quinta-feira, 30 de julho de 2009

FAZENDA COQUEIRO...

Isaac Duarte de Barros Junior*
Na sede da antiga fazenda Coqueiro, ao lado do cemitério Santo Antonio, foi construído no estilo sulino a pedido do seu proprietário, um enorme casarão para abrigar a família Pedroso. A matriarca Benedita de Souza Pedroso cozinhou por meses para os carpinteiros daquele que seria o pai do fazendeiro Estevão Minhos, o encorpado e robusto senhor Barnabé. Esse homem foi o encarregado da obra, incluindo um alambique e a roda do enorme monjolo. Gaúcho de nascimento, Barnabé Minhos havia chegado de carreta em 1906 nas terras douradenses.
Onde hoje está erguido o prédio da prefeitura e o estádio municipal, no bairro Izidro Pedroso, tinha um enorme guaviral, lugar escolhido pelos primeiros moradores do povoado para se reunirem aos domingos, com o consentimento do hospitaleiro jovem Izidro. As mulheres, arrastando vestidos longos, usando lenços enrolados nas cabeças, iam catar as frutinhas nativas. Enquanto os homens, maridos e namorados, preparavam um churrasco na brasa, usando a sombra de alguma guajuvira, árvore hoje em extinção.
Nessa grande propriedade rural, adquirida por Izidro, dos herdeiros de Joaquim Teixeira Alves, nas primeiras décadas do século vinte, criava-se gado de engorda que eram vendidos para a Companhia Mate Laranjeira, graças a um contrato verbal firmado entre o argentino Thomaz Laranjeira e seu protegido, o gaúcho Izidro Pedroso, adolescente que o acompanhou em 1884 na expedição pioneira aos campos de Bela Vista. Ali, in loco, o ex-padeiro Thomaz, combatente da campanha do Paraguai como voluntário da Pátria, buscava conhecer o potencial dos ervais que pretendia explorar. Esse estrangeiro, empreendedor, foi quem ensinou Izidro Pedroso a falar o castelhano corretamente. Na fazenda Coqueiro,desse gaucho, havia uma enorme mangueira para guardar o repouso das boiadas no período noturno, antes delas seguirem para a região de Caarapó, além do que, ali se criavam milhares de cabeças de bois.
Sendo uma vasta propriedade, cercada de matas desde a Cabeceira Alegre, que depois virou o primeiro bairro da cidade, dela em certa ocasião desapareceram cento e vinte e uma novilhas no ponto de abate. Mas graças a uma vidente paraguaia de nome Maria Emília, Izidro Pedroso as localizou numa mata fechada. Por essa razão, num símbolo de agradecimento o jovem fazendeiro a presenteou com um gramofone e discos de vinil da casa Edson do Rio de Janeiro. E sempre que lhe sobrava algum tempo, o guasca de mais de dois metros de altura, encilhava seu cavalo lubuno e ia à casa da pretensa sortiste, só para escutar músicas e tomar chimarrão.
Foi essa mulher, quem também pressagiou as mortes de Julio Pedroso, numa cancha de cavalos e a de Getulio Benevides, violeiro folgazão, fundador da cabeceira alegre, sendo ambos velados nessa fazenda coqueiro. Pois um era o seu filho primogênito e o outro morto, um dos genros.
De algumas estórias repassadas pelo João Vicente Ferreira, que um dia seria o primeiro prefeito douradense, destaco esta entre as misteriosas e interessantes. O João Vicente Ferreira, politizado e social, gostava de fazer visitas aos seus primos Benedita e seu esposo Izidro Pedroso, quando ambos ainda eram residentes na fazenda Coqueiro. Num desses passeios a cavalo que fazia, levou consigo o seu pequeno neto Rene Miguel, tabelião recém falecido, quando no caminho de João Vicente, surgiu uma enorme cobra urutu cruzeiro que espantou o petiço do pequenino Rene Miguel.
Graças à intervenção do místico Antonio Emilio de Figueiredo, outro genro de Izidro Pedroso, nada de grave aconteceu, porque o cuiabano Figueiredo, vendo a cena pegou tranquilamente a enorme cobra nos braços, colocou-a no ombro mansamente, afastando-a do local. A propósito, no guaviral da fazenda Coqueiro, nunca nenhum dos visitantes foi picado de cobra peçonhenta, nisso incluindo o gado. Do então histórico episódio sangrento por causa da rixa que existiu entre as famílias Torraca e Palhano, a fazenda Coqueiro num dia de marcação de gado, me contou o seu Pedro Palhano, viu-se envolvida indiretamente na briga.
Naquele lugar, se reunia certa manhã de primavera, um grande número de peões. Alguém resolveu falar desse movimento na fazenda no acampamento policial e o sargento João Côcco, que queria capturar um fugitivo procurado, de nome Galba Palhano, soube pelos delatores que o bandoleiro provavelmente estaria entre os demais peões. O sargento levou a famosa captura sob o seu comando ao local. Lá chegando, mandou “estender linhas”, que significava posição de ataque. Nesse exato momento, Izidro Pedroso, a cavalo, colocou-se diante da tropa convidando-os para almoçarem na sua fazenda Coqueiro.
Essa atitude gauchesca surpreendente do ex-maragato, agora fazendeiro abastado, desarmou completamente o instinto belicoso da tropa policial, que esfomeados aceitaram o apetitoso e cheiroso convite. Enquanto isso, o Galba Palhano, esperto e ligeiro, fugiu a galope na direção do Porto Cambira, onde morreria tempos depois numa troca de tiros, acompanhado de mais seis companheiros. O fazendeiro Silvano Olidio, trouxe os corpos ensangüentados empilhados numa carroça, passando pela sede da fazenda coqueiro onde almoçou, antes de descarregar a funesta pilha no povoado, na casa do delegado da época...

