quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pedido ao Ramão

Braz Melo (*)


Aproveitando a partida de outro amigo e assistindo a homenagem que seus irmãos e amigos fizeram no seu velório, fiquei imaginando como seria a chegada do Ramão Perez no Céu, onde tenho certeza, ele já está. Homem ponderado e firme, pai de família exemplar, companheiro leal, amigo das horas difíceis e temente a Deus, não tem outro lugar para ser o seu descanso final.
Na semana passada, ao visitá-lo na UTI do Hospital Evangélico após vê-lo pelo vidro e ele me reconhecer, fiquei emocionado e esperançoso, acreditando que iríamos ainda tomar muito mate e batermos papo juntos. Logo depois chegou o médico que o tratava e jogou uma água fria em nossa esperança, informando que o seu caso era grave. Seu coração já estava fraco.
A homenagem feita pela maçonaria aos irmãos que morrem é muito emocionante. Mesmo aqueles que já a conhecem, normalmente se desmancham em choro. E não foi diferente desta vez.
Enquanto faziam a chamada nominal dos irmãos, fiquei olhando para seu semblante que parecia estar dormindo e sonhando com as coisas boas que a partir de agora vai desfrutar e meio gozando de nós que aqui ficamos, como quem diz: “azar de vocês que ficam aqui”.
Pedi, no pensamento, que logo ao chegar, depois dos tramites legais que acredito serem breves, pois lá já terá sua ficha limpa feita, preparada por um grande computador e conferido por Deus, dê um abraço no Harrison de Figueiredo. Não conte pra ele como está nossa cidade, pois tenho certeza que se contar tudo ele vai ficar muito bravo e querer quebrar um paradigma, que é voltar para cá.
O amigo Orcírio Pedroso vai querer saber se os meninos estavam cuidando bem da chácara. Dona Loca chegada à pouco, irá querer saber das ultimas.
Vai dar de cara com o companheiro antigo Cícero Irajá Kurtz, que saindo daqui a tempos, faleceu no Rio Grande e tinha tempo que não o via.
Fale pro Vivaldi, que dele você adquiriu o Contábil Júpiter, que do jeito que ele deixou, continua talvez um pouquinho pior. E pra ele continuar orando para que melhore aqui embaixo.
Sem duvidas, o Ivo com aquele sorriso largo, deseja saber das ultimas de nossa cidade e região. Vá devagar, pois ele aqui sofria de pressão alta e não podia se aborrecer.
Não sei se vai encontrar com o Brizola, mas se o fizer veja se aparou a sobrancelha revolta.
O Dr. Ulisses Guimarães, que ninguém encontrou seu corpo por aqui, sem duvidas você encontrará seu espírito por lá.
Encontrando o Tancredo Neves, diga para ele que o neto fez uma bela administração em Minas, mas que vai esperar mais um pouco para tentar ocupar o seu lugar e subir a rampa do Palácio do Planalto.
Diga, para aqueles que querem saber das ultimas a nível nacional, que algumas pesquisas informam que a Dilma passou o Serra. E o Lula depois de achar que resolveu os problemas do Brasil, está querendo resolver o problema do Irã, do outro lado do mundo. Tudo que ele bota a mão vira ouro. Não sei até quando.

