quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Douradenses Adotados

Prosseguindo na minha caminhada pelas ruas douradenses de antigamente, ao dobrar a esquina do passado revejo pelo olhar das recordações o nosso antigo perímetro urbano, quando o paisagismo quase bucólico era formado por velhas casas de madeira. Saudosista, relembro das pessoas marcantes e logo surge na poeira do tempo o gaúcho Artidor Lima. Esquisito como seu nome, o sulino morava próximo da prefeitura, após ter vendido suas terras na colônia federal.

Trabalhista de ‘cruz na testa’, partidariamente admirava o presidente Getulio Vargas, João Goulart e Alberto Pasqualini, político da sua cidade de Canoas. Como brizolista de primeira hora, foi um dos fundadores do PDT. Na revolução de 1964, fez companhia para o ex-deputado federal João da Câmara, Dr. Harrison Figueiredo, Raphael Bianchi e outros militantes políticos do PTB recolhidos na cadeia velha da avenida central que leva o nome do caudilho de São Borja. Sua bela filha Alba Terezinha Lima, foi eleita miss Mato Grosso. Getulio Lima, outro de seus filhos, imortalizou a voz num famoso disco de vinil chamado “os melhores da música jovem matogrossense”.

Dentre esses inesquecíveis moradores urbanos que tivemos, também fez parte daquele cenário puro, o obeso Walter baiano. Conhecido vendedor de bilhetes da loteria federal, usava calças de linho branco cintura alta, com quatro dedos acima do umbigo. Sempre impecável na vestimenta, vaidoso e afável, circulava pela cidade com uma pasta debaixo do braço abarrotada de jogos da sorte, que oferecia a passantes. Sua parada referencial era uma loja de nome “a agrícola”, estabelecimento comercial de ferragens do Alberto Perdomo. Ás vezes, o nordestino simplório, rondava pela calçada dos “marreteiros” na frente do Bar Lucchesi em frente o cine ouro verde. Construiu sua residência de madeiras na Rua Rio Grande do Sul (atual Weimar G. Torres) e depois da sua morte lá funcionou o bar “bye bye Brasil”, uma chopperia com o som ao vivo, propriedade do violeiro Nildo Pacito.Recentemente esse antigo casarão, construído pelo carpinteiro Francisco Claro nos anos cinquenta, foi demolido.

Nessa pequena leva de gente antiga, o pioneiro Pedro tintureiro, um ex-jogador do operário, time de futebol que o deputado Londres Machado foi goleiro, lavava e passava ternos. Buscando e entregando as roupas no domicílio do freguês, estava sempre de bom humor. Sendo ouvinte da rádio clube de Dourados, ele sempre sabia dos últimos acontecimentos. Embora eu fosse locutor policial da emissora, um dia ele me surpreendeu contando que a dona Geni Milan, naquela tarde havia trocado uns socos com o médico Dr. Áureo Garcia Ribeiro, num desentendimento na formação da nova diretoria do clube social. Nessa ocasião, quase houve um tiroteio, porque essa temida senhora assassinada posteriormente no bar bambu local, sempre portava seu revólver municiado, geralmente na bolsa. Mas, passado o desentendimento entre os sócios de ânimos exaltados, o jovem Walter Brandão da Silva, foi eleito presidente por aclamação e as duas chapas concorrentes fizeram as pazes realizando um grande baile.

Entre esses pioneiros honestos aqui residentes daquela época, figuram milhares de anônimos trabalhadores entre os forasteiros aportados em Dourados para viver e morrer. Eles eram homens e mulheres idealistas, que foram embora levando as passagens boas do século vinte. Formados na universidade da vida, não sufragavam votos em aventureiros analfabetos, com discurso suspeito de apologia a pobreza. Diferente, no sistema de se inteirar a respeito do processo eleitoral, os candidatos a prefeito e vereadores eram analisados pelas suas condutas passadas e presentes, entre os eleitores do passado. Não existia voto comprado e analfabetos possuíam o acomedimento de se manterem calados, nunca se candidatando na escolha. Votar em alguém, somente pelo fato de ser um candidato evangélico, estava fora de qualquer cogitação. Assim, em memória deles, chega de trapaças Sr. Ari Valdecir Artuzi, e, por favor... renuncie seu mandato se lhe resta um pingo de vergonha na cara!





Isaac Duarte de Barros Junior*
*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com