*advogado criminalista, jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

domingo, 26 de julho de 2009

O PRIMEIRO REPÓRTER...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Como de costume, levantei-me muito cedo nesta quinta feira passada e em seguida li rapidamente os dois jornais diários da cidade. Na primeira página de um deles, me deparei com a foto e um texto discreto, dando conta que o jornalista Theodorico Luiz Viegas criador do primeiro jornal a circular diariamente em nossa cidade, havia falecido após uma prolongada enfermidade e que seu corpo estava sendo velado na Câmara Municipal. Querendo prestar as minhas homenagens póstumas ao veterano comunicador, filho de uma família pioneira, fui ao seu funeral. O primeiro jornalista que encontrei no local, foi o João Carlos Torraca e sua esposa a minha prima Jussara. Aquele dia estava muito frio e chuvoso. E permaneceu assim, enquanto eu me deslocava debaixo de uma garoa fina em direção ao lugar estabelecido para as exéquias, destinado as últimas homenagens ao primeiro repórter nativo de Dourados. No trajeto vagaroso, os meus pensamentos voaram para o final dos anos sessenta, aos velhos tempos em que o jornal a Folha de Dourados e a sede dos serviços de alto-falantes do Theodorico, funcionavam num prédio hoje modificado, localizado numa esquina na Avenida Marcelino Pires.
O agora velho repórter falecido era um autodidata dessa época, mas foi daqueles primeiros homens douradenses, nascido na Cabeceira Alegre, a militar na comunicação escrita. Alguém e com quem, eu gostava de conversar sobre assuntos diversos no período das férias escolares. Ademais, foi um moço considerado de confiança, encarregado nos anos cinqüenta pelo jornalista e advogado Dr. Weimar G. Torres, para escrever no seu jornal “o progresso”, qualquer assunto a respeito de acontecimentos fúnebres e os considerados delicados quando se tratava de política. Ainda guardo comigo, um artigo que o Theodorico Viegas reportou quando meu avô materno faleceu na metade do século vinte. Para quebrar a tristeza típica, contei para os filhos do jornalista sobre um texto meu, que ele rasgou três vezes até eu melhorar o conteúdo.
Ele foi um jornalista sem muitas posses, por isso nunca conseguiu implantar a sua emissora de rádio e tv, embora tivesse ganhado uma concessão para tanto do governo federal. Em sua oficina de serviço ou na redação, trabalhava um adolescente inteligente e agitado chamado Valfrido Silva, manipulando um componedor. O Theodorico, como só ele sabia ser com os colaboradores do seu jornal, certo dia me encarregou de escrever para a Folha de Dourados, um artigo despretensioso a respeito da necessidade de se pintar o prédio da antiga prefeitura. Eu estava pensando num titulo para a matéria, quando o Valfrido sugeriu: “casarão da rua João Rosa Góes”, na hora aprovei a sugestão. O Theodorico, nunca ficou sabendo, o nome do verdadeiro autor do rótulo que virou voga. Aliás, esse rapaz criado na mesma Cabeceira Alegre como eu, foi o criador do conhecido jargão: “na grande Dourados...” que inaugurei nos microfones da rádio clube num programa noturno. Depois, essa frase virou a maneira costumeira dos radialistas localizarem as cidades integradas no contexto geográfico da nossa região. Isto tudo aconteceu, porque o prefeito João Totó Câmara gostou da ênfase referencial e assim estimulou o nascimento da sigla Prodegran (projeto de desenvolvimento da região da grande Dourados).
Olhava ainda aquele corpo inerte, quando se achegou perto do caixão o empresário Alkindar Rocha, membro de tradicional família, comerciante em nossa cidade e contemporâneo do falecido. Com seu espírito brincalhão indomável, mais para afastar a tristeza, falamos do mundo na forma que era por nós conhecido, o qual estava morto como o Theodorico. Concordei com a colocação inconformada desse amigo, ao lembrar dentre outros detalhes, dos lambaris que eu pescava na “mina” da sua antiga serraria. Inclusive do meu primo Harrisson, seu compadre, a quem o Alkindar chamava pelo apelido de “jibóia”. Assim, saí dali disposto a escrever, falando daquele velório do Theodorico Luiz Viegas. Só que este seria um texto, o qual, infelizmente, esse repórter não poderia revisar como adiantei consternado ao jornalista José Henrique, atual diretor do jornal que o falecido fundou...

