quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Precisa-se Engraxate

Braz Melo (*)

João Candido de Souza, o Joãozinho engraxate vai aposentar. Estou preocupado, pois é o único engraxate de nossa cidade. E aqueles que são fregueses dele há bastante tempo, como eu, onde vamos engraxar os sapatos quando isso acontecer?
Lembro que muitos garotos nas décadas de 70 e 80 iniciaram seus serviços engraxando sapatos. Depois escolheram outras profissões. Conheço um pastor, o Pastor Jurandir que engraxou muito sapatos nesta época. Saía do Parque das Nações e vinha até o centro para engraxar os sapatos dos fregueses. Antes disso, o deputado federal Geraldo Resende foi outro que ajudou seus pais no orçamento familiar, engraxando sapato.
Quando fui candidato a prefeito em 1982 fiz um projeto oferecendo a diversos garotos um kit que continha uma caixa de engraxate, escovas e graxas para eles poderem engraxar e ajudarem seus pais como complementação do salário familiar. Todo mês nós dávamos duas latas de graxas. Uma preta e outra marrom.
Não sei se é culpa do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe menor de 16 anos de trabalhar ou se é porque todos querem ser Doutores em Medicina, Engenharia e principalmente em nossa cidade, como Advogados.
Há uma falta muito grande de trabalhadores de nível intermediário e quem presta este serviço são especialistas e também doutores no que fazem.
Tem certas profissões que as pessoas resolveram banir de seus interesses. Como engraxate, ninguém também quer ser barbeiro. Dificilmente você tem a oportunidade de ver um barbeiro novo. Tem muito tempo que não há renovação nessa profissão. Os barbeiros são os mesmos de muitos anos atrás. O engraçado é que renova cabeleireiros, mas o correlato masculino, não. Daqui um tempo não teremos substitutos do Toninho, do Zé dos Artistas, Ademir, Souza, Cabral, Magal, Adauto, Irineu e Seu Lázaro.
Conversando com o Zé Barbeiro, o Zé dos Artistas, ele me disse que dos seis filhos que ele tem, nenhum quis seguir a carreira do pai. Todos fizeram faculdades. Na região do seu salão só tem a barbearia dele e tem nove salões de cabeleireiros. Acredito que daqui um tempo, vamos ter de cortar cabelo com as cabeleireiras Sônia, Bene, Diva, os cabeleireiros Marcos, Alessandro, Vandré e tantos outros profissionais, que hoje nossas mulheres tratam e cortam seus cabelos.
Quando assumi a prefeitura em 1989, tive a idéia de criar no CSU a Universidade da Vida, órgão que dava condições daquele profissional que não teve uma faculdade pudesse se preparar melhor para enfrentar sua profissão. Muitos profissionais fizeram especializações naquele órgão. Teve cursos das mais variadas áreas. Cursos práticos e intensivos. Trazíamos especialistas de fora, como o Maitre Cristofoleti, de Campo Grande para treinar e melhorar os garçons de nossa cidade. Veio aqui umas três vezes ensinar esta bela profissão a três equipes de garçons diferentes.
Também teve cursos para pedreiros se especializarem em concreto aparente e alvenaria de tijolo à vista. Treinaram secretárias e telefonistas, que nem sabiam atender telefones. Motoristas só sabiam guiar o carro. E ser Motorista é saber muito mais que isso.
Nos fins de ano foram oferecidos cursos para empacotador e vendas para o comercio natalino. Teve curso de inseminador artificial, de limpador de piscina e tantos outros.
Infelizmente acabaram com este trabalho feito por nós na prefeitura. Ajudou-me naquele projeto a Eunice Senzack, que era Secretaria de Promoção Social, a Anete pelo Prosocial, o Idenor Machado pela Secretaria de Educação e o Professor Lins como um dos conselheiros.
Se continuasse este projeto, sem duvida, não precisaríamos ler nos jornais de Dourados anúncios insistentes de “Precisa-se Pedreiros”, como vi nos últimos dias. Tanto como engraxates e barbeiros está faltando é quem bota a mão na massa.

