Cia, sentenciavam antecipadamente de morte, todos os vendedores clandestinos que afrontaram a poderosa empresa, com seus furtos de folhas dos ervais nativos mato-grossenses
Eles eram considerados nesse tempo, como ka’a caraís (senhores dos ervais) pelos “receptadores”, embora estes compradores vivessem maus momentos quando flagrados com a mercadoria clandestina. Na época, quem não comprasse a erva-mate diretamente dos habilitados da Ervateira do Thomaz Laranjeira, era apontado como comprador d’algum barbacuá clandestino ou de changa-y (ervateiro ladrão). Esses espertinhos, do final dos séculos dezenove e começo do vinte, levaram muita sova de guácha no lombo. Ou morreram de congestão de chumbo nas mãos dos capangas do Thomaz Laranjeira, aventureiro que arrendou uma vasta área no território sul de Mato Grosso, para explorar a erva-mate.
No período noturno, no embrenhado das matas fechadas, era a hora do changa-y trabalhar sapecando as folhas da erva-mate que colhia e carregava em suas costas. Geralmente, ela ficava amarrada em enormes pesados raídos (fardos) durante o dia. Com trabalho frenético que ia até o dia amanhecer, o peão fabricava a erva-caseira, pois depois dessa hora, um olheiro da empresa poderia delatar a localização do barbacuá. Bastava para isto, o empleado avistar alguma fumaça saindo em filete do meio das florestas densas existentes.
O interessante dessa época, é que as árvores da erva-mate eram nativas. Embora as terras fossem arrendadas do governo do Mato Grosso, não existia nenhum respaldo legal, para a empresa de industrialização da erva mate do empresário catarinense Thomaz Laranjeira, fazer justiça com as próprias mãos por intermédio de capangas armados. Infelizmente, esse homem de comportamento selvagem, que uns diziam ser argentino de nascimento, enriqueceu no transcurso do tempo e passou para a história como uma espécie de “rei”, escolhendo e indicando na velha república, quem deveria ocupar os cargos destinados a políticos, principalmente nos seus domínios que eram os ervais.
Com o aumento do numero populacional dos alcunhados changa-ys, foi preciso negociar politicamente com esses trabalhadores clandestinos. Mesmo sendo considerados um bando de ladrões, pela empresa do mate. Embora fossem todos eles, ou em na grande maioria, pessoas de nacionalidade paraguaia, o truculento Thomaz Laranjeira os transformava em “eleitores” brasileiros, mesmo não sabendo a peonada castelhana, falar nenhuma palavra em português. No “acordo” firmado entre ambas as partes, bastava nas eleições, o changa-y votar em candidatos indicados pela empresa. Caso contrário, se não cumprissem o trato, matavam todos os “traidores” e ainda queimavam os seus pequenos ranchos cobertos de sapé.Tratava-se de um capim seco que muito contribuía para o inicio do incêndio, sem esforço da jagunçada, ou gente contratada para a realização da empreitada sinistra.
Essas violências comuns, só chegaram ao final quando o capitão Heitor Mendes Gonçalves, assumiu a presidência da Cia. Mate Laranjeira. Era um homem de pouca estatura física, mas portador de um impecável caráter. Sendo respeitador disciplinado da ordem, deu uma nova característica direcional à empresa. Em sua gestão, muitos dos ex- contratados funcionários, tornaram-se pessoas influentes no desenvolvimento dos municípios da fronteira e do interior do futuro estado de Mato Grosso do Sul. Um deles, foi o médico Camilo Ermelindo da Silva,que se tornou deputado estadual e criou ainda no estado uno o município de Itaporã. Outro para se destacar, foi o advogado Aral Moreira, que também foi um hábil político.
O capitão Heitor, homem de grande visão empresarial, incentivou a agro-pecuária e foi o responsável por um memorável churrasco na fazenda Pacurí, de sua propriedade. Juntamente com alguns membros da família Dorneles, parentes de Getulio Vargas, conseguiu trazer o presidente da república à nossa região. Foi muito importante essa visita presidencial, pois em sua volta para o Rio de Janeiro, após sobrevoar uma grande faixa de terras, o chefe de Estado, criou sob aplausos de alguns próceres políticos matogrossenses a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND). O presidente da republica, iniciava também com esse ato, o declínio do “império” da Cia. Mate Laranjeira.
Esses empreendimentos do nosso passado recente e as pessoas que dele fizeram parte, quaisquer que fossem as suas nacionalidades, tornaram-se efetivamente os responsáveis pelo nosso desenvolvimento regional. Ainda que pareça uma pregação de apologia ao crime elogiar os “ervateiros ladrões”, acredito que o tempo e a história das estradas onde ninguém mais transita, já absolveram o “crime” praticado pelos changa-ys. Marginalizados no seu tempo, abriram caminhos no braço e no fio do machete, para existir o progresso de todos nós...
* advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com
Isaac Duarte de Barros Junior *
Nas adversidades da vida, quando a opção de trabalho era bastante embrutecida e rude no rigor dos ervais, existiu o famoso ladrão de erva, que foi a maior das muitas dores de cabeça da Companhia Mate Laranjeira. Com o aumento dos consumidores de chimarrão ou da ka’a akaiguê (erva queimada) com água quente na linguagem dos índios guaranis, os habilitados da Laranjeira Mendes & Cia, sentenciavam antecipadamente de morte, todos os vendedores clandestinos que afrontaram a poderosa empresa, com seus furtos de folhas dos ervais nativos mato-grossenses
Eles eram considerados nesse tempo, como ka’a caraís (senhores dos ervais) pelos “receptadores”, embora estes compradores vivessem maus momentos quando flagrados com a mercadoria clandestina. Na época, quem não comprasse a erva-mate diretamente dos habilitados da Ervateira do Thomaz Laranjeira, era apontado como comprador d’algum barbacuá clandestino ou de changa-y (ervateiro ladrão). Esses espertinhos, do final dos séculos dezenove e começo do vinte, levaram muita sova de guácha no lombo. Ou morreram de congestão de chumbo nas mãos dos capangas do Thomaz Laranjeira, aventureiro que arrendou uma vasta área no território sul de Mato Grosso, para explorar a erva-mate.