*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

sexta-feira, 24 de julho de 2009

VÍNCULOS PIONEIROS...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Recebi as minhas primeiras noções da história contemporânea douradense, através de minha mãe, a filha caçula do pioneiro Izidro Pedroso. Hoje, com o passar dos anos, apenas uma velha pedagoga aposentada. Essa mestra da infância me lecionou a ouvir os mais antigos povoadores do município, antes de lançar mãos em comentários a respeito de qualquer lugar desta localidade. Foi sendo escolado assim quando criança, que adulto, passei a escutar os antigos moradores, anotando os causos das famílias pioneiras e os depoimentos dos últimos pioneiros ainda vivos, passando em seguida a transcrevê-los.
Atualmente, sempre que consulto minhas amigas, a Helena de Almeida, irmã do falecido jornalista Julinho Almeida, ou a Solenyr Araújo, filha da professora Silvia e neta do velho Januário, nosso primeiro morador urbano, continuo aprendendo capítulos da história local. Com esse comportamento de aprendiz, junto documentos históricos, muitos deles guardados nas gavetas pelos iniciais moradores, como pedaços da nossa história municipal. Repito esse ritual de conferi-los, através das narrativas abalizadas dessas duas mulheres, douradenses da gema. Todavia, esses documentos, não são apenas histórias contadas pelas suas famílias centenárias como gostam de contestar a verdade irrefutável, alguns aventureiros, recém chegados e sem biografia. Pois as famílias dessas duas, já fazem parte da história, que é imutável. Afinal, estas senhoras, de inegável cultura, integram esta comunidade desde que nasceram.
Porém, analisando também, as condutas dessas pessoas sem vínculos com a nossa história regional e observando determinados políticos sem criatividade, que querem mudar o nome do estado, enquanto outros inventam quilombos na região, questiono se não foi uma grande imprudência darem-se tamanhos poderes representativos para alguns desses próceres. Refiro-me a esses que aqui desembarcaram há poucos anos, enriqueceram rapidamente e tão logo foram guindados em um alto cargo, se acharam autorizados a cometer desmandos na terra inocente e hospitaleira que os acolheu. A qual, a bem da verdade, já se encontrava desbravada, povoada e em pleno desenvolvimento quando eles chegaram. Mas, por azar, foi falando numa linguagem cheia de esperteza, tudo aquilo que o nosso povo trabalhador sofrido queria ouvir, que alguns destes se saíram bem nos palanques, após serem proclamados os resultados das urnas.
Assim, seguindo a trilha das lembranças daqueles honestos viajantes pioneiros que vieram para ficar nestas plagas, dentro do contexto igualitário positivo multirracial quando eles chegaram felizes sob a égide da ordem, vendo suas intenções concretizadas, me dou por satisfeito com os resultados. Mormente, noto que todos os verdadeiros desbravadores eram pessoas na maioria gente simples. Vindos das camadas socialmente mais pobres, esperançosas eles desembarcaram as levas em Dourados, buscando dias melhores. Muitos deles passaram a chamar esta cidade de nova Canaã, alusão feita pelos primeiros chegantes, em homenagem a encantada terra dos versículos bíblicos, onde diziam seus escribas de muitas raças, colhia-se o trigo com fartura e muito mel.
Porém agora, estou preocupado. Porque em breve iremos ter um novo pleito eleitoral, quando democraticamente escolheremos nossa representação de lideres para ocuparem a casa da sabedoria, um palácio que está localizado no planalto central, chamado pelo povo de Congresso Nacional. Desses cargos eletivos, destaco o de senador da república, que já foi ocupado no distrito federal, por homens déspotas, violentos e desonestos, eleitos pelo equívoco popular. A sorte do nosso eleitor, é que eles sempre formaram uma minoria, só fizeram besteiras depois de eleitos e acabaram cassados.
Também, sinto enormes calafrios, porque não consigo esquecer, de outras catástrofes filhas dessa mesma má escolha, na ocasião que plebeus escolheram nomes ancestrais ao desses senhores, indicando-os por suas posses. Ainda fica pior o meu temor, quando recordo tudo que li e de como aconteceram as antecedentes tristes histórias narradas nos livros, envolvendo o povo antigo de Roma das arenas. Acontecimentos que resultaram na queda daquele império. Porque lá na vetusta cidade eterna, o senado teve e experimentou de tudo.
Na verdade, o poderoso império romano só sucumbiu, quando pessoas da plebe, ungiram nos cargos maiores, senadores analfabetos e estes assassinaram os imperadores numa ambiciosa tentativa de golpe. Em síntese, antigamente um romano negociava tudo para ter plenos poderes, mas nunca deixava de ser arrogante e de tentar ser um ditador. Característica que chegou aos dias atuais. Enquanto que os homens ambiciosos de nossos dias, vaidosos, excluídos dos processos eleitorais, estes só se prestam para bagunçar. Vivem a espreita de um descuido dos políticos tradicionais, para pegar nas sobras do poder...


*advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

Dia do Amigo

Braz Melo (*)
Foi o argentino Enrique Ernesto Febbraro, dentista, músico e professor de sociologia, filosofia e história que resolveu comemorar a data neste dia. Escolheu o dia 20 de julho em homenagem ao dia em que o homem pisou na lua. E esse ano faz exatamente 40 anos que Neil Armstrong desceu da Apollo 11 e deu "o pequeno passo para um homem e um grande passo para a humanidade".
Na Argentina já virou tradição e eles trocam cartões e e-mails para comemorarem esse dia, diferente daqui, pois só agora iniciamos essa nova caminhada como uma data festiva nos nossos calendários.
Em Dourados, a Guarda Municipal fez uma noite cultural no Teatro Municipal para comemorar essa data e muitos compareceram para festejar o Dia do Amigo pela primeira vez.
Fui convidado e compareci com minha maior amiga, minha companheira de quase 38 anos de casados e 8 de namoro, Anete. Aproveitamos e depois das apresentações, fomos comemorar em um restaurante.
Lá também se fizeram presentes os ex-prefeitos Humberto Teixeira, que idealizou a Guarda, Laerte Tetila, o atual prefeito Ari Artuzi, os vereadores Gino Ferreira, Humberto Junior, Marcelo Hall e compareceram também os ex-comandantes da Guarda.
Foi uma bela festa, onde os convidados puderam assistir apresentações de diversos grupos de danças de nossa cidade, organizados pela FUNCED, como também dos componentes da Guarda, que além de cuidar da segurança dos prédios públicos e cidadãos douradenses, têm outras qualidades como cantar, dançar e recitar.
Amigo, como disse o poeta, é para se guardar no lado esquerdo do peito. E feliz aquele que têm alguns, pois hoje em dia, com a correria é muito difícil alguém que possua muitos.
Todos, por mais sisudo que seja a pessoa, tem pelo menos um amigo. Muitos conseguem ter o seu desde a infância. Eu mesmo tenho diversos amigos dessa época. E mesmo hoje morando bem longe de onde eles moram, continuamos a nos correspondermos. Com o advento da internet e e-mails ficou mais fácil.
Tive um amigo, o Aurélio Simões, que foi meu vizinho na minha infância lá no Espírito Santo, e que me marcou muito quando, depois de tanto tempo sem vê-lo, pude conviver quase semanalmente com ele através da internet. Trocávamos informações e lembranças constantemente. Um dia recebi um e-mail de seus familiares me comunicando de sua morte repentina. Foi uma experiência totalmente diferente e que senti muito, pois de longe não pude estar com ele pela ultima vez. Fiquei um tempão para retirar seu e-mail de meus contatos.
Quando cheguei aqui, Dourados era bem menor, e por ser a maioria gente de fora, fazíamos de nosso vizinho um amigo. Foi assim com Seu João e Dona Jandira, Milton Jose de Paula e a Clarice, nossos primeiros vizinhos no BNH I Plano. Depois mudamos para o II Plano e os primeiros foram para o Norte. O Milton e a Clarisse hoje moram em Campo Grande.
Na escola sempre temos os mais chegados. Tive amigos que marcaram minha vida, e que hoje me arrependo de ter perdido o contato, por ter mudado para bem longe. Têm outros que o caminho faz os encontrarmos novamente.
No trabalho também fazemos muitos amigos. Quantos amigos eu fiz durante os quase 10 anos de Sanemat / Sanesul ? Inúmeros.
Na política fazemos muitos amigos, mas em compensação é mais fácil encontrarmos os interesseiros e falsos amigos. Os famosos Amigos da Onça. Aqueles que aproveitam da ocasião para ser seu amigo. Para ter certeza desse sentimento, espere até sair do poder. Aí você vai conhecer seus verdadeiros amigos.
Como dizia minha avó: Quer conhecer uma pessoa? Coma um saco de sal com ela. E naquela época o saco de sal pesava 60 quilos.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Roberto Carlos, 50 anos de emoções.

