sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PEDRAS QUE GEMEM...

Isaac Duarte de Barros Junior *
Os bailes de outrora realizados no demolido clube social de Dourados, na época em que balada era apenas mais um ritmo musical, alguns deles tiveram passagens marcantes e inesquecíveis para muitos jovens. Naquele enorme salão onde se realizaram festas e solenidades, formandos de primeiro e segundo grau usavam-no para comemorar o término engalanado do curso. Artistas de grandes centros lá se apresentaram, inclusive, algumas sessões do Tribunal do Júri realizaram-se nas suas dependências. Para os sócios do clube social, que viveram as alegres emoções de poder adquirir uma pequena mesa junto à pista de danças nos eventos, era o máximo da vaidade exposta. No clube social, nunca houve o barulho atordoante da música eletrônica, quase ensurdecedor agora nos encontros e festas. Pois os decibéis musicais, naquele ambiente, proporcionavam oportunidades aos não bailarinos de poderem conversar afabilidades, iniciando quiçás um namoro. Usualmente, enlevos românticos aconteciam quando os casais dançavam embalados nas melodias orquestradas pelos músicos, o melhor deles foi o Armando e sua banda.
Boa ordem e organização dos bailes, geralmente eram mantidas pelos integrantes da diretoria, pois nesse tempo nem se cogitava a presença de musculosos seguranças nas festas, onde raramente surgiam às desavenças atualmente tão comuns. Quem comparecia em bailes no clube social douradense daqueles dias era para se divertir, namorar, ou entreter-se conversando animadamente com os amigos mais próximos. Os que freqüentaram o social naqueles anos tranqüilos participando dos seus bailes, certamente fizeram parte de um mundo cujo período era mais inocente. Naquele tempo das violeiras serenatas, não havia aparelhos televisores exibindo comentários de violência e as pessoas olhavam para o satélite luminoso da lua, sem cogitar a possibilidade de alcançá-la através de uma nave espacial.
No extinto clube social havia um enorme palco e aos domingos o radialista Sultan Rasslan apresentava pela manhã um animado programa de calouros. Tudo isso era feito bisonhamente no humor, apesar dos irados protestos do frei Teodardo Leitz, um pároco católico que realizava diversas missas no mesmo horário, bem próximas do velho clube social. O Luiz Antonio Bussuan, Roberto Pompeu, Adeal, eu e outros garotos, servíamos de auxiliares (coroinhas) nas liturgias celebradas por aquele que seria um bispo, considerado na cidade como alemão de pavio curto.
No salão de festas do clube social de Dourados, os arruaceiros contumazes eram revistados antes de participarem dos bailes. Se estivessem portando armas na cintura, elas eram imediatamente retiradas e guardadas na portaria, sendo devolvidas ao proprietário na saída. Apesar de todas essas cautelas adotadas, entreveros aconteciam. Numa noite de bailanta, o jogador de futebol Omenélio Bueno acabou ferido gravemente num tiroteio iniciado na frente do clube social, como o resultado de uma acirrada discussão por ele mesmo provocada. Circular armado nos tempos áureos dos bailes nas dependências do clube social, só era permitido ao guarda Dionízio. Tratava-se de um sujeito pacífico, descendente de italianos, que servia de vigia e residia nos fundos do clube com a família.
Sob a presidência do ex-vereador Walter Brandão da Silva, de tradicional família douradense, cuja maioria fundou e ainda reside no distrito do Guassú, é que o clube social de Dourados viveu seu apogeu e a sua decadência, com o nascimento do clube indaiá. A elite local decidiu pela nova opção de lazer. Ausentes os seus antigos freqüentadores, o clube social se endividou. Um dia no século passado, sem nenhuma explicação plausível para os sócios remidos (fundadores do clube), demoliram o enorme casarão de bailes que nos anos cinqüenta o pioneiro Emídio Rosa presidiu a primeira diretoria, secretariado pela ex-vereadora Maria da Glória Muzzi Ferreira, mãe do tabelião Renê Miguel e filha do primeiro prefeito de Dourados, João Vicente Ferreira, primo irmão da minha avó materna.
Às vezes quando fecho os meus olhos, saudosista recordo das pessoas divertidas daquela fase passada. Com elas, me envolvem as lembranças daquele marcante lugar. Recordando, revejo os eventos passados no velho clube social, tão amplo, tão festivo e iluminado. Nesses momentos puramente nostálgicos, parecem ressoar no enorme salão da saudade, as gargalhadas do italiano Vitório Fedrizzi, o marido da dona Ymera, uma agitada promoter ocasional em concurso de misses. Dos bailes de debutantes nas minhas reminiscências, flui o perfil do falecido Dr. Joaquim Lourenço Filho. Ele era um médico local, que elegantemente na companhia de sua bela esposa a carioca dona Odalea, costumava dar boas vindas para as meninas adolescentes trajando vestidos brancos longos, como as novas integrantes da sociedade douradense.
Para mim misticamente falando, naqueles escombros do antigo clube social ainda não resignados com o seu triste destino e despojados das presenças ilustres dos seus falecidos associados, parecem gritar vozes fantasmagóricas vindas do meio dos destroços, revoltadas com o acontecido. E na poeira do tempo, entre as ruínas daquele que já foi um lugar festivo, defuntos associados desse clube exigem contrariados usando a voz gutural do vento: reconstruam o que havia neste lugar! ...
* advogado criminalista, jornalista e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Esgoto Sanitário de Dourados (Primeira Parte)