domingo, 25 de outubro de 2009

VELHO MAJOR CAPILÉ

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitas pessoas de saudosas lembranças ajudaram a colocar Dourados no mapa do velho Mato Grosso, trabalhando e emprestando as suas operosas presenças ao surgimento, lembranças hoje memoráveis que descansam em paz no passado. Uma dessas lembranças é a de Manoel Pompeu Capilé, filho do paulista Antonio Pompeu, que se casou com uma judia residente na terra dos bandeirantes, chamada Sara. Esse desbravador, descendente de emboabas, foi trabalhar na região de Castro, interior do Paraná, quando inventou um medicamento para curar infecções. Essa dosagem, misturada com xarope de avenca, cientificamente conhecido por adiantum capillus veneris, ganhou na linguagem popular das ruas do século dezenove, o apelido de capilé.
Algumas vezes, diziam as pessoas dessa época, que o interessante medicamento funcionava como uma espécie de antiinflamatório no sangue, se acompanhado com cachaça. Os moradores de São José da Boa Vista, considerando a fórmula do remédio, passaram a chamar o alquimista de Antonio Pompeu do capilé, alcunha que ele incorporou ao seu sobrenome. Assim, quando Manoel, seu primogênito nasceu, na pia batismal também nascia oficialmente o primeiro Capilé. Nesse estado das araucárias, ele cresceu, casou, nasceram-lhe seis filhos e foi onde recebeu a patente de major da guarda nacional. Na metade do ano de 1912, o major Capilé em companhia da esposa Genoveva, num cruzamento das futuras Ruas Marcelino Pires e Presidente Vargas, instalou-se numa chácara como o mais novo morador, montando uma loja comercial. Que a bem de estabelecer a verdade, foi inclusive á primeira farmácia douradense.
Nessa rudimentar botica, o farmacêutico Major Capilé, manipulava de maneira inteligente os seus medicamentos, destinados ao tratamento das doenças conhecidas e desconhecidas, porque em Dourados não existiam médicos. Essas dificuldades obrigavam Manoel Pompeu Capilé, por vezes, durante o tratamento dos pacientes, a permanecer nas residências dos mesmos fazendo companhia para aqueles doentes terminais. Outras ocasiões, simplesmente os acomodavam franciscanamente em pequenos quartos da sua própria casa, de onde o enfermo se retirava somente depois de estar razoavelmente curado. Uma outra abnegada prestação de serviços do Major Capilé para a coletividade, era feita quando ele como dentista prático extraía dentes infeccionados, sem anestesia. Quem o procurava, iniciava o tratamento dentário com uma boa conversa, onde nos intervalos Capilé servia embriagantes “goles de pinga” e quando o paciente relaxava da tensão, colocava-o a seguir numa cadeira de madeira, entrando com o boticão em ação. Esses pacientes ficavam curados das dores, mas curtiam uma boa ressaca antes de deixarem aquele tradicional consultório improvisado.
Homem socialmente ativo associou-se a Januário Pereira de Araújo, construtor e músico, organizando o primeiro salão de bailes e outros eventos em um anexo da sua residência. Na família Capilé, surgiriam muitos músicos, dentre eles, com grandes dotes artísticos para tocar violão e cantar, se destacou Teodoro Capilé. Participando do processo inicial de urbanização do povoado douradense, o major Capilé comungava com O Dr. Vlademiro Muller do Amaral, do planejamento urbano de se abrir e espalhar ruas com quarenta metros de largura, pelo pequeno vilarejo.
Politicamente relembrando o passado genealógico, destacaram-se nessa família, seu neto escritor João Augusto Capilé Junior, o “sinjão”, que foi prefeito de Dourados na década de quarenta. Seguindo os passos profissionais do avô, ligado à saúde, destacamos outro neto, que além de escritor, foi pracinha brasileiro na ll guerra mundial, citamos de maneira carinhosa o médico e historiador, Dr. Júlio Capilé. Porém, acredito que seriam os maiores portadores de seu encantado humor, seu neto e chará, o engenheiro civii Dr. Manoel Capilé e o bisneto, meu colega de profissão e de curso primário, Dr. Osmar Milan Capilé. Os três netos do Major Capilé aqui lembrados, são alguns dos dezenove filhos de seu filho João Augusto com Júlia Frost, irmã do fotografo pioneiro Raul, autor de uma foto histórica tirada em 20 de dezembro de 1935, na emancipação do município.
O velho major Capilé faleceu no ano de 1944, e possivelmente tinha 90 anos de idade no dia do seu passamento. Todos os douradenses que o conheceram em vida, teriam ficado uma noite inteira num enorme salão de sua propriedade, velando, orando e prestando homenagens ao ilustre pioneiro douradense morto. Só não estiveram presentes naquelas exéquias concorridas, seu filho Dr. Júlio Capilé, com alguns de meus familiares e outros rapazes, porque os jovens como pracinhas da FEB, estavam combatendo o nazi-facismo nos distantes frios campos da Itália. Merecidamente, por iniciativa do legislativo municipal, encontramos o nome do major Manoel Pompeu Capilé, agora imortalizado em uma das principais artérias centrais da cidade de Dourados...