Braz Melo (*)
Tem eventos que a gente nunca pensa que vai acontecer. Quando aqui cheguei, em 1973, um grupo de pessoas capitaneadas pelo Dr. Lourenço e D. Odaleia organizavam a ceia do ano novo do ano 2000. Confesso que não acreditei e tampouco importava, pois achava uma loucura fazer uma previsão tão distante, já que faltavam 27 anos para aquele evento. Já estamos em 2009 e já é passado a confraria do novo milênio. A juventude me levava a outras previsões não tão longas.
Penso nisso, pois hoje, sábado, 11 de julho de 2009, Roberto Carlos está fazendo um show no Maracanã pelos seus 50 anos de carreira. Tinha mesmo de ser no maior estádio do mundo esta apresentação para coroar seu caminho de sucesso como compositor e interprete. Mas nunca imaginei que assistiria a esta comemoração.
A grande maioria dos brasileiros sabe que ele não tem o vozeirão do Agnaldo Rayol ou do Agnaldo Timóteo, mas todos têm certeza que é o maior interprete deste país.
Como compositor ele conta o nosso dia a dia de maneira simples e objetiva. Em “Café da Manhã” diz: amanhã de manhã vou pedir o café pra nós dois... Atira a primeira pedra aquele que nunca quis fazer isto com sua companheira.
Teve coragem de dizer que tudo que ele gostava “Ou é pecado, imoral ou engorda”, que questiona porque me arrasto aos seus pés em “Desabafo”, que “Só vou gostar de quem gosta de mim” e até cantou a “Namoradinha de um amigo meu”.
E ele acompanhou nossas vidas e nossos amores durante esses 50 belos anos. Duas ou três gerações sonharam e viveram desde o “Não quero ver você tão triste assim”, até a música que ele fez para a Maria Rita, “Amor sem limite”. Essas gerações se emocionaram com e através de suas composições.
Quem nunca sonhou dançando com seu par, cantarolando “Proposta”- Eu te proponho... . Como também, quem não se emociona ao ouvir “Como é grande o meu amor por você”.
Ele fez diversos tipos de música. Fez para a Wanderléa “Na Hora da Raiva”: - Na hora da raiva não pensei em nada, perdi a cabeça e descontrolada, peguei minhas coisas, gritei vou me embora.... Mais tarde a Perla e a Alcione gravaram também. Musica brega, mas que diz tudo de uma relação. Linda. E quem não se lembra de “Ternura”, musica dele e Erasmo imortalizada pela voz da Wanderléa? - Uma vez você falou que era meu o seu amor...
Já cantou “Detalhes”: - Não adianta nem tentar me esquecer ... E teve as roupas e os sonhos rasgados na minha saída em “Fera Ferida”. Também cantou: eu preciso saber da sua vida em “Como vai você” de Mario e Antonio Marcos.
Uma das músicas que mais interpretou, não foi feito por ele: “Outra vez” e sim por Isolda, que diz: - Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci... .
Roberto Carlos nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo e saiu de lá bem novo, como diz a música do seu conterrâneo Raul Sampaio, “Meu Pequeno Cachoeiro”, feito especialmente para seu filho mais ilustre cantar: ”Cachoeiro, Cachoeiro, fui pro Rio de Janeiro pra voltar e não voltei”. Ficou de vez no Rio e no coração dos brasileiros. Hoje ele é do Brasil, pois é querido pelo país inteiro.
Fez mais de quinhentas composições. Cantou para a “Mulher de Quarenta”, “Mulher Pequena”, “Minha Tia”, “Madrasta”, “Lady Laura” e “A Namorada”. Cantou “Jesus Cristo”, “Jesus Salvador”, “Aleluia” e “Luz Divina”. E quando a maioria fumava, foi um dos primeiros a protestar em “É Proibido Fumar”.
Fez de sua vida, como disse em “Emoções”: - Em paz com a vida e o que ela me trás, a fé que me faz otimista demais, se eu chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.