Braz Melo (*)

Depois de ter acertado a minha vinda para Dourados em 1973, levei Anete e os filhos, Gisella com um ano e dois meses e o Brazinho com dois meses de idade até Vitória para ficarem com seus pais.
Aproveitei para despedir do meu avô paterno. Ao explicar que estava vindo para o Mato Grosso, ele perguntou para que lugar e eu disse que era para Dourados. Ele levantou, e procurando em cima do armário, achou uma pasta onde continha diversas contribuições para a Missão Caiuá. Só agora entendo que foi a primeira vez que puder sentir que Deus estava na frente dos meus negócios.
Muito tempo depois ao visitar a Missão pude constatar através do Reverendo Orlando as contribuições que ele fazia há muitos anos, apesar de morar há mais de dois mil quilômetros daqui e conhecer o trabalho da Missão somente pelos jornais evangélicos.
Peguei o avião no Rio, parei em São Paulo e de lá segui para Cuiabá. Cheguei no dia 9 de Outubro de 1973. Devia ser oito horas da noite, e lembro que quando a porta do avião abriu, senti o calor cuiabano penetrar na aeronave. Fui parar no Hotel Mato Grosso 2, e mesmo vindo do Rio de Janeiro e acostumado às altas temperaturas de lá, senti que não conhecia calor igual.
Fiquei uns doze dias em Cuiabá, conhecendo a estrutura da Sanemat e estudando o Projeto de Esgoto Dourados, assim batizado pelo autor do projeto, Dr. Carlos Rebello.
Fiz também um estudo sobre o aproveitamento do rio Mutuca para distribuir água para Cuiabá, e conheci escavações feitas pelos bandeirantes há 250 anos para o mesmo fim. Descobri também porque o rio chamava Mutuca. Nunca vi tanto pernilongo na minha vida.
Acertado o que tinha em Cuiabá, parti para Campo Grande e daí para Dourados.
Não conhecia ninguém, e aqui já estava me esperando, o engenheiro agrimensor Teruo Itokaji, bamba em levantamento topográfico. Fui hospedar no Hotel Coimbra, hoje Bahamas, e logo trouxe Anete para diminuir meu sofrimento e solidão.
Fui buscar Anete em Campo Grande, e na viagem de ônibus, por não ter povoados no trajeto, era um breu só. Energia elétrica só em Rio Brilhante. Asfalto só até o entroncamento (hoje Nova Alvorada do Sul). Para diminuir o impacto, ao chegar perto de Vila Vargas, menti para ela dizendo que era Dourados. Mesmo assim ela não se abalou. Com pouca energia e casas pelo caminho, ao chegar na Av. Marcelino Pires, com as luzes mais parecendo pequenos tomates, ela exclamou: Isso não é Dourados, é Paris.
Logo no primeiro dia da Anete em Dourados, ao sair do Hotel e ir até ao Supermercado Pegue e Pague, na esquina da Marcelino com João Candido Câmara (onde é hoje a Lojas Riachuelo), ela atolou seu tamanco na lama. Com o tempo descobriu que para andar no barro tem macete.
Nesta época era difícil encontrar casa para alugar. Ficamos uns cinco meses no Hotel Coimbra, até que conseguimos alugar uma casa no BNH 1º Plano, na casa da Josefina.
O escritório da SANEMAT ficava na Rua Santa Catarina (hoje Onofre Pereira de Matos), onde funciona hoje o escritório comercial da SANESUL. Era de tabua e não comportava o Teruo e eu para programarmos a obra. Usamos o escritório do Maury Vasconcelos, que junto com a Ângela sempre nos receberam muito bem.
A firma que eu trabalhava tentou me levar de volta para o Rio. Ofereceram o dobro do salário que eu ganhava para eu voltar. Anete não deixou. Dizia que aqui era nosso lugar. Ela tinha razão.
Começamos a obra do esgoto sanitário pela Rua Firmino Vieira de Matos, esquina com a Cuiabá. Ninguém acreditava que aqueles tubos de 150 milímetros resolveriam a demanda do esgoto. Quanto mais para 15 anos depois.
A primeira ligação foi feita no Hotel Denise e na casa ao lado, onde morava uma funcionária da SANEMAT, a Elisena Muzzi.
Acompanhamos o inicio das medições e conferia com o projeto que o Dr. Carlos Rebello previra. Isso foi a 35 anos, e raramente tem problemas com a primeira etapa do esgoto sanitário de Dourados.
(Continua quinta feira que vem)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A GUERRA NO PARAGUAI