No período noturno, no embrenhado das matas fechadas, era a hora do changa-y trabalhar sapecando as folhas da erva-mate que colhia e carregava em suas costas. Geralmente, ela ficava amarrada em enormes pesados raídos (fardos) durante o dia. Com trabalho frenético que ia até o dia amanhecer, o peão fabricava a erva-caseira, pois depois dessa hora, um olheiro da empresa poderia delatar a localização do barbacuá. Bastava para isto, o empleado avistar alguma fumaça saindo em filete do meio das florestas densas existentes.
O interessante dessa época, é que as árvores da erva-mate eram nativas. Embora as terras fossem arrendadas do governo do Mato Grosso, não existia nenhum respaldo legal, para a empresa de industrialização da erva mate do empresário catarinense Thomaz Laranjeira, fazer justiça com as próprias mãos por intermédio de capangas armados. Infelizmente, esse homem de comportamento selvagem, que uns diziam ser argentino de nascimento, enriqueceu no transcurso do tempo e passou para a história como uma espécie de “rei”, escolhendo e indicando na velha república, quem deveria ocupar os cargos destinados a políticos, principalmente nos seus domínios que eram os ervais.
Com o aumento do numero populacional dos alcunhados changa-ys, foi preciso negociar politicamente com esses trabalhadores clandestinos. Mesmo sendo considerados um bando de ladrões, pela empresa do mate. Embora fossem todos eles, ou em na grande maioria, pessoas de nacionalidade paraguaia, o truculento Thomaz Laranjeira os transformava em “eleitores” brasileiros, mesmo não sabendo a peonada castelhana, falar nenhuma palavra em português. No “acordo” firmado entre ambas as partes, bastava nas eleições, o changa-y votar em candidatos indicados pela empresa. Caso contrário, se não cumprissem o trato, matavam todos os “traidores” e ainda queimavam os seus pequenos ranchos cobertos de sapé.Tratava-se de um capim seco que muito contribuía para o inicio do incêndio, sem esforço da jagunçada, ou gente contratada para a realização da empreitada sinistra.
Essas violências comuns, só chegaram ao final quando o capitão Heitor Mendes Gonçalves, assumiu a presidência da Cia. Mate Laranjeira. Era um homem de pouca estatura física, mas portador de um impecável caráter. Sendo respeitador disciplinado da ordem, deu uma nova característica direcional à empresa. Em sua gestão, muitos dos ex- contratados funcionários, tornaram-se pessoas influentes no desenvolvimento dos municípios da fronteira e do interior do futuro estado de Mato Grosso do Sul. Um deles, foi o médico Camilo Ermelindo da Silva,que se tornou deputado estadual e criou ainda no estado uno o município de Itaporã. Outro para se destacar, foi o advogado Aral Moreira, que também foi um hábil político.
O capitão Heitor, homem de grande visão empresarial, incentivou a agro-pecuária e foi o responsável por um memorável churrasco na fazenda Pacurí, de sua propriedade. Juntamente com alguns membros da família Dorneles, parentes de Getulio Vargas, conseguiu trazer o presidente da república à nossa região. Foi muito importante essa visita presidencial, pois em sua volta para o Rio de Janeiro, após sobrevoar uma grande faixa de terras, o chefe de Estado, criou sob aplausos de alguns próceres políticos matogrossenses a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND). O presidente da republica, iniciava também com esse ato, o declínio do “império” da Cia. Mate Laranjeira.
Esses empreendimentos do nosso passado recente e as pessoas que dele fizeram parte, quaisquer que fossem as suas nacionalidades, tornaram-se efetivamente os responsáveis pelo nosso desenvolvimento regional. Ainda que pareça uma pregação de apologia ao crime elogiar os “ervateiros ladrões”, acredito que o tempo e a história das estradas onde ninguém mais transita, já absolveram o “crime” praticado pelos changa-ys. Marginalizados no seu tempo, abriram caminhos no braço e no fio do machete, para existir o progresso de todos nós...
* advogado criminalista, jornalista.
e-mail : isane_isane@hotmail.com
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
OS FUNDADORES... ERAM DOIS!
OS FUNDADORES... ERAM DOIS!
Isaac Duarte de Barros Junior *
Terminados os conflitos militares envolvendo o império brasileiro e a república do Paraguai, com a morte do marechal Francisco Solano Lopes pelos comandados do general Câmara as margens do rio Aquidaban, em Cerro Corá. Cessadas as hostilidades completamente, o exército convencionou chamar a essa operação militar de campanha do Paraguai. Historicamente, o resultado foi uma enorme carnificina e o maior genocídio americano, onde milhares de mortos apodreceram nos campos de batalha. Tendo falhado o infame propósito do estado maior do comandante em chefe, conde D’ Eu, que era o de eliminar a população masculina paraguaia, se fosse preciso no útero da própria mãe. Vencida a guerra, foi estimulado pelo governo imperial a ocupação das terras conquistadas, denominadas terras devolutas. O procedimento básico latifundiário era simples, bastava o posseiro grilar uma área considerada terra devoluta, erguer nela uma casa para morar, cercar com arame de preferência farpado e depois era só requerer a posse definitiva nos órgãos representativos governamentais. Esse requerimento, na província do Mato Grosso pós-guerra da tríplice aliança, se fazia no tabelionato em Cuiabá e nesta região quase desabitada, no tabelionato do município de Nioaque.