terça-feira, 18 de maio de 2010

FUNERAL DE UM FIDALGO

Isaac Duarte de Barros Junior*
O douradense Ramão Pérez, homem circunspecto, partiu no começo desta semana. Passavam poucos minutos da meia noite deste ultimo domingo, quando o descendente de um imigrante da província Pontevedra espanhola, exalou o seu ultimo suspiro, esconso dos olhares curiosos. Atendendo ao chamado de nandejára, ainda atordoado pelos fortes medicamentos, levantou-se do seu leito hospitalar, pegou nas mãos de Cesário Perez, seu pai ibérico, indo ao encontro dos parentes desencarnados. Vendo-o repousar sereno, me recordei no lutuoso ambiente, que antes do maçon “espanhol” adoecer, havíamos conversado muito a respeito da estátua do ervateiro, arrancada pela força ignorante da avenida central.
Ramão Pérez, ex-vereador e advogado mais velho na idade aqui residente, indignado, cava-pitã da vida como diriam os paraguaios, protestava em desfavor municipalidade. Afinal, os inconsiderados mineiros carregadores desses pesados raídos, andavam descalços com os fardos nas costas aproximadamente três mil passos. Suavam muito, contavam, antes de entregá-los nos cargadeiros e voltarem no mesmo dia, fazendo o juruacuá, nome dado ao segundo corte. Contador de profissão e de causos antigos, o “espanhol” comentou que o gesto antipático municipal cometido na retirada da estátua do ervateiro, assemelhava-se com uma bofetada desfechada na face da população e uma agressão gratuita a história regional.
No transcorrer daquele funeral, dia metereologicamente chuvoso, diversas personalidades douradenses foram se despedir do marcante político ambientalista. Nessas exéquias concorridas, seu colega José Marques Luiz, rigoroso como sempre, mostrava-se preocupado com o futuro do nosso ecossistema. Enquanto isso, os ex-prefeitos Bráz Melo e Laerte Tetila, falavam de suas respectivas administrações, tempo em que não havia barnabés loucos na prefeitura e atos costumeiros de loucuras. Mas, falar a respeito da estátua desalojada do peão ervateiro era assunto unanime, no funeral. Entre as opiniões dos presentes, um lembrou-se que os ervateiros abriram milhares de quilômetros de tapês, favorecendo os caminhos daqueles que vieram depois. Entretanto, ninguém sabia dar uma resposta verossímil, do porque a estátua desse guapo transportador da erva mate, foi derrubada do trono das homenagens, de forma tão truculenta. Concluíram então, que o autor do desmando, se fosse um parvo lotado no gabinete municipal, esse funcionário imbecil nada deveria conhecer da história local e do pioneirismo desses ervateiros no Mato Grosso do Sul.

Todavia, o ex-professor técnico contábil no Ginásio Osvaldo Cruz do professor Lins, que havia sido na juventude, gerente de uma loja de tecidos em Catalão, fundador do partido trabalhista em Dourados, estava infelizmente morto. Contrariando ibericamente, meus prognósticos de futuras melhoras, o “espanhol” permanecia frio e pálido no centro da sala, na teimosa rigidez cadavérica. E se espiritualmente ainda ouvia alguma coisa, esse veterano já nada mais falava. O venerável maçon participativo, que ao lado de Harrisson Figueiredo, com outros companheiros históricos, ingressou no brizolismo na primeira hora, dirigiu um PDT sem oportunistas. Entretanto, na madrugada de segunda feira, resolveu mudar-se para a eternidade e viver novamente na companhia dos avós maternos Izidro Pedroso e Benedita, da sua mãe Agina, de seus tios falecidos, incluindo os Mariano desencarnados do Durval. Ramão Pérez, um fidalgo da boa cepa, sequer teve tempo hábil no hospital, de se despedir da esposa Durvalina, a sua “Rosinha”, e das cinco exemplares filhas que se orgulhava.
De recordações extraídas do baú, parentes desse morto ilustre, lembravam que o Ramão foi cabo eleitoral do candidato a vereador Dr. Weimar G. Torres, advogado e jornalista, pontaporanense filho de uma paraguaia da cidade de Pedro Juan, com quem o “espanhol” se identificou castelhanamente. Recordei contando algumas passagens esquecidas, que o Ramão Pérez me apelidou de “paraguaio tacuapi (taquara fina)”, por ser um garoto magro demais. Isto tudo acontecendo, justamente na época em que ele aprendia um pouco do idioma guarani com meu pai. Rebatendo a alcunha como era chamado, o apelidei de “espanhol”. Este, na sua campanha para deputado federal, acabou suplente pela diferença de quinhentos votos. Depois, ambos saímos candidatos pelo PDT a prefeito de Dourados, eleição ganha pelo Luiz Antonio Gonçalves. Tempos idos, nos candidatamos a deputado estadual, num PDT em formação. E quando me afastei da militância político partidária, o Ramão me inteirava do crescimento pedetista na cidade e no estado.
Agora, seu escritório de contabilidade, freqüentado pelas famílias pioneiras, certamente seguirá gerenciado pela sua filha, a advogada Thaís. Quanto às piadas sobre os políticos, causos do século passado contados chistosamente, vou lembrar sempre que recordar desse “espanhol” nascido há setenta e sete anos na Cabeceira Alegre do Getulio Benevides, bem perto de uma ponta da mata verde que a civilização destruiu...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quando a mentira acaba virando verdade