Isaac Duarte de Barros Junior *

O território da vizinha República do Paraguai emancipou-se politicamente no ano de 1811 e durante muitos anos o povo foi submetido ao controle de aventureiros espanhóis como se fosse uma grande propriedade rural sob a gerência de alguns abastados estancieiros europeus. Sendo herdeiro político de Don Carlos Antonio Lopes, presidente vitalício do país, de quem também foi um ativo e eficaz colaborador, seu filho o general Francisco Solano Lopes, lhe sucedeu no governo da nação guarani. Na condição de admirador do imperador francês Napoleão III, o jovem militar Francisco Solano Lopes estava passeando pela velha Europa quando se apaixonou e se casou com a bela irlandesa Elisa Lynch de Quatrefages. Esse general temperamental, falava corretamente cinco idiomas quando recebeu poderes plenos para governar, os quais lhe foram concedidos pelo senado paraguaio em 16 de outubro de l862. Assim, Solano Lopes sucedeu ao seu pai, que havia falecido após uma prolongada enfermidade.
No dia 02 de novembro de 1864, o general Francisco Solano Lopes, forçado e acuado politicamente, iniciou hostilidades bélicas contra o império brasileiro. E o fez, sem preencher quaisquer formalidades de uma declaração de guerra, prendendo no rio Paraguai o navio “Marquês de Olinda” que conduzia o governador recém nomeado da província de Mato Grosso. Esse foi o seu erro fatal. O ato diplomaticamente considerado hostil, provocado pela mais poderosa potencia militar do continente sul contra o império do Brasil, era o suficiente para iniciar uma guerra. O congresso paraguaio em 18 de março de 1865, diante da situação beligerante desencadeada pelo caudilho guarani assessorado por sua esposa, promoveu Lopes às pressas ao posto de marechal do exército. Na campanha de Mato Grosso, invasão que foi comandada pelo general Francisco Isidoro Resquim, aconteceram gestos heróicos de resistência como o do tenente brasileiro Antonio João Ribeiro, comandante do forte “El dorado” na cabeceira do rio Apa e muitos outros também ocorreram na retomada de Corumbá. Essa operação militar de dois mil e novecentos homens partiu com objetivos pré-estabelecidos de Concepción, em 29 de dezembro de l864. Iniciava-se desse modo, a carnificina que duraria cinco longos anos.
Quanto a dados biográficos da maioria dos militares desse conturbado tempo que participaram do front na guerra no Paraguai, apesar do magnífico esforço empreendido por todos os combatentes durante as batalhas na guerra da tríplice aliança, é quase impossível conseguir-se informações detalhadas a respeito de suas breves vidas. Pois esses personagens históricos começaram na caserna como simples soldados descalços e ganharam lutando nos campos de batalha as suas promoções ao generalato.