sábado, 11 de julho de 2009

POUSOS DE BOIADEIROS...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Sem poder contar com qualquer auxilio governamental federal, mesmo porque não havia, os primeiros colonizadores migrantes e emigrantes iniciaram na metade do século dezenove a ocupação total do território brasileiro pelos inóspitos caminhos que conduziriam ao distante centro-oeste. Do interior do triangulo mineiro, região que se desmembrara da província de Goiás, passando pelo território paulista, vindos das charqueadas regionais da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, famílias percorriam em carretas as quase desabitadas províncias de Santa Catarina e a do Paraná. Eram colonos esperançosos por recomeçar as suas vidas, na fértil inexplorada província do Mato Grosso. Aconteceria ainda, no final daquele mesmo século na capital do império, a proclamação da república pelos empolgados ex-alunos do coronel Benjamim Constant, comandados pelo velho marechal Deodoro da Fonseca, herói da guerra do Paraguai. Pelo tratado de Assunção, celebrado em 09 de janeiro de 1872 entre os guerreiros vencedores da sangrenta tríplice aliança, a região sul de Dourados como pagamento pelos prejuízos causados pela guerra do Paraguai, passou a pertencer ao Estado brasileiro.
Os mineiros do triangulo, partiam da Vila de Uberaba no sertão da farinha podre, na maioria eram negros recém libertos, ou negros alforriados depois da guerra genocida. Sendo excelentes criadores de gado vacum, eles viabilizaram a criação das imensas manadas que tomaram conta da paisagem nas terras devolutas dos grandes campos matogrossenses. Um sal nativo descoberto no pantanal, segundo a medicina cabocla dos tropeiros, curava e evitava a febre aftosa. Essa crendice medicinal comum na região corumbaense aumentou o número das cabeças de bois e dos pousos. Com a criação da Empresa Mate Larangeira, pelo aventureiro argentino Thomáz Larangeira, o empreendedor oportunista e ex- comerciante padeiro em Porto Alegre, percebeu que para ter o seu sucesso garantido, era preciso alimentar com boa carne os milhares de trabalhadores paraguaios contratados para trabalharem nos ervais. Esse negociante lendário colaborou e facilitou os deslocamentos pioneiros dos condutores de grandes boiadas até as matas do Vacaria e Dourados. Com essa atitude temerária, Thomáz Larangeira impulsionou o nascer dos muitos pousos de caminheiros que foram surgindo nas curvas das estradas.
Ao incentivar a feitura desses pousos rústicos que iam aumentando aos poucos, apareceram muitos povoados depois transformados em cidades. Inclusive, o nosso arraial douradense, há muito colonizado pelos gaúchos, fugitivos das revoluções sulinas, foi um deles. Aqui, muitos transitavam e se fixavam usando uma passagem que cruzava pela pequena cidade de Bela Vista. O plantel desse gado de corte, transportado com grandes dificuldades pelas estradas de pó, aumentou no transcorrer dos anos e logo o estado de Mato Grosso, desse ciclo boiadeiro, passou a ser conhecido como a terra do gado de qualidade e da erva mate de primeira. Em nossa cidade de Dourados, na rota usada pelos hábeis cavaleiros que ia desde o Porto Cambira até o Porto Primavera, surgiram diversos pousos de boiadas. Galpões enormes foram erguidos à beira dessas estradas pelos fazendeiros e se multiplicaram rapidamente para abrigar os peões no descanso tranqüilo do escurecer bucólico. Essa primeira fonte da nossa economia estadual se resumiu em tropeiros conduzindo boiadas por vários dias. Seguiam os rastos deixados pelos ponteiros responsáveis pelas comitivas, que iam à frente das tropas munidos com um berrante deslocando os bois gordos, diretos para a região da Sorocabana no vizinho estado paulista.
Em 1902, por iniciativa do exército brasileiro, os militares começaram a mapear as nossas fronteiras ambíguas com a colaboração de missionários evangélicos e guias regionais. A mais conhecida de todas essas expedições, na década de vinte, foi à famosa expedição comandada pelo então major Candido Mariano da Silva Rondon, matogrossense nascido em Santo Antônio do Leverger, descendente de índios borôros, terenas e guanás. O futuro marechal escoltou com seus comandados muitos vaqueiros pelos sertões. Seus soldados experientes indicavam os lugares mais apropriados para o pouso da noite, onde eram encontradas as melhores pastagens em campo aberto, paragens instintivamente evitadas pelas onças. Bastando para tanto, que os boiadeiros fizessem uma enorme fogueira no local dos pousos.
Aumentando cada vez mais a população, na década de trinta nosso estado foi conclusivamente reconhecido como o maior exportador e importador de gado vacum. Mas, o Mato Grosso, geograficamente se dividiu em dois, quando foi criado o Mato Grosso do Sul em 11 de outubro de 1977. Essa mudança para aperfeiçoar o desenvolvimento, fez do robusto caminhoneiro, uma espécie de vaqueiro moderno do asfalto, aposentando definitivamente os velhos boiadeiros condutores de grandes manadas de gado. Determinou essa iniciativa, sem querer, para desgosto dos tradicionais boiadeiros, o fechamento das pousadas. Entretanto, foram esses pousos construídos no século passado, alugados para as peonadas repousarem, que auxiliaram bastante nas despesas, muitas famílias moradoras na nossa zona rural...

