quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Inclusão digital em Dourados

Braz Melo (*)

Esta semana esteve em nossa cidade técnicos do Governo do Estado através do Núcleo Estadual de Inclusão Digital do MS para incentivar a Prefeitura Municipal em participar do programa idealizado pelo Governo Federal de Inclusão Digital.
Este é um projeto especial para as prefeituras em que o município só entra com a contrapartida do local e funcionários (Em alguns casos) para funcionamento do projeto.
É uma grande oportunidade de nossa cidade, com pouco ou nenhum recurso, entrar na era digital, que em outros lugares está fazendo o maior sucesso. Na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por exemplo, as pessoas estão aproveitando este beneficio dos Governos e saindo mais de casa. Tem cidades, como Rio das Ostras, no Estado do Rio de Janeiro, que já estão totalmente ligadas com esta tecnologia.
Ótima atitude, pois Dourados tem alguns atrativos a mais em relação a outros municípios brasileiros, já que conta ponto para escolha dos municípios, os projetos que são localizados na área de fronteira e também de ter em seu território alguma aldeia indígena.
Logo imaginei que os técnicos da nossa Prefeitura indicariam a Escola Estadual Guateca Marçal de Souza, recém inaugurada pelo Governador André e que fica no centro da Reserva Indígena. Também seriam contemplados na Reserva, no lado do Jaguapiru a Escola Municipal Francisco Meireles e do lado do Bororó a Escola Municipal Araporã.
Nossos irmãos indígenas ficariam felizes, pois como até hoje a FUNAI não se dispôs a colocar endereços para correspondências nesta aldeia, impedindo-os até de poderem comprar um celular ou compras à prestação, já que não tendo endereço não têm como comprar nada, teria pelo menos seu endereço eletrônico para corresponder com o mundo virtual.
Os técnicos da nossa querida Prefeitura, com certeza indicaram o Campus da UFGD, da UEMS e no CEUD para poderem estar ligados a internet de graça, já que a grande maioria dos estudantes universitários já tem seus notebooks. Os que não possuem terão direito a usar os computadores da biblioteca de seus centros acadêmicos.
As bibliotecas do município sem duvida estarão neste pleito dos técnicos também.
Como em todo lugar do mundo os administradores municipais estão fazendo todo esforço para que a população retorne para as praças e para o lazer, devem ter indicado as praças públicas de nossa cidade, como a Praça Antonio João, a praça em construção do Parque Alvorada, o Parque dos Ipês, a Praça Paraguai, a Praça do Cinqüentenário e a Praça Antenor Alves Duarte. Imagina quão bom seria aquele pai, que cuidando de seus filhos e precisando terminar um trabalho, ter a oportunidade de fazê-lo na Praça Publica de sua região. Isso é Dourados digital.
Espero que a atual administração tenha interesse e vontade política para encampar este projeto tão importante para uma cidade com tantas Escolas e Universidades, já que existem projetos fundamentais de saúde e que, infelizmente, estão emperrados há quase 3 anos, o que dá a entender que não precisamos deste serviço básico tão importante para a população. Parece estarmos na Islândia ou Finlândia, pois acham que está tudo bem.
Mas voltando aos dias atuais, ontem ao passar pela Rua Hayel Bon Faker, caí num buraco “dos bons” e estragou o pneu. Procurei um borracheiro e como só tem um que funciona a noite no centro, tive de esperar mais de hora e meia, já que a fila era grande. Quatro motos e dois carros na minha frente. Enquanto não chega a Dourados digital essa é a alegria dos borracheiros.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

FAMÍLIA MATTOS...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitos conhecidos episódios regionais, inclusive aqueles acontecimentos mais marcantes que aparecem como momentos históricos, passam pela saga vagarosa dos pioneiros sulinos, conduzindo suas carretas, erguendo ranchadas e assim participando da fundação do município de Dourados. Para os historiadores, interessados nesses acontecimentos históricos, obrigatoriamente o sobrenome da tradicional família Mattos, faz com justiça parte desse contexto. Participando, ora como militares voluntários, muitos integrantes da família Mattos foram combatentes na guerra do Paraguai. Depois, na condição de civis idealistas, diversos membros dessa família tradicional, aparecem com destaque nos registros de acontecimentos oficiais de vários fatos ligados à política do antigo Mato Grosso.

Migrantes, carreteando sem pressa na lentidão das estradas carroceiras e pelos boqueirões, foi viajando, partindo da cidade gaúcha de São Luiz Gonzaga, que a família Mattos fixou profícuas raízes na história local, participando exaustivamente da árdua labuta do desbravamento. O gosto inteligente dos Mattos, pela política partidária, começou a partir da nomeação do major Ponciano de Mattos Pereira, para ser o novo intendente provisório (prefeito) da sua terra natal, desagradando o poderoso estancieiro de Cruz Alta, general Pinheiro Machado.