Nascidos em famílias humildes dos arredores da capital paraguaia, quase todos sem muita escolaridade, tiveram as suas biografias resumidas nos epitáfios de tumbas cavadas nos campos do conflito ou revividas nas conversas em rodas do tereré, que foram transmitidas por seus comandados admiradores a outras gerações nativas. Em 02 de maio de 1868 no combate de Estero Bellaco, quarenta e três mil homens entre brasileiros, argentinos e uruguaios, lutaram bravamente enfrentando o bem armado exército paraguaio comandado pelo general de artilharia José Maria Bruguez. Nesse combate, morreram muitos anônimos militares paraguaios, uruguaios, argentinos e brasileiros de alta patente. Essa quantidade se resumiu no grande número de baixas, cujo total os historiadores não sabem precisar. Na batalha de Tuyuti, em 24 de maio de 1866, vinte e quatro mil homens do exército paraguaio apoiados por cento e cinqüenta canhões, enfrentaram em dias chuvosos os aliados entrincheirados comandados pelos generais brasileiros Osório e Sampaio. Ao final dessa sangrenta justa, o saldo de mortos passava de oito mil combatentes. No entrevero de Boqueron, o coronel paraguaio Elizardo Aquino perdeu dois mil e quinhentos soldados, falecendo em decorrência de graves ferimentos no hospital do Paso Pucú.
Já na batalha de Curupayty, realizada em território pantanoso, vinte mil homens se enfrentaram. Entre esses oficiais comandantes, havia graduados e soldados das três armas existentes: infantaria, artilharia e cavalaria. Nesse dia os aliados morreram a granel, mas o comandante brasileiro, então Marquês de Caxias, com efetivo militar superior venceu o prélio. Ainda na peleja de Tatayiba, realizada em 03 de outubro de 1867, o major paraguaio Bernardino Caballero, enfrentou vinte e seis mil soldados brasileiros sob o comando do general Manuel Mena Barreto, combatendo-os com inarrável firmeza de choque corporal enfrentando lanças e baionetas, produzindo um dos combates mais sangrentos da guerra no Paraguai. A desproporção das forças aliadas vencedoras, nesse dia, foi evidentemente muito superior.
Na desembocadura da lagoa Pikysyry Angostura, em 06 de dezembro de 1868, deu-se o combate encarniçado de Ytororo e a trajetória guerreira seguiu na batalha de Avay em 11 de dezembro de 1868. Finalmente no dia 27 de dezembro de 1868, o marechal paraguaio Francisco Solano Lopez, contava com apenas sete mil homens em armas e muitos feridos no entrevero de Lomas Valentinas. Nas últimas lutas, a de Piribebuy e Acosta Ñu, o seu exército agonizava com soldados meninos. Assim, com os militares chegando por todos os caminhos e com as suas tropas sitiadas, o marechal paraguaio Francisco Solano Lopez, limpava seus ferimentos múltiplos nas margens do rio Aquidaban no dia 1º de março de 1870.
Embora tivesse inteira liberdade para decidir pela sua rendição, o militar paraguaio cercado pelas tropas do general brasileiro Antonio Correia da Câmara, decidiu incluir-se na lista dos sacrificados daquela guerra, pronunciando a frase: “morro por minha pátria”. Brandindo ainda a sua espada pela ultima vez, teria dito: “um marechal paraguaio não se rende”. Essa atitude, segundo a maioria dos historiadores, liquidou a guerra no Paraguai com a morte brutal pelas armas da soldadesca, daquele marechal comandante-em-chefe...
* advogado criminalista,jornalista. e-mail: isane_isane@hotmail.com