*advogado criminalista, jornalista.
e mail :isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Os jingles que fizeram história.

Braz Melo (*)

As propagandas musicais ou trilhas sonoras (jingles) são fundamentais para venda, divulgação de um produto, programa ou até de um candidato.
Os mais antigos, ao ouvir o rufar dos tambores pelo radio, sabiam que vinham noticias através do “Repórter Esso”. Hoje quem não larga o que está fazendo e passa a olhar atento para a televisão, ao ouvir o jingle do plantão da TV Globo?
Depois da invenção do radio, os publicitários descobriram este meio de chamar a atenção dos ouvintes com as propagandas musicais. E há muito tempo usam dessa artimanha para atrair os ouvintes.
No meu tempo de criança me marcou o dia em que o Presidente Getulio Vargas morreu, pois lembro que foi anunciado pela Radio Nacional. Até hoje me lembro da entrada do jingle do Repórter Esso e logo após a voz do locutor informando da morte do Presidente da Republica. E eu tinha apenas sete anos e lembro até hoje o rufar dos tambores antes da noticia.
Locutores como Ramos Calhelha, Heron Domingues, Paulo Gracindo, Roberto Figueiredo e Gontijo Teodoro eram conhecidos pela voz.
Os antigos, como eu, devem se lembrar da propaganda do Melhoral: Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal. E a propaganda das Casas Pernambucanas, com as batidas na porta e a pergunta: Quem bate? É o frio. Todos se lembram.
Tempos depois veio a propaganda das Casas da Banha com o porquinho dançando, filmes da Metro-Goldwin-Mayer com o leão rugindo. E a propaganda da Varig? Varig, Varig, Varig.
A propaganda das lâmpadas GE deixou saudades: Se a lâmpada queimar não adiantar estrilar nem bater o pé, o que resolve é ter logo a mão lâmpadas GE.
Aqui em Dourados, conversando com a Beth Salomão e a Selene, me falaram que as primeiras propagandas da Radio Clube foram da Viação Mota e da Ferragista. Prometeram me passar um CD com as criações que a Radio Clube fez, pois tinha um departamento especializado para fazer este tipo de propagandas. Recebendo, eu colocarei no Blog.
Com o crescimento da televisão veio outro tipo de propaganda. Grandes compositores deixaram de fazer musicas comum para se especializar em jingles e trilhas sonoras. Nomes como Paulo Sergio Valle, Marcos Valle, Nelson Mota é Zé Rodrix foram exemplos disso. Quem consegue esquecer das trilhas sonoras das novelas. Gabriela... as novelas marcam meses e meses com as suas músicas.
No site http://www.locutor.info/audioJingles.html podemos ver a maioria dessas preciosidades.
A propaganda do Bamerindus na década de 80 ficou na memória das pessoas que dizia: O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa... Caderneta Bamerindus.
Em 1985 foi a vez do Banco Nacional nos fazer chorar com as crianças cantando para o natal daquele ano. Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faz...
Na televisão, locutores como Cid Moreira, Sergio Chapelin, Marcos Hummel e Iris Letieri (a voz dos aeroportos) fizeram historia no meio de comunicação mais visto no mundo.
A música feita pela Rede Globo, especialmente para o final do ano de 1971 ficou marcado até hoje, com diversos tipos e interpretações de “Um Novo Tempo”. São quase quarenta anos de sucesso: - Hoje é um novo dia, de um novo tempo, que começou desses novos dias, mas as alegrias serão de todos, é só querer que todos nossos sonhos serão verdades, o futuro já começou...Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier.
Mas a musica que mais me toca é o Tema da Vitória, feito em 1981 pelo maestro Eduardo Souto Neto e que apesar da gente sempre se lembrar da nossa alegria de domingo de manhã, Airton Sena, foi tocada pela primeira vez em uma vitoria do Nelson Piquet, no Grande Premio do Brasil de 1983.