O êxodo dessa família, começou nos pampas gaúchos em 1898, quando se tornou insustentável os diversos atritos políticos que os Mattos Pereira, como ex-militares, mantinham com o senador gaúcho Salvador Pinheiro Machado, figurão da velha república. Essa inimizade era de cunho mortal, castigada às vezes com degola do perdedor, o que levou o chefe do clã, coronel José de Mattos Pereira e sua esposa Inácia, a reunirem os seus familiares e fugirem as pressas para a Argentina. De lá, a numerosa família Mattos seguiu de carreta para o Paraguai, alcançando novamente as terras brasileiras no povoado de Bela Vista. Com a morte do coronel José de Mattos Pereira em 1904, seu filho o major Ponciano de Mattos Pereira assumiu a liderança familiar, sendo nomeado interventor (prefeito) do município de Ponta Porã em 1913.

Em 1915 a modesta Vila de Dourados, sofreria as suas primeiras mudanças. Na presença dos irmãos Ponciano e Bento de Mattos Pereira, o povoado seria elevado à categoria significativa de Distrito de Paz. O tenente Manoel de Mattos Pereira, outro filho do coronel José de Mattos Pereira, por se identificar com a pecuária e agricultura, escolheria para morar, criar o gado e plantar suas lavouras, uma localidade apelidada como a “falha”. Devido existir nesse descampado, a ausência completa de matas. Manoel de Mattos Pereira, foi viver nesse lugar com a esposa Maria Camila em 1912. O lugar, hoje é conhecido como Distrito da Picadinha. Este Mattos, era criador de gado e lavoreiro. Foi o pai de José de Mattos Pereira, douradense ilustre, homônimo de seu avo e de um tio, refiro-me ao inesquecível “coronel Juca”.


Juca de Mattos para os amigos, tornou-se uma personalidade marcante do seu tempo. Comerciante respeitado, pela conduta ilibada foi nomeado Inspetor de Quarteirão, quando militava no partido político “perrengue”, opositor do “urucubaca”. Quando o estado de Mato Grosso, se partiu em dois estados na revolução constitucionalista, apoiando o estado de São Paulo; por um breve período, em 1932 o governador Dr. Vespasiano Martins, o nomeou delegado de policia. Quando os revoltosos foram vencidos pelas tropas legalistas da ditadura de Vargas, acabou o estado dividido. O mesmo aconteceu com todos os cargos. Em 1935, “seu Juca” de Mattos esteve presente na cerimônia, que festejava o nascimento do município de Dourados e integrou o nosso primeiro Conselho Municipal. Inclusive, a sua assinatura está acostada na ata de instalação do município em 1936, juntamente com a de outros participes componentes do Diretório Integrado.


Numa parte desse documento, na ata histórica do ano de 1936, se lê: “foi instalado este Município criado pelo Exmo. Senhor Governador do Estado Doutor Mário Correa da Costa por Decreto nº 30, de 23 de dezembro de 1935”. O coronel Juca de Mattos, tinha uma cópia desse apontamento, hoje arquivado em Cuiabá. Esse senhor marcante da família Mattos, fez parte dos comerciantes pioneiros, fundadores da Associação Comercial e Industrial de Dourados. Suas amizades com políticos de renome nacional, eram de conhecimento público. Entre elas, estavam o General e senador Filinto Muller, ex-presidente do senado, além de ex-governadores e deputados federais. Em 1965, aliando-se ao Senador Filinto e ao deputado Weimar Torres, lançou na região da grande Dourados, um jovem engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), de nome Pedro Pedrossian. Esse político desconhecido, filho de armênios, venceu o udenista Lúdio Coelho, numa campanha apimentada de insultos e acusações pessoais. Enfim,os Mattos em Dourados e região, teriam muitos outros nomes para se destacar. Aqui, neste meu modesto artigo, lembrei apenas de alguns desbravadores, entre os muitos dessa família pioneira...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