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Meu Celular

Braz Melo (*)

As minhas filhas Gisella e Mirella me deram de presente pelo Dia dos Pais um novo telefone celular. Daqueles que além de ligar e receber ligações, você tem condições de ouvir musica, radio FM, ver TV e até mandar e receber e-mail. Sem teclas aparentes, pois é do tipo touch screen tem um peso de 90 gramas. Uma beleza.
O presente já veio atrasado, pois demoraram a ir ao país “hermano” para escolherem o dito cujo. Aproveitaram o cambio baixo e desde quando chegou, estou tentando aprender como funciona o aparelho. O manual dele vem em inglês e em mandarim, já que a procedência dele é a China. Se em inglês já é difícil entender os termos técnicos, imagina aquela grafia chinesa, que parece mais pisado de mosca.
Nesse período que estou tentando aprender como funciona esta maravilha da comunicação moderna, fico pensando como evoluiu nos últimos anos esse setor.
Os mais antigos lembram que há três décadas, ficávamos horas para conseguir uma ligação telefônica de Dourados para o resto do país. Dependendo da urgência, tínhamos de ir a Campo Grande, de carro, para conseguir este intento. E lá tínhamos de entrar na fila no centro telefônico, para finalmente falar.
Hoje tudo isso mudou. Em qualquer lugar de nossa região você fala com o mundo inteiro através da telefonia celular.
Quem não se lembra do seu primeiro celular? Eu lembro que isso aconteceu comigo nos idos de 1990 e até hoje recordo que era difícil de conseguir uma linha de celular, que custava o olho da cara. O primeiro celular que eu usei, foi emprestado por um amigo, o Frederico Oto, que tinha conseguido adquirir três aparelhos no primeiro plano de vendas e que me cedeu um por um período, até que abriu novos planos e consegui comprar uma linha. Lembro até hoje o numero e que tinha o final 1208. O aparelho era um Motorola grande e pesado, o famoso tijolão, mas que me prestou um serviço enorme. Pelo seu tamanho e peso, mais tarde ficou também conhecido como orelhão portátil.
Em 1996, ao viajar para os Estados Unidos, verifiquei que lá, os aparelhos celulares já eram vendidos por um dólar para quem comprava uma linha. O importante para as empresas de telefonia portátil são as ligações feitas. Hoje, um pouco mais de dez anos depois, já acontece isso no Brasil. E tem planos para todo gosto. O de cartão é o mais usado, principalmente pela população de media e baixa renda.
Um amigo me falou anos atrás que mesmo sem dinheiro, o homem comum, nunca deixa de ter o seu aparelho celular. Como exemplo me mostrou um senhor de sandálias tipo havaianas, que ia passando empurrando uma bicicleta com pneu furado e ele me disse: “Olha ali. Sem dinheiro para consertar o pneu da bicicleta, mas falando pelo celular”. Ele tinha razão. Hoje o celular é fundamental para aquele que deseja se comunicar. E como dizia o Abelardo “Chacrinha” Barbosa: “Quem não se comunica se estrumbica”.
O Distrito Federal é a unidade da federação com maior numero de celular por habitantes: 1,5 celulares por habitante. Outros três estados brasileiros já romperam a barreira de um celular por habitante: nosso Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
Muitas famílias já cancelaram seus números fixos e usam somente celulares até em casa, pois é mais fácil o controle, principalmente para quem tem adolescente em casa. Ninguém agüenta pagar impulso telefônico com uma filha namorando ao telefone. Compra-se um crédito e o filho se vira para chegar ao fim do mês.
Sem duvidas, o setor das comunicações do Brasil foi um dos que mais se desenvolveu. A tecnologia avançou, aumentando a capacidade da memória, como a alcance das antenas e diminuindo o tamanho dos aparelhos. Sofisticou tanto que a única coisa que falta é que se precisa fazer um curso intensivo para aprender a manusear os celulares.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Procurando o Cruzeiro do Sul