Para assegurar a soberania brasileira nas terras incorporadas ao território nacional, a grilagem de terras devolutas virou uma espécie de costume trivial useiro. Muitas povoações surgiram à beira das estradas, em forma de colônias sem lei, habitadas por migrantes perigosos. Enquanto isso, lugarejos desapareceram tão rapidamente como surgiram. Descobri pesquisando exaustivamente, que nessa centena de posseiros aventureiros do final do século dezenove, estava Joaquim Teixeira Alves, Marcelino José Pires Martins, Izidro Pedroso, Francisco Xavier Pedroso, João Vicente Ferreira, entre outros. As famílias Vieira e Mattos, chegaram a Dourados no começo do século vinte e logo apadrinharam a futura emancipação política administrativa da cidade. Mas antes disso acontecer, os dois primeiros mencionados desbravadores planejaram por razões financeiras fundar um povoado nestas paragens. Marcelino, o mais bronco e muito católico, simbolicamente ergueu uma cruz enorme de madeira na sua posse e doou um quinhão para as pessoas que quisessem fazer a exploração das áreas devolutas localizadas na divisa da fazenda Alvorada até onde hoje se localiza a Praça Antonio João. Joaquim, um pouco mais comedido, doou e incentivou a ocupação gradual organizada das posses que começavam na Fazenda Cabeceira Alta, próxima do atual distrito industrial e terminavam nas proximidades da mesma Praça. Por esse motivo, o centro da cidade douradense começou a se formar ali e as brigas entre a dupla, idem.
Sendo geograficamente privilegiado por estradas de escoamento pecuário, um dos lados da cidade desenvolveu e evoluiu mais do que o outro. Apesar disso, havia a certeza de ter dado certo o projeto dos dois posseiros. Nesse período de grande progresso, o fazendeiro Joaquim Teixeira Alves foi morto misteriosamente. Coincidentemente, no dia do atentado, seu filho João estava no colo paterno e o mesmo projétil que matou Joaquim Teixeira Alves, fixou-se no pescoço do seu Joãozinho. Eu o conheci com idade avançada e sei que reclamava muito daquele estilhaço. Como o Joaquim Teixeira Alves, era um homem pacato e não tinha inimigos, durante muitos anos à população suspeitou injustamente de ser mandantes do crime, Marcelino Pires e o Juiz Paulo Hildebrando.
Entretanto, o mais correto a se concluir dessa tragédia centenária, é que tudo foi uma vingança antiga perpetrada por algum desconhecido, certamente era um desafeto ladino, pois nunca o identificaram. A rigor, muitos desses pioneiros douradenses deixavam culpa no cartório, geralmente oriunda dos lugares de onde procediam. Entretanto, o gaúcho Joaquim Teixeira Alves, morreu no ano de l911 e o paranaense Marcelino Pires, faleceu no ano de 1915, de uma grave enfermidade. Quanto à dona Pureza Carneiro Alves, viúva do pioneiro Joaquim, vendeu parte das suas terras ao fazendeiro Izidro Pedroso, que mudou a denominação da propriedade para fazenda coqueiro. A viúva de Marcelino, dona Eulália Pires, casou-se novamente e mesmo passando por sérias dificuldades financeiras, nunca abriu mão das terras requeridas pelo primeiro marido.
Os anos foram passando e aos poucos o povoado das Três Padroeiras crescia, pertencendo ao município de Ponta Porã. Foi nessa época, que aqui viveu um homem chamado Januário Pereira de Araújo. Historicamente, ele construiu no perímetro urbano douradense a primeira casa de madeira, seguindo-se a essa construção vários ranchos de sapé. Januário, também foi o primeiro construtor das quatro casas seguintes. Na década de trinta, 1932 para ser preciso, os habitantes do patrimônio, liderados pela família Mattos iniciaram movimentos populares visando dar melhor aspecto público a Vila de Dourados, agora nome oficial. O objetivo era modificar e colocar em linha reta a rua principal, a rua debaixo e a rua dos velhacos. Os engenheiros agrônomos, Dr.Valdomiro de Souza e Dr.Wlademiro Muller do Amaral foram os encarregados da medição. Assim, quando o interventor Mário Correa da Costa, criou por decreto Lei o município de Dourados no dia 20 de dezembro de l935, a rua principal, recebeu a denominação de Marcelino Pires, a rua debaixo o nome de Paraná (atual Joaquim T. Alves) e a rua dos velhacos de Rio Grande do Sul (atual dep. Weimar G. Torres). Ora, se a data 20 de dezembro, nunca representou a data de fundação da cidade, obviamente, festejar como aniversário de Dourados essa efeméride de assenso é uma teimosa bobagem bairrista, pois uma cidade não é fundada no dia em que se torna município.
Porém, a passagem da medição das ruas douradenses e de muitas outras ruas, foi documentada graças ao nosso primeiro fotógrafo, o Raul Frost. Havia um justificado pormenor pela inexistência de mais fotos, é que tanto o Dr. Vadú, como o Dr. Amaral, eram técnicos sistemáticos e avessos a posar para fotógrafos. Comportaram-se assim, todos os seus contemporâneos. O Vadú, acontecimento comum naquele tempo, foi morto a tiros de revólver. Quanto ao seu Amaral, um empreendedor de visão extraordinária, este pode na velhice ao final da sua benemérita vida, contemplar o resultado do trabalho realizado nas largas ruas desta cidade nos anos trinta. Assim, como os irmãos Rômulo e Remo, lendários guerreiros fundadores de Roma. Concluí baseado em depoimentos, muitos deles fornecidos por outros pioneiros, que os dois desbravadores, Joaquim T. Alves e Marcelino Pires Martins, apesar das escaramuças, ambos fundaram a cidade de Dourados. E querer mudar esse contexto é história mal pesquisada, elaborada no mínimo com irresponsabilidade por historiógrafos desinformados...!
*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com
Isaac Duarte de Barros Junior *
Terminados os conflitos militares envolvendo o império brasileiro e a república do Paraguai, com a morte do marechal Francisco Solano Lopes pelos comandados do general Câmara as margens do rio Aquidaban, em Cerro Corá. Cessadas as hostilidades completamente, o exército convencionou chamar a essa operação militar de campanha do Paraguai. Historicamente, o resultado foi uma enorme carnificina e o maior genocídio americano, onde milhares de mortos apodreceram nos campos de batalha. Tendo falhado o infame propósito do estado maior do comandante em chefe, conde D’ Eu, que era o de eliminar a população masculina paraguaia, se fosse preciso no útero da própria mãe. Vencida a guerra, foi estimulado pelo governo imperial a ocupação das terras conquistadas, denominadas terras devolutas. O procedimento básico latifundiário era simples, bastava o posseiro grilar uma área considerada terra devoluta, erguer nela uma casa para morar, cercar com arame de preferência farpado e depois era só requerer a posse definitiva nos órgãos representativos governamentais. Esse requerimento, na província do Mato Grosso pós-guerra da tríplice aliança, se fazia no tabelionato em Cuiabá e nesta região quase desabitada, no tabelionato do município de Nioaque.