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A Vila Rosa (Minha primeira experiência com uma invasão urbana)

Braz Melo (*)

Quem passou outro dia em casa foi o Roberto Djalma. Levou um queijo feito por ele mesmo e relembramos o inicio da caminhada que fizemos juntos na política.
Comecei a fazer política quando ele era vereador e fomos companheiros por todo esse tempo.
Um dos primeiros desafios nosso foi na Vila Rosa. Bairro inteiro que só tinha problemas. Desde as escrituras até a urbanização, pois com as invasões não existiam nem ruas. Parecia um caminho de ratos. Não tinha água nem energia.
A Vila era um empreendimento da Imobiliária Piratininga e que tinha havido uma invasão Com isso, ninguém pagava a empresa e os benefícios não eram feitos pela imobiliária. Mais tarde pude vivenciar diversos tipos dessa maldade. E de muito pouca solução.
Talvez em virtude da falta de maturidade, resolvemos encarar este desafio. Quando a gente não conhece o problema, tudo é fácil.
Inicio da década de 80, o governador era o Pedro Pedrossian e nós do PDS 2, estávamos mais perdidos que filho de perdiz, como dizia meu amigo Cid Mello. João Totó Câmara tinha ido pro PMDB e nós ficamos na legenda, pois a maioria dos companheiros assim quis.
Aproveitamos a vinda do governador em Dourados e conseguimos que ele fosse conosco na Vila Rosa. E uma das condições de ir lá era a não ida do prefeito José Elias, pois era nosso adversário. Pedro aceitou e fizemos uma reunião na única casa de alvenaria do local, a casa do Antonio Raizeiro, que ficava em frente da hoje Escola Municipal Manuel Santiago. Lembro que em poucos minutos depois que o governador chegou, o bairro todo compareceu à frente do local, pois não cabiam na casa.
O presidente da Associação, Seu Joaquim Sales explicou o caso ao governador, e este emocionado, chorou copiosamente. Na volta ao hotel, o Dr. Pedro me falou para procurar o presidente da COHAB e tentar resolver este problema dificílimo. E brincando disse, que se eu resolvesse, ele me indicaria para ser o representante brasileiro na ONU.
Procuramos o Edson Brito Garcia, presidente da COHAB, e ele incumbiu a engenheira Valéria de acompanhar o caso e tentar solucioná-lo. Ela esteve em Dourados e junto conosco começamos a tentar resolver as pendências.
O Atílio Magrini Neto era o advogado procurador do Estado em nossa cidade e nos ajudou muito para a solução do problema.
Tinham casas no meio da rua, como do Joaquim Carroceiro, Sr. Sebastião e do Guerra.
Em poucos dias fizemos a planta do existente e confrontando com o loteamento original, começamos a resolver as pendências.
Dos moradores antigos, a grande maioria já morreu (Joaquim Sales e Dona Maria, Antonio Medeiros, José Leonardo, Peba, Cardoso, o José Cupertino, José Vitor, José Diana, Jorge Santos, Arlindo, o Norberto, Rafael, Sr. Euclides, Chico “Louco”, Pedrinho Charreteiro, D. Lourença, D. Josefa, Valdomiro, e tantos outros), mas conversando com meu amigo Zé Baiano, que com os olhos mareados de lágrimas, colocamos em dia as lembranças.
No inicio todos ficaram meio desconfiados, mas depois que começamos mostrar resultados, a grande maioria passou a confiar em nós. Era uma turma muito boa. Aqueles que mencionei acima, mais o Milton, D. Santa, o Crescêncio, Osvaldo Preto, Adelino, Antonio Pedreiro, D. Chiquinha, José de Matos, Augustinho, D. Neuza, Marcelino, Anísio, João Camilo, José da D. Loría, Sr. Nestor, D. Ramona, D. Creuza, Antonio Galo, D. Maria Paraguaia, Ismael, Davi, D. Carminha e outros que não conseguimos lembrar, participaram dessa historia. Foi a primeira experiência com o problema fundiário urbano em nossa cidade. E a primeira vitória de uma associação com idéias novas. Claro que teve os contras. Mas eram tão poucos, que resolvemos não nominá-los.
A experiência deu certo. Foram resolvidos todos os problemas da Vila Rosa, mesmo tendo de passar apertado uma vez com o José Noko não querendo repartir seu lote, para abrir uma rua projetada.
Todos que tinham escrituras e a imobiliária receberam indenizações. Quem já morava lá recebeu seu lote.
Hoje a Vira Rosa é uma vila com todos os benefícios.
Quando eleito prefeito, oito anos depois desse primeiro trabalho com a população, pude sentir na pele esses problemas de invasões. O pessoal mandava invadir e colocavam o nome da vila até de sua mãe, como foi a Vila Mariana. Assim foi também com a Vila Anete no Canaã 1 e a Vila Mirella, no Cachoeirinha, acreditando que com isso teriam perdão eterno.
Esqueceram que prefeito tem muitas mães. Uma na Terra e outras na boca do povo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


Noemi Ferrigollo, então diretora da Funced; Adilvo Mazzini, diretor de Cultura da Funced e Elvio Lopes, jornalista da então Assessoria de Comunicaçao da Prefeitura durante apuração do concurso que denominou o Teatro Municipal de Dourados - 1996

O Nome do Teatro

Braz Melo (*)