Braz Melo (*)

Dourados tem crescido bastante, haja vista, que ao sair de casa às sete da manhã, demoramos algum tempo nas travessias de ruas para chegar ao trabalho. Aí que vemos quanto está movimentado nossa cidade. Não é pra menos, pois são mais de 87 mil veículos licenciados pelo DETRAN em nossa cidade.
No ultimo fim de semana, aproveitando o feriado da segunda feira, tive a oportunidade de junto com boa parte da família e amigos, conhecer um local que valeu a pena, principalmente pelas horas tranqüilas que ali passamos. É a Pousada Canindé, que fica a 40 quilômetros de Jardim, na descida da Serra de Maracajú.
Localizada a 160 quilômetros de Dourados, ainda no município de Maracaju, é um lugar para conhecer com a família. São doze bangalôs que abrigam em torno de 50 pessoas com o conforto e simplicidade que precisamos quando saímos de nossa casa. Pra mim, que sou extremamente caseiro e urbano, não deve ter muita diferença de nossa casa. E lá é assim.
Os proprietários, Jaci e Enilda Alves de Lima sabem receber muito bem. Jaci é bioquímico e tinha aqui o Laboratório São Marcos. Resolveu aproveitar a fazenda da família e tocar este novo empreendimento. Contrataram o projeto arquitetônico aos arquitetos douradenses Alessandro Machado e Fabiano Forucho, que projetaram tudo que precisa em uma pousada. Uma sede que funciona a cozinha com fogão, forno à lenha e restaurante, onde se tem uma vista panorâmica da região. No projeto, usaram da natureza tudo que ela pode dar sem agredir o meio-ambiente. Toda a madeira foi aproveitada da fazenda, sem derrubar nenhuma. Só usaram as que já tinham caído pelas mãos do Criador. E o local, com os morros ao fundo parece uma pintura.
Saímos daqui às dez horas da manhã do domingo e chegamos lá ao meio-dia para almoçar. Já tinha um carneiro assado e peixe ensopado à nossa espera. Arroz, feijão e saladas diversas no acompanhamento. De sobremesa, doces caseiros.
À tarde fomos para a cachoeira do Rio Canindé, que fica a 850 metros da sede. Tem uma altura de 23 metros que cai numa inclinação de 60 graus, o que faz a gente ficar muito tempo com a água batendo em nossas costas. Não tem massagem melhor.
No jantar foi servido um arroz carreteiro, que, de gula, comemos demais e tivemos, eu e Anete, de caminharmos bastante para fazer a digestão.
À noite quis reunir os netos para mostrar-lhes o céu, já que podíamos ver todas as estrelas, coisa que aqui em Dourados nós não mais podemos ver por causa da iluminação da cidade. Era um desejo meu mostrar o Cruzeiro do Sul para a garotada, mas eles estavam entretidos em diversas brincadeiras. Ainda bem que não vieram, pois não lembrava onde localizaria no céu. Fica pra próxima. Na primeira oportunidade faça isso com seu filho. Ele vai ficar feliz.
Depois de tanto exercícios, fomos dormir cedo. Não eram dez horas e já estávamos na cama.
No bangalô tem água quente, frigobar e o colchão nos fizeram sentir em casa.
Na segunda feira acordamos cedo e o café da manhã já estava servido. Além do arroz carreteiro do jantar, tinha um café reforçado com ovo caipira. Aquele com a gema vermelhinha.
Após o café, a garotada foi andar à cavalo e uma turma voltou para a cachoeira, enquanto outros foram conhecer outras cachoeiras menores da fazenda.
Logo deu a hora do almoço e lá estava outro carneiro e porco assados, acompanhados de feijão tropeiro, arroz e salada à vontade. E tome doce caseiro.
Infelizmente chegou a hora da partida. A volta foi bem mais rápida, pois já conhecíamos o caminho.
Se você tiver interessado e passar um fim de semana agradável como nós passamos, entre no site www.pousadacaninde.com.br, mas antes, veja no céu onde fica o Cruzeiro do Sul.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MARCELINO PIRES, FUNDADOR?