Para assegurar a soberania brasileira nas terras incorporadas ao território nacional, a grilagem de terras devolutas virou uma espécie de costume trivial useiro. Muitas povoações surgiram à beira das estradas, em forma de colônias sem lei, habitadas por migrantes perigosos. Enquanto isso, lugarejos desapareceram tão rapidamente como surgiram. Descobri pesquisando exaustivamente, que nessa centena de posseiros aventureiros do final do século dezenove, estava Joaquim Teixeira Alves, Marcelino José Pires Martins, Izidro Pedroso, Francisco Xavier Pedroso, João Vicente Ferreira, entre outros. As famílias Vieira e Mattos, chegaram a Dourados no começo do século vinte e logo apadrinharam a futura emancipação política administrativa da cidade. Mas antes disso acontecer, os dois primeiros mencionados desbravadores planejaram por razões financeiras fundar um povoado nestas paragens. Marcelino, o mais bronco e muito católico, simbolicamente ergueu uma cruz enorme de madeira na sua posse e doou um quinhão para as pessoas que quisessem fazer a exploração das áreas devolutas localizadas na divisa da fazenda Alvorada até onde hoje se localiza a Praça Antonio João. Joaquim, um pouco mais comedido, doou e incentivou a ocupação gradual organizada das posses que começavam na Fazenda Cabeceira Alta, próxima do atual distrito industrial e terminavam nas proximidades da mesma Praça. Por esse motivo, o centro da cidade douradense começou a se formar ali e as brigas entre a dupla, idem.
Sendo geograficamente privilegiado por estradas de escoamento pecuário, um dos lados da cidade desenvolveu e evoluiu mais do que o outro. Apesar disso, havia a certeza de ter dado certo o projeto dos dois posseiros. Nesse período de grande progresso, o fazendeiro Joaquim Teixeira Alves foi morto misteriosamente. Coincidentemente, no dia do atentado, seu filho João estava no colo paterno e o mesmo projétil que matou Joaquim Teixeira Alves, fixou-se no pescoço do seu Joãozinho. Eu o conheci com idade avançada e sei que reclamava muito daquele estilhaço. Como o Joaquim Teixeira Alves, era um homem pacato e não tinha inimigos, durante muitos anos à população suspeitou injustamente de ser mandantes do crime, Marcelino Pires e o Juiz Paulo Hildebrando.
Entretanto, o mais correto a se concluir dessa tragédia centenária, é que tudo foi uma vingança antiga perpetrada por algum desconhecido, certamente era um desafeto ladino, pois nunca o identificaram. A rigor, muitos desses pioneiros douradenses deixavam culpa no cartório, geralmente oriunda dos lugares de onde procediam. Entretanto, o gaúcho Joaquim Teixeira Alves, morreu no ano de l911 e o paranaense Marcelino Pires, faleceu no ano de 1915, de uma grave enfermidade. Quanto à dona Pureza Carneiro Alves, viúva do pioneiro Joaquim, vendeu parte das suas terras ao fazendeiro Izidro Pedroso, que mudou a denominação da propriedade para fazenda coqueiro. A viúva de Marcelino, dona Eulália Pires, casou-se novamente e mesmo passando por sérias dificuldades financeiras, nunca abriu mão das terras requeridas pelo primeiro marido.
Os anos foram passando e aos poucos o povoado das Três Padroeiras crescia, pertencendo ao município de Ponta Porã. Foi nessa época, que aqui viveu um homem chamado Januário Pereira de Araújo. Historicamente, ele construiu no perímetro urbano douradense a primeira casa de madeira, seguindo-se a essa construção vários ranchos de sapé. Januário, também foi o primeiro construtor das quatro casas seguintes. Na década de trinta, 1932 para ser preciso, os habitantes do patrimônio, liderados pela família Mattos iniciaram movimentos populares visando dar melhor aspecto público a Vila de Dourados, agora nome oficial. O objetivo era modificar e colocar em linha reta a rua principal, a rua debaixo e a rua dos velhacos. Os engenheiros agrônomos, Dr.Valdomiro de Souza e Dr.Wlademiro Muller do Amaral foram os encarregados da medição. Assim, quando o interventor Mário Correa da Costa, criou por decreto Lei o município de Dourados no dia 20 de dezembro de l935, a rua principal, recebeu a denominação de Marcelino Pires, a rua debaixo o nome de Paraná (atual Joaquim T. Alves) e a rua dos velhacos de Rio Grande do Sul (atual dep. Weimar G. Torres). Ora, se a data 20 de dezembro, nunca representou a data de fundação da cidade, obviamente, festejar como aniversário de Dourados essa efeméride de assenso é uma teimosa bobagem bairrista, pois uma cidade não é fundada no dia em que se torna município.
Porém, a passagem da medição das ruas douradenses e de muitas outras ruas, foi documentada graças ao nosso primeiro fotógrafo, o Raul Frost. Havia um justificado pormenor pela inexistência de mais fotos, é que tanto o Dr. Vadú, como o Dr. Amaral, eram técnicos sistemáticos e avessos a posar para fotógrafos. Comportaram-se assim, todos os seus contemporâneos. O Vadú, acontecimento comum naquele tempo, foi morto a tiros de revólver. Quanto ao seu Amaral, um empreendedor de visão extraordinária, este pode na velhice ao final da sua benemérita vida, contemplar o resultado do trabalho realizado nas largas ruas desta cidade nos anos trinta. Assim, como os irmãos Rômulo e Remo, lendários guerreiros fundadores de Roma. Concluí baseado em depoimentos, muitos deles fornecidos por outros pioneiros, que os dois desbravadores, Joaquim T. Alves e Marcelino Pires Martins, apesar das escaramuças, ambos fundaram a cidade de Dourados. E querer mudar esse contexto é história mal pesquisada, elaborada no mínimo com irresponsabilidade por historiógrafos desinformados...!
*Advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
A Rua da briga
Na semana passada, recebi um presente daqueles que eu não esperava alguém ainda ter para dar: uma pasta com boa parte dos convites e fotos das obras que executamos na primeira administração.
Obrigado, Wellington. Só seu pai, meu amigo Harrison Figueiredo, poderia ter guardado esta lembrança. Aprendi muito com ele. Principalmente em gostar desta cidade e de quem gosta dela. Nesse dia também fiquei sabendo, que a Câmara de Vereadores já tinha aprovado o nome do Harrison na rua que antes era o Corredor Publico, ali no Jardim Santa Maria, entre a Rua Major Capilé e Avenida Marcelino Pires. E importante, faz esquina com as Ruas Wilson Dias de Pinho e Juscelino Kubitscheck. Pertinho do Monumento ao Colono, que ele muito me incentivou a construir.
E lendo alguns desses convites, é que me lembrei de um agradecimento que recebi há muito tempo depois, ao visitar um amigo que estava muito doente, com mal de Alzheimer, e já nem me conhecia, quando sua esposa disse que agradecia a mim, por ter sempre colocado extensivo à família, os convites que mandava para essas realizações.
Por eu sempre estar com a minha família nas inaugurações, fazia com que os companheiros levassem as suas também.
Na primeira administração fizemos asfalto em quase todas as linhas de ônibus. Era inauguração todo fim de semana. Faltaram somente 300 metros para fazer lá no Jardim Jóquei Clube.
Porque asfaltar a linha de ônibus? Porque era a rua com maior numero de casas e de maior movimento do bairro. Além do ônibus, por ali é que passavam mais automóveis, carroças, bicicletas e até a pé. Também era importante para a limpeza da cidade, pois sem o asfalto, a poeira e o barro eram levados pelos pneus dos veículos. Como faltava asfaltar muitos bairros, foi a maneira mais democrática de escolher onde asfaltar. Isso sem contar na expectativa do morador das ruas próximas, que passou a ter esperança do asfalto chegar logo à frente de sua casa.
Acredito que tenha sido uma das obras mais importantes que executamos naquela ocasião. Quem imaginaria, naquela época, ter asfalto no Parque ll, no Jardim Santa Maria, Vila Erondina ou no Jardim Piratininga? Valorizou o seu imóvel e aumentou a auto-estima da periferia douradense.
Entre bairros e linhas de ônibus foram quase 120 quilômetros de ruas asfaltadas dentro de Dourados. Asfaltamos também nos Distritos de Vila Vargas, Indápolis, Panambí e Itaum. E tudo isso com recursos próprios.
Ao iniciar o serviço no Parque das Nações ll, o secretário de obras Antonio Nogueira teve de fazer uma viagem para visitar seu pai em Goiás, e eu cedinho, expliquei aos encarregados por onde passaria o asfalto naquele trecho. Errei ao falar em qual rua passaria. Em vez da S 30 (hoje Rosemiro Rodrigues Vieira), falei na S 28 (hoje José Mendes).
Quando voltei após o almoço, boa parte da terraplenagem da caixa da Rua S 28 já estava feita, e todas os seus moradores estavam felizes. Mandei parar e preparar a rua que realmente deveria ser aberta.
Durante uma semana, os moradores da S 28 não me deram trégua. E como passava pelo menos uma vez por dia nas obras, todos os dias eles pleiteavam o asfaltamento daquela via. Pressionaram-me e de tanto me perturbarem, acabei cedendo e autorizando a fazer esta rua também. Acertei com a empresa de ônibus que na ida passava por uma e na volta passava pela outra. Apelidei aquela rua de Rua da Briga.
Outro caso pitoresco, foi que no prolongamento da atual Rua Justino Amaro de Matos, entre as Ruas Joaquim Teixeira Alves e Onofre Pereira de Matos, uma senhora de idade não deixou que fizesse o asfalto, porque como era corredor publico, não tinha 8 metros de largura. Queria que o corredor fosse da mesma largura das outras ruas. Não teve ninguém que a convencesse. Nem eu, nem os vizinhos. E o asfaltamento era de graça.
Está sem asfalto até hoje.
Obrigado, Wellington. Só seu pai, meu amigo Harrison Figueiredo, poderia ter guardado esta lembrança. Aprendi muito com ele. Principalmente em gostar desta cidade e de quem gosta dela. Nesse dia também fiquei sabendo, que a Câmara de Vereadores já tinha aprovado o nome do Harrison na rua que antes era o Corredor Publico, ali no Jardim Santa Maria, entre a Rua Major Capilé e Avenida Marcelino Pires. E importante, faz esquina com as Ruas Wilson Dias de Pinho e Juscelino Kubitscheck. Pertinho do Monumento ao Colono, que ele muito me incentivou a construir.
E lendo alguns desses convites, é que me lembrei de um agradecimento que recebi há muito tempo depois, ao visitar um amigo que estava muito doente, com mal de Alzheimer, e já nem me conhecia, quando sua esposa disse que agradecia a mim, por ter sempre colocado extensivo à família, os convites que mandava para essas realizações.
Por eu sempre estar com a minha família nas inaugurações, fazia com que os companheiros levassem as suas também.
Na primeira administração fizemos asfalto em quase todas as linhas de ônibus. Era inauguração todo fim de semana. Faltaram somente 300 metros para fazer lá no Jardim Jóquei Clube.
Porque asfaltar a linha de ônibus? Porque era a rua com maior numero de casas e de maior movimento do bairro. Além do ônibus, por ali é que passavam mais automóveis, carroças, bicicletas e até a pé. Também era importante para a limpeza da cidade, pois sem o asfalto, a poeira e o barro eram levados pelos pneus dos veículos. Como faltava asfaltar muitos bairros, foi a maneira mais democrática de escolher onde asfaltar. Isso sem contar na expectativa do morador das ruas próximas, que passou a ter esperança do asfalto chegar logo à frente de sua casa.