Braz Melo (*)

Tenho visto muita lorota fazerem algumas pessoas serem execradas da sociedade e só mais tarde a historia se redimir daquilo que inventaram deles.
Foi assim com Juscelino Kubitcheck, que diziam que era poderoso, pois tendo sido Prefeito de Belo Horizonte, Governador do Estado de Minas Gerais, Presidente da Republica e Senador muitos acreditavam que era um homem riquíssimo. Ledo engano, pois ao morrer deixou poucos bens materiais para a sua família.
Outro que ouvíamos que era abastado foi o ex-ministro Mario Andreaza. Sendo homem de confiança do governo militar e que através de sua batuta construiu-se grandes obras pelo Brasil inteiro, muitos achavam que ele se aproveitava de sua força para proveito próprio. Ao morrer, a imprensa noticiou que seus familiares receberam dos amigos ajuda financeira para que fosse realizado seu funeral.
Contam a mesma coisa de Rui Barbosa e tantos outros que tiveram projeção principalmente na política e que a historia só mais tarde conseguiu ser verdadeira com os seus descendentes.
Lembra do caso do Ministro Alcenir Guerra? Inventaram tantas coisas dele, mas que com bravura, conseguiu provar o contrário e dar a volta por cima.
O Presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro foi cassado, ficou no ostracismo um período. Voltou a ser candidato e obteve a maior votação da historia do Rio Grande do Sul.
Uns conseguiram recuperar sua idoneidade em vida, mas a grande maioria só teve esse reconhecimento após a morte.
Isso tem acontecido não só na política, mas também no nosso dia a dia. Quantos já ouviram o cochichar de pessoas sobre a melhoria financeira do vizinho? Onde tem mais de três pessoas, tem pelo menos um pensando mal do outro. Vejo isso dentro de qualquer comunidade, seja política, esportiva e até dentro das igrejas existe a desconfiança dos comandados aos mandatários.
Nenhum mandatário pode comprar um carro novo sem que alguns comandados questionem o porquê e como o chefe conseguiu adquirir aquele bem. Isso acontece até dentro da família, onde um irmão sente inveja ou despeito de outro. Infelizmente é a verdade. E isso vem desde Abel e Caim.
No futebol, ouço sempre quando um jogador é negociado, que o dirigente foi o que mais ganhou nesta transação. Será que isso é o normal? Ontem mesmo, na convocação da seleção brasileira de futebol pelo Dunga, houve diversos comentários que fulano de tal só foi convocado pelo interesse deste. Que o outro não foi chamado porque beltrano não tinha interesse. Na época de Copa do Mundo, faltando 30 dias para o inicio desta competição, esse assunto é palpitante e inspirador. O que no inicio, era só palpite passa a ter crédito. E a mentira acaba virando verdade.
Normalmente, a população confunde aquele que tem o poder de solucionar e resolver situações de uma família, agremiação, cidade ou estado com aquele que quer resolver estas pendências pensando em beneficiar-se.
Temos de evitar esse conceito. Procurarmos nos policiarmos mais, para que não acreditemos em tudo que ficamos sabendo. O diabo está aí solto e querendo a desgraça de todos nós. E ele nos quer confundir, criando discórdia entre os filhos de Deus.
Por isso é bem atual aquele ditado antigo: ”Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai”.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