DATAS IMPORTANTES

Isaac Duarte de Barros Junior *

As ocasiões festivas, geralmente criadas pelos costumes, mesmo possuindo datas consideradas inexatas, tradicionalmente acabam sendo festejadas e respeitadas pelas pessoas. Desses dias relembrados, os estudos antropológicos levam-me a crer, que muitos acontecimentos são provenientes de efemérides inventadas pelos próprios homens. O nosso calendário brasileiro, por exemplo, em nada se assemelha com as famosas calendas romanas, aquelas que iniciavam um ciclo mensal contando a passagem do tempo. Para nós ocidentais, educados e acostumados com as festas natalinas, seria muito difícil aceitar mudanças, se fosse criada uma nova data para o dia do nascimento de Cristo, data esta supostamente imposta pela vontade de um papa. Ainda mais, passados tantos séculos, depois que os comerciantes apadrinharam esses festejos natalinos. Datas, controvertidas e equivocadas, sabemos que sempre existiram em nosso calendário. Porém, repentinamente querer mudá-las, exclusivamente para atender interesses pecuniários, é iniciativa no mínimo impossível.

Dessas datas cheias de controvérsias, existe uma envolvendo alguns douradenses adotados com outros douradenses natos, nestes últimos setenta e quatro anos. E tudo isso começou, quando criaram um feriado municipal no dia 20 de dezembro. Uns, se valendo do cepticismo quanto à data dessa emancipação municipal, devido a procedimentos legalistas ultimados. Este é o meu caso. Outros, igualmente discordantes, recusam aceitar o dia do feriado. São eles, centenas de comerciantes que adotaram Dourados para viver e prosperar. Deles, diferencio-me, respeitadas as razões argumentadas. Isto porque a maioria, apenas discorda do feriado municipal dezembrino, fulcrados em motivos puramente comerciais. Ainda mais, tendo acrescidas, à obrigatoriedade de fechar as portas dos seus estabelecimentos, na época do salutar faturamento, qual seja: nas vendas do fim de ano.

Porém, como douradense descendente de pioneiros, moradores e desbravadores desta cidade há mais de cem anos, compreendo que argumentos pequenos como os meus embora agasalhados em ordem legal, não convencem alguns octogenários aqui nascidos, como minha mãe. Sendo a penúltima filha de uma prole de dezeseis irmãos, ela apenas se lembra saudosa que no dia 20 de dezembro de 1935, tinha somente dez anos e que nesse dia dançou alegremente com sua amiguinha Roma Milan, comemorando o nascimento do município de Dourados. Naquele seu longínquo tempo de criança, meninos dançando em bailes com meninas, nem pensar. Com seus oitenta e quatro anos bem vividos, ela recorda lucidamente que o representante do interventor de Mato Grosso, era um moço claro, vestido de terno branco. E se lembra dele, assinando na folha de um grande livro de capa preta e que depois da festa o transportaram para Cuiabá. O fazendeiro João Vicente Ferreira, futuro primeiro prefeito de Dourados, um primo de minha avó materna, foi o parente quem colocou minha genitora num galho alto de árvore, para que ela pudesse assistir melhor essa cerimônia. Meu tio, Antonio Emilio de Figueiredo, estava entre os muitos cuiabanos presentes nessa primeira festa de 20 de dezembro. Futuramente, presidiria o primeiro conselho do recém criado município de Dourados. Analisando isso tudo, cheguei a uma sensata conclusão: afinal quem sou eu, para querer mudar essa data tradicional importante?

Portanto, ousadias como essa minha, não merece prosperar conflitando e assim resolvi colocar um ponto final na divergência que tenho, quanto à data 20 de dezembro. Resta também, aos nossos ex-forasteiros, agora pessoas integradas politicamente na comunidade local, pisarem fundo nos freios dos seus destrambelhos utópicos, parando de modificar a história douradense passada. Pois tentando mudar os acontecimentos do passado, mostram uma grosseira falta de respeito para com a memória dos fundadores desta cidade. Assim, me parece que querendo inventar “quilombos” na Picadinha; visitantes ilustres mortos, antes mesmo de Dourados existir, como é o caso do tenente Antonio João Ribeiro; rua com nome de pioneiro que nunca existiu e outras bobagens, acho haver exaurida a hora de acabar com essas besteiras de cunho político. Precisamos, como douradenses, civilizadamente olhar o horizonte com mais otimismo. Afinal, o sonho do professor Celso Amaral, está vivo em cada universitário que termina o seu curso superior nesta cidade. Aceitar como ponto pacífico e imutável, os acontecimentos passados que moldaram Dourados tal como ela é, torna-se um tipo de conduta obrigatória a qual todos deveriam aderir. E aderir sem forjar ou criar fatos irrelevantes, torna-se portanto um preceito. Um exemplo, este jornal, o nosso histórico “o progresso”. Gostando ou não alguns bairristas da nossa capital, hoje é o diário mais antigo do estado de Mato Grosso do Sul e não adianta inutilmente inventarem outro em seu lugar.