Isaac Duarte de Barros Junior*

Rumando vagarosos para as regiões brasileiras desconhecidas inóspitas, com muitos desses viajantes migrando ainda bem jovens para outros pedaços de chão, diversos foram os valorosos desbravadores, aventureiros e corajosos. A partir da segunda metade do século dezenove, centenas deles viajariam bastante percorrendo os antigos trilheiros, caminhos que lhes conduziriam na longa jornada estafante, até a inexplorada província de Mato Grosso. Um desses aventureiros, naquele século, foi o vaqueiro Marcelino José Pires Martins, nascido no norte paranaense em 1859 num lugarejo denominado Jataizinho da Serra Pequena. Boiadeiro e amansador de cavalos por profissão, ele saiu da sua terra natal para trabalhar com o fazendeiro mineiro Joaquim Tenório Barbosa. Chegou, passado meses, à região de Vista Alegre. Enfrentando várias vicissitudes, fixou-se na zona rural de Maracajú em 1881, onde permaneceu trabalhando alguns anos e ali se casou. Tenório, antigo proprietário rural daquelas paragens, era também o tutor da órfã Eulália Garcia. Com ela Marcelino contraiu matrimonio em 1884 aos 25 anos de idade, a moça só tinha 13. Após o nascimento de sete filhos desse casamento em Maracajú, Marcelino Pires mudou para a Colônia Santa Terezinha, situada no atual município de Itaporã, onde começou imediatamente plantar café. Porém, antes de deixar a velha fazenda Passatempo do patrão Joaquim Barbosa, Marcelino Pires vendeu a metade das terras pertencentes á esposa Eulália Garcia, para o seu irmão Francisco Pires Martins o “Chico Pires” que se mudou para o povoado de São João dos Dourados.
Nesse breve período como vendedor ambulante, Marcelino comprou carreta com uma junta de bois e foi mascatear a domicilio na Serra da Bodoquena. Sabendo da existência do próspero povoado denominado São João dos Dourados, nele adquiriu algumas terras devolutas em 1901 numa área onde hoje está localizado o Parque Alvorada. A posse terminava nas imediações do Colégio estadual Reis Veloso. Daí, a famosa encrenca com o fazendeiro Joaquim Teixeira Alves, que entendia ser parte da sua fazenda Cabeceira Alta adquiridas em 1903, as divisas que começavam no Distrito Industrial e terminavam na atual Praça Antonio João. Nesse tempo, entre 1904 e 1910 Marcelino Pires montou um alambique e vendeu muita cachaça na companhia do genro Albino Torraca. A sociedade da dupla familiar acabou em 1915 quando Marcelino Pires morreu após contrair uma grave doença, cujo tratamento combativo foi realizado pelo seu sobrinho, o médico Dr. Vespasiano Martins, futuro sogro do ex-governador Wilson Barbosa Martins. A filha de Marcelino Pires, Olinda Pires de Almeida, foi casada com um primo da minha mãe por nome Sidinez. Hoje, ambos já são falecidos. Mas essa austera mulher pioneira douradense, um dos seus últimos depoimentos, foi prestado à professora Dra.Maria Goretti Dal Bosco, na presença do filho Ramão. Este era irmão do falecido ex-deputado Edson Pires de Almeida, pois eram dez o numero de filhos, inclusive a caçula Eulália tem o nome da avó. Resolvendo falar a respeito do pai, muito lúcida, disse que “a geada vinha e queimava tudo. Sendo á deixa para virem morar no povoado pequeno, que estava nascendo...”. Então, afinal Marcelino Pires, fundou o que?
Ora, se as terras eram devolutas, naturalmente pertenciam ao estado de Mato Grosso em 1935, inclusive a área do rocio e este na criação do município, comprovadamente foram doadas pelo interventor estadual Mário Correa da Costa. Portanto, nunca existiu nenhum documento de Marcelino Pires e Joaquim Teixeira doando absolutamente nada para neste solo erguer-se um povoado, se existisse, dado a sua importância estaria no museu local. Afinal, quem fundou o município de Dourados?...Teria sido o gaúcho Izidro Pedroso, o primeiro a se fixar com animus domini na zona rural em 1894 na fazenda Lageadinho, proximidades da faculdade de agronomia, onde nasceu Celestina a primeira filha em 1900? Ou seria Januário Pereira de Araújo, ao construir as primeiras cinco casas de alvenaria na zona urbana? Questionamos ainda: teria sido à família Mattos, ao liderar o movimento pró-emancipação?
O fazendeiro Izidro Pedroso era um abolicionista assumido, certamente essa conduta não agradava a sociedade preconceituosa e racista daquela época. O carpinteiro e pedreiro Januário de Araújo foi apenas um humilde construtor de casas na Vila de São João dos Dourados e era avesso á se intrometer em assuntos de política. A inteligente família Mattos, ultimamente, está mais se importando em defender a data precisa da emancipação municipal, da qual foram seus principais artífices. Enquanto prevalece essa estória controvertida, o advogado matogrossense, escritor e historiador Dr. Altair da Costa Dantas, juntamente com o médico douradense Dr. Júlio Capilé, defendem uma respeitável tese, que por discrição prefiro não revelar, mesmo porque comungo do mesmo entendimento. Porém, no momento oportuno, acredito que se esses homens sábios resolverem torná-la conhecida, irá se estabelecer uma grande polemica entre eles e os historiógrafos contumazes modificadores da verdade, uma delas a de criar quilombos.