DIA 5 DE MAIO

José Tibiriçá Martins Ferreira (*)
Hoje 5 de maio é comemorado o Dia Nacional das Comunicações, cuja data é uma homenagem ao nascimento em 1865 do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, Patrono das Comunicações do Brasil. Quando se fala em Comunicação, à primeira vista, lembra-se da Telefonia Em 09 de novembro de 1972, foi constituída a Telecomunicações Brasileiras S/A, uma sociedade anônima aberta de economia mista através da autorização inscrita na Lei no 5.792, de 11 de julho de 1972, vinculada ao Ministério das Comunicações.
Até os anos 50, as Concessões dos Serviços de Telecomunicações eram distribuídas, indistintamente pelos governos Federal, Estaduais e Municipais e segundo dados do governo, existia uma expansão de forma desordenada e no final da década de 60 e início de 70, existiam aproximadamente 1000 companhias telefônicas com grandes dificuldades operacionais e de interligação.
A Telebrás nasceu com a atribuição de planejar, implantar e operar o Sistema Nacional de Telecomunicações e implantou em cada Estado brasileiro uma empresa-polo e incorporou as companhias telefônicas existentes, adquirindo seus acervos e seus controles acionários.
Foi durante o Regime Militar que o sistema mais evoluiu, pois era interesse fazer a integração do País. Lembro-me que quando ingressei na Telemat em 18 de agosto de 1976 em Campo Grande, existia somente linha física em nosso Estado. Transferido para Dourados em 13/03/78, quando acontecia uma ventania na região, os técnicos de rede Reginaldo Moreti. Seo Lima, José Elias Queiroz, os mais antigos nessa área, pegavam o jipinho amarelo, munidos de facão, foice, pois tinham que muitas vezes entrar no mato com escada nas costas e localizar os fios arrebentados, fazer a conexão e restabelecer a comunicação. As emissoras de rádio faziam a conexão através de LP´s conectadas pelos seus técnicos. Havia um sistema de trabalho praticamente de 24 horas, de segunda a segunda, inclusive nos feriados. A Central Telefônica era comandada por Antonio José dos Santos, Cláudio Garcia (Peninha), Roberto Russo e no setor de Energia, o Técnico José Pereira Pinto fazia as preventivas nas localidades nos motores estacionários, aqui o MWM, tinha que estar sempre pronto, pois quando caia a energia, ele entrava automaticamente, cujo apelido era Zé Pintão. O primeiro engenheiro que nos comandou em Dourados foi Eduardo Henrique França que pela sua capacidade chegou até a Presidência da Telems, hoje está aposentado.
A área administrativa era comandada por Alda Maria Saldanha, existia uma centena de telefonistas, as mais antigas: Ruth Godoy de Morais, Maria Cleusa Costa, era uma grande família que hoje está esparramada e o nosso contato maior com alguns é por email. Ainda encontramos muitos colegas pelas ruas de Dourados.