Concluo, lembrando que tivemos já integrados ao nosso desenvolvimento, pessoas importantes e anônimas, que chegaram antes. Vieram de carretas por estradas vermelhas e outras desembarcaram depois desta cidade se tornar um lugar mais desenvolvido. Mas entre essas, existe ainda muita gente arrogante e deslumbrada, que não passariam de cidadãos comuns nas cidades de onde vieram. Entretanto, em Dourados, esses filhos adotados, tornaram personalidades públicas. Estando então, muito mais bem obrigados a respeitar a nossa história local e regional. Um dia, sabendo esperar pela sua vez, certamente farão parte da história douradense. Sabidamente, muitas dessas pessoas, migrantes aqui fizeram fortunas e galgaram importantes cargos na república brasileira. Essas pessoas, trabalhando, adubaram o crescimento desta cidade sul-matogrossense e a sua importância no atual contexto nacional. Pensando desse modo, façamos serenatas no estilo antigo, como certamente fará o Rozemar de Mattos e o Centro Cívico Cultural, no próximo dia 20 de dezembro.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A ciclovia de Caarapó

Braz Melo (*)

A semana passada ouvi, através de um informativo falado da Prefeitura de Caarapó, que aquela administração tinha inaugurado uma ciclo-faixa para bicicletas naquela cidade. Ela tem em torno de quinhentos metros de extensão, saindo de uma escola estadual e segue até o centro da cidade. O locutor informava da satisfação dos ciclistas com essa nova obra. Realmente, feliz é a comunidade, em que o seu mandatário se preocupa com a segurança e bem estar de seus munícipes.
Ao contrário de Caarapó, a nossa cidade está vendo suas ciclovias sendo desmanchadas pelo seu prefeito, sem ao menos uma desculpa ou esclarecimento para tal fato.
Sempre achei uma falta de respeito os novos governantes desmancharem o que os outros fizeram, sem pelo menos uma explicação bem fundada. É bem mais fácil fazer uma nova obra, com novas idéias em locais semelhantes e só depois de aprovado, desmanchar a que os outros executaram. Assim manda o bom censo.
Aqui, bem antes de assumir a prefeitura, ainda como deputado estadual, o alcaide saiu retirando tachões das ruas, sendo por isso, chamado aos tribunais, para responder a processos.
Ao assumir o cargo de prefeito, retirou os tachões da Rua João Vicente Ferreira, perto do Hospital Santa Rita, criando um transtorno imenso para os ciclistas já acostumados à sua conquista, a ciclovia, sem ao menos aviso prévio.
Todos sabem que o leito carroçável da Rua João Vicente Ferreira, no trecho compreendido entre as ruas dos Missionários e Emilio de Menezes é estreito, porém todos achavam que ele iria fazer a ciclo-faixa no passeio publico, já que neste trecho, é bem mais larga que o normal. Que nada. Retirou os tachões do asfalto e ficou por isso mesmo. E não vejo ninguém contrapor este desatino. Parece brincar com coisas sérias.
E continuam falando em retirar as rotatórias que foram feitas para o melhor funcionamento do transito de nossa cidade, sem ao menos uma explicação técnica. Falam em fluir melhor o transito.
Já repararam como Dourados cresceu em numero de carros e o que falta é um estudo mais apurado, com técnicos gabaritados e especializados, para descobrir que o problema não são as rotatórias e sim, entre tantos outros problemas, os estacionamentos no centro dos canteiros, onde os carros têm de dar ré para saírem. Esse é o caso da Rua Joaquim Teixeira Alves em frente aos bancos e outras mais. Porque não engarrafa o trânsito em frente ao Supermercado Big Bom, na mesma rua? Porque ali o carro não precisa dar ré para sair do estacionamento. Ele sai de frente, não atravancando o trânsito para trás.
Falaram em retirar algumas rotatórias para sincronizarem os semáforos, mas até hoje não conseguiram sincronizar nem os que existem aí, como os semáforos das Avenidas Marcelino Pires e Weimar Gonçalves Torres na Rua Hayel Bon Faker. Desculpa esfarrapada. Não tem é planejamento, ou como diz os mais sinceros, não sabem o que fazer.
O movimento de veículos em Dourados aumentou muito na ultima década e pouco se fez para melhorar o trânsito. Até os guardas de trânsito sumiram. Os crimes constantes em nossa cidade são uma demonstração que faltam policiais nas ruas. Se falta para o policiamento ostensivo, imagina para a ajuda no trânsito.
Parabéns para a comunidade caarapoense, que recebeu sua ciclovia. E Dourados que tem mais de cento e vinte mil bicicletas, ruas com poucas declividades, que são essenciais para o uso de bicicleta, não tem nenhum incentivo da atual administração para melhorar o trânsito.
Fazendo isso, a administração atual de Dourados está na contra mão da nova historia da humanidade, que procura de toda maneira, diminuir os acidentes de trânsito, a poluição pelos gases tóxicos dos veículos e a melhoria da saúde de sua comunidade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A BOTIJA DE OURO