Acredito que tenha sido uma das obras mais importantes que executamos naquela ocasião. Quem imaginaria, naquela época, ter asfalto no Parque ll, no Jardim Santa Maria, Vila Erondina ou no Jardim Piratininga? Valorizou o seu imóvel e aumentou a auto-estima da periferia douradense.
Entre bairros e linhas de ônibus foram quase 120 quilômetros de ruas asfaltadas dentro de Dourados. Asfaltamos também nos Distritos de Vila Vargas, Indápolis, Panambí e Itaum. E tudo isso com recursos próprios.
Ao iniciar o serviço no Parque das Nações ll, o secretário de obras Antonio Nogueira teve de fazer uma viagem para visitar seu pai em Goiás, e eu cedinho, expliquei aos encarregados por onde passaria o asfalto naquele trecho. Errei ao falar em qual rua passaria. Em vez da S 30 (hoje Rosemiro Rodrigues Vieira), falei na S 28 (hoje José Mendes).
Quando voltei após o almoço, boa parte da terraplenagem da caixa da Rua S 28 já estava feita, e todas os seus moradores estavam felizes. Mandei parar e preparar a rua que realmente deveria ser aberta.
Durante uma semana, os moradores da S 28 não me deram trégua. E como passava pelo menos uma vez por dia nas obras, todos os dias eles pleiteavam o asfaltamento daquela via. Pressionaram-me e de tanto me perturbarem, acabei cedendo e autorizando a fazer esta rua também. Acertei com a empresa de ônibus que na ida passava por uma e na volta passava pela outra. Apelidei aquela rua de Rua da Briga.
Outro caso pitoresco, foi que no prolongamento da atual Rua Justino Amaro de Matos, entre as Ruas Joaquim Teixeira Alves e Onofre Pereira de Matos, uma senhora de idade não deixou que fizesse o asfalto, porque como era corredor publico, não tinha 8 metros de largura. Queria que o corredor fosse da mesma largura das outras ruas. Não teve ninguém que a convencesse. Nem eu, nem os vizinhos. E o asfaltamento era de graça.
Está sem asfalto até hoje.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
MITÃI...
MITÃI...
Isaac Duarte de Barros Junior *
Provavelmente com oito anos de idade incompletos, o mitãi (menino) já changueava (furtava) e carregava pequenos raídos (galhos de erva) na roça clandestina do pai. Ele cresceu nesse sistema bruto dos ervais e com o transcorrer dos anos, rapidamente aprendeu cortar, transportar, secar e fazer a pilonagem (socar) da erva mate nativa abundante. Assistiu muito moço, na adolescência, o nascimento da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), em 1944, e com ela a derrocada e declínio da Companhia Mate Laranjeira. É que nessa época, grandes áreas passaram por titulo de aforamento perpétuo para as mãos de particulares, todas elas atingindo ricas áreas ervateiras. Ele, com o apelido infantil de mitãi, era um homem adulto quando assistiu os municípios ervateiros se desmembrarem do município de Ponta Porã.
Assim, dentre outros, foi à gestação do viçoso município de Dourados, ainda envolvido num imenso território verde, cordão umbilical que se complementava com as regiões do Iguatemi a Vila Brasil, Naviraí a Caarapó. Somando-se nesse total, as terras das glebas da Vila Glória, Ivinhema e Angélica. Nesse tempo, a erva-mate das cooperativas da região de Amambai e Iguatemi, vivendo os seus últimos momentos, exportavam o produto para a Argentina via Porto Esperança, sob a fiscalização rigorosa do Instituto Nacional do Mate. Entretanto, já possuindo ervais com capacidade suficiente para suprir o seu consumo interno, os argentinos resolveram parar com as importações da erva-mate brasileira do Mato Grosso.
Os paraguaios que iniciaram as atividades na Empresa Mate-Laranjeira, produzindo-a através dos tempos e em seguida os seus descendentes que deram continuidade, com o desaparecimento dos ervais dos matos (erval nativo) e do erval limpo (plantado), presenciaram o colapso geral dessa cultura. Em 1966, a Argentina, nosso único mercado importador, paralisou também as compras que fazia nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Mitãi, contando 37 anos de idade, não vendo restabelecer a produção ervateira, resolveu trabalhar como sicário (pistoleiro). O melhor ”emprego” que arranjou na sua idade, segundo ele, e o mais compatível para exercer profissionalmente, uma vez que ele acertava até a cabeça de uma coruja no toco.
Afinal, a sua plantação de café, com a esperança de enriquecer depressa, fora exterminada na grande geada de 1946, quando ele sonhava se casar nos seus apenas dezessete anos. Mitãi, agora a mando do novo patron, emboscou e matou um desafeto que andava supostamente saindo com a mulher desse chefe fazendeiro. Aquele, lavou a otária honra, assassinando apenas um urubu e mesmo assim, não se livrou da carniça. Descoberto o crime, o brasiguaio e o mandante, ficaram anos na cadeia.
Aconselhado por amigos comuns, mitãi, logo que deixou a prisão, organizou uma monteada (expedição) tentando descobrir novos ervais e tudo o que encontrou pela frente, foram campos entupidos de soja plantada e nenhuma mata nativa. A lida antiga nos ervais, quando se falava alguma coisa a respeito da saga, era contada romanticamente no proseio de caraís (pessoas amigas) saudosistas. Benito Cáceres o mitãi, solitário e doente, sentiu o peso do tempo e dos seus setenta e quatro anos. Nem mesmo ele sabia, costumava dizer, como havia chegado inteiro ao ano de dois mil e três. No dia dez de dezembro, me falou do seu passado nos ervais, comemos um lôcro caliente e sem se despedir de ninguém, o velho morreu de madrugada...