Levei um grande susto com o novo nome do Teatro Municipal de Dourados, dado no apagar das luzes das sessões legislativas do ano passado.
Soube que agora chama Teatro Dr. Airton Barbosa Ferreira. Não que Dr. Airton não merecesse essa homenagem, pois foi um dos primeiros advogados que aqui chegou e que trabalhou durante dezenas de anos na lida do Direito. Creio que merece ter seu nome no prédio do Fórum de Dourados (segunda fase), que está sendo construído. Fazer como fizeram a homenagem prestada ao Dr. José Cerveira, ao colocarem seu nome no prédio da Promotoria Estadual.
O Teatro Municipal do Rio de Janeiro faz cem anos agora em 2009 e o Teatro Municipal de São Paulo faz seu centenário dois anos depois. E continuam com seus nomes de origem.
O Teatro Municipal de Dourados foi a contrapartida da empresa que ganhou a concorrência para construir e administrar o Shopping de Dourados.
Na época, inicio da década de 90, como prefeito, fui procurado pelo Sr. Vilson Buzzio, que queria me apresentar um empresário, que gostaria de fazer um shopping em Dourados. Para isso ele receberia um terreno da prefeitura e daria em contrapartida uma obra para o município.
Aceitei a idéia e ele me trouxe o Sr. Domingos Bertoncello, que tinha feito um empreendimento em Maringá, que detalhou a sua idéia, e que gostaria de fazer o mesmo aqui em Dourados.
Depois de consultar os advogados e técnicos, começamos a procurar um local que pudesse fazer um anteprojeto para essa obra. O local ideal era perto da rodoviária, numa área conhecida como “Bueiro”, pois toda a galeria de águas pluviais daquela bacia caia ali. Era uma área da prefeitura e um dos poucos locais de Dourados, onde entre duas das principais artérias de nossa cidade, teria condições de construir um prédio em dois pisos.
Achamos que a proposta era boa para Dourados e definimos que a contrapartida que deveria ser recebida pelo município era um teatro, obra que nós ainda não tínhamos e sonhávamos ter.
Foi feito o anteprojeto e abrimos uma concorrência pública, que além da empresa do Sr. Domingos, participou a Cobel, de Campo Grande, que ofereceu melhores condições e ganhou a obra.
Então uma vereadora entrou com uma ação popular, pois acreditava que não tinha sido correta a entrega do terreno da prefeitura, que tinha sido desapropriado para outro fim.
Em virtude das pendências jurídicas, a obra não pode ser iniciada na minha primeira administração.
Humberto Teixeira foi eleito prefeito em 1992, e conseguindo resolver os entraves jurídicos, mudou o local do teatro para o Parque dos Ipês, e iniciou a construção.
A empresa só terminou a obra quando eu era prefeito pela segunda vez.
A inauguração foi em 25 de abril de 1998 e o primeiro artista a pisar no palco foi o douradense Emmanuel Marinho. Depois se apresentou a Orquestra Sinfônica de Assunção, do Paraguai, que além de musicas clássicas, brindou a platéia com musicas paraguaias. No dia seguinte foi a vez do Quarteto de Cordas “Alberto Nepomuceno” da Cidade de Curitiba, considerado um dos mais importantes conjuntos de câmara do Brasil e completando a festa houve a apresentação de balé com a Academia de Danças “Ana Pavlowa” e o Grupo “Entreartes”. No final ouvimos o Coral do Centro de Tradições Gaúcha “Querência do Sul”. Paralelamente foi apresentado o Primeiro Evento Coletivo de Artes Plásticas de Dourados.
A empresa Cobel, após cumprir sua parte do contrato com a construção do teatro, teve dificuldades em viabilizar os recursos para a construção do Shopping, e como tinha prazo para iniciar a construção, acabou negociando com o grupo que primeiro nos procurou, que enfim construiu o Shopping Avenida, já na administração do Laerte Tetila, no local previamente escolhido.
Quando da inauguração do teatro fiz questão de denominar Teatro Municipal de Dourados, pois acredito não tinha nome mais adequado para receber esta honraria. E é eterno.
Foi feito até pesquisa para saber qual nome seria o mais adequado. Teatro Municipal de Dourados ganhou de goleada.

Engenheiro civil e ex-prefeito
http://estoriasdedourados.blogspot.com

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

RIOS, CAMPOS E MATAS...