(*) José de Azevedo

Nos meus bons tempos de juventude em Dourados, se ouvia, constantemente, as hist6rias a respeito de Botijas de Ouro, que volta e meia alguém encontrava, tornando-se rico da noite para o dia. Contavam-se mesmo, histórias detalhadas, de pessoas muito conhecidas na comunidade, que estavam bem de vida, e que haviam encontrado uma botija.

Segundo diziam, na época da Guerra do Paraguay, as pessoas guardavam seus tesouros em ouro, enterradas sob coposas árvores, para protegê-los. E, com a morte de seus proprietários, tais botijas, um pote de barro, cheio de ouro, lá ficavam para sempre, até que alguém o encontrasse.

Um velho índio, sempre aparecia lá por minha casa, e eu lhe oferecia sempre, um prato de comida, e por isto ele foi firmando solida amizade comigo. Certo dia, ele me disse que tinha uma botija cheia de ouro e que me daria, desde que eu fosse arrancá-la a meia noite. Disse-me que alguém da Guerra do Paraguay havia lhe dado. Ele me daria a botija, em troca de um cavalo aperado, para ele viajar para baixo da serra de Maracaju, onde tinha um filho.

Contei a historia a meu Pai, que foi contrario a minha ida de arrancar botija, alegando que poderia ter perigo nisto. E disse-me meu Pai, que ouro, iríamos arrancar das nossas milhares covas de café, lavoura grande que, infelizmente, a geada de 1953 cuidou de dizimar e levar meu pai a bancarrota.

Certo dia. um vizinho, o Joã0 Garcia, veio me dizer que um defunto o havia arocado, puxado-o pelo pé e falou para ele ir arrancar uma botija de ouro, mas que ele não tinha coragem de fazê-lo. Passados alguns dias, lá vinha o João Garcia de novo a dizer que o tal defunto novamente o puxara pelo pé, exigindo que ele fosse buscar a botija de ouro e lhe dando uma complicada maratona para encontrá-la. Mas, alegava ele, que lhe faltava coragem para enfrentar a empreitada.

Como eu tinha passado pela experiência do velho índio, que, tendo minha recusa, deu a botija à outra pessoa, que, realmente foi ao local, na raizada d'uma grande figueira e de lá arrancou o tesouro, eu pensei, desta vez nã0 contarei nada a meu Pai, e falei ao João Garcia, que eu iria com ele arrancar a botija.
Tinha que ser numa sexta-feira a meia noite, e o local era longe. Por isto, fomos, eu e o João Garcia, de bicicleta, de dia. fazer uma exploração prévia do local onde estaria o tesouro do tal defunto. Era na velha Estrada de Itahum. Tínhamos que encontrar um velho cemitério no Campo, e lá encontrar uma sepultura com uma cruz de ferro, onde estaria enterrado o tal defunto e quando fossemos arrancar a botija, teríamos que passar por lá, dar tr6s tapas nesta cruz e depois ir arrancar a botija, ao pé de um enorme Angico.

Na sexta-feira a tardinha, montamos em nossas bicicletas, eu e o João Garcia, com as ferramentas e uma garrafa de Chica-boa na garupeira, e lá fomos nós arrancar a tal botija, passamos altas horas da noite no cemiterio, e como haviam lá, três sepulturas com cruzes de ferro, demos, em todas elas, três tapas, e seguimos para o Angico, onde reallzamos a cavação, até quase derrubar a arvore e sem encontrar a tal botija. Só encontramos formigueiro.

O tal defunto prevenira ao João Garcia, em suas aparições, que, durante a escavaçao, ele iria aparecer lá, montado num bode preto e subiria e desceria da arvore, mas que não era para se importar com ele. Assim, quando ouvíamos alguma vaca berrar lá naquele campo, nós já falávamos: Lá vem o bicho. Mas ele não apareceu por lá.

O dia estava clareando e nós já estávamos cansados de tanto cavar, quase derrubamos o Angico, e nada encontramos. Desanimados, decidimos ir embora, sem levar ouro algum...


(*) ex- vereador de Dourados e ex-prefeito
por cinco vezes de Glória de Dourados.