(*) Engenheiro civil e ex-prefeito

http://estoriasdedourados.blogspot.com

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um pedaço de Dourados no Rio de Janeiro

Braz Melo (*)
Em março de 1958, mudei pro Rio de Janeiro, onde morei boa parte da minha juventude. Estava com onze anos e meu pai vendia letreiros luminosos a neon.
Fomos morar em Botafogo, na Rua São Clemente, 30. Era uma casa de dois andares, onde em baixo era um armarinho do Sr. Tuffí e nos fundos a sua residência. Em cima ele alugava dois apartamentos. No 201 morava uma senhora desquitada, Dona Irene com três filhos e sua irmão solteirona D. Maria. Foi a primeira vez que conheci alguém desquitado, pois em Colatina, de onde vim, não tinha chegado esta moda ainda. Nós morávamos no 202.
Rio de Janeiro... Tudo era novidade. Todo domingo íamos conhecer um lugar da Cidade Maravilhosa. Naquela época era fácil e prazeroso andar no Rio, pois tinha bonde para toda a cidade.
Um dos primeiros passeios foi na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão. Era um passeio pro domingo todo. Além de conhecer o Museu Nacional, lá também ficava o Jardim Zoológico. Levávamos o frango com farofa para fazer o piquenique, como centenas de outras famílias.
Conhecer o Pão de Açúcar... Que maravilha. De casa dava pra ir a pé. Passávamos pelo Clube Guanabara, que mais tarde fiquei sócio. Depois o Iate Clube (Na época um dos clubes mais seletos da cidade). Aí vinha a Universidade Federal, o Instituto Benjamim Constante para cegos e logo estávamos na Praia Vermelha. Lá fica o Pantheon aos Heróis da Guerra do Paraguai, onde tem um monumento contando a epopéia daquela guerra, do escultor Antonio Pinto de Matos. Em cima os dizeres: “Aos Heróis de Laguna e Dourados, a pátria agradecida”. No subterrâneo as criptas com os restos mortais dos heróis. Naquela época, nem imaginava que viria parar aqui. Os douradenses, quando forem ao Rio, devem conhecer este local. Na frente tem o bondinho pra subir pro morro da Urca e de lá pro Pão de Açúcar.
Todo domingo era uma novidade. Corcovado, praia de Copacabana, Aeroporto Santos Dumont. Quantas vezes pegávamos o bonde 21 que era um circular e subia a São Clemente, passando pelas embaixadas, Largo dos Leões, Humaitá, Jardim Botânico (Que paz), Hipódromo da Gávea, Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana e descíamos em frente de casa.
Fomos umas duas vezes em Paquetá. Ilha que fica dentro da baia de Guanabara e que íamos fazer piquenique, andar de bicicletas de dois ou três selins e charrete. O passeio era diferente, pois pegávamos a barca na Praça Quinze e fazíamos uma viagem marítima. No retorno a Praça Quinze, comíamos o delicioso angu do Gomes.
Nesta época, governo de Carlos Lacerda, estava iniciando o aterro do Flamengo e de Botafogo, obra que mudou a cara do Rio de Janeiro.
O Clube de Regatas Guanabara era conhecido por ter uma piscina olímpica que era abastecida pela água do mar, por isso mais leve que as águas das outras piscinas, e que era homologada pela Confederação de Natação. Ali conheci Maria Lenk e Manoel dos Santos, ícones da natação brasileira. Até alguns nadadores argentinos vinham disputar torneios naquela piscina, pensando nos recordes.
Lá na marina do Guanabara conheci Oscarito, o maior comediante do Brasil. E achei-o triste. Acostumado a vê-lo fazer graça no cinema, não imaginava que ele não me fazia rir quando conversava fora da tela. Ainda não tinha idéia que temos momentos diferentes na nossa vida profissional e particular.
Sempre íamos ao Maracanã, mas essa é outra história.