*advogado criminalista, jornalista. e-mail : isane_isane@hotmail.com
Isaac Duarte de Barros Junior *
Provavelmente com oito anos de idade incompletos, o mitãi (menino) já changueava (furtava) e carregava pequenos raídos (galhos de erva) na roça clandestina do pai. Ele cresceu nesse sistema bruto dos ervais e com o transcorrer dos anos, rapidamente aprendeu cortar, transportar, secar e fazer a pilonagem (socar) da erva mate nativa abundante. Assistiu muito moço, na adolescência, o nascimento da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), em 1944, e com ela a derrocada e declínio da Companhia Mate Laranjeira. É que nessa época, grandes áreas passaram por titulo de aforamento perpétuo para as mãos de particulares, todas elas atingindo ricas áreas ervateiras. Ele, com o apelido infantil de mitãi, era um homem adulto quando assistiu os municípios ervateiros se desmembrarem do município de Ponta Porã.
Assim, dentre outros, foi à gestação do viçoso município de Dourados, ainda envolvido num imenso território verde, cordão umbilical que se complementava com as regiões do Iguatemi a Vila Brasil, Naviraí a Caarapó. Somando-se nesse total, as terras das glebas da Vila Glória, Ivinhema e Angélica. Nesse tempo, a erva-mate das cooperativas da região de Amambai e Iguatemi, vivendo os seus últimos momentos, exportavam o produto para a Argentina via Porto Esperança, sob a fiscalização rigorosa do Instituto Nacional do Mate. Entretanto, já possuindo ervais com capacidade suficiente para suprir o seu consumo interno, os argentinos resolveram parar com as importações da erva-mate brasileira do Mato Grosso.
Os paraguaios que iniciaram as atividades na Empresa Mate-Laranjeira, produzindo-a através dos tempos e em seguida os seus descendentes que deram continuidade, com o desaparecimento dos ervais dos matos (erval nativo) e do erval limpo (plantado), presenciaram o colapso geral dessa cultura. Em 1966, a Argentina, nosso único mercado importador, paralisou também as compras que fazia nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Mitãi, contando 37 anos de idade, não vendo restabelecer a produção ervateira, resolveu trabalhar como sicário (pistoleiro). O melhor ”emprego” que arranjou na sua idade, segundo ele, e o mais compatível para exercer profissionalmente, uma vez que ele acertava até a cabeça de uma coruja no toco.
Afinal, a sua plantação de café, com a esperança de enriquecer depressa, fora exterminada na grande geada de 1946, quando ele sonhava se casar nos seus apenas dezessete anos. Mitãi, agora a mando do novo patron, emboscou e matou um desafeto que andava supostamente saindo com a mulher desse chefe fazendeiro. Aquele, lavou a otária honra, assassinando apenas um urubu e mesmo assim, não se livrou da carniça. Descoberto o crime, o brasiguaio e o mandante, ficaram anos na cadeia.
Aconselhado por amigos comuns, mitãi, logo que deixou a prisão, organizou uma monteada (expedição) tentando descobrir novos ervais e tudo o que encontrou pela frente, foram campos entupidos de soja plantada e nenhuma mata nativa. A lida antiga nos ervais, quando se falava alguma coisa a respeito da saga, era contada romanticamente no proseio de caraís (pessoas amigas) saudosistas. Benito Cáceres o mitãi, solitário e doente, sentiu o peso do tempo e dos seus setenta e quatro anos. Nem mesmo ele sabia, costumava dizer, como havia chegado inteiro ao ano de dois mil e três. No dia dez de dezembro, me falou do seu passado nos ervais, comemos um lôcro caliente e sem se despedir de ninguém, o velho morreu de madrugada...
*advogado criminalista, jornalista. e-mail : isane_isane@hotmail.com
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Qual o nome de sua Rua?
Sempre me chamam a atenção os nomes das ruas de uma cidade. No Rio de Janeiro tem bairros inteiros que acompanham a história. Ipanema, por exemplo, foi premiada com os nomes dos heróis e personalidades do final do século 19, pois Joana Angélica, General Ozório, Visconde de Pirajá, Barão da Torre e Barão de Jaguaripe foram destaques desse período do Brasil.
Já o Leblon, por ser mais novo, colocou nomes de suas ruas de heróis e personalidades da America, principalmente dos países aliados da Guerra da Tríplice Aliança.
Aqui em Dourados tem ruas com nomes que muitos não conhecem. Quem foi Napoleão Laureano? Foi um medico paraibano, que ao contrair um câncer sentiu na pele como era difícil seu tratamento pelos órgãos do governo. Fez um trabalho junto às autoridades e conseguiu que o governo se preocupasse mais com o tratamento dessa doença. Passou a ser nome de rua no Jardim Londrina, por indicação de algum vereador, acredito que médico. Fiquei sabendo dessa historia pelo meu saudoso amigo Dr. Áureo Garcia Ribeiro.
Quando aqui cheguei, ao estudar a planta da cidade, por causa da obra de esgotos sanitários na década de 70, os nomes das ruas eram bem diferentes. Onofre Pereira de Matos era Rua Santa Catarina, Antonio Emilio Figueiredo era Rua São Paulo, Hayel Bon Faker era Rua Bahia, Toshinobu Katayama era Rua Espírito Santo.
Joaquim Teixeira Alves tinha sido Rua Paraná e Weimar Gonçalves Torres tinha sido Rua Rio Grande do Sul.
Os mais antigos lembram que na década de 30, quando Dourados foi emancipada, o comércio todo ficava na Avenida Marcelino Pires e os maus pagadores para não passar pelo comércio, passavam pela Rua de cima. Logo botaram o apelido de Rua dos Velhacos (hoje Avenida Weimar Gonçalves Torres).
A Rua João Vicente Ferreira era a Rua Municipal. Há pouco tempo mudaram o nome da Rua Ponta Grossa, que passou a ser Olinda Pires de Almeida e muitas outras também tiveram seus nomes trocados.
No Jardim Água Boa os nomes iniciavam pela letra W. Hoje todos têm nomes de personalidades e pessoas que prestaram serviços em nossa cidade, mas continuam sendo chamadas de W-5, W-9 e outros Ws.