Isaac Duarte de Barros Junior *
No entardecer do século dezenove na província do Mato Grosso, quase não haviam povoados. Pode-se até dizer que aqui no coordenado extremo sul, as cidades dignas de destaque eram apenas as paróquias de Campo Grande, Corumbá, Miranda, Nioáque e Bela Vista. Naqueles tempos remotos, não existiam estradas carroçáveis e a locomoção dos desbravadores aventureiros só se fazia através dos rios em pequenas jangadas. Foi graças a este meio de transporte pioneiro, que algumas comunidades progrediram, se expandindo aceleradamente. Nos grandes campos sul matogrossenses, chegavam tropeiros oriundos do triangulo mineiro, migrantes ancestrais tocando as suas manadas de bois. A frente de uma delas estava o boiadeiro José Antônio Pereira acompanhado de outros nomes históricos, os fundadores da nossa capital que escolheram as margens dos córregos segredo e prosa para acampar.
As demais cidades deste rincão se formaram com a malgamação dos negros alforriados ex-combatentes da guerra do Paraguai, com as índias e as caboclas brancas. Nessa fase, a mais importante cidade dos campos de vacaria, era a paróquia de Entre Rios, futuro município de Rio Brilhante. Depois, aos poucos, foram surgindo no estado colosso, lugares prósperos como Aquidauana e Ponta Porã. A primeira constituição federal republicana brasileira determinava a religião católica como a oficial, daí o fato dos vigários celebrarem atos reconhecidos pela legislação civil brasileira. Porém, o código de l9l6 separou definitivamente os atos celebrados pela igreja, dos atos praticados pelo estado. Do desmembramento municipal de Ponta Porã, acabou nascendo Dourados. O decreto assinado pelo interventor Mário Correa da Costa, criando o novo município, foi publicado em Cuiabá no diário oficial do dia 23 de dezembro de l935. Publicação esta, feita com a costumeira ressalva que o ato governamental entrava em vigor na data da sua publicação. Os primeiros migrantes das nossas plagas chegaram à época da velha república, alguns deles eram fugitivos da região missioneira no Rio Grande do Sul. Resultava haver muitos desses desbravadores, terem lutado na revolução constitucionalista do caudilho Gumercindo Saraiva. Perdendo a refrega, esses guerreiros estancieiros das cidades gaúchas de São Borja, São Luís Gonzaga e Bagé, viviam como nômades fugindo temerosos de uma execução por faca, conhecida naquele tempo como a degola.
Naqueles dias épicos, a fuga ou o êxodo dos derrotados, se dava pelo território argentino, seguindo por uma rota que cruzava o vizinho Paraguai, concluindo a etapa na pequena cidade brasileira de Bela Vista, onde descansavam da longa jornada. Ali, os desbravadores refaziam as forças e com as carretas novamente abastecidas, entravam pelos sertões com as suas famílias, em picadas anteriormente feitas nas grandes matas. Dourados, esse nome surgiu durante a guerra da Tríplice Aliança, porque o tenente de cavalaria Antonio João Ribeiro, em homenagem ao peixe desse nome considerado como o “rei dos rios”, havia batizado um forte militar estratégico sob o seu comando na cabeceira do rio ápa. Aquele mesmo forte que resistiu ao ultimato do general paraguaio Francisco Isidoro Resquin. A força invasora do ditador guarani Francisco Solano Lopes, era constituída nessa batalha por dois mil e quinhentos homens da arma de cavalaria e foi breve o combate quando todos os militares brasileiros acabaram sendo mortos pelo inimigo superior em armas. Como aqui nas matas dos dourados, não havia índios, essa condição tornou-se um referencial excelente para os primeiros colonizadores dessa rota, grilarem e se apossarem das terras devolutas regionais, após o que formalizavam um requerimento, o qual era deferido sem os cuidados cautelares de mapear a área.
Esse descuido técnico burocrático gerou dezenas de confusões seguidas de morte, que bem poderiam ter sido evitadas nas terras sul matogrossenses. Além disso, havia o inconveniente das grandes distâncias devido o local em que estavam os Tribunais para dirimir dúvidas surgidas entre as partes durante as pendengas. Naquela época, a divisa exata entre as posses requeridas era algo que não existia. Graças a esse tipo de confusão, formou-se um atrito histórico entre os posseiros Marcelino José Pires Martins e Joaquim Teixeira Alves. Tirando proveito da briga entre os dois, Januário Pereira de Araújo e outros migrantes recém chegados, começaram a construir casas na área do conflito. O feito resultou num vilarejo, durante muitos anos sem nome oficial. O “patrimônio” logo tomou aspecto de vila, incorporando-se a ele estabelecimentos comerciais. Finalmente, em l925 os padres franciscanos formalizaram a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, inaugurando uma capela onde hoje está localizada a igreja matriz.
A bem da verdade, não existe nenhum documento de “doação”, assinado pelos dois pioneiros, autorizando a erguer uma futura cidade nas terras por eles griladas e por ambos requeridas com as divisas em litígio. O que teria existido, foi à feitura de uma cruz de madeira demarcando e destinando um local para nele se concretizar a futura Vila. Essa cruz teria sido erguida supostamente pelo desbravador paranaense Marcelino José Pires Martins, acontecendo tal efeméride n’algum lugar da sua posse já legalizada, posse para a qual ele deu o nome de fazenda alvorada. Como ambos os desbravadores, morreram no começo do século vinte, não puderam presenciar o nascimento do município que só foi criado vinte anos após as suas respectivas mortes. Concretizou-se assim um movimento cívico local organizado para tanto, iniciado pelos moradores do povoado. Entendo que o melhor e o mais justo a ser feito em memória desses dois homens valorosos, seria creditar para ambos, a criação ainda hoje inexata e histórica do município de Dourados...
*advogado criminalista, jornalista e-mail: isane_isane@hotmail.com