Um fato histórico que quero aqui relatar é que no prédio da Avenida Presidente Vargas, esquina com a Ponta Porá foi instalado o primeiro posto a álcool de Dourados para atender a frota da empresa em 1979. Lembro-me que foi tirada uma foto, publicada no Jornal O Progresso onde apareceu Alberto Ferreira da Cruz abastecendo um fusca, seus colegas na cidade fizeram comentários sobre a sua nova função.
No dia 05 de maio de 1981 foi inaugurado o sistema DDI de Dourados, já no prédio novo, na Rua Major Capilé, aconteceu uma grande festa, a primeira ligação foi para Sydnei -Austrália, houve uma conversação em inglês entre o ministro Aroldo Corrêa de Matos, muitos políticos presentes e muita gente ficou boqui aberta. Uma pessoa de destaque na política douradense começou a bater palmas antes da hora, pois ele disse que nunca tinha ouvido alguém falar em inglês e não sabia que o pessoal de Brasília também falava inglês.
Com a participação do engenheiro Mário Guimarães (gambá), Cunha, Alda, Peninha, William, Edivaldo (pelé), Anadir, fizemos uma reunião e fundamos o Clube 5 de Maio. Tive a honra de elaborar e assinar o primeiro Estatuto em março de 1982, sendo eleito o primeiro presidente Peralta e no governo do engenheiro Antonio Braz Mello ganhamos uma área do Município, onde construímos o clube que está localizado próximo ao Conjunto Izidro Pedroso.
Em 29 de julho de 1998 o Sistema Telebrás foi privatizado, ficando presente somente em nossa memória as boas lembranças, os colegas de trabalho, as festas do dia 05 de maio no Indaiá, os almoços no Restaurante Guarujá e presença dos nossos diretores que vinham até Dourados nos prestigiar.
Nossa herança mais importante, além da amizade dos companheiros é o Clube Cinco de Maio que construímos com nosso suor e é administrado pelos empregados remanescentes Iciro, Agileu que continuam trabalhando na Telems, hoje OI.
Triste é ver o prédio da Telems (OI) todo desbotado, cujo trecho da Rua Dr Camilo Hermelindo da Silva, está morto e parece que ficou triste, poderia ser um cartão de visita de Dourados. Ali trabalhei por 23 anos, saí ao ser demitido como centenas de colegas no governo FHC. Ali existia uma frota de quase 100 carros, um posto do Banco do Brasil para atender os clientes.
Intermediei no Procon em Dourados, várias audiência e vi o quanto existe de reclamações no novo sistema, já houve uma promessa da Anatel, criado para fiscalizar o setor de que haveria nas cidades de porte médio um escritório para atender os problemas diversos, mas parece que ficou somente no papel. Aonde estão os nossos deputados para cobrar? Será que é somente Dourados que está assim?
Feliz Dia das Comunicações!
Dourados-MS, 05 de maio de 2010.