Os nomes de ruas é incumbência dos vereadores. Sempre achei que a Câmara de Vereadores deveria fazer uma lei que quando mudasse o nome de uma rua, fosse obrigado a ter, embaixo do seu nome atual, o nome antigo em letras menores. Rua Gustavo Adolfo Pavel- antiga Ivinhema. Seria mais justo para com o que tinha sido trocado, apesar de ter uma lei que proíbe trocar de nomenclatura as ruas com nomes de pessoas e cidades.
Não é fácil dar nome as algumas obras do poder público.
Lembro de que quando da escolha do nome do Presídio Harry Amorim Costa, o Chefe da Casa Civil do Governo pediu-me para que indicasse um nome. Procurei alguém que tivesse o perfil dessa honraria. Falei com parentes de dois ex-delegados que trabalharam aqui, e seus familiares agradeceram a lembrança, mas recusaram a colocarem seus nomes no Presídio. Passei o nome do ex-governador Harry, pois além de ser merecido, não teve nenhum parente aqui para reclamar a homenagem.
Acredito que até hoje não foi dado o nome da Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário que fizemos na região da Vila Iran de Matos. Estação de Tratamento de Esgotos Sanitários Fulano de Tal. É demais...
Por isso que normalmente, cemitério tem nome de Santo.
Foi meu desejo, quando prefeito, que a Secretaria da Educação fizesse um concurso para que os alunos da rede municipal, e quem sabe, todos os alunos do ensino fundamental escrevessem sobre a sua rua. Depois teria uma comissão para escolher as melhores redações sobre sua rua, que mais tarde se transformaria em livro. Eles teriam conhecido um pouco de história, e teria matado a curiosidade de criança. Não consegui.
Senti isso na pele há vinte e poucos anos, quando morava no Gran Village, esquina da Ciro Melo com João Rosa Góes, com meus filhos querendo saber quem tinham sido eles. A sorte é que minha vizinha era a Dona Biga, que com toda a paciência contou, o que era na época impossível encontrar nos livros.
Já o Leblon, por ser mais novo, colocou nomes de suas ruas de heróis e personalidades da America, principalmente dos países aliados da Guerra da Tríplice Aliança.
Aqui em Dourados tem ruas com nomes que muitos não conhecem. Quem foi Napoleão Laureano? Foi um medico paraibano, que ao contrair um câncer sentiu na pele como era difícil seu tratamento pelos órgãos do governo. Fez um trabalho junto às autoridades e conseguiu que o governo se preocupasse mais com o tratamento dessa doença. Passou a ser nome de rua no Jardim Londrina, por indicação de algum vereador, acredito que médico. Fiquei sabendo dessa historia pelo meu saudoso amigo Dr. Áureo Garcia Ribeiro.
Quando aqui cheguei, ao estudar a planta da cidade, por causa da obra de esgotos sanitários na década de 70, os nomes das ruas eram bem diferentes. Onofre Pereira de Matos era Rua Santa Catarina, Antonio Emilio Figueiredo era Rua São Paulo, Hayel Bon Faker era Rua Bahia, Toshinobu Katayama era Rua Espírito Santo.
Joaquim Teixeira Alves tinha sido Rua Paraná e Weimar Gonçalves Torres tinha sido Rua Rio Grande do Sul.
Os mais antigos lembram que na década de 30, quando Dourados foi emancipada, o comércio todo ficava na Avenida Marcelino Pires e os maus pagadores para não passar pelo comércio, passavam pela Rua de cima. Logo botaram o apelido de Rua dos Velhacos (hoje Avenida Weimar Gonçalves Torres).
A Rua João Vicente Ferreira era a Rua Municipal. Há pouco tempo mudaram o nome da Rua Ponta Grossa, que passou a ser Olinda Pires de Almeida e muitas outras também tiveram seus nomes trocados.
No Jardim Água Boa os nomes iniciavam pela letra W. Hoje todos têm nomes de personalidades e pessoas que prestaram serviços em nossa cidade, mas continuam sendo chamadas de W-5, W-9 e outros Ws.
Os nomes de ruas é incumbência dos vereadores. Sempre achei que a Câmara de Vereadores deveria fazer uma lei que quando mudasse o nome de uma rua, fosse obrigado a ter, embaixo do seu nome atual, o nome antigo em letras menores. Rua Gustavo Adolfo Pavel- antiga Ivinhema. Seria mais justo para com o que tinha sido trocado, apesar de ter uma lei que proíbe trocar de nomenclatura as ruas com nomes de pessoas e cidades.
Não é fácil dar nome as algumas obras do poder público.
Lembro de que quando da escolha do nome do Presídio Harry Amorim Costa, o Chefe da Casa Civil do Governo pediu-me para que indicasse um nome. Procurei alguém que tivesse o perfil dessa honraria. Falei com parentes de dois ex-delegados que trabalharam aqui, e seus familiares agradeceram a lembrança, mas recusaram a colocarem seus nomes no Presídio. Passei o nome do ex-governador Harry, pois além de ser merecido, não teve nenhum parente aqui para reclamar a homenagem.
Acredito que até hoje não foi dado o nome da Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário que fizemos na região da Vila Iran de Matos. Estação de Tratamento de Esgotos Sanitários Fulano de Tal. É demais...
Por isso que normalmente, cemitério tem nome de Santo.
Foi meu desejo, quando prefeito, que a Secretaria da Educação fizesse um concurso para que os alunos da rede municipal, e quem sabe, todos os alunos do ensino fundamental escrevessem sobre a sua rua. Depois teria uma comissão para escolher as melhores redações sobre sua rua, que mais tarde se transformaria em livro. Eles teriam conhecido um pouco de história, e teria matado a curiosidade de criança. Não consegui.
Senti isso na pele há vinte e poucos anos, quando morava no Gran Village, esquina da Ciro Melo com João Rosa Góes, com meus filhos querendo saber quem tinham sido eles. A sorte é que minha vizinha era a Dona Biga, que com toda a paciência contou, o que era na época impossível encontrar nos livros.
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