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Jogo da virada 2008/2009

Braz Melo (*)
No dia 30, como todo final de ano, aproveito para deixar tudo em casa funcionando, para iniciarmos o ano “zero bala”. Ao comprar um sifão para consertar a pia lá de casa no Oshiro, fui convidado pelo Akira para participar do jogo da virada no ultimo dia do ano.
E eu que não tinha assistido nenhuma das dezoito edições anteriores, resolvi ir até este evento promovido pela Camisa Dez. Gosto muito de futebol, mas o corpo já não obedece mais o cérebro. É melhor só assistir.
O evento foi na LEDA que está muito bem cuidada, diferente do Douradão. O gramado, um tapete e creio que deve ser mais usado pela comunidade. Com poucas obras e serviços, vai voltar a ser palco de grandes espetáculos futebolísticos.
Dizem, e constatei que o Manteiga cuida de lá como se fosse a sala de sua casa. É isso aí, ele que foi um dos maiores bailarinos da bola que passaram por lá, tem de cuidar de onde foi majestade.
Em outra oportunidade já pedi a ele para conversar com o Dr. Dantas, e lembrar os jogadores que já passaram por nossa cidade para o Alcodan nos brindar com uma crônica sobre “Após a epopéia de Aquidauana”. Precisamos, dentre tantos outros, recordarmos do time do Operarinho, que tinha um meio de campo brilhante com Parafuso, Carlinhos e Buca, que foram parar no Flamengo, Santos e São Paulo respectivamente. O Buca tínhamos esperança de ser o que o Kaká foi no São Paulo mais tarde. Mas, por influencia de empresário, foi para o Hamburgo, na Alemanha e acabou desistindo. Além do veloz ponteiro direito Tatata que tinha tudo para se profissionalizar no São Paulo.
Manteiga me disse que dos dois mil meninos que participaram daquela leva de garotos do Esporte Solidário em nossa segunda administração, comandados pelo Mauro Cruz, quando presidente da FUNCED e dele próprio, como coordenador, vinte e tantos foram negociados para países da Europa.
E não se assustem se na próxima convocação da seleção principal brasileira de futebol, Dourados tenha dois jogadores convocados: Lucas e Keirrison. Foi plantado e agora está na hora da colheita.
Voltando ao Jogo da Virada, realmente foi um acontecimento muito interessante e que eu nunca tinha visto antes. Três jogos disputados por seis times que se enfrentaram dois a dois. Tudo ao mesmo tempo. Vermelho contra o Verde, Azul contra o Amarelo e Branco contra o time Laranja. São 66 jogadores correndo atrás de três bolas de cores diferentes.
O jogador de cada jogo não pode se envolver com a jogada dos outros jogos. São três goleiros em cada trave. Também com três árbitros que cada um apita seu jogo. Foi uma senhora confusão.
Além de ser inédito, também foi muito engraçado. De tanto assistir jogo pela TV, muitas jogadas eu ficava esperando para ver o “replay”.
Depois de muita correria e deixar quem estava na arquibancada meio zonzo, terminaram os jogos, e aí foi a entrega dos prêmios. Para o mais velho, para o mais gordo, para o mais magro. Também ganhou premio o melhor jogador, o “bola murcha”, o mais bonito gol, o que mais reclamava e o mais chato. Foi uma festa.
E o engraçado é que nem palavrão saiu. Talvez em respeito de duas mocinhas que jogaram, e muito bem. Uma inclusive ganhou o premio do mais bonito gol. Mas que teve muitas reclamações, isso teve. O Percival foi até expulso por reclamação.
Dentre os que estavam na peleja e que não saia da banheira, estava o meu irmão Antonio Neres, que inclusive fez um gol. Aproveitei e pedi a ele, que sendo nomeado presidente da FUNCED, que consiga colocar este evento no calendário de eventos de Dourados, e que no próximo ano tenha uma maior divulgação e apoio dos órgãos públicos.
Parabéns aos organizadores. Foi nota Dez.