(*)advogado, licenciado em Letras com Inglês, produtor rural no Distrito da Picadinha e estudante do idioma guarani ñandéva.

domingo, 2 de maio de 2010

ADELANTE PALOMITA!...

Isaac Duarte de Barros Junior*
No primeiro dia do mês de maio douradense, o felizardo torcedor que ganhar um convite do Palomita, poderá ter um assento na arquibancada da saudade, se souber sonhar. Dominando as lágrimas das lembranças, o obsequiado poderá aplaudir com as batidas do coração, os grandes atletas e dirigentes de futebol do passado local. Alguns artilheiros já falecidos, nessa festividade singular, parecem retornar da eternidade, graças ao ambiente proporcionado pela família do ex-meio-atacante Euzébio Lopes, o primeiro palomita, nascido em 23 de março de 1934, em Porto Murtinho. Com um pouco de imaginação, os convidados conseguem fazê-los voltar a pisar nos gramados dos sonhos, prontos para jogarem as inesquecíveis partidas dominicais entre Operário e Ubiratan.
Consumindo um pouco mais da cerveja gelada, lá servida com carinho, Ranulpho Saldivar e Hayel Bom Faker, de guarda-chuva na mão, podem aparecer na memória e tomarem assento nas suas cadeiras reservadas, instaladas na beira do campo na L.E.D.A. Napoleão Francisco de Souza, de revólver na cintura, certamente surgirá pronto para ser o árbitro desse encontro, enquanto um grego alcunhado de Fisíca, se posicionará como massagista. Alambrados de madeira, construídos no antigo estádio municipal da liga, vulgarmente chamados de “puleiros”, lotado de torcedores alvoroçados, voltam milagrosamente a se acotovelar, vezes gritando, ora aplaudindo. Norton Saldivar, ídolo maior da torcida operariana, seguido do companheiro Ramon Bobadilha, parece que acenam para os populares.
De repente, naquele congraçamento anual de desportistas de épocas diferentes, agora misturados, Raphael Bianchi, Fredis Saldivar, Ataliba Penzo, Piper, Valdessi, Oduvaldo Pompeu, Pilo Além, Miro, Munir e Fauze Faker, Leba, Zé Paulo, Nenzo, Mauro Alonso, Jairo Quadros e Tarzan, são escalados para o jogo amistoso das recordações. Mas, Odilon Azambuja, Taifa, Alfio Senatore, Alonsito, Abel Campos, Davi, Mancha Negra e Pedro Lopes, também dão mostras de querer participar do encontro. Nisso, uma gargalhada alta, aflorada nos lábios de um convidado do Euzébio Lopes, interrompe as reminiscências saudosistas deste escriba, mostrando pessoas anatomicamente envelhecidas pelo transcurso do tempo. Pois na verdade, no grande Itália, idealizado pelo engenheiro Vitório Fedrizzi, recanto da colônia paraguaia, morada dos pedreiros que construíram a maioria dos prédios da cidade de Dourados, acontecia salutarmente uma reunião predisposta a homenagear o falecido ex-vereador Valter Brandão da Silva. Para tanto, respeitosamente, uma delicada placa de prata foi entregue a sua viúva Arenil Carneiro da Silva.
O ato cerimonioso demonstrava um pleito de gratidão dos velhos atletas, pelos seus feitos em benefício do esporte local. O cerimonial doméstico, prosseguindo, proporcionou a fala de muitos oradores, que usavam sensibilizados da palavra, prestando tributos ao saudoso treinador “mandioca”. Seguiram-se pós-homenagens, fotos de flash-back e abraços fraternais entre os presentes. O som ao vivo da alegre música paraguaia, adoçava os ouvidos dos convidados, enquanto algumas senhoras serviam um lauto almoço de confraternização.
Parcimoniosas as minhas acumuladas emoções, vê-se que convidados, desportistas veteranos, começavam a remexer no suposto velho baú das recordações. Alkindar Rocha, agora de cabelos grisalhos, trocava figurinhas do seu vasto conhecimento histórico desportivo. Ao seu lado, o vigor de Valdessi Carbonari, sorria como sempre. Albino Torraca de Almeida, um dos fundadores do Operário Futebol Clube em 05 de maio de 1953, lembrava-se da ata assinada em companhia do meu pai e que seu genitor Dalmário Vicente de Almeida, havia presidido o operário FC, o mesmo acontecendo com seu irmão Dr. Heitor, odontólogo e advogado. Eduardo Lopes, o segundo “palomita” que trabalha em uma rádio FM, assessorava com os demais irmãos Ramão, Luiz Carlos, Eusébio e Guedes, o entra e sai dos convidados da solenidade. Desta vez, organizada na residência da filha do veterano jogador, a Dra. Plácida e seu marido Manoel Machado, impecável churrasqueiro.
Cercado desse clima inebriante, meus pensamentos, momentaneamente, transportaram-me aos logincuos domingos da distante mocidade. Assim, em pleno campo da L.E.D.A municipal, voltei a viver as emoções na cabine da rádio clube, trabalhando em companhia dos locutores esportivos Roberto Pompeu, Luiz Antonio Maksoud Bussuan, Percival de Assis e Caiado Netto. Todos nós, assistidos tecnicamente por Ermelindo Azevedo e Jorginho Salomão. Cada qual, nessa recordação, éramos jovens, ainda moços sorridentes, com todo o futuro pela frente, respeitadas as devidas épocas. Olhando no interior do campo, hipnotizado por essa abstração na Vila Hilda, acho até, que ouvi novamente o seu Ranulpho Saldivar, gritar como de costume: adelante palomita, mire bien nel arco!... Fechando os meus olhos, nessa solenidade desportiva que se repete há quase trinta anos, chorei de saudade em silencio.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com