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rio 2016 e Lula lá

Braz Melo (*)

Depois de muita disputa, foi escolhida a cidade do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Pela terceira vez o Rio pleiteava sediar esta honraria, que muitos não acreditavam em seu êxito, já que tentamos em 2004 e 2012.
A decisão foi na cidade de Copenhague, capital da Noruega e estavam na disputa, pelo direito de sediar esta importante Olimpíada as cidades de Tókio, Madri, Chicago e Rio de Janeiro. Pela diferença de fuso horário, muita gente acordou cedo para assistir a festa que foi armada para a escolha da cidade-sede.
Diversas autoridades prestigiaram este evento e a defesa de Chicago ficou pelo seu maior representante, presidente Barack Obama, que além de maior mandatário de seu país, foi em Chicago que iniciou sua vida publica. Todos temiam a força e influência norte-americana, mas foi eliminada na primeira votação.
Na segunda rodada de votação Tókio foi eliminada.
Sobraram então Madri e Rio. A capital da Espanha, Madri, foi defendida pelo Rei Juan Carlos e a defesa do Brasil foi feita pelo presidente Lula que fez um discurso que emocionou não só os brasileiros, mas também a todos os povos que assistiram. Creio que foi uma defesa do projeto mais bem feita, pois além de provar a nossa capacidade de realização deste evento, demonstrou quanto era importante, pela primeira vez, a America do Sul ter uma Olimpíada.
No inicio da tarde, depois de quase dez horas de muita emoção, veio a proclamação do resultado. Rio de Janeiro tinha ganhado a honra de sediar a Olimpíada de 2016.
Não se pode negar do trabalho feito pessoalmente pelo Presidente Lula, que apostou todas as fichas em premiar o Brasil com este evento. Apesar da cidade do Rio de Janeiro ser a escolhida, todo o Brasil ganha com isso. Só um homem que perdeu três eleições seguidas e que acabou se tornando Presidente da Republica, poderia ter esta persistência e determinação.
Não foi à toa que perseguimos esta conquista, que logo depois da Copa do Mundo em 2014, será o maior espetáculo que um povo poderia assistir e também participar. Participar, porque a cidade terá de se preparar, não só com obras e serviços, mas os milhares de voluntários se prepararão com afinco e carinho para receber milhões de pessoas que virão para assistir e cobrir este evento especial.
Serão R$ 29 bilhões investidos em obras para esta Olimpíada, sem contar com os investimentos feitos para a Copa do Mundo de futebol em 2014.
Imagino logo serem criados “pólos de treinamentos” em diversas cidades do país para preparação de atletas em esportes que disputarão nesta Olimpíada. As cidades de Santa Catarina sempre foram campeãs no vôlei feminino e poderão sediar um desses pólos neste esporte. Até nós de Dourados poderemos pleitear um pólo, quem sabe de taekwondo, esporte marcial que já tivemos campeões. A Prefeitura deve ficar em alerta e se colocar a disposição do Comitê Olímpico Brasileiro, pois faltam sete anos para o evento.
Voltando ao trabalho do Lula sobre esta conquista, relembro a estória de que quando Napoleão Bonaparte ia invadir um país, no inicio do século 19, ao escolher seus comandantes dessa batalha, reunia seu Comando Geral e perguntava quem eles indicavam para chefiar aquela contenda. Logo após o Comando ter chegado a uma escolha, lia o seu “curriculum”: General Fulano de Tal, formado com louvor desde a escola primária; primeiro lugar no concurso para oficiais na melhor escola de Paris; ajudou a conquista de diversas batalhas, etc e etc... Depois de toda a leitura de suas habilidades, Napoleão perguntava: E ele tem sorte?
Pois é isso. Tem de ter sorte, pois sem sorte, não dá.
Com estas conquistas da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e com as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, o presidente Lula teve sorte e se prepara substancialmente para ser o primeiro presidente de três mandatos eletivos, com sua volta em 2014.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Susto no Romita

Braz Melo (*)

Lembro que era perto do dia da emancipação de Dourados, 20 de dezembro, no meio da década de 70. Acredito que dia 17 ou 18, quando conversando com o Totó, que era prefeito e resolvemos visitar o nosso amigo Hayel Bon Faker, o Elias em sua loja, a Damasco.
Elias era um libanês que chegou em Dourados na década de 40, comerciante, torcedor do Ubiratan, e que não largava o cigarro, o que fazia de seu bigode ficar russo/amarelado. Casado com Dona Carmelita e pai de uma família numerosa e querida em nossa cidade, dentre eles Dr. Fandi, Ex-Deputado Aniz, Fauze, Amir, Dr. Munir, Amine e Adibe.
Chegando lá e já perto da época de maior venda do ano, o Natal e instigado pelo Elias, resolvemos pregar uma peça em outro amigo nosso, o Romita, que era dono da Insinuante Calçados, que ficava em frente de sua loja.
O Terêncio Romita era um comerciante de nossa cidade. Solteiro e na época já beirando os 60 anos, de descendência grega e que tinha vindo de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado de São Paulo. Os dois foram presidentes da Associação Comercial de Dourados.
Eu trabalhava na Sanemat e estava executando a primeira etapa do esgoto sanitário de Dourados. Todos queriam que fosse ligado esse beneficio na sua casa ou comércio em primeiro lugar e fazíamos o possível para seguir uma seqüência lógica. Já relatei que a primeira ligação foi experimental no Hotel Denise.
Atendendo uma solicitação do Governador José Frajelli, que veio aqui lançar obras e foi convidado para inaugurar o Alfonsus Hotel, foi feita a ligação também deste estabelecimento.
Como disse, era perto do Natal e resolvemos pregar uma peça no Romita, fingindo iniciar as obras na sua quadra naquele dia. Imagina passar o Natal cheio de buracos em frente a sua loja. Trouxemos a retro escavadeira, o caminhão e a turma que estava se encaminhando para outra quadra e mandei fazer tudo como se fosse iniciar a obra. Até pintamos com cal a calçada, para começar a escavação.
De longe assistíamos o coitado do Romita procurando o encarregado da obra, o Nelson, e dizendo que não podiam fazer esta quadra nesta época e perguntava “onde estava o meu irmão Braz”, pois o Nelson tinha dito que só com a ordem do chefe é que poderia mudar de local. Falaram que eu tinha ido para Caarapó e ele quis ir até o ponto de taxi para ir atrás de mim naquela cidade.
Como todos queriam fazer a ligação em suas casas, ele dizia para fazer na quadra da Casa Vitória. Ele abria mão da prioridade.
E nós, escondidos dentro da Casa Damasco morríamos de rir. Que maldade! Hoje fico imaginando que poderíamos ter matado o amigo Romita. Ele poderia ter tido um enfarte, pois já era bem mais velho do que eu.
Depois de muito tempo dei a volta no quarteirão e para surpresa do meu amigo, cheguei por trás dele e perguntei o que estava acontecendo. Quando ele ouviu minha voz, deve ter sentido um alivio imenso e quase chorou ao me pedir para que eu não fizesse aquela quadra, pois ele tinha investido muito com as compras para venda no Natal e se fizéssemos a obra na frente da Insinuante ele teria um prejuízo irreparável. Mandei os funcionários levantarem acampamento e convidei-o para tomar um cafezinho na casa do Elias. Quando chegamos lá, ele começou a desconfiar quando viu o Totó e o Elias morrendo de rir.
Tanto o Romita, como o Elias já partiram. Elias ganhou uma rua, a Hayel Bon Faquer e o Romita homenageei com uma pracinha na Rua Monte Castelo, ao lado da Praça